Capítulo 33
10150 palavras - Arco Anne
Por Edan
Esse domingo foi um dia cheio, para não dizer louco. Aliás, qual momento desse fim de semana foi algo normal nos padrões da minha vida?
Eu nem sei enumerar qual a coisa mais anormal, sejam pessoas drogadas, eu ter batido em alguém, ser surrado e quase acabar morrendo, a aparição do cara do casaco, ou acabar dormindo na casa de Anne.
Esse domingo também não foi um dia fácil. Meus planos eram ficar lá somente até Anne acordar para me certificar que ela estava bem, e então voltar para casa, mas acabei passando o domingo inteiro lá e só voltei para casa de noite ganhando carona deles.
Fico pensando na "pequena sequência" de coisas que aconteceram, eu dormir sentado no chão ao lado da cama de Anne. Regina entrando no quarto no meio da noite para ver a filha estava, e me encontrar dormindo ao lado da cama, no estado pouco apresentável que eu estava, com as roupas rasgadas, manchadas do meu sangue e completamente sujas. Eu tentando explicar para os pais de Anne na manhã seguinte, o que eu estava fazendo ali no quarto dela, porque eu e não o até então suposto namorado dela, explicando também que não fiz nada com ela, e o principal, porque eu estava naquele estado e aparentemente bem. Acabei não explicando muita coisa e quase não dei detalhes, porque Anne apareceu logo em seguida, acabei ficando incomodado de falar tudo, então omiti grande parte das coisas. Uma coisa foi que os pais de Anne pareceram bem aliviados quando a própria disse que não tinha mais nada com ele. A sequência não acaba ai, ainda tive que aceitar usar roupas do pai de Anne pelas minhas estarem um verdadeiro trapo.
Pelo menos uma coisa eu consegui fazer, mantive Anne distraída o dia inteiro, e seu humor melhorou muito. Ela mesma disse que não acreditou quando acordou e me encontrou encostado na cama, ainda dormindo. Achou que fosse algum sonho maluco ou uma alucinação, e logo voltou a dormir. Pelo menos, pude ver o rosto de surpresa dela ao me encontrar na sala, tentando explicar as coisas para seus pais.
Agora me encontro andando em frente à escola, em um dia ensolarado, quase abafado de tão quente, sendo alvo de alguns olhares estranhos de vários alunos quando passo pelo portão aberto. Mantenho o capuz da minha camisa cobrindo boa parte do meu rosto, tentando me esconder como eu pudesse.
Percebo os olhares, muitos estão com os celulares em mãos, assistindo algo com empolgação, mas logo trocam palavras e me observam assim que passo. Alguns olhares são com admiração, outros parecem até impressionados, e também alguns sorrisos direcionados a mim.
Não tenho ideia do que está acontecendo, mas espero que tudo isso não tenha relação com o que aconteceu na festa.
Alcanço as mesas do refeitório que sempre fico, ainda sendo confrontado por vários olhares. De um segundo ao outro, alguém deixa uma mochila ao meu lado. Percebo ser Iris. – Oi Edan.
Percebo a natural timidez em sua voz – Bom dia Iris, tudo bem?
Ela da um pequeno sorriso – Tudo sim, só esperando o Leandro chegar... Me avisou que vai atrasar um pouco por dormir demais.
- O Leandro dormindo demais? Até parece a Raquel. – Dou de ombros, e ela ri.
- Parece mesmo... Ultimamente ele está dormindo bem tarde, chega em casa do trabalho e vai assistir algum seriado. Só dorme quando bate duas da madrugada.
- Ele é corajoso demais... – Comento, apesar que eu passo por algo parecido.
- Eu que o diga. Já viu ele andando igual um zumbi por aí?
Balanço a cabeça confirmando – Já percebi. Apesar de que há essa hora, todo mundo é meio zumbi.
- É verdade... É sempre um sacrifício sair da cama logo cedo. – Iris comenta, esfregando um dos olhos com a palma da mão, contendo um bocejo.
- Tem gente que é doida de sair para se exercitar. – Digo, ainda olhando em volta, percebendo ainda os vários olhares em minha direção. Isso está me incomodando.
- Minha mãe mesmo. Ela é doida, sai de casa junto comigo e vai fazer uma corrida de sei lá quantos quilômetros. – Ela diz com uma pequena risada, passando os olhos discretamente a nossa volta. Ela percebeu todos os olhares?
Balanço a cabeça negativamente – Nossa, sua mãe tem um pique invejável.
- Queria eu ter essa animação toda... Aliás, você já percebeu né? – Ela diz, me fazendo erguer uma sobrancelha. Iris olha em volta, e depois volta seus olhos a mim – Os olhares. Estão todos falando de você.
- Aí não... – Acabo bufando – É por causa da festa?
- É, isso mesmo... – Ela respira fundo, batendo os dedos na mesa – Todo mundo comentando, além dos vídeos que estão rodando pela escola.
Encosto a não na testa – Isso pode me dar um problema...
- O que irmãozinho? – Escuto Raquel, ela se senta ao meu lado, e Ricardo a acompanha. Olho para os dois, eles ainda estão levemente machucados. Ambos tem cortes na boca e nos supercílios.
Dou de ombros – Só a problemática desse fim de semana.
Raquel balança a cabeça concordando. – Eu não sei se te abraço ou se eu te bato Edan.
Arqueio as sobrancelhas – Por que isso?
- Nós vimos os vídeos... – Ricardo comenta, passando os olhos de Raquel a Iris – Na verdade, todos nós vimos.
Fico sem saber o que dizer. Observo ao redor, todos ainda olham em nossa direção. Abaixo o olhar, pensativo. Infelizmente não tem jeito, isso iria acabar se espalhando mesmo, mas eu não queria isso. Um silêncio recai na mesa, ninguém fala nada por alguns segundos.
- Caramba, que cara de enterro aqui! – Tamires surge com um largo sorriso, se sentando sobre a mesa. Carol está com ela, mas se senta em um banco – Bom dia pessoal.
- Bom dia Tamires. – Iris responde com uma leve animação, e Raquel cumprimenta com a mesma animação. Dou um leve aceno com a mão.
- O que aconteceu, vocês estão sérios... – Ela diz, passando os olhos por nós, e olhando em volta por alguns leves segundos – É só impressão minha, ou tem gente demais nos olhando?
- Ainda não ficou sabendo? – Carol questiona.
- Sabendo o que? – Tamires questiona com um olhar curioso. – Eu estava sem internet...
- Teve um... "Acontecimento" esse fim de semana... – Ricardo comenta. Leandro aparece, tocando o ombro de Iris e nos cumprimenta com um pequeno aceno. Posso notar que ele também está com leves machucados.
- Acontecimento? – Tamires mantém seu silêncio, olhando fixamente para Ricardo. Ela passa seu olhar para Raquel, e logo para Leandro. Ela analisa a todos – Por acaso vocês participaram de alguma briga?
- É mais ou menos isso... – Iris diz, com a voz contida. Olho para ela, a garota está totalmente contida. Acho que é por estar de frente a tantas pessoas, mesmo que amigos.
- Vocês estão me deixando curiosa... – Ela cruza os braços, nos observando com curiosidade.
- Curiosa por que? – Anne surge de repente, parando bem ao meu lado e me abraçando com um largo sorriso no rosto. – Bom dia pessoal!
- Curiosa porque ta todo mundo sério aqui, além claro, de termos três pessoas machucadas nessa mesa. – Tamires bufa.
Anne me olha, ficando um pouco apreensiva. Decido falar – É por causa da festa na casa do Fabiano. Aconteceram algumas coisas lá.
Tamires me observa, cerrando o olhar. – Você não recebeu nenhum dos vídeos? – Ricardo a questiona, sacando seu celular do bolso e dando alguns toques. Tamires apenas nega balançando a cabeça. Ricardo coloca seu celular em uma posição que todos possam ver, em um vídeo pausado. Tamires se senta no banco e se ajeita. Todos se posicionam para ver. – Esse é um dos mais completos que espalharam por aí.
Isso é péssimo, acabar revivendo isso, mesmo sendo por vídeo e agora com todos ao redor. Eu preferiria que isso caísse em esquecimento. Como a maioria das coisas do colegial, eu espero que isso aconteça. Ricardo da play no vídeo, ao mesmo momento que Anne segura minha mão.
A cena começa com Raquel em frente a Fabiano, o momento que ela olhou para mim e acertou os primeiros golpes. Todos dentro do vídeo reagem de forma surpresa, da mesma forma que nós agora. Mesmo a própria Raquel parece surpresa com o que assiste. Vemos a reação de Fabiano, o momento, da forma como ele derruba a todos – É, aquilo doeu... – Raquel comenta com um suspiro, arrancando alguns risos na mesa, com Ricardo concordando balançando a cabeça.
A próxima cena foi de quando arremessei Fabiano na piscina, todos saindo de perto de mim e me deixando sozinho. As pessoas e quem grava o vídeo se aproximam, enquanto Fabiano sai da água. No primeiro golpe que Fabiano tentou, Anne segurou minha mão ainda mais forte, posso sentir a preocupação vinda dela. Não apenas dela, mas de todos a minha volta. Eles sequer piscam à medida que o vídeo passa.
Escuto as pessoas do vídeo falando que o Fabiano se sairia melhor, mas logo ele recebeu um primeiro golpe meu, mais e mais. A cada golpe, posso ouvir Raquel sussurrando "bate, bate, bate mais..." e todos estão concentrados. Fabiano caí na piscina novamente e todos acabam rindo, tanto na mesa quanto no vídeo. – Caramba... O Edan está fazendo um estrago... Eu nunca esperei isso – Tamires sussurra, e posso ver todos concordando. Fabiano sai da água, e então ele tenta novamente, sendo golpeado ainda mais, até ele ir ao chão.
As pessoas no vídeo enlouquecem, riem, assoviam, eu mesmo não me lembro disso. Apesar dos olhares e dos sorrisos de todos aqui na mesa, percebo uma tensão nos olhares de todos. Estão apreensivos.
Chegou o momento que as coisas mudaram.
Os sorrisos em todos se desmancham quando fui lançado na parede e segurado pelos braços. Assistimos os golpes que recebo. Anne esconde seu rosto no meu ombro. Iris e Raquel acabam desviando o olhar sem conseguir continuar. Todos os demais continuam olhando, ainda tensos. Até eu não sei se consigo continuar assistindo, ver cada golpe que recebi é difícil.
Vem o momento que vou ao chão, o momento que gritaram por uma faca, ou Fabiano quem gritou. Ele passou a faca pelo meu pescoço que parece se tingir de vermelho, eu nem mesmo me lembro disso. Instintivamente levo a mão ao meu pescoço, passando os dedos pelo local, não achando nenhuma marca ao toque. Logo em seguida ele passou a faca pelo meu cabelo, cortando ele quase por inteiro e arremessando ao redor, e quase que de imediato seguiu-se os vários golpes quando já estou novamente no chão.
O vídeo muda para Carol assim que ela chega, assistimos o que ela diz e cada soco pesado que ela tomou no chão. Voltando a mim, eu estava em um estado horrível naquele ponto. Meu rosto e minhas roupas estavam manchados de vermelho, meu braço parecia deslocado, talvez quebrado mesmo, e minhas roupas atingiram o estado de trapos rasgados de quando fui embora. Eu mesmo não consigo me reconhecer nesse momento.
Antes que Fabiano me acertasse de novo, um clarão surge de repente e algo parece se chocar contra o chão, e o vídeo se desfoca. Quando o vídeo retorna a ficar com um foco decente em nós, ele está ali.
O cara do casaco.
Mesmo agora, não consigo ver seu rosto devido aos movimentos. Apesar disso, percebo outras coisas, percebo que realmente haviam algo como asas negras em suas costas, que logo desaparecem. Vejo que o lugar inteiro estava com rachaduras, no chão e pelas paredes, algo que não notei na hora. E a última coisa que notei, eu estava tocando meu corpo com as mãos, agora sem nenhum machucado.
O vídeo termina com uma movimentação intensa, logo após Carol me puxar correndo para longe.
Um silêncio se instala na mesa. Ricardo abaixa seu celular, dando um suspiro.
- Eu nem sei o que dizer... – Tamires comenta com a voz baixa.
- Nenhum de nós sabe... – Raquel diz, olhando para suas mãos sobre a mesa. – Agora você sabe o que aconteceu. Todos nós sabemos.
- Não sei se fico empolgado por ver o Edan batendo no Fabiano daquele jeito, ou tenso pelo que aconteceu depois. – Leandro comenta, dando um suspiro.
Carol me olha – Você cumpriu com o que disse... Segurou o Fabiano sozinho para todos irmos embora sem ele vir atrás.
Ergo uma sobrancelha – Nem todos, você não foi com eles Carol. Era para ter ido embora junto, não devia ter voltado por minha causa.
- Eu não te deixaria sozinho ali, com o Fabiano daquele jeito... Nenhum de nós iria, mas eu me comprometi em voltar pra te buscar.
- Isso não era preciso. Eu cuidaria de tudo com vocês longe...
- De jeito nenhum! – Carol rebate – O que estava pensando, que só iriamos te abandonar?
Era o que eu queria, mas me contenho em dizer isso. – Você sabe o que acabou passando por ter voltado. Eu tinha dito que iria segurar ele.
- Ele iria te matar! – Carol me encara com seriedade, cerrando o olhar – Você estava querendo ficar para trás de propósito? Espera, por acaso... Você queria se sacrificar Edan?
Hesito em responder. Essa era minha intenção.
- Vocês não entenderam, não é...? – Anne diz com sua voz tomada por uma dor que eu não esperava dela. Todos olhamos para ela nesse instante, que está com o rosto abaixado – Eu percebi... Desde o momento que o Edan disse para irmos embora, ele não estava pensando só em ganhar tempo, ou em vencer... Mas em morrer...
Fico surpreso com o que acabo de ouvir. Não só eu, acho que todos nós ficamos.
- No fundo, você estava querendo dar sua vida por nós... Era isso, não é? – Anne me observa com um sorriso triste em seu rosto, que me faz perder o chão.
Engulo em seco. Não é um palpite, eu sinto certeza em suas palavras... E o pior de tudo, é que Anne está certa. Naquela hora, lá no fundo eu pretendia ficar para morrer – Como você sabia?
- Não faça isso de novo Edan... – Raquel nos interrompe com um tom irritado. Ela me encara, completamente inquisitiva, mas em seus olhos e no tom de sua voz ficaram nítidas a sua preocupação comigo, afetada por me ver naquela situação. – Você poderia ter morrido...
Era esse tipo de preocupação que eu queria evitar. Não queria que me vissem nesse estado, que só acreditassem que tudo correu bem, mas agora, novamente acabo me sentindo mal por preocupar ela e a todos dessa maneira. Assinto com a cabeça e desvio o olhar. Carol também se cala, desviando seu olhar em uma expressão de culpa.
- Você é importante para nós meu irmão... Precisamos de você aqui. – Ela diz, agora em um tom mais baixo – Não jogue sua vida fora.
Assinto novamente, sem responder. Eles insistem em me ver como alguém importante, mesmo que eu mesmo não me veja dessa forma. Eu... Deveria me ver assim, importante para eles?
Iris me observa, batendo os dedos na mesa – Mas vocês viram como o Edan estava antes de acabar o vídeo, tudo o que fizeram com ele e logo depois... Ele chegou inteiro. Por que isso?
- O cara do casaco... Foi ele... – Tamires diz, apreensiva. Todos nós acabamos olhando para ela. Pelo que percebo, a tensão está maior – O que ele foi fazer lá?
Carol bate os dedos na mesa – Não sei, mas é depois que ele apareceu que o Edan e eu ficamos bem e conseguimos ir embora.
- O que aconteceu com o Fabiano? – Leandro questiona, nos olhando. Nenhum de nós tem uma resposta sobre isso.
Carol acaba suspirando – Ele não deu nenhuma notícia, nem mandou mensagens falando nada. Ele deve estar muito irritado com tudo que aconteceu... Mas ainda assim, o melhor para nós é manter distância dele agora, isso é... Se ele tiver sobrevivido...
Tamires bate os dedos na mesa, ela está inquieta, mas ela não diz nada.
- É, coisas aconteceram nessa festa, é algo que devemos esquecer... – Digo simplesmente, tentando acabar logo com esse assunto.
- Como você está? – Raquel me questiona.
- Não se preocupe... Eu estou bem... – Dou um suspiro.
Anne, que se manteve em silêncio até agora me observa – O que importa é que vocês dois conseguiram sair, e voltaram bem... Só nos prometa que não vai se arriscar assim de novo Edan... Muito menos tentar o que fez...
Eles me olham. Todos esperam minha resposta. Abaixo meu olhar enquanto junto as mãos a minha frente. Realmente eu tentei ficar para trás de propósito, queria segurar ele por tempo o bastante para que todos fossem embora em segurança, e eu estava disposto a encarar o que fosse preciso. Eu estava preparado para caso as coisas dessem errado e eu acabasse pego...
Provavelmente o Fabiano me mataria sem nem pensar duas vezes... Imaginei que tudo teria acabado quando Fabiano estava no chão, mas fui pego desprevenido, e depois tudo aconteceu muito rápido. – Tudo bem, eu prometo...
Anne sorri para mim – Então chega de discutir sobre isso. Vamos só... Deixar essa história para trás... Mas antes, Carol, você disse que iria explicar tudo.
Me viro para ela. É verdade, Carol ainda precisa me contar... Ou melhor, nos contar certas coisas sobre essa história toda. Cruzo os braços, olhando para ela – Pode começar Carol.
- Tudo bem... – Ela da um suspiro – Primeiro, sim, eu sabia que Fabiano normalmente fazia essas coisas de se drogar com medicamentos misturados em bebidas, mas ele sempre fazia essas coisas para ele mesmo. Eu mesma bebia junto, eu sabia e seguia pela minha conta e risco sem envolver mais ninguém.
- Era um risco que você corria... Mas sabia e não nos contou? – Raquel questiona, com irritação na sua voz. Eu a observo, fazendo um gesto com a mão, pedindo que deixasse Carol continuar. Raquel apenas acena, e debruça sobre a mesa, apoiando o corpo nos cotovelos.
- Eu sabia, mas só tinha ouvido boatos de ele fazer o mesmo nas festas dele. Eu tinha dúvidas, e ele sempre negava fazer qualquer coisa quando eu perguntava. – Ela fica pensativa um segundo, abaixando seu olhar. – Só fui descobrir a verdade recentemente quando fui em uma de suas festas, e percebi algo estranho no copo. Nessa hora eu soube que os boatos eram verdadeiros. Ele tinha feito isso para drogar a todos pelas escondidas, só para "se divertir"... Eu só não esperava que ele fosse fazer isso com vocês.
Carol olha para Anne, que acaba sem dizer nada.
- A única quem acreditou na Carol fui eu, porque ela me mostrou o copo. – Tamires comenta, com a voz vacilante – Até tentamos falar para outras pessoas, mas ninguém acreditou, e deixamos isso em segredo entre nós duas, sem saber ao certo o que fazer.
- Poderiam ter nos avisado... Dito para tomar cuidado. – Leandro bufa.
- Ficamos sabendo com total certeza só recentemente, e o boato já corria a pelo menos dois meses... Era nosso colega de classe e ótimo amigo, não queríamos acreditar – Carol responde.
- Eu ouvi esse boato... – Anne diz em voz baixa – Mas eu não consegui acreditar. Dei um voto de confiança a ele, pela forma que sempre agia comigo, por mais que tenha se tornado distante.
- Nós também. Quando soubemos, esperamos que ele fosse parar com isso... – Tamires diz, abaixando o olhar.
Carol respira fundo. – Infelizmente as coisas aconteceram como aconteceram. Nenhuma de nós esperávamos que ele fosse tão longe, fazer isso com todos... Fazer com vocês, que ele dizia valorizar tanto como bons amigos...
- Sabe-se lá se ele não fazia isso com nós há mais tempo... – Raquel diz, sua voz carrega uma forte carga de desprezo – Ficar nos dopando, para depois fazer o que quisesse com nós.
Juntando as mãos a sua frente, Carol nos olha – Sim... Desculpe por eu ter mantido esse segredo de vocês. Por favor, não precisam incluir a Tamires nisso. Assumo a culpa.
Acabamos nos entreolhando por alguns segundos, mantendo o silêncio na mesa. Todos nós estamos incomodados com essa história toda.
- Agora não tem sentido ficarmos bravos com você... – Leandro balança a cabeça.
- Vendo pelo lado bom... Pelo menos nos falou a verdade agora. – Raquel deu de ombros, ainda bufando – Meio tarde né, mas pelo menos falou. Acho que podemos aceitar as desculpas.
Olho em volta, apesar de claramente incomodados ao saberem disso, não parecem que irão recusar o pedido de desculpas de Carol. Eu os entendo, não sinto que o pedido de desculpas de Carol seja mentiroso, vejo sinceridade nela e em suas palavras. E tenho a sensação de que Anne compartilha esse meu pensamento.
Apesar disso, ainda tem mais algo que Carol disse, e ainda não explicou, que me deixou bem confuso. – Aliás Carol, você disse também sobre algo que o Fabiano merecia receber.
Ela balança a cabeça concordando – Sim, está certo... Falei tanto com você quanto com Anne sobre isso. Lembram-se quando perguntei sobre "fidelidade" a vocês?
- Sim, lembro quando falou... – Anne responde. Fico olhando para ela, digerindo a informação de que Carol já havia mesmo falado com Anne – Na hora não entendi, mas agora é diferente.
Raquel deixa seu olhar cerrado – O que é diferente?
- O Fabiano me traia...
Iris acaba bufando – O que esse cara não fazia?
- É uma boa pergunta. Talvez seja melhor nem sabermos a resposta – Respondo.
Vejo Carol balançando a cabeça e me olhando – Eu concordo com você. Eu sempre dizia que ele merecia algo por ele vim traindo a Anne já a algum tempo. Pensei em como falar disso antes, mas sabemos bem como ela não vai muito com a minha cara.
Inevitavelmente, Anne olha para mim e logo depois para Carol, e então abaixa seu olhar sem dizer nada. Todos aqui na mesa estão se entreolhando.
- E dessa forma, não sabia como falar com ela para contar a verdade. – Raquel diz.
- Basicamente isso. Como ela acreditaria em mim se eu só chegasse falando que o namorado dela a traia já a muito tempo? – Ela para por um segundo, levando seus olhos a mim e então para Anne – Então, pensei em outra abordagem...
- Nos perguntar sobre fidelidade... – Completo o que ela iria dizer.
Ela balança a cabeça – Sim, e descobrir se vocês acham adequado devolver na mesma moeda. Falei com os dois sobre isso. Imaginei que falar a verdade não adiantaria, mas que poderiam ajudar a devolver o que o Fabiano fez na mesma forma... – Ai caramba. Novamente eu e Anne nos entreolhamos. Eu vejo nos olhos dela que acabamos nos lembrando da mesma coisa, aquele dia no mirante. A Carol vai contar para todos que houve algo entre Anne e eu. – Mas, o Fabiano acabou se entregando sozinho, então acabou que não deu para devolver o que ele fez.
Ela não contou para todos? A essa altura, eu imaginei que ela não esconderia.
- Digamos que já devolvemos na mesma moeda... – Anne diz, chamando a atenção de todos aqui na mesa. Ela se aperta um pouco no meu braço com tantos olhares repentinos virados para ela de uma vez – Talvez não a mesma quantidade de vezes, mas devolvemos. Mas o melhor é esquecermos isso. Já ficou para trás... Bem Carol, obrigada por contar a verdade.
Acabamos concordando em um silêncio compartilhado por todos. Essa história toda foi muito tensa para todos. O melhor a fazermos é realmente esquecer tudo como Anne disse.
*****
- Vamos lá, só um pouco. – Anne diz, me puxando pelo braço.
- Não Anne, está quente. Eu não quero ficar andando hoje. – Resmungo, tentando me soltar dela para voltar para casa. As aulas hoje foram apenas meio período, então tenho a tarde inteira livre para ficar sem fazer nada. Pelo menos é o que eu queria fazer.
- Só uma voltinha, nem que seja no quarteirão... – Ela tenta novamente.
Arqueio uma sobrancelha – Por que tanta insistência?
- Nada, só quero passar um tempo com meu colega de sala ué... – Ela diz, soltando meu braço e cruzando os braços.
Fico a observando, me tornando pensativo. Por mais que eu queira ficar em casa, também tenho uma vontade de apenas ficar andando por ai com Anne e essa vontade parece aumentar muito a cada novo momento. Não sei se isso me anima, ou se me irrita.
- Olha, ainda está cedo... – Digo, passando a mão pelo rosto, parando no queixo – Temos um tempo para andar, mas ainda está muito quente. Vamos fazer assim, eu encontro você na sua casa daqui uma hora mais ou menos, e de lá nós decidimos alguma coisa. Pode ser dessa forma?
Ela me abre um sorriso, concordando de imediato. – Claro, pode ser assim.
A vejo seguindo o caminho de sua casa, enquanto aperto o passo para casa. Me sinto com vontade de chegar rápido em casa. Dou passos tão largos que chego a minha rua, entrando em casa em um salto. Mítico e Kayle correm para me receber. Deixo minha mochila de canto, ficando no quintal por um tempo, acarinhando ambos. Kayle subiu ao meu ombro, começando a mexer no meu cabelo com as patas, e Mítico colocou suas patas sobre minha perna, lambendo meu rosto. Esses dois estão especialmente carinhosos hoje, acho que gosto disso... Mas sei que não devo.
Terminando de mimar eles, eu entro em casa, acompanhado dos dois que me esperam na porta da sala. Me surpreendo em perceber que a casa não está tão fria como sempre. Deixo meu celular carregando no braço do sofá e vou para a cozinha, pescando um pacote de bolachas no armário e começo a comer, acompanhando as horas.
Uma sensação passa pelo meu corpo, um leve vento passando por mim, acompanhado de dois fios gélidos subindo pelas minhas costas, um preciso e outro irregular, me causando um calafrio e um forte tremor pelo corpo me deixando estático. Eu sei o que se trata, ou melhor, de quem se trata. Meus pais estão aqui, e não deixo de me sentir animado. A sensação de estar acolhido surge em meu corpo, quase como um abraço. – Pai, mãe. Já fazem alguns dias desde que nos falamos... Como estão as coisas, ainda me olhando?
Leva um tempo, e o mesmo vento passa por mim, aumentando a sensação que eles me passam. Inevitavelmente eu fecho os olhos, tentando ter um vislumbre de ambos em minha mente, ou pelo menos sentir ambos. Isso funciona, consigo sentir a presença de ambos perto de mim, aqui na cozinha, e minha mente me faz enxergar os dois aqui comigo.
Sentir isso me acalma profundamente. – Eu nem falei nada, mas no dia do meu aniversário vocês estiveram aqui e acabaram vendo a Anne. O que acharam dela? Aliás, o que acharam dos meus colegas? – A visão que minha mente me trás é que meu pai me toca em meu ombro, e um frio passa pelo meu ombro, e logo sinto o mesmo vindo da minha mãe. Vejo os dois me observando, sorrindo para mim, como eu gostaria de ver isso todos os dias. Eu quero poder me desculpar com eles pelo ocorrido anterior, onde eu queria tentar me matar, mas antes que eu diga qualquer coisa, me sinto impedido.
Eles ainda me observam, como se me pedissem para que eu me acalmasse, e eu assim faço. Lentamente, a imagem deles começa a se dissipar, não antes de eles me abraçarem. O vento frio me cerca, rondando meu corpo por alguns segundos, potencializando a sensação ao máximo. Muito mais forte que antes, eu os sinto aqui comigo.
Assim que ambos se dissipam da minha mente, o vento suave e as sensações de frio desaparecem gradualmente. Apesar de não sentir mais eles, sei que estão comigo.
Abro os olhos novamente. Penso em tomar um banho e colocar uma roupa mais leve antes de sair de casa. E é isso que faço. Alcanço uma toalha e corro para um banho frio, tentando afastar o calor.
Assim que saio, vou ao meu quarto, escolhendo roupas leves e logo me vestindo. Alcanço um perfume que ganhei de Raquel no meu aniversário. Penso no momento que minha irmã entregou o presente, e admito que gostei, e passo em uma leve quantidade.
Paro em frente ao espelho, encarando meu visual por alguns minutos. As roupas que considero as mais leves e também ao mesmo tempo, mais apresentáveis do meu guarda-roupa. Acho que eu deveria fazer mais algo, não sei se meu visual atual me agrada, mas é o melhor que posso fazer. Cada vez estou me preocupando com minha própria aparência, isso está estranho demais.
Balanço a cabeça e saio, indo de volta à sala. Alcanço minha chave, meu celular, e estou pronto para sair. Paro por um segundo, analisando o vaso de flores com as duas rosas. Hoje, ambas estão bonitas, apesar de levemente murchas. Fico curioso em relação a rosa negra.
Ela está tecnicamente bonita também, isso significa que estou bem?
*****
Estou me abanando com a mão, está muito quente. Por mais que esteja ventando suavemente, esse calor todo está me desgastando. Enfim, não preciso andar muito mais. Já estou na rua de Anne, chegando em frente à sua casa. Eu mandei uma mensagem para ela, avisando que já estava na esquina, e assim que chego perto do portão, ele é aberto e vejo Anne.
Não consigo parar de olhar para ela, de ficar... Admirando. Ela está com um vestido leve de cor branca e tons vermelhos, indo até a altura dos joelhos, os braços nús e os cabelos ruivos soltos pelos ombros e em suas costas. Essa garota está simplesmente deslumbrante de uma forma que eu não sei descrever. Ela me olha, dando um sorriso meigo, e eu perco minhas palavras. Não restam dúvidas, eu estou muito estranho.
- Oi, estava te esperando! – Ela me diz, completamente animada.
- Demorei para chegar? – Questiono, a vendo me dando espaço para entrar.
Ela nega com a cabeça, fechando o portão atrás de si – Nenhum pouco. Chegou cedinho.
Dou de ombros, ainda olhando para ela – Acho que vim meio rápido... – Caramba, eu estou muito sem graça agora. O que eu estou falando?
- Veio no tempo certo, isso sim... – Ela me puxa para dentro. Vejo a mãe de Anne na sala, ela está assistindo um show de comédia na televisão.
Assim que Regina me nota, ela abre um sorriso – Olá Edan, nos visitando de novo, quem diria.
- É, ultimamente estou vindo bastante aqui... – Eu devo tentar me acalmar. Já estive aqui outras vezes, porque agora eu estou tão nervoso?
- E nem pense em parar de vir! – Regina me diz com um largo sorriso, tão igual ao de Anne, apontando para um espaço vago no sofá. – Não precisa ficar tímido, sente-se.
- Ah... Claro... – Consigo dizer, indo me sentar na extremidade do sofá, sendo analisado pelos olhares tanto de Regina como de Anne. Eu devo estar igual um pimentão agora, e o pior é que eu não faço a menor ideia do motivo de estar assim.
- Aliás, está com fome? Quer comer algo? – Anne me diz de repente, se sentando no braço do sofá e me olhando curiosamente.
- Não, estou bem. Comi algumas bolachas em casa.
Regina acaba rindo – E isso mata sua fome menino?
- É... Costuma dar um jeito na maioria das vezes. – Digo passando a mão no rosto – É para compensar o que não comi quando acordei.
Cerrando o olhar, Regina me observa, enquanto Anne se encosta no meu ombro. Ta bem, se eu estava nervoso antes, acabei de ficar mais agora. – Não acho que isso é o bastante.
- Eu também não... Já sei, o que acha de comer bolinhos de chuva? Você gosta? – Anne sugere me olhando.
- Falar que gosto é pouco, eu adoro. – Noto a empolgação na minha voz. Sem dúvidas, bolinhos de chuva é uma das coisas que mais gosto de comer – Querem que eu prepare?
Anne acaba sorrindo – Não precisa, eu fiz bastante antes de você chegar.
Olho para Regina, mas ela da de ombros. – É verdade, a Anne cismou em fazer bolinhos de chuva. Ela quem preparou tudo, e não movi um dedo para ajudar.
- Não precisa ficar falando mãe. – Anne diz rindo, se levantando – Vou lá pegar alguns para você. Eu não demoro.
Se levantando do sofá com um pulo, Anne vai até a cozinha andando em passos animados, e eu acompanho seus passos até sair da minha vista. Bato os dedos no joelho, sentindo que Regina está me observando. Escuto os toques do micro-ondas na cozinha, e ele sendo ligado.
- Então, qual os planos para hoje? – Regina questiona de repente.
- Devo te dizer que essa é uma boa pergunta... – Respondo. Definitivamente não pensei em nada até agora. Cruzo os braços por um segundo e olho para o lado, tentando pensar em qualquer coisa que seja, mas simplesmente não consigo.
Ela ri – Não tem nenhuma ideia? Achei que vocês iriam sair, vendo o jeito que Anne está animada desde que você chegou... Desde antes na verdade, quando ela chegou em casa.
Pendo a cabeça para o lado – É, eu... Acho que percebi a animação dela... Ficamos de decidir de sair ou não quando eu chegasse aqui.
- Sair nesse sol tem que ter muita coragem. Qualquer coisa, fiquem em casa mesmo. – Ela me diz, e consigo ouvir o micro-ondas apitando.
Anne vem até nós com um pote em mãos, se sentando ao meu lado. Posso ver uma porção nada modesta de bolinhos de chuva, grandes e bem dourados, e ainda vejo finas pitadas de açúcar lançadas de forma bem precisa, está do jeito que gosto de fazer. – Aqui está. Não esquentei muito.
- Bem... Obrigado. – Consigo dizer, pescando um e comendo. Anne acaba pegando um também e me acompanha. Posso dizer que está saboroso.
- Gostou? – Anne me questiona, com um sorriso.
- Sim, ficou ótimo. Vou querer comer mais – Digo, terminando de comer o que já tenho na mão e já pescando outro para mim.
Percebo Regina nos observando, seu olhar é diferente. Parece carregar uma estranha nostalgia enquanto nos observa, tanto a mim quanto Anne... Estranho, sinto algo levemente parecido vindo também de Anne, com algumas diferenças que não sei definir. – Sabem, olhar vocês me fez lembrar dos meus tempos de adolescência.
Viro meus olhos para Anne, que continua comendo. Resta a mim continuar o assunto – Do que está se lembrando?
- É que eu e o Marcos ficávamos desse jeito que vocês estão, antes de sairmos para aprontar as escondidas dos meus pais. Era tão bom, me deu uma saudade agora... – Regina da um suspiro e olha para o alto. Acabo arqueando as sobrancelhas. Não estou olhando para Anne, mas estou sentindo como ela ficou sem graça com o comentário da mãe. Engraçado como ela não acabou se engasgando como nos filmes e livros. A sensação se confirma assim que olho para Anne, que está desviando seus olhos para o pote. Regina começa a rir de repente – Estou brincando.
- Não faça isso, já estava pensando em lugares escondidos para levar a Anne... – Pauso um segundo. O que raios eu acabei de falar? Por acaso eu fiquei louco?
Olho para Anne, que está ficando vermelha, enquanto sua mãe começa a gargalhar alto – Só não invente de ir com ela a uma casa em construção, experiência própria... Já fui detida umas três vezes quando era adolescente. – Ela diz isso sem parar de rir, e passo os dedos no queixo como se considerasse a ideia de arriscar o local que Regina "aconselhou". Anne está com um olhar de quem vai abrir um buraco e pular dentro a qualquer segundo.
- Essa história de novo mãe? – Anne diz, com a voz contida.
- Prefere eu fazendo piadas para descontrair, ou fazendo um interrogatório? – Regina arqueia as sobrancelhas, olhando de Anne para mim. Ela junta suas mãos e me observa, mudando sem tom brincalhão para algo sério. Me sinto diante de uma juíza nesse instante. – Então Edan, vou começar... Me conte tudo. Onde mora, onde estuda, se trabalha, quais seus planos para o futuro, quais suas intenções com a minha filha? Prefere direito ou medicina? Diga, qual a única parte do carro que vem do Egito?
De imediato Anne começa a rir – Não mãe, esse trocadilho não!
Olho de Anne para Regina por algumas vezes – Estou curioso sobre esse trocadilho...
Regina pende o corpo para mim, com uma expressão mais dura no rosto – Os faraóis.
Meu pai... Isso foi ridículo. Tapo o rosto com as duas mãos, tentando inutilmente esquecer esse trocadilho infame, enquanto Anne da gargalhadas, que tenho certeza serem devido a minha reação de agora.
Olho para as duas eu dou um suspiro, depois dessa quero ir pra casa e talvez chorar um pouco.
Com o olhar cerrado, movendo a boca lentamente, Regina olha de Anne para mim. – Vou te fazer umas perguntas, e você responde só com sim ou não, entendeu?
Olho de um lado ao outro, e então balanço a cabeça – Entendi.
- Já errou... – Regina comenta séria, fazendo eu e Anne nos entreolharmos. Anne não se contém e volta a rir ainda mais – Diga, qual a palavra de oito letras, que se tirar quatro, continua oito?
- Que? – Consigo dizer. Regina continua me observando fixamente, com seus dedos entrelaçados em frente ao rosto. – Bem, eu acho que...
- É sim ou não Edan... – Ela me interrompe, dando um sorriso de canto.
- Como vou responder essa pergunta só com sim ou não? – Questiono olhando para as duas. Viro meu olhar para Anne, que apenas ergue as mãos com um sorriso.
- Vou mudar a pergunta... – Ela diz de repente – Por que o Batman só usa o celular à noite?
Eu hesito, olhando de um lado ao outro, sem saber o que responder. – Ahn... Sim?
Se ajeitando no sofá, Regina passa a mão pelo rosto – Certo. Ta legal, agora é sério... Explique.
Continuo hesitante com isso. – Porque... É quando tem bat-sinal?
- Você acaba de ganhar mais respeito comigo Edan... – Regina diz de repente, começando a rir.
Anne continua rindo, se contendo e me olhando – Lembra o que falei? Meus pais são meio doidos.
- Meio?! – Questiono, olhando para as duas. – Agora entendi de onde você puxou esse lado que faz tanta pergunta Anne.
- Eu tentei ser séria, mas não consegui resistir. – Regina diz rindo, se abanando.
- Eu não quero nem ver o estrago que seus pais juntos podem fazer. – Digo, desviando o olhar.
- Domingo era para ter visto, mas estávamos cansados da semana. ALiás, você já viu um pouco na viagem. – Regina deu de ombros, passando uma mão pelo cabelo, voltando seus olhos a televisão – Mas nós dois juntos somos bem difíceis de aguentar.
Olho para Anne, arqueando uma sobrancelha, pescando mais um bolinho – Descobri de onde herdou sua loucura Anne.
- Está me chamando de louca? – Olho para Anne, respondendo sua pergunta apenas olhando para ela. Novamente ela começa a rir – Idiota! Aliás, vem comigo!
Ela se levanta, pegando o pote com os bolinhos e me puxando para fora da sala. Não consigo nem questionar, apenas me deixo ser puxado.
Deixamos a sala, indo em direção ao quarto de Anne em passos rápidos. Assim que entramos, sinto o ar não muito frio aqui. Vejo a janela aberta, e uma suave brisa passando, fazendo as cortinas se moverem tranquilas. Escuto o som da porta atrás de mim sendo fechada.
- Minha mãe fala cada coisa... – Ouço Anne suspirando atrás de mim.
Me viro para Anne, concordando balançando a cabeça – Cada vez mais estou vendo isso...
Ela me observa de um jeito diferente enquanto deixa o pote sobre a cômoda. Algo diferente vem dela, tanto de seu olhar quanto de suas intenções.
Anne vem até minha direção, me abraçando e me dando um beijo intenso. Apesar da minha surpresa por sua ação, de imediato eu a abraço de volta pela cintura, a colocando contra a porta, continuando a beijar ela sem parar. Suas mãos percorrem pelo meu pescoço em leves arranhões ao mesmo tempo que ela aperta seu corpo ao meu. Ela aperta seus dedos em meus ombros, e logo os percorrendo pelas minhas costas até atingir a barra da minha camisa que é imediatamente invadida. Sentir as mãos de Anne pelo meu corpo, os leves arranhões que ela da em minhas costas, sentir sua pele na minha, tudo me causa um misto de sensações e vontades que tomam meu corpo e parecem ir muito além disso.
Afasto dela por um segundo e olhando em seus olhos, com minha cabeça explodindo em tantos pensamentos, diversas sensações saltando do meu peito. Minha sensação é que nesse momento, o tempo parou completamente, e não me importaria se ele permanecesse parado para sempre.
Sentimentos que eu não esperava ter começam a se espalhar quanto mais eu olho para Anne, desejos e atrações que eu não imaginei antes, pareciam contidas, presas em um lugar de mim que eu negligenciei, mal sabia que existiam... Agora despertam, se espalham por mim, e crescem a cada novo segundo.
Passo minha mão pelo rosto da garota a minha frente, indo aos seus longos cabelos vermelhos, me certificando de que tudo isso é real, que tudo que estou passando é a realidade, e não mais um sonho ilusório que no fim, tudo dará errado para mim. Anne sorri para mim, tocando meu rosto com suas mãos de uma forma suave. É real. É verdade. Sem perder mais tempo, puxo ela novamente para mim, voltando a beijar ela com cada vez mais vontade, vendo como nossas respirações se alteram em cada segundo, como nos conectamos cada vez mais em cada instante... Lentamente me afasto de Anne, olhando em seus olhos azuis, encantado pela vida que habita neles.
- Eu esperei por isso o dia todo... Só eu sei como queria te beijar de novo – Ela diz em um sussurro, me observando de uma maneira que me lembro vagamente de ver em Anne.
- O dia todo? – Acabo pendendo a cabeça para o lado. Posso sentir a euforia vinda de Anne, a animação natural dela se unindo a desse momento. Eu consigo ver muito bem nela que sim, ela realmente esteve esperando por isso o dia todo, e de certa forma, eu também estive.
Com uma mão no meu peito Anne confirma balançando a cabeça. Ela me empurra levemente para trás, dou alguns passos para trás, sentindo a cama encostando atrás das minhas pernas. Acabo me sentando, e Anne me observa com um sorriso e se senta sobre meu colo, voltando a me beijar com a mesma intensidade de antes, levo minhas mãos a sua cintura e ela envolve meu pescoço com os braços, segurando na minha camisa.
Estamos próximos, ainda mais do que antes, agora sinto mais de Anne do que a momentos atrás, e quero sentir ainda mais, sentir mais de seu corpo, de toda a vida que existe nela e todo o fogo que sua vida possui. Sentir o calor vindo de Anne, de seu corpo e essência, como se a luz que eu sei que existe dentro dela fosse algo que me aquecesse de uma forma que eu nunca senti antes... Tudo isso faz bem, faz muito bem...
Lentamente vamos nos deitando, suas mãos se unindo as minhas com os dedos entrelaçados, sentindo leves mordiscadas que ela da em meu lábio inferior, voltando a me beijar sem cerimônias. Não existe isso nesse momento, apenas nós.
Anne se afasta de mim, com um pequeno sorriso ela me observa, tocando meu rosto com a ponta dos dedos. Acabo me perdendo no azul de seus olhos e na beleza de seu rosto, e antes de ela dizer qualquer coisa, deito Anne em sua cama, voltando a te beijar com toda a vontade que sinto. Mordo suavemente sua boca e puxo seu lábio, e Anne sorri, me puxando para mais perto de si me dando uma mordida suave no pescoço me fazendo estremecer em um misto de sensações que me desconcentram, mas são extremamente boas. Nos olhamos por um novo segundo, voltando a nos beijar com mais intensidade, sem perder um único segundo sequer.
Passo minhas mãos pelas suas coxas, percorrendo os dedos até sentir o tecido de suas roupas, em uma vontade que cresce em mim e sinto vir dela, subo seu vestido sem deixar de tocá-la, podendo sentir e apreciar a suavidade de sua pele, e percebo que Anne sorri com isso unido a um arrepio, porém ela não me impede, seus olhos pedem por mais... Nesse momento eu desejo ela, e ela me deseja, eu sinto isso.
Por mais uma vez giramos na cama, e ela fica sentada sobre mim, me olhando por longos segundos com um sorriso no rosto, arfando de leve. Inevitavelmente volto a olhar aos seus olhos, mas logo minha atenção retorna a seu corpo ainda coberto, que nesse instante eu desejo de maneira que nunca imaginei desejar – Acho melhor nos acalmarmos um pouco.
- Por que eu tenho a impressão de que você não quer isso? – Digo, erguendo uma sobrancelha. Minha respiração está alterada.
- Porque eu não quero parar mesmo. Quero continuar... – Ela diz rindo, ajeitando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Vejo seus cabelos ruivos sobre mim, fazendo leves cócegas no meu pescoço, mas não quero que isso pare. – Pena que não estamos sozinhos.
Entendo bem o que ela quis dizer. Acabo dando de ombros, erguendo levemente meu corpo até me apoiar nos cotovelos. Olho em direção a porta fechada, e volto a observar a garota de cabelos ruivos que está me fazendo sentir tantas coisas em apenas um momento – Talvez... Oportunidades podem ser aproveitadas.
- Eu deveria brigar com você por ficar me tentando assim, o detalhe é que eu pensei na mesma coisa... E estou pendendo a aceitar. – Seu sorriso é ainda maior. Ela segura a gola da minha camiseta, me puxando para perto em mais um beijo, voltando a me olhar.
- Poderia aceitar. – Arqueio as sobrancelhas em um momento. Balanço a cabeça negativamente uma vez – Façamos assim, por enquanto ficamos tranquilos, e em uma oportunidade melhor, continuamos com isso. O que acha?
Anne olha para o lado, com um sorriso pensativo. Ela leva suas duas mãos ao meu rosto, me puxando para mais um beijo, menos duradouro mas igualmente intenso – Ta bem, agora sim posso aceitar essa proposta.
Anne ergue seu corpo, a acompanho e fico sentado. Apesar disso, ela fica no meu colo, me dando um abraço forte, que correspondo de imediato. Anne passeia as mãos pelas minhas costas, subindo devagar ao meu cabelo, movendo os dedos fazendo carinho em mim. Calmo e relaxante, me sinto tranquilo, acolhido. Ficar dessa forma é bom, tão bom.. De maneira que eu não lembro se senti antes. É um misto de sensações, carinho, acolhimento e desejo que se misturam. Combinam tão bem que me seduzem a querer cada vez mais. Não esperava essas sensações, são agradáveis... Tão únicas.
Apenas Anne consegue fazer isso comigo.
Percebo que Anne olha em uma direção. Por curiosidade, acabo acompanhando, notando que ela está observando o canto da parede com várias fotos. – Tem uma faltando.
- É... – Consigo dizer, observando fixamente o espaço vago. O pedaço de fita adesiva da foto ainda permanece da parede, intocado.
Mantendo o silêncio, Anne toca meu rosto lentamente sem me observar – Eu vi os pedaços no lixo do banheiro na manhã seguinte... Foi você, não é?
Não a respondo. Não preciso responder, Anne sabe.
Ela me observa, com um pequeno sorriso – Obrigada Edan...
- Não precisa me agradecer por nada. Fiz o que foi preciso... – Dou de ombros.
- Concordo... Mas eu não gosto desse espaço vazio. – Ela diz se levantando e indo até a parede, e arrancando o pequeno pedaço de fita que ainda restava.
Fico observando Anne, acompanhando atentamente cada um dos seus movimentos. Ela joga a pequena fita pela janela do quarto, e indo até seu guarda roupa, começando a vasculhar por uma das gavetas – O que está fazendo?
Ela não me responde. Anne fecha a gaveta e começa a olhar debaixo de outras roupas – Achei!
Acho que estou sendo tomado pela curiosidade de saber o que ela achou. Consigo sentir uma felicidade surgindo dentro de Anne, e nesse momento eu agradeço a tal lenda das Rosas Gêmeas por ter desenvolvido esse elo que tenho com Anne, além da "habilidade" de sentir o que vem dela. As vezes, acho até que alguns pensamentos que tenho vem de Anne... É maluquice, mas é exatamente isso que eu acho.
Será que ela sente as mesmas coisas, ou consegue ouvir meus pensamentos do mesmo jeito que eu acho que consigo ouvir os dela?
Se virando para mim, Anne da um sorriso e acena positivamente. – Sim... Eu consigo... – Isso me pega totalmente de surpresa. Eu... Eu consegui ouvir na minha mente. Realmente consegui ouvir os pensamentos dela? E ela consegue o mesmo?... Isso... É o elo que temos, estamos cada vez mais ligados? Não sei o que dizer, nem o que pensar.
Anne vem próxima de mim, tocando meu rosto com uma das mãos, na outra percebo o que parece ser um envelope – Quantas perguntas Edan, até parece eu... Não precisa dizer nada...
Sua voz é suave, me acalma. Apenas balanço a cabeça concordando, vendo ela indo até sua cômoda, abrindo o envelope e o deixando sobre o móvel. Anne agora segue até onde todas as outras fotos estão. Ela se senta e, ajeitando com as mãos, ela cola a nova foto no espaço vazio da parede.
Era uma foto nossa, a mesma que ela fez questão de tirar comigo no meu aniversário. – Agora sim, está muito melhor que antes.
- Melhor que aquele espaço vazio. – Digo, olhando da foto para Anne.
- Também... E bem melhor que a foto de antes – Ela se vira pra mim, dando um sorriso.
*****
Estamos caminhando rumo ao centro. Ainda não são nem uma da tarde, mas resolvemos andar um pouco por aí, e depois iremos voltar para a casa de Anne. Antes de pensarmos em sair, Anne fez questão que eu deitasse em seu colo por alguns minutos, e ficou me fazendo carinho por longos minutos. Eu me senti uma criança por ficar dessa forma, apenas deitado e sendo mimado por ela, mas da mesma forma que isso foi estranho por eu não ter algo assim a tantos anos, também me causou uma sensação boa.
Além disso, Regina fez questão que almoçássemos um pouco que fosse para caso fossemos demorar para voltar para casa, mesmo tendo comido vários bolinhos que Anne fez. Acho que estou alimentado até amanhã pelo menos.
O clima está agradável. Mesmo sendo um dia de sol forte, está ventando o bastante para poder refrescar, e passar em uma sombra é uma maravilha completa. Olho para Anne, ela tem uma carga de animação que parece não se conter somente a ela. Radiante como sempre, talvez até mais do que normalmente ela já é. Anne me observa, me pegando de surpresa.
Talvez eu deva controlar melhor meus pensamentos perto dela. Sabe-se lá o que ela pode ouvir.
Ela apenas me dá um sorriso, segurando minha mão e envolvendo seus dedos nos meus. – E então, vamos a algum lugar em especifico, ficamos só andando? O que podemos fazer?
Passo a mão pelo rosto. Ainda não pensei exatamente nisso. – Vamos ir andando, se alguma coisa interessante aparecer no caminho, nós aproveitamos.
- Você quem manda! – Ela diz, fingindo uma continência.
A observo de canto, e então viro meus olhos para o alto – Está calor. Quer algo para se refrescar?
- Não precisa. Está quente mesmo, mas dá para aguentar...
- Tem certeza? – Arqueio uma sobrancelha.
Ela me olha, ficando pensativa por alguns poucos segundos – Sim, não precisa.
Acabo dando de ombros – Tudo bem, você quem sabe.
Passam-se alguns segundos. Anne fica me observando como se esperasse algo, logo então acertando um leve tapa no meu ombro e começando a rir – Seu chato!
- O que eu fiz? – Arqueio as sobrancelhas.
- Era para ter oferecido mais uma vez, que ai eu aceitava! – Ela diz rindo.
Olho de um lado ao outro – Espera, você queria algo?
- É claro, queria um sorvete, ou uma latinha de refrigerante que fosse. – Ela finge estar brava, fazendo bico. – Mas você não ofereceu a terceira vez. Nunca viu essa regra?
- Existe uma regra para oferecer algo três vezes a alguém?
- Claro que existe, olha só... – Anne ergue sua mão, para contar nos dedos – A primeira oferece por educação, a segunda é insistência, e a terceira é para ter certeza como última chance da pessoa aceitar ou negar, e é onde normalmente se aceita.
Isso é ridículo, mas o pior de tudo é que realmente faz sentido e está conseguindo me divertir. Eu acho que já vi algo assim acontecendo por aí, o que deixa essa maluquice melhor ainda. Tinha que ser coisa da Anne – Tem lógica, mas não era mais fácil você aceitar logo de cara?
Anne para um segundo, ficando sem me responder. – Verdade, eu poderia mesmo.
Suspiro, balançando a cabeça negativamente – Francamente... Ta bem, então prefere o que? Um sorvete, um suco, um copo de café?
- Café nesse calor Edan? – Ela começa a rir outra vez. – Mas tem café gelado, seria bom também.
- Exato, só não lembro pra qual lado fica uma cafeteria... – Passo a mão pelo queixo.
Anne sorri me observando – Pode ser só um sorvete mesmo... Mas não se incomode...
- Tudo bem... – Acabo passando a mão lentamente pelo seu cabelo, indo ao seu rosto. Se continuar assim, corro o risco de ficar olhando para ela o dia inteiro. – Depois do sorvete, o que acha de passarmos no shopping, ver se tem algum filme no cinema... Não sei...
Por alguns segundos, Anne me observa sem dizer nada. Ela se aconchega mais perto de mim, o que me faz passar um braço ao seu redor – O que você quiser Edan. Eu estarei com você.
*****
Acabo de guardar meu celular no bolso. Meu tio Marcos pediu para encontrar com ele em um endereço bem aleatório, mas sei que fica pelo centro em uma área bem comercial. Acho que me lembro de cabeça como chegar no local que ele disse.
Olho para Anne, que está saboreando um sorvete que comprei para ela se refrescar nesse calor.
Ela está me olhando com curiosidade, então resumo em poucas palavras, e ela aceita em ir comigo encontrar com meu tio. Tenho plena noção de como Anne quer me perguntar. Eu sinto a curiosidade vinda dela, mas também posso ver como ela está se segurando para não me perguntar mais nada.
Por alguns minutos, seguimos caminhando por entre as ruas. A todo momento olho para Anne, me certificando de que ela não está se cansando pelo calor, ou passando mal.
Estamos em um local bem movimentado, e posso ver meu tio logo a frente, em trajes um pouco mais formais do que de costume, quase como se ele tivesse saído de seu trabalho para me encontrar. – Olá tio Marcos. Me chamando assim em cima da hora? – Digo assim que chegamos perto.
Ele se vira para nós, demonstrando certa surpresa ao ver Anne comigo. Acompanho o olhar do meu tio, e somente agora percebo que eu e Anne estamos de mãos dadas – Posso ver que está bem acompanhado. – Ele diz rindo, e Anne acaba sem jeito – Desculpe ser assim tão repentino.
Balanço a cabeça negativamente – Não tem problema. O que se trata?
Meu tio da um sorriso de canto – Quero mostrar algo que comentei já a algum tempo atrás. É aquele lugar ali, do outro lado da rua.
Passo os olhos pelo quarteirão lentamente, tentando identificar o que meu tio se refere, logo encontrando – Uma floricultura? – Escuto a voz de Anne em um tom de admiração.
- Isso mesmo... – Meu tio afirma – Esse é o lugar que os pais de Edan administravam, e o que permitiu que eu pudesse manter a casa onde ele mora por todos esses anos.
Olho para a loja por alguns segundos, me sentindo tentado a entrar nela. Conhecer o lugar que minha mãe e meu pai estiveram por tantas vezes além da minha própria casa – Por que está me mostrando isso?
Meu tio olha de um lado ao outro, seguindo em passos curtos em direção a loja – A loja esteve sob o nome do seu pai, e então foi para sua mãe... Depois que os dois se foram, a loja foi para a pessoa mais próxima do dono original. – ele comenta calmamente, sei que está me poupando de alguns detalhes – O que quero dizer é que, esse lugar está sob meus cuidados mas originalmente ele é seu, e quero entregar a você quando for mais velho.
Acabo surpreso com isso. Mas... Eu?
- Nossa, a loja dos seus pais será sua Edan, isso é o máximo! – Anne me diz com empolgação na voz, mas eu mesmo não sei o que dizer.
- Claro, quando ele completar maioridade. – Meu tio diz, dando um pequeno sorriso – Então tanto a loja, quanto as duas contas estarão sob os cuidados dele.
Pendo a cabeça para o lado. – Duas contas?
- Claro. Uma é a conta de finanças da loja, e a outra é a conta poupança que seus pais montaram desde que você nasceu. Eles queriam garantir uma faculdade a você, e um começo de vida adulta confortável. – Meu tio diz, levando as mãos aos bolsos. – Bem, eles fizeram pensando em você, desde o início.
Nossa, quanta coisa em apenas um dia. Estou sem uma reação com tudo isso. Então... Eles fizeram ainda mais por mim, e eu sequer sabia.
- Não sei se essa é sua vontade, mas... Foi algo que seu pai sempre falava comigo quando você ainda era um bebê. – Meu tio diz calmamente. – Ainda é cedo para isso, mas gostaria de saber se você aceita a loja Edan, cuidar de tudo que era dos seus pais.
Fico em dúvidas sobre isso, eu nunca pensei em administrar algo assim, ainda mais algo que foi dos meus pais. Acabo olhando para Anne, buscando por alguma opinião dela. – O que acha disso Anne?
- É algo bom para seu futuro Edan... – Ela me da um sorriso, apertando de leve minha mão me passando um pouco de confiança – Não só por um trabalho, mas para ter uma vida confortável... Seja o que escolher, eu te darei apoio, e estarei com você.
Abaixo um pouco o olhar, ficando pensativo sobre isso. Eu ainda estou muito incerto sobre isso, mas mesmo assim... É um futuro, algo para que eu possa seguir. – Tudo bem, se eu tenho apoio, então eu aceito isso.
Vejo como meu tio sorri de empolgação com minha resposta – Fico feliz em ouvir isso. Tenho certeza que seus pais também gostariam disso... As coisas serão difíceis, mas te ajudarei a administrar tudo, até que esteja pronto para lidar com os negócios sozinho.
- É, vou precisar mesmo de ajuda... – Digo dando um suspiro, enquanto olho para Anne. Ela sorri em concordância com minha decisão. Posso sentir como ela me apoia de verdade.
Meu tio da risadas – Voltaremos aos tempos que eu te ensinava as coisas. Mas vamos entrar, eu quero que conheça tudo, imagino que esteja ansioso.
Admito que sim, eu estou ansioso para entrar. – Com certeza estou. Vamos Anne?
- Irei aonde você quiser me levar. – Ela diz em um sussurro, e afirma com um gesto.
Dito isso, seguimos juntos para dentro da loja, deixando a curiosidade me tomar. Quero mesmo conhecer o lugar que meus pais cuidavam.
Considerações finais:
E aqui acabamos mais um capítulo. Mais coisas acontecendo, esse capítulo finalizou o arco da festa definitivamente, dando ainda mais espaço para vários acontecimentos. Muitas coisas estão para acontecer, e espero que continuem acompanhando.
Gostaram? Odiaram? Tem opiniões? Não hesite em contar. Os espero no próximo capítulo, até logo.
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