Capítulo 30

4100 palavras - Arco festa

Por Edan

Últimos dias das férias, estou tentando resistir ao máximo que posso para não ser engolido pelo tédio, mas ao mesmo tempo que não quero de jeito nenhum voltar as aulas. É uma dualidade bem estranha.

Apesar que preciso admitir, depois do meu aniversário, boa parte do clima de tédio foi rompido de forma bem drástica, tanto pela visita dos meus colegas, quanto também nas visitas de Carol. Desde meu aniversário, ela tornou as coisas bem mais empolgantes para nós dois, principalmente quando dorme aqui em casa.

Coisas como aquela do meu aniversário já haviam acontecido antes... Mas antes, nada foi na mesma intensidade como naquele dia, as coisas agora são muito maiores e intensas.

Me vem em mente outra coisa, ou melhor, outro alguém. Anne. Depois da viagem, em muitos momentos me pego pensando nessa chata. Nos momentos que estou sozinho igual agora, desocupado ou fazendo algo, a imagem dela se faz presente por entre as sombras que me rodeiam. Não tenho a menor ideia do porquê disso, mas apenas acontece.

Sou tirado dos meus devaneios quando escuto meu celular apitando sobre a mesa. Eu o alcanço, vendo uma notificação de uma mensagem. Não é possível, ela sabia que eu estava pensando nela?

"Olá Edan, como está? Está livre essa tarde para conversarmos um pouco? Posso ir aí?"

Isso aqui é uma mudança bem inesperada. A Anne perguntando se estou livre a tarde e se pode vir aqui? Normalmente ela só invadia minha casa.

Respondo positivamente, e quase no mesmo momento que envio a mensagem, ouço a campainha tocando. Volto a realidade onde nem sabia que eu ainda estava, o sofá que faço mais de cama do que qualquer outro lugar da casa. A campainha toca outra vez, isso me garante certeza de que não estou alucinando. Me ergo do sofá e vou até a porta, o Mítico está ali quietinho, olhando para o portão como se encarasse alguém estranho. Eu me aproximo, tendo uma surpresa quando vejo com mais atenção.

- Oi Edan, a quanto tempo, não é? – Isso é realmente algo inesperado. O que minha prima Gisele está fazendo aqui? Aliás, o que ela veio fazer aqui?

- Veio pra averiguar a casa que deveria ser da sua mãe? Ou então para discutir e só irritar? – Esse questionamento passa pela minha boca sem que eu perceba.

Ela balança a cabeça lentamente, negando minha suposição – Não, eu não vim por nada disso... Eu só quero conversar.

- Conversar? – Cruzo os braços e cerro o olhar – Sobre?

- Meu pai. – Assim que ela diz isso, minha primeira vontade é abrir o portão e descobrir o que ela quer falar sobre o Tio Marcos, mas contenho esse impulso quase de imediato. – E antes que pergunte, não. Minha mãe não sabe que estou aqui.

- Tá, o que você quer saber?

- Posso entrar? – Ela me questiona, com a voz quase sem nenhuma firmeza.

- Não. – Balanço a cabeça.

- Por favor Edan... – Ela segura as grades do portão e se aproxima, o que mantém meu olhar cravado nela – Eu não posso contar com a minha mãe, e você é a única pessoa que tenho pra falar sobre isso... Prometo que será rápido...

Por mais que eu queira que ela vá embora, estou curioso para saber o que Gisele tem a dizer. Pelo seu olhar, ela parece estar abalada por alguma coisa, acho que triste também. Ela não viria aqui por nada, mas estranhamente ela está aqui. Deve ser importante. Eu sinto que preciso ouvir o que ela tem a dizer, algo me diz isso. Desvio o olhar, pensando se devo ou não.

- Tá, tudo bem então... Mas que seja rápida. – Digo, antes de sinalizar para ela esperar só um minuto. Vou correndo pegar a chave e logo retorno ao portão – Espero que seja importante.

- Se tornou importante, mais do que eu pensava... – Ela diz, e então passa por mim. Diferente do que gosta de fazer, desta vez o Mítico não aparece pra ficar pulando de animação.

Gisele segue pelo quintal e entra, eu tranco o portão e sigo logo atrás. Quando entro, a vejo sentada no sofá, com o olhar perdido, seu corpo curvado para frente e as mãos unidas. Não me lembro de ter visto ela dessa forma alguma vez antes. Ela se tornou igual a mãe, firme e arrogante. Mas se me lembro bem, Gisele também era orgulhosa, para ela estar logo aqui pra conversar comigo, a situação deve ser grande. Ligo a luz da sala e a observo, analisando o que eu podia. Ela realmente aparece estar péssima. – Então...?

Ela da um pesado suspiro, e me observa com o canto dos olhos, ainda mantendo a cabeça baixa – Então... – Ela repete – Como você está? Tudo indo bem?

Não respondo a primeiro momento. Cruzo os braços e mantenho meus olhos nela.

- Entendo... – Ela da um sorriso fraco, mantendo seu olhar baixo – Você me odeia. É bem justo.

- Eu não te odeio Gisele... – Minhas palavras saem rápidas. Tanto que do mesmo jeito que Gisele demonstra, nenhum de nós esperava essa resposta – Só não entendo porque me pergunta esse tipo de coisa. Você realmente se importa se estou bem ou não?

Novamente um momento de silêncio se arrasta entre nós dois. Ela não está me olhando, seus olhos estão perdidos pelo chão. Posso ver nela sua tensão.

- Você está certo... – Ela diz em um sussurro contido – Desculpa... Eu deveria me importar mais... Deveria ter me importado muito antes, ou ter me preocupado de verdade com você...

Acabo soltando ar pela boca, e balanço a cabeça negativamente. – Esqueça isso. Me diga, porque está aqui?

- É sobre o meu pai... – Sua voz é vacilante.

- Isso eu sei... Mas para você estar aqui, é meio... – Acabo erguendo os ombros, gesticulando sua falta de opções – Né?

- Você é a única opção que tenho Edan. Te falei, não posso conversar com minha mãe sobre isso, nem sei o que ela faria se eu contasse. – Sua voz saiu calma, e ao mesmo tempo pareceu desesperada.

- Contasse sobre o que? – Arqueio uma sobrancelha.

- Sobre eu sentir falta do meu pai, e querer que ele volte pra casa... – Ela diz, agora parando de disfarçar o peso que sente na voz calma. Tá, eu não esperava isso, não sei se consigo esconder minha cara de espanto. – Ela vive pregando que meu pai não presta, que é um fracassado, casou com o homem errado... Mas a cada dia eu vejo como ela está errada, e como eu também agi errado... Cada coisa que não consigo mais suportar.

Me sento ao seu lado, refletindo no dia que o tio Marcos me falou sobre isso, da Gisele sentir sua falta. Mantenho meu olhar sobre ela. Eu sinto que deveria falar algo, mas simplesmente não consigo nada agora. Torço a boca, tentando ganhar tempo para falar algo. Vou tentar algo bem óbvio e ver o que consigo – Vocês ainda tem contato?

- Temos sim mas é muito pouco. As vezes no meu horário de saída da escola, ele me liga e conversamos por um tempo, até eu chegar em casa. Mas aí preciso desligar...

- Senão, a Clarice pega vocês conversando e faz um chilique – Reviro os olhos e bufo. – Você pode mentir, falar que é aquele seu namorado, que nem sei o nome.

- Não da, nós terminamos. – Arqueio as sobrancelhas – Eu nem gostava dele, só mantinha o namoro porque minha mãe insistia. Era quase um namoro de fachada.

- Tá legal, isso dificulta as coisas. – Digo alto demais, era pra ter sido pra mim mesmo.

- Por isso que recorri a você, antes das minhas amigas, outros parentes, antes de qualquer um... Eu sei que não tenho direito de te pedir qualquer ajuda, depois de tudo que fiz, ter te tratado mal e virado as costas, mas... Eu não consigo lidar com isso sozinha... – Ela da um pesaroso suspiro. Posso ver como ela está afetada com tudo isso acontecendo – Pode me ajudar?

Já fazem muitos anos que não vejo esse olhar em Gisele. Um olhar de uma garota meiga, sem nenhum traço de desprezo para mim. Consigo até ver no fundo do olhar escuro dela a mesma menina que sempre brincava comigo na infância, mas agora crescida e escondida dentro dessa aparência que antes era ignorante comigo e agora me pede ajuda. O que a necessidade não faz com as pessoas. Eu tenho todos os motivos para negar, dizer para ela que não vou ajudar, para ela se virar com sua mãe e seus problemas, mas consigo ver como ela está sofrendo com tudo isso, e algo que não consigo fazer é deixar uma pessoa na minha frente sofrendo... Se ao menos eu puder fazer algo para aliviar essa dor, mesmo que seja momentâneo, eu irei fazer.

Não deixarei minha prima passar por isso sozinha... Não permitirei que isso se mantenha.

- Tudo bem, te ajudarei nisso Gisele... – digo quase de automático – Só preciso pensar em algo.

- De verdade? – Ela não contém a empolgação na voz. Eu concordo com um gesto de cabeça, e ela me abraça forte – Obrigada Edan. Obrigada mesmo, você não sabe o quanto isso é importante para mim.

- Não me agradeça, eu ainda não fiz nada.

- Você me deu esperanças, e eu só tenho que te agradecer por isso Ed... – Ela me solta devagar, com um largo sorriso no rosto. Consegui sentir bem toda a nova animação em sua voz.

Preciso pensar em algo. Meu tio não quer que nem Clarice e nem Gisele saibam onde ele está, por mais que seja aqui perto. Acho que precisarei armar algo para eles se encontrarem.

*****

Marquei com Anne as três da tarde. Ela disse que viria aqui em casa, e depois se desse, iriamos andar um pouco. Realmente eu não entendi o motivo de ela pedir para vir aqui em casa. Acho que estou mais acostumado com ela aparecendo assim do nada do que me avisando.

Ainda assim, por ela ter me pedido para vir aqui em casa me deu um tempo de ajeitar tudo bem rápido, além de tomar um banho e vestir algo um pouco mais apresentável do que meus trapos de sempre...

Tudo bem, eu me sinto um idiota de estar agora parado em frente ao espelho alinhando minha camisa e checando se meu cabelo está bem arrumado, por mais que eu simplesmente tenha optado por deixar solto como sempre...

Agora que estou me vendo melhor, estou usando as roupas que normalmente julgo serem as melhores do meu guarda-roupa... Não sei o porquê disso...

Ah deixa, eu não me importo com isso mesmo.

Escuto meu celular apitando, e pouco depois a campainha toca, isso me deixa com as expectativas bem altas. Ela chegou. Me olho uma última vez no espelho, e então saio do meu quarto, atravessando a salas correndo. Nem sei como eu alcancei a chave largada em cima do sofá, mas fiz essa façanha.

Atravessei o quintal, e o Mítico já estava no portão, correndo animado e olhando para Anne.

- Você veio mesmo... – As palavras saem da minha boca sem o meu controle.

Ela me da um sorriso, enquanto abro o portão, mais apressado do que eu gostaria – Com certeza eu viria sim. Achou que eu não apareceria?

- Bem, não... É que... – Sinceramente, achei sim. Mas não vou falar isso para ela. Dou espaço para ela entrar, enquanto penso no que falar. Eu não consigo mais pensar direito quando o assunto é a Anne. Minha mente simplesmente entra em uma confusão muito maior do que o normal, minha mente grita. Mas diferente da confusão e os ruídos de sempre, esses causados por Anne não são nocivos... Eles me agradam. – Só achei que você acabaria se ocupando, não sei...

- Pra você eu arranjaria um tempo, de alguma forma... – Ela diz com um sorriso, sendo recebida pelo Mítico, que senta a sua frente e é mimado pelos carinhos de Anne.

Tranco o portão, e fico olhando para ela. Não sei porque tanta euforia por ver Anne, eu deveria estar bem acostumado em ver ela. Ela já esteve aqui em casa muitas vezes, e em quase todas ela tirou minha paciência ao invés de me causar uma animação interna tão grande.

Não apenas isso... Eu tenho uma sensação estranha... Eu sinto como se essa mesma animação que sinto também está emanando de Anne...

A vejo se levantando da sua brincadeira com o Mítico, seus olhos agora estão em mim. Isso faz eu me sentir desprotegido. o que está acontecendo comigo?

- Vamos entrar? – ela diz de repente. A sensação que tenho é de ser arrancado de um transe.

Eu tento responder, mas nada sai da minha boca, então confirmo com a cabeça. Anne se vira em direção a porta, enquanto eu a sigo me mantendo a uma distância razoável.

Assim que ela entra, observo ela se sentando. Hesito um pouco, não sei se devo ou não me sentar ao lado dela, por mais que uma parte de mim queira isso.

Um silêncio bem estranho se mantém, eu não sei bem o que falar. Na verdade eu nunca soube, mas agora, algo está muito diferente.

Ela me olha com um sorriso e da alguns tapinhas de leve ao seu lado no sofá, claramente me convidando para me sentar, e logo aceito. – Me diga Edan, como andam seus desenhos?

Não acredito. Depois de tanto tempo que ela não vem a minha casa, o que ela vem me perguntar primeiro é isso? – Veio aqui em casa só para perguntar esse tipo de coisa Anne?

Ela começa a rir assim que eu respondo – Não seu bobo. Foi só pra matar a saudade de te irritar com esse assunto.

Tá legal, eu não esperava por essa resposta.

Penso em falar algo, mas ela fala antes de mim – Eu sei que isso de desenhar não é algo que você gosta... Eu te forcei a isso antes por achar que seria o melhor a você, mas me enganei Edan... Então não irei te obrigar...

- Mas Anne... – Tento falar, mas posso ver no seu olhar que ela ainda tem mais a me dizer. Ela não precisa de palavras para que eu entenda isso, apenas sinto isso, como em uma conexão estranha. Por isso, eu decido me calar, e deixar que ela fale.

- Sabe Edan... Eu sei que tudo que eu fazia antes te irritava. – Ela mantém um pequeno sorriso no rosto, com o olhar perdido em suas mãos. – Nas vezes que eu invadi sua casa, quando eu te obriguei a fazer algumas coisas que você não queria, quando praticamente te forcei a sair de casa... Em todas as vezes eu achei que estava fazendo o certo e algo que fosse o melhor, mas tudo que fiz foi ser invasiva e inconveniente na sua vida, além de te irritar. Depois desse tempo longe, eu sei que fiz só a minha vontade e não pensei na sua. Te peço desculpas por isso.

- É por isso que você mandou mensagem perguntando se poderia vir aqui? – Questiono, erguendo uma sobrancelha.

- Por isso mesmo. Invadi demais sua vida, fui uma chata incômoda com você. Eu sei bem disso e agora vejo como eu estava errada...

- Perai Anne, você se enganou em algo... – Eu digo, atraindo sua atenção. Sua curiosidade é nítida – Você é uma chata, mas não incômoda... Talvez um pouco irritante.

Anne me abre um sorriso e começa a rir sem parar, encostando no meu ombro para se apoiar entre os risos – Ai Edan, eu aqui abrindo meu coração e você me fazendo rir.

- Acho que não resisti em fazer essa piada... – Dou de ombros, e continuo olhando para ela. Ainda bem incerto do que dizer. Hora de improvisar – Aliás, você não precisa me pedir desculpas. Boa parte das coisas que você me "incentivou" a fazer foram boas... Você movimentou bem as coisas para mim... Além que você já invadiu minha casa antes em pleno fim de semana, trouxe visita e ainda comeu das minhas torradas...

- Não seja tão rancoroso! – Ela me da um tapa no ombro e fazendo bico – Isso faz muitos meses, e naquele dia eu estava com fome.

- Era só me pedir que eu preparava algumas para você... – Reviro os olhos.

Ela sorri, encostando em mim – Nós não tínhamos amizade o suficiente para isso. Eu já tinha invadido sua casa, e ainda teria a cara de pau te pedir para fazer algo para eu comer?

Acabo parando e pensando. Sem opções, eu concordo balançando a cabeça – É, realmente o que você diz tem lógica. Seria preciso muito óleo de peroba para tanta cara de pau.

Novamente Anne cai na risada com o que eu disse, de forma tão espontânea e natural que eu nem esperava. – Adorei isso, mas nem eu vou tão longe.

- As vezes vai sim... – Nem eu mesmo percebo que a contradisse tão rápido. Ela me olha, claramente fingindo estar ofendida. – E eu nem te respondi... Eu continuo desenhando, mas não sei se estão bons.

Sua expressão muda, ela parece não acreditar no que eu acabei de dizer – É sério?

- Sim... Claro, não desenho com muita frequência, mas fiquei com vontade desde que voltamos da viagem. – Fico pensativo, esperando ela dizer algo, mas não acontece. Ela mantém um sorrido no rosto, algo com expectativas – Quer ver?

- Eu adorarei ver Edan. – Com sua resposta, eu me ergo e vou até a estante da sala, onde estou deixando boa parte dos desenhos que estou fazendo em uma pasta. Junto da pasta tem um lápis um pouco gasto, além de uma borracha e alguns lápis de cor. Entrego para Anne, que logo pega e olha um a um, levando um tempo quase infinito para passar para o próximo. Eu imagino o tempo em que ela vai amassar meus desenhos e jogar sobre o ombro como ela costumava fazer, mas não é isso que ela faz, em nenhum deles – Você está muito melhor... Chegou ao nível que eu sabia que você tinha, está até melhor que antes.

Novamente acabo surpreso. A Anne não amassou nada, não falou que está péssimo. Ela está admirando cada desenho, olhando de forma como se fossem únicos. Nesse momento eu percebo que seu olhar é idêntico ao que teve na primeira vez que esteve aqui em casa. O mesmo quando viu meus desenhos pela primeira vez – Bem, obrigado... Eu acabei pensando nas coisas que você ficou me ensinando... Ajudaram bastante...

Ela me olha com um sorriso, deixando cuidadosamente a pasta na mesa de centro – E você aprendeu muito bem. Eu sabia que conseguiria.

- Não teria conseguido se você não fosse uma chata comigo. – Ergo as mãos, me justificando.

Ela acaba rindo, se levantando. – E você me deu muito trabalho, idiota... Mas diferente do que você disse, eu não perdi meu tempo.

- Aí é você quem está falando... – Desvio o olhar.

Ela me da um sorriso de superioridade – Eu estou certa disso. – Ela vira seus olhos para o vaso com as duas rosas. Acabo seguindo seu olhar – Nossa, elas estão bonitas.

Seu comentário me faz prestar mais atenção no vaso. Realmente, as rosas estão belas. As duas, sem exceção. É impressionante ver a rosa negra tão bonita como a branca. Mas agora que penso, elas não estavam tão bonitas assim antes. – É verdade, elas estão bonitas mesmo.

Me lembro do que meu tio Marcos falou, da mudança tão repentina das rosas. Eu não acreditei no que ele disse, mas agora começo a duvidar da veracidade do que ele disse. Realmente não lembro das rosas estarem tão bonitas como agora.

- Aliás Edan, quero que vá a minha casa quando puder. – Ela diz de repente.

- Mas por que? Assim tão de repente... – Ergo uma sobrancelha.

- Só quero que você me faça uma visita... Claro, se você quiser... Eu não sou muito boa nisso de fazer convites sabe... – Ela me diz, levantando as mãos, me deixando livre para escolher.

Respiro profundamente, e então respondo – Tá bom. Prefiro ficar em casa, mas fazer o que... Já que está me convidando...

Ela da um sorriso, comemorando – Estarei te esperando em casa. – Ela diz se levantando.

Balanço a cabeça negativamente, ficando surpreso de forma desagradável com o que vejo. Anne acabou de cambalear e caiu novamente no sofá, sem conseguir se apoiar, levando uma mão aos olhos. Corro para seu lado, a ajudando a se sentar novamente – Ei Anne, o que foi?

- Não foi nada, só uma pequena tontura... – Ela me responde com a voz fraca, quase um sussurro e mantendo um pequeno sorriso para mim. Já vi isso antes. Não sei se acredito nela. Me sento ao seu lado, passando meu braço em volta dela e encostando sua cabeça no meu ombro. Ela se aconchega em mim, segurando minha camisa com uma das mãos.

Algo me vem em mente, instintivamente olho para o vaso com as duas rosas.

Percebo uma coisa, tanto a rosa branca quando a negra estão maiores, ainda mais do que a alguns minutos atrás. Ambas ficaram dessa forma de repente como se fosse por um espanto, mas eu noto algo.

Uma pétala acabou de desprender da rosa branca.

Um choque percorre meu corpo, vindo de um pavor que nunca senti antes. Abraço Anne, a segurando com firmeza como se ela pudesse escapar de mim a qualquer segundo...Como se eu pudesse perder ela no próximo segundo....

Isso não pode ser, só pode ser uma coincidência... Mas, é a mesma coisa que meu tio disse, a situação é irreal demais, mas é verdade... Essas... Essas rosas nos representam?

Ela é a rosa branca? Eu sou a rosa negra? Somos nós?

Se as rosas sofrem algo, então nós...

Não consigo pensar em outra explicação. Balanço a cabeça uma vez, afastando esses pensamentos. Não tenho que pensar nisso. Olho para Anne, ela está quietinha, aconchegada e passando um dedo pelo meu braço lentamente. – Você está bem?

- Bem melhor agora... – Anne me olha com um sorriso, se aconchegando em mim. Sua voz já voltou ao normal. Ela parece estar bem agora. Permanecemos em silêncio por um tempo que nem eu mesmo consigo dizer quanto foi. Minha cabeça está uma bagunça de preocupação. Eu mantenho ela em meus braços, passando minha mão pelos seus cabelos, tão devagar quanto acho possível. – O que acha de vermos um filme?

Hesito em falar qualquer coisa. Meu olhar não desgruda de Anne, acho que nunca tentei cuidar tanto de algo como estou fazendo agora. – Tudo bem... Tem alguma preferência...?

- Pode ser algo calmo... Se importa de eu ficar assim? – Ela passa seus braços em volta de mim, me dando um abraço confortável, e então me olha de forma pidona.

- Claro, sinta-se à vontade... – Anne sorri para mim, retirando seus tênis e colocando suas pernas sobre o sofá, ficando melhor aconchegada encostada no meu ombro. Alcanço o controle sobre o braço do sofá e mudo de canal, deixando um filme em um volume agradável para nós.

Anne permanece tranquila, dessa vez ela parece que vai assistir sem ficar saltando em animação como normalmente ela faria... E isso é estranho.

Eu estou tenso, sequer consigo prestar atenção ao filme. Estou preocupado demais com a Anne para isso, isso sem falar das rosas.

De alguma forma, lá no fundo eu consigo sentir algo estranho.

Alguma coisa está errada. 

Considerações Finais: 
E aqui ficamos com mais esse capítulo. Começou de uma forma bem aleatória, a prima do Edan voltando a aparecer e pedindo por ajuda... Novamente ele se tornando quem pode resolver os perrengues. Além do mais... Anne está diferente...

Mas por enquanto é isso. O que acharam do capítulo? Gostaram? Odiaram? Quer me dar um rage ferrado? Tem teorias do que pode acontecer? Não hesite em contar, eu adoro ver as reações e opiniões. Espero que sigam acompanhando, e os aguardo no próximo capítulo.


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