Capítulo 35
6358 palavras - Arco final
Por Edan
Abro meus olhos, me encontrando deitado no chão, com meus olhos encontrando um imenso mar de absoluta escuridão no céu. Não enxergo absolutamente nada e o ambiente é silencioso, sendo rompido apenas pelo som de um distante gotejar que se espalha pelo ambiente inteiro. O chão abaixo de mim é duro, frio e úmido. Sinto uma pequena camada de água cobrindo o chão, me causando uma sensação de frio que se espalha pelo meu corpo.
Me viro, apoiando o peso do corpo nos braços até ficar de joelhos. Não existe nada ao meu redor, apenas a escuridão e o chão coberto por água. Sentindo meu corpo pesado, me coloco de pé e sentindo um suave vento tocando meu rosto e esfriando minhas roupas. As mesmas roupas acinzentadas que já vi antes, o mesmo casaco longo de capuz felpudo, apesar que nunca me lembro quando eu trajei essas roupas.
Fico olhando em volta. Eu não consigo sentir nada a minha volta, absolutamente nada. Não vejo nenhum sinal de luz a primeiro momento, e além disso, não consigo sentir a escuridão que sempre me ataca. Não existe nada aqui além de mim.
Escuto algo a minha frente, escondido pela escuridão. Parecem passos lentos. Um temor percorre meu corpo, mas eu avanço em direção ao som. Dou passos, que logo se tornam mais longos até o ponto de eu estar correndo conforme me aproximo.
Por entre a escuridão, enxergo a silhueta de alguém com a cabeça baixa, em passos tão lentos que parecem desolados. A pessoa para assim que estou bem próximo, e logo interrompo minha corrida. Recupero meu folego, mantendo os olhos na pessoa. Tento falar algo, mas não consigo. A escuridão parece ainda mais densa, mesmo eu estando tão próximo da pessoa, eu não consigo ver seu rosto com perfeição, mas isso não vai me atrapalhar.
Cerro o olhar, tentando identificar quem seja, enquanto a pessoa vira seu rosto para mim. Agora que vejo com mais atenção, eu não demoro para saber quem é. Anne. Se tornou fácil para mim saber identificar seu rosto, seus olhos cabelos, seu corpo.
Sei bem quando é ela, mas... O que ela faz aqui?
Gradualmente uma luz começa a ser emanada dela, forte o bastante para me permitir enxergar Anne perfeitamente sem ofuscar minha visão. Posso ver que ela se veste de maneira parecida com a minha. Um sobretudo longo indo até a altura de seus joelhos de tons mais claros, uma calça jeans escura e tênis brancos. Ela me olha com um olhar calmo, um sorriso acolhedor. Os mesmos que sempre me trazem tranquilidade.
Ela vem até mim, pegando minhas mãos e as segurando, mantendo seus olhos nos meus. Ela se aproxima de mim, me dando um beijo calmo. Depois de tantas vezes estando aqui, com tantas perguntas, consigo me sentir calmo. Anne se afasta de mim, ainda com seu sorriso, cada vez mais lindo em cada vez que vejo.
Olho para ela, passando a ponta dos meus dedos pela lateral de seu rosto, indo até seus cabelos ruivos. Percebo a luz que ela emana, sim... Anne é como uma luz para mim, da mesma forma que a maga Merlin é para Escanor, Anne se tornou um sol para mim, que me guia e faz-me seguir em frente independente de qualquer coisa.
Lentamente Anne começa a se dissipar, da mesma forma que vi acontecendo com meus pais, Anne começa a se dissipar no ar em pequenas luzes, levadas lentamente pelo vento que existe neste ambiente.
Sua mão se torna menos firme, e logo deixo de sentir seu toque, os olhos de Anne se fecham, enquanto ela ainda sorri para mim. Sua boca se move em um sorriso, e tímidas lágrimas caem pelo seu rosto enquanto ela se afasta de mim, me deixando surpreso.
Tento alcançar Anne uma última vez, tentar me agarrar a ela com todas as minhas forças. Minhas mãos não a alcançam, não consigo mais tocar Anne. Não posso deixar ela ir.
Não, isso não pode acontecer!
Por favor Anne, segure minha mão!
Em pequenas luzes, Anne desaparece completamente da minha frente. Não consegui segura-la, isso aperta meu coração.
Uma sensação horrível passa pelo meu corpo neste momento, me fazendo estremecer. Uma agonia, unida a uma forte dor no meu peito que há muito tempo eu não sentia. Levo minhas mãos ao meu peito, tentando abafar a dor e meu medo, fechando meus olhos com força.
Um pequeno brilho surge a minha frente, me fazendo abrir os olhos outra vez. Uma pequena última luz permaneceu aqui, parada a minha frente pairando no ar, como um resquício da presença de Anne. Estendo minha mão até ela, que de automático se aproxima de mim. O pequeno ponto luminoso pousa sobre a palma da minha mão, posso sentir o calor que essa luz emana. É pequeno, mas ainda me aquece.
Ela se move mais para perto de mim, e essa pequena luz entra no meu peito, se unindo ao meu corpo. As sensações que sempre senti de Anne me surgem na mente neste momento.
Olho a minha frente, existe algo. Uma imensa porta de pedra. Ela... Não estava aqui antes. Bem, o que esperar desse lugar? Aqui sempre acontecem bizarrices que nunca consigo entender.
Devagar, dou um passo a frente, e mais outro. Me aproximo da porta cada vez mais. Ela atraí minha atenção, algo nela está me chamando, e quero saber o que existe atrás dela. A medida que chego perto, começo a ver algo, parecem vultos de algumas pessoas e criaturas, mas logo esses vultos desaparecem, junto a um misto de sensações.
Escuto algo vindo do alto, parece ser um bater de asas.
Olho para o alto, e encoberto pela escuridão, enxergo uma silhueta pousando suavemente a minha frente, com os braços cruzados, um sobretudo enegrecido que já vi antes, e um imenso par de asas formadas de pura escuridão.
Ele está entre mim e a porta, impedindo que eu prossiga.
- Isso é estranho... Ainda não é a hora, então... Por que isso apareceu? – Escuto ele falando. Sua voz é séria. Nesse momento, tenho a sensação de que já o ouvi antes muito recentemente.
Eu tento falar, mas ele vira seus olhos para mim. Sua expressão se tornou séria, ameaçadora... A impressão que tenho é que ele vai me destroçar. Meu corpo treme apenas por estar diante dele.
Ele ergue sua mão em minha direção, e um imenso clarão branco surge da palma de sua mão, de imediato me sinto recebendo um imenso impacto e sendo empurrando para trás, arrancando meu corpo do chão, com uma força que nunca senti antes.
Sinto minhas costas batendo em algo macio. Eu arfo, me erguendo de imediato. O peso que antes havia no meu corpo devido às roupas pesadas, agora desapareceu. Pisco uma vez, enxergando o espaço vazio e aquele ser a minha frente. Apesar de estar caminhando, está absurdamente mais perto a cada vez que fecho os olhos, muito mais rápido do que acho ser possível. Pisco uma última vez no momento que ele surge bem ao meu lado. Ele está me observando de cima, como se avaliasse algo pequeno... Ínfimo e insignificante.
Sua mão é direcionada para mim novamente. A pressão a minha volta se torna esmagadora, um novo clarão surge me cegando de imediato, forçando com que eu feche os olhos. Assim que o faço, resta apenas o esmagador silêncio a minha volta.
Abro os olhos devagar, me encontrando em meu quarto. Pisco algumas vezes, está escuro.
Olho em volta, tentando achar qualquer coisa que denuncie o espaço que eu estava antes, mas não há nada. Apenas minha casa.
Estou suando, minha respiração está acelerada.
Mais um desses pesadelos. Eles vão me enlouquecer alguma hora.
Mas esse... Me causou um sentimento ruim...
Algo está errado.
*****
Desde o pesadelo que tive na madrugada, eu não consegui mais dormir.
Eu estou me sentindo estranho. É como se eu sentisse que tem algo, mas eu não tenho ideia do que seja. Minha casa está silenciosa, mas nesse momento, até esse silêncio está me incomodando profundamente. Ele é torturante em um nível que vai além do meu corpo.
Balanço a cabeça, me empurrando para fora da cama. Não tenho que dar atenção a isso. Vou ao meu guarda roupa, pegando minhas roupas e me vestindo para a escola em um ritmo quase desesperado, tão diferente da minha habitual lentidão.
Vou até a cozinha, pegando um pouco de comida para o Mítico e a Kayle, os servindo em uma boa quantia, e logo retorno para dentro. Ligo a tela do meu celular, e ali estão apenas as horas, mas nenhuma mensagem de ninguém. Balanço a cabeça, guardando o celular no bolso, alcançando minha mochila, minhas chaves e saindo de casa.
Desde o momento que passei pelo portão e comecei a seguir meu caminho de sempre, eu olho para o céu. Está nublado com imensas nuvens cinzentas, aumentando o sentimento estranho que parece crescer no meu peito. Não está ventando, mas faz frio. Apesar de ouvir o som do vento, dos carros ao longe, ao mesmo tempo não escuto nada. Esses sons não carregam nada consigo, são vazios. O dia está estranhamente silencioso, e isso me incomoda.
Alguma coisa está muito errada.
Apresso o passo para alcançar a escola logo. Quanto mais me aproximo, escuto os barulhos de sempre. As várias vozes dos alunos, mais e mais carros passando, os risos seguidos, mas ainda assim, é como se eu não conseguisse ouvir nada.
Chego a escola, olhando em volta, não encontrando nenhum dos meus amigos. Entro em passos largos, olhando ao redor buscando por eles. Não importa o quanto eu ande, não consigo ver nenhum. Calma Edan. Respira. Daqui a pouco vou encontrar com eles na classe. Não preciso ficar tão afobado sem motivos. Nem com motivos eu devo ficar afobado.
Escolho um lugar e me sento, esperando o tempo passar. Uno as mãos em frente ao corpo, contando os segundos imaginando como se fossem pequenas ovelhas para me distrair. Vamos, isso pode funcionar para me distrair, e realmente funciona. Ouço o sinal antes mesmo que eu alcançasse quatrocentas ovelhas contadas.
Vou para minha sala, a passos tão rápidos quanto consigo, alcançando minha mesa e me sentando, olhando para a porta esperando que todos cheguem. Gradualmente os alunos vão entrando, me deixando com mais expectativas de ser Anne, Leandro ou Raquel.
O primeiro a chegar é Leandro, com seu habitual fone de ouvido ao redor do pescoço. Ele deixa sua mochila sobre sua mesa e vem até mim, me cumprimentando enquanto dança alguma música movendo sua cabeça, além de fazer caras e bocas.
- Você sabe que está parecendo a Raquel, não é? – Digo, arqueando uma sobrancelha enquanto Leandro retira um lado de seu fone e me observa rindo.
- Não tenho culpa se a música é boa... – Ele termina de dizer, enquanto estendo uma mão, pedindo o fone para poder ouvir qual a tal música que Leandro está ouvindo, e ele prontamente me entrega. Escuto uma eletrônica intensa, realmente bem animada, o que justifica a empolgação que estou vendo nele. Devolvo o fone, e ele me olha, esperando minha opinião.
- Ta legal, a música é boa sim. Só não invente de começar a cantar. – Digo, batendo um dedo na mesa repetidas vezes.
- Eu não tenho tanta ousadia. – Leandro acaba rindo. Olho para a porta, e então volto meus olhos para meu melhor amigo – Esse sábado foi melhor do que eu esperava.
O observo, Leandro abre um sorriso de canto – Então alguém realmente gostou de correr.
- Foi... Divertido. – Concordo balançando a cabeça – Eu vou dizer, não estava com grandes expectativas para isso. Acabei me surpreendendo.
Leandro toca algumas vezes no seu celular, e percebo a música do seu fone abaixando gradualmente – Foi melhor ainda por já irmos em grupo, e tinha mais gente lá. É muito melhor quando a pista está cheia.
- Foi só uma pena nem a Iris e nem a Anne participarem... – Acabo dando um suspiro.
- Elas assistiram e ficaram de torcida para nós. – Leandro sorri, dando de ombros – Elas não estavam afim, aparentemente não faz o estilo de nenhuma das duas. Mas pelo menos estavam lá.
- Tenho que concordar. Pelo menos estavam lá para ficar de torcida. – Olho para minhas mãos, me lembrando cada vez mais de sábado. – Apesar que elas não sabiam pra quem torcer. Umas horas gritavam para mim, outras horas para você, para a Raquel ou o Ricardo.
- Falando na Raquel, francamente... Que menina que corre. – Leandro passa a mão pelo rosto, olhando para o nada. – Até parecia que ela fazia isso há muito tempo.
- Foi a primeira vez dela, não é? – Questiono, erguendo uma sobrancelha.
- Primeira vez de quem fazendo o que? – Raquel diz de repente, dando um largo sorriso.
Leandro começa a rir – Não aparece assim nos assuntos, porque se estivermos falando besteira você vai ouvir o que não deve. – Raquel revira os olhos e ri – Estávamos falando de sábado.
Vemos Raquel colocando a mão próxima ao ouvido – Oi? Sábado? O dia que você falou que iria ganhar de mim com uma mão nas costas?
Balanço a cabeça negativamente, vendo Leandro erguendo suas mãos em defesa – Comemorei antes da hora, desculpe.
- Eu deveria ter feito uma dancinha da vitória depois de sair da pista, só pra zoar mais com você Leandro. – Raquel diz em risadas, se sentando sobre minha mesa. – E de quebra, iria zoar com as outras oito pessoas que correram.
- Eu apoiaria isso. – Digo erguendo uma mão. Raquel me olha, erguendo uma mão para fazermos um cumprimento alto, e logo correspondo a minha irmã.
- Por esse motivo eu também apoio. – Leandro cruza seus braços, rindo junto de Raquel. Apoio o rosto na mão e os observo – Quando podemos juntar todos para uma revanche?
- Boa pergunta. Vamos esperar o mês virar, e então marcamos. – Raquel diz com um sorriso, virando seus olhos para mim. – Você também parece ter gostado, pela cara que fez.
Dou de ombros – Não tenho nenhuma reclamação. Foi realmente bom.
- Então na próxima você vai também! – Raquel diz, tocando meu ombro – Gostei de ver você se divertindo com nós.
- É, isso está se tornando bem frequente... – Digo, os observando, sentindo o tédio por isso.
- E nem pense em parar Edan. – Leandro comenta rindo.
Vemos vários alunos parados na porta entrando de uma vez, seguidos de um professor, carregando vários materiais em suas mãos. Raquel desce da minha mesa e caminha de volta a sua. Leandro se espreguiça, voltando também a sua mesa. Esses dois são umas figuras mesmo.
Neste momento eu olho para o lado, vendo apenas uma mesa vazia.
Onde Anne está?
*****
Me vejo no intervalo de aulas, a sensação estranha não desapareceu, muito menos diminui. Olho meu celular algumas vezes, confirmando apenas a mesma tela com as horas. De minuto em minuto eu olho para a tela, esperando ver algo que não seja apenas as horas, ou a foto que estou com Anne que deixei de papel de parede já a algum tempo.
Algo que tenho feito bastante quando estou em casa é ficar olhando as várias fotos que tenho no meu celular, todas que Anne me fez tirar com ela em vários momentos que saímos juntos, ou então as várias anteriores que ela tirou com Raquel, Leandro, e todos os outros. Ficar olhando essas fotos, imaginando como foi o dia, contemplando os sorrisos de cada um, principalmente os de Anne sempre me confortam. É mais agradável a cada novo dia.
Deixo meu celular sobre a mesa do refeitório, olhando para o pão de queijo que comprei para mim. Fico olhando, sem saber como me sinto. Não estou com fome, não consigo sentir fome nesse momento. Esse desconforto me incomoda profundamente, retirando todo meu apetite. A sensação piora quando meu corpo e minha mente me dizem que algo está errado.
Olho para o lado, todos estão aqui. Todos que criei ou mantive a amizade em todos esses meses. Olho para cada um deles. Tamires, Carol, Ricardo, Iris, Leandro e Raquel, os dois últimos sendo os mais próximos de mim. Algo está preso na minha garganta, uma das pessoas não está aqui conosco. Apenas uma, que desde a metade deste domingo, simplesmente não deu mais nenhuma notícia. – Alguém sabe o que aconteceu com a Anne? – Questiono repentinamente.
Todos na mesa me olham com minha pergunta repentina. Nem eu mesmo esperava falar alguma coisa agora. Leandro e Raquel se entreolham primeiro, pelo jeito eles também não sabem de nada. Raquel me olha, dando de ombros – Não tenho ideia. Ela não avisou nada, nem mandou mensagem nenhuma o dia todo.
Apoio o rosto na mão, olhando para Raquel. Viro meus olhos para Leandro, ele balança a cabeça negativamente. – Nem comigo ela falou. Ela não te disse nada?
- Não, está a manhã inteira sem mandar nenhuma mensagem. – Digo, olhando novamente a tela do celular. Não tem nada, de novo.
- Está preocupado com ela, não é? – Carol questiona, com um pequeno sorriso.
Concordo balançando a cabeça, enquanto abaixo meu olhar para meu celular – É, um pouco...
- Você sabe que ela pode ter dormido demais hoje, e acabou perdendo o horário, não é? – Carol comenta, erguendo os ombros levemente. – Está cedo ainda, e pode acontecer com todo mundo.
- Tem razão... – Respondo em voz baixa. Mal sabem eles a sensação estranha que estou sentindo desde que acordei. Esse vazio, o silêncio. Estou preocupado, tentando sem sucesso esconder.
Vejo Tamires batendo um dedo na mesa – Olha, não precisa ficar assim. É da Anne que estamos falando. Com certeza ela está bem.
- É verdade, talvez ela tenha esquecido de carregar o celular e perdeu a hora. – Ricardo diz.
- Ou pode ter acontecido de ela ter fingido que não viu as horas, só para ganhar uns minutos a mais na cama... – Tamires completa. – Quem não faria isso?
Balanço a cabeça concordando – Verdade, dormir um pouco mais na segunda-feira é a melhor coisa possível. A Anne pode ter feito isso. – Carol comenta rindo.
- Pode ficar tranquilo Edan. A Anne com certeza está bem. – Leandro me diz, dando um sorriso.
Raquel pega minha mão, dando um suave aperto – Logo ela aparece e te da notícias. Você acha que a Anne iria só sumir, ainda mais se vermos como vocês estão agora?
Nego com a cabeça, sem olhar para Raquel.
- Até mais tarde ela manda mensagem, ou aparece na sua casa. – Ouço a voz de Tamires.
- E amanhã ela vai estar aqui. – Leandro diz, pousando a mão no meu ombro.
- Então fique tranquilo. Logo ela aparece – A voz de Raquel é suave. Do mesmo jeito que minha irmã sabe me irritar, ela sabe bem como tentar me acalmar quando é preciso.
- É, vocês estão certos... – Digo em baixo tom – É da Anne que estamos falando.
- Claro, como se existisse algo que conseguisse derrubar aquela garota. – Raquel diz sorrindo.
Sim, é verdade. Anne é como um sol. De todos nós, ela é quem tem mais vida, ela espalha isso por onde passa. Eu não tenho dúvidas quanto a isso. Devo agradecer a eles, a todos por tentar me acalmar como estão fazendo. Ainda estamos no meio da manhã, e estou uma pilha de nervos. Dou uma suspirada, olhando para todos, e concordando com um gesto de cabeça. Apesar de tudo que me dizem, não consigo realmente me acalmar.
O dia está estranho, algo está faltando.
Alguma coisa está muito errada. Eu não sei o que é, mas posso sentir isso.
*****
Finalmente as aulas acabaram. Atravesso o mar de alunos a minha frente como se eles sequer existissem de tão rápido que estou andando. Estou com meu celular em mãos, com a carga baixa de tanto que fiquei olhando, ansiando por qualquer coisa que significasse um sinal de Anne. Assim que deixo a escola, eu caminho rapidamente pelas ruas, sentindo o vento gelado tocando meu rosto e atravessando por entre minhas roupas. Está frio e o céu continua nublado, mas isso não me afeta, estou indo tão rápido que estou sentindo o calor percorrendo meu corpo. Isso não importa, afinal eu tenho um lugar para alcançar.
Só irei me acalmar quando estiver de frente com Anne, vendo com meus próprios olhos que ela está bem. Mantenho meu passo firme, sem diminuir meu ritmo por nenhum momento. Mais rápido do que eu mesmo imaginei conseguir andar, chego em frente a casa de Anne. Assim que paro de andar pendo meu corpo para frente, apoiando minhas mãos nas pernas. Estou suando sem parar, meu folego parece ter sido arrancado sem nenhuma delicadeza e até respirar é difícil. Sinto minha garganta seca e queimando toda vez que respiro, mas não importa. Eu cheguei onde eu quero.
Tiro alguns fios de cabelo da testa, grudados pelo suor. Respiro fundo, e toco a campainha uma vez. Aguardo alguns segundos, mas não sou atendido. Olho para a garagem, dos pais de Anne não está na garagem. Saco meu celular do bolso e olho a tela, mas não tem nada de novo, igual todas as outras vezes que olhei. Aperto a campainha de novo, agora com um pouco mais de força na vã expectativa de que isso faria a campainha tocar mais alto. Aguardo mais um pouco, mas nada de me atenderem. Aperto a campainha repetidas vezes em poucos segundos, e aproximo meu rosto do portão, fechando os olhos e tentando ouvir qualquer som vindo de dentro da casa. Por favor, uma única voz que seja.
Nada. Eu não ouço nada.
Dou alguns passos para trás, abaixando meus ombros, rendido pelo cansaço. Olho para as janelas, para a porta, esperando que alguém apareça. Anne, Carlos ou Regina. Qualquer um que seja, mas nenhum deles aparece.
Fecho meus olhos, tentando ao máximo sentir qualquer coisa que venha de Anne. Qualquer sensação, qualquer sentimento, ouvir seus pensamentos... Sentir sua presença. Nada. Eu não consigo sentir absolutamente nada que venha de Anne.
Não sei o que fazer, me sinto perdido.
Se acalme Edan. Se acalme. Está tudo bem.
Eles precisaram sair, é isso. Todos precisaram sair para resolver algo importante. Anne deixou seu celular em casa e está descarregado. Com certeza é isso. Vou saber de tudo se eu ligar para ela. Claro, por que não pensei nisso antes?
Saco o celular do bolso, digito seu número com pressa e ligo. Espero por alguns segundos, e começa a chamar. Se está chamando, então seu celular não está desligado, acredito que esse é um bom sinal. Só me resta esperar agora.
Vamos Anne. Atenda esse celular.
A chamada cai. Encaro meu celular, estático com o que aconteceu. Fico olhando para o celular, sem uma reação. Vou na opção de re-discagem e ligo novamente, batendo a ponta do pé impacientemente no chão. Apoio minha mão no portão, novamente aguardando ser atendido, até perceber algo. Escuto um toque de celular.
Olho para a casa, desligando a ligação. Sequer pisco, com receio de perder qualquer detalhe que seja. Tento ligar por uma terceira vez, e segundos depois, posso ouvir o toque vindo de dentro da casa.
Anne, o que aconteceu?
Você está ai dentro, não é? Então... Por que não me atende?
Não... Não sinto sua presença, nada vindo de você... Por que não consigo te sentir?
Desligo a chamada, abaixando minha mão e levando meu celular ao bolso. Fico parado por alguns segundos, sem desviar meus olhos da casa.
Minha cabeça se torna uma bagunça. Me viro na direção que vim, caminhando em passos lentos de volta para casa.
*****
Destranco o portão de casa e entro, totalmente sem ânimo.
Olho em volta, Mítico está deitado perto à porta da sala, enquanto vejo Kayle correndo pelo quintal, brincando com alguma coisa que não sei o que é. Assim que ela me vê, Kayle vem na minha direção, com seus pequenos miados.
Eu me abaixo, sendo recebido por ela, logo a pegando no colo, afagando sua cabeça suavemente. Vejo minha pequena gata passando sua cabeça em mim como se retribuísse os carinhos que dou a ela. Vou em direção a porta, onde Mítico já me aguardava sentado, balançando o rabo empolgado. Assim que chego perto, ele fica lambendo minha mão, e logo também cedo alguns carinhos a ele. Alcanço a chave no meu bolso, empurrando de leve a porta da sala.
Eu vou até o sofá, deixando minha mochila largada próxima ao sofá, e me sento no mesmo. Ainda estou com Kayle no colo, e a deixo deitada em cima das minhas pernas. Olho para a porta, onde Mítico continuava parado. Estendo a mão para ele, e logo de imediato ele vem até mim, subindo no assento ao meu lado, se deitando bem próximo. Me encosto no sofá, ainda acarinhando eles, mas meus olhos se perdem na televisão desligada.
A sensação continua. O dia ainda está estranho. Está silencioso demais.
O silêncio, o mesmo que trás as sensações.
Que me trás medo.
Sentimentos que há algum tempo não surgiam, agora voltam a incomodar. Respiro fundo, tentando manter minha calma. Eu estou pensando demais, Estou me deixando guiar por um dia estranho, mas é apenas isso. Um dia estranho e mais nada.
Amanhã cedo tudo estará bem.
Estarei na escola, verei a todos, terei aulas chatas, e também a chata estará lá. Estará comigo.
Kayle se mexe no meu colo, esticando sua pata e enganchando suas unhas na minha camisa, puxando devagar, atraindo meu olhar. Percebo agora que, tanto Mítico quanto Kayle estão me observando. Sem dizer nenhuma palavra, eles parecem dizer que estão sentindo como estou. Afago a cabeça do meu cachorro ranzinza e da minha pequena gata filhote, dando um sorriso para os dois. – Não se preocupem, eu ficarei bem... – Não sei como, mas sei que me entendem.
Quase que ao mesmo tempo, eles dois se deitam novamente, fechando os olhos.
Gostaria de poder ir almoçar agora, mas estou sem nenhuma fome. Meu apetite desapareceu. Acho que o melhor a fazer por agora é tentar dormir junto com eles, nem que seja por apenas meia hora. Encosto a cabeça no sofá, fechando meus olhos.
*****
Dormi por mais tempo do que esperava. Quando finalmente despertei, Mítico e Kayle já haviam retornado ao quintal, me surpreendendo o fato de que não bagunçaram nada aqui dentro.
Meu estômago doía de fome, então eu corri para a cozinha para preparar algo para comer. Por sorte o básico já tinha pronto. Tudo que precisei foi fritar alguma carne, mas a pressa estava tanta que acabei picando a carne, e logo quando ela estava pronta, acabei jogando outras coisas na própria frigideira que fiz a carne para esquentar tudo junto e já comer ali mesmo.
Por sorte, não queimei os dedos, e tive menos coisas para lavar depois.
Estou agora sentado no sofá, observando um filme de ação que passava na televisão, insistindo em tentar me distrair, mas não consigo. Esse dia está se tornando cada vez mais sufocante.
O que está acontecendo?
O que eu estou deixando passar?
Junto às mãos em frente ao corpo, esfregando uma na outra impacientemente. Me deito no sofá, mas não consigo sentir nenhum conforto aqui. Me ajeito um pouco, mas tudo que consigo é ficar ainda mais agoniado. Lanço as pernas para fora do sofá, espalmando as mãos nos joelhos, e então me levanto. Um banho quente deve me ajudar a passar essa sensação desagradável.
Vou ao meu quarto como se fosse um foguete, começando a caçar algumas roupas no guarda roupas. Escolho algumas e deixo largadas pela cama, pego minha toalha e vou ao banheiro na mesma velocidade. Eu me visto quando voltar ao quarto.
Abro o chuveiro, deixando a temperatura de forma quente, porém que meu corpo não reclame. Me livro de minhas roupas e entro na água, fechando meus olhos, esperando que o calor e a sensação da água leve tudo isso embora, ou que me ajude a relaxar o mínimo que seja. Concentro-me no som da água, como o calor consegue fazer meu corpo relaxas, eu não imaginava como estava tenso. Eu preciso dar um jeito de conseguir relaxar, uma massagem no corpo me ajudaria muito nessas horas, mas não posso contar com isso.
Termino meu banho, conseguindo pelo menos relaxar meu corpo. Fico olhando a névoa que acabou surgindo pelo banheiro devido à água tão quente, parece até que tomei um banho com lava de um vulcão, e não com água. Eu devo agradecer pela caixa de força não ter explodido por causa desse banho.
Saio do banheiro com a toalha amarrada na cintura, sentindo um golpe de ar frio vindo do corredor. Esse frio passa pelo meu corpo como se fosse algo áspero, me fazendo sentir um arrepio de frio. É diferente da sensação que tenho quando meus pais aparecem, muito diferente. Eu não me sinto acolhido de nenhuma forma e nem confortável. É apenas frio, e mais nada.
Caminho pelo corredor, chegando até a sala, encontrando a porta que deixei aberta até agora. O frio aqui está muito pior do que antes, quase esmagador, provavelmente por causa de toda a corrente de ar que vem de lá de fora. Meu corpo treme, sentindo o frio me abraçando por completo como se fossem várias mãos congeladas, e pelo fato de eu mal ter me secado direito, a sensação de frio é ainda mais agressiva devido à água no meu corpo e no meu cabelo. Estou quase tremendo. Vou até a porta em passos rápidos e a fecho, enquanto sinto meu corpo começando a doer por causa do vento frio.
Me viro, encarando a sala completamente escura. A luz de lá de fora era a única iluminação que havia aqui. Dou um suspiro, indo ligar a luz, mas algo está errado. Minhas pernas não se movem. Pendo para frente, ficando sobre meus joelhos, apoiando todo o peso do corpo com as mãos. Fico encarando o chão, e meu corpo começa a temer por algo, uma sensação ruim começa a crescer no meu peito.
Medo e desespero. Por que isso agora?
O frio recai sobre meu corpo, fazendo com que eu sinta um peso crescendo a cada segundo. Uma sensação de desespero surge do medo, junto ao terror, e ao sentimento de abandono e solidão, e estão crescendo a cada segundo e tomando conta de mim. A agonia está me corroendo, apertando meu peito a ponto de me fazer sentir dor.
Minha respiração se descontrola a cada segundo, imagens surgem em minha mente. Eu me vejo em meio ao escuro. Sozinho, sem esperanças. É isso que eu mereço. É assim que devo ficar, abandonado por tudo, desesperado por não existir nada que possa me salvar, deixado para ser engolido pelo escuro desse mundo. Eu não deveria ter recuado em nenhum dos momentos que tentei ceifar minha própria vida, eu deveria ter continuado, e tudo teria acabado.
Foi tudo uma ilusão, eu sei... Eu tentei fingir que estava bem, mas não está, eu continuo caindo em pedaços, e continuarei sempre. Minha própria alma já passou do limite, ela já me abandonou quase que por inteira, e tudo que resta é um pequeno pedaço que insiste em permanecer, mas sei que ela está se apagando. Afinal, não existe salvação para mim.
Uma pressão começa a surgir sobre meu corpo, estou arfando mais. Não. O que são esses pensamentos todos?
Não, não é verdade. As coisas estão sim mudando. Eu não deveria ter continuado quando tentei me matar. Existem pessoas comigo, eu tenho uma luz em meio a essa escuridão.
Pessoas que estão comigo por pena, é obvio! E um sol que irá se apagar e me abandonar! Achar que se importam comigo, eles apenas sentem pena de mim, e de todos, Anne é a pior deles, ela já está me abandonando!
Acha mesmo que Anne sente qualquer coisa por mim? Que piada! Ela irá embora!
Todos irão embora!
Ergo as mãos até minha cabeça. Isso nunca ocorreu antes... O que está acontecendo? Que pensamentos são esses? Eu ouço minha própria voz, ela me ataca de uma forma que nunca aconteceu antes. A sensação que tenho é que eu mesmo me odeie.
Sim, é isso mesmo... Eu me odeio... Me odeio por ser um peso para todos, por ficar no caminho de todos, atrapalhando a vida deles. Por fazer se preocuparem por algo pequeno como eu.
Eu não me encaixo. Eu sou pequeno, descartável. Eu sei, se eu sumir, ninguém notará. Mas até para sumir, eu sou incapaz. Eu sou incapaz e fraco, e nada mudará isso.
Tudo está se colidindo na minha mente, tudo está cada vez mais caótico. Eu não consigo pensar em nada.
Pai... Mãe... Anne... Alguém, por favor, faça isso parar.
Tudo começa a se dissipar lentamente. Cada um dos vários pensamentos da minha mente.
Meu corpo está imóvel, mas consigo sentir o temor e um desejo descontrolado de tremer sem parar. Eu arfo novamente, sem saber em qual momento eu prendi minha respiração. Continuo encarando o chão, tentando inutilmente entender o que acabou de acontecer.
Eu passei por um conflito interno? Uma alucinação?
O que foi isso?
Ergo meu corpo após alguns segundos, sentindo uma imensa fraqueza me consumindo, acompanhada de dores que se espalham pelo meu corpo. Alcanço o interruptor na parede após tatear algumas vezes sem olhar, e quando a luz acende, sinto meus olhos ardendo. Lentamente me acostumo à luz, enquanto olho em volta.
Ando pela sala, até chegar à porta do meu quarto. Termino de me secar e finalmente visto minhas roupas em movimentos lentos. Minha vida está cada vez mais estranha, em algum momento eu vou acabar enlouquecendo. Pelo menos a sensação estranha que senti o dia todo desapareceu, e isso é bom.
Deixo meu quarto, parando no batente da porta e olhando a sala. Acho que verei algum filme para me distrair, mas por via das dúvidas, eu deixarei as luzes ligadas. Alguma coisa está me dizendo que apagar as luzes não será uma ideia muito agradável. Bem, chega de coisas desagradáveis por hoje.
Antes que eu vá ao sofá, algo atrai minha atenção. Algo que me causa terror e angustia de imediato. Em meio a algumas pétalas da rosa negra que acabaram de se desprender e caiam sobre a estante, vejo pétalas da rosa branca, muitas delas já caídas. Paro em frente ao vaso, olhando fixamente para a rosa branca. Ela parece está bonita, e parece continuar inteira... Mas por que tantas pétalas se desprenderam?
Uma preocupação surge no meu peito.
Anne, você está bem?
*****
Se já teve noites que eu dormia mal, essa definitivamente foi a pior de todas. Por mais que eu estivesse cansado, eu não consegui dormir absolutamente nada. Fui deitar as dez da noite, mas tudo que consegui foi rolar na cama de impaciência. Me levantei, bebi água e voltei ao quarto, mas nada. Preparei um chá de camomila bem concentrado e bebi quase que de uma vez, e mesmo assim não deu em nada.
Resultado: eu agora estou me sentindo um zumbi de tão cansado que meu corpo está. Nem tive coragem de ver como meu rosto está no espelho do banheiro. Apenas me vesti e saí de casa, mas pelo cansaço que estou hoje, eu fiz isso tão rápido quando uma múmia com preguiça.
A sensação de ontem havia sumido por um tempo, mas logo retornou assim que peguei meu celular e olhei a tela. Continuava do mesmo jeito, sem absolutamente nada, e devido a isso, a sensação se prolonga até hoje.
Estou em devaneios muito longos, e ainda nem estou perto de chegar à escola, e principalmente esse sol não está colaborando, fora que o silêncio de ontem voltou hoje de manhã. Aliás, eu estou atrasado, coisa que normalmente não acontece. Da pra ter uma ótima ideia de como estou um caco hoje só por isso.
Apresso meu passo como consigo, tentando ao máximo chegar antes do portão ser fechado, senão eu terei uma manhã inteira sem fazer nada. Duvido conseguir suportar isso, vai ser terrível. Pelo menos, já estou chegando.
O portão ainda está aberto, uma funcionária está do lado de fora, sacudindo seus braços chamando quem ainda está enrolando. Aproveitando essa brecha, invisto em uma pequena corrida e entro na escola. Ótimo, pelo menos cheguei. Vou direto aos banheiros, lavo o rosto tentando afastar o calor. Quando me dou por satisfeito, sacudo os braços e deixo o banheiro, indo até a sala.
Entro, vendo todos conversando e o professor distraído conversando com alguns alunos no fundo, dando muitas risadas. Perfeito, ele não vai me notar. Alcanço minha cadeira, deixando minhas coisas sobre a mesa, respirando fundo em alivio. Hoje tudo se resolve.
- Olha só se não é meu irmãozinho atrasado. – Raquel comenta, vindo até minha mesa, Leandro está vindo logo atrás dela – Dormiu demais hoje?
- Pelo contrário, eu não dormi nada essa noite. Estou péssimo... – Passo uma mão pelo rosto impacientemente. – O dia ontem foi péssimo, mas melhor não falar disso. Como estão hoje?
Raquel faz um gesto de mais ou menos com uma das mãos, e Leandro deu de ombros. Cerro o olhar, ainda observando os dois. Ué, que estranho. Não vejo nenhuma animação deles.
Nenhum dos dois me responde. Eles estão... Sérios...
Olho para o lado, vendo a mesa de Anne, vazia novamente.
Isso me incomoda.
- Ué, e cadê a Anne? – Questiono, olhando da mesa vazia para eles.
Raquel e Leandro se entreolham por um segundo, voltando a me observar. Raquel respira fundo como se tomasse folego para algo. – Você não soube... Então... A Anne está hospitalizada.
O que?
Considerações finais:
E ficamos por aqui nesse capítulo. A partir daqui, entramos na reta final. Não tenho muito a dizer a partir desse ponto, apenas espero que sigam a leitura.
Espero que tenham gostado do capítulo, e até o próximo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top