Capítulo 20

5420 palavras - Arco casais

Carol passa primeiro pela porta, enquanto passeia os dedos pelo cabelo curto, enquanto Edan vem logo atrás, passando a mão pelo queixo e com uma coberta no ombro.

- Me deixe recapitular o que você disse ontem lá na lanchonete, nós não estamos namorando, certo? – Questionou.

Carol se joga no sofá e puxou a coberta para si, e se espreguiçando, ela responde – Exatamente. A partir de hoje, nós somos "bons amigos".

O rapaz continua pensativo, olhando na direção da garota e então continua a falar, semicerrando seu olhar. – Ok, bons amigos... Então, você pode me explicar o que aconteceu para você resolver virar a noite aqui em casa?

Carol solta um sorriso, agarrando o braço de Edan e o trazendo até seu lado no sofá – Você está incomodado e olha que não fizemos nada demais. – Carol da um sorriso de satisfação – Bem, eu te explico. Somos bons amigos que sabem muito bem como aproveitar quando estão sozinhos em uma hora vaga, horas que serão bem melhor aproveitadas futuramente. Acho que no agora já foi bem aproveitado, ou vai me dizer que não gostou da minha companhia por mais tempo que na escola? – Ela diz rindo.

Pensando por um segundo, Edan avaliou as situações. Tanto o antes como o agora. Em vários aspectos, o "antes" era muito pior. Ele então responde – Não vou dizer isso, até porque eu falar que não gostei seria uma péssima mentira. Ficar sozinho em casa a ter alguma companhia, é bem fácil dizer o que é melhor... – Deu de ombros. – Só estou tentando entender como tudo aconteceu assim tão... Tão de repente... E não estou conseguindo.

Ela olha em volta como se procurasse por algo, então se levantou e disse entre risos – Você conviveu pouco comigo para saber, mas entenda que perto de mim a coisas funcionam assim, rápidas e muito de repente. Você vai ver como isso acontece, mas não procure entender. – Dito isso, ela pega o controle da televisão e a liga, assim voltando ao sofá, se refugiando outra vez nas cobertas.

- Claro, isso só faz parecer que vou ficar surpreso mais algumas vezes. – Respondeu.

Ela sorri, encostando a cabeça sobre o ombro de Edan, aproximando bem seu corpo ao dele. – Você vai se acostumar logo. E aliás, o que fiz ontem na lanchonete foi algo que talvez eu já queria a um tempinho. Só que diferente de antes, me deu mais "coragem" na hora.

- O que quer dizer? – Edan questiona a olhando. O que Carol disse o pega de surpresa.

Carol vira um pouco o olhar, mas responde. – Ta bem, o mais correto é vontade, e não coragem... O que o Fabiano fez ontem foi um jeito de reforçar que está namorando sua amiga e se consagrar um "vitorioso". E que tudo foi graças a você, que a entregou em uma bandeja de prata para ele. Foi coisa da rivalidade e o ego dele.

Balançando a cabeça, Edan então fala. – Você deve saber muito bem que eu acho isso uma atitude bem idiota dele.

- Eu sei, e eu concordo com você. Não precisa ficar falando a mesma coisa sempre. É uma conversa ridícula dele. – Carol ri de seu próprio comentário – Não quis deixar ele fazer uma coisa desse tipo com você, uma coisa tão... Infantil. Ele já tem o que quer, então não precisa ficar repetindo, agindo igual uma criança só para massagear o próprio ego inflado. – Carol recupera o folego, solta mais um pequeno riso, olhando para Edan e ficando mais encostada que poderia conseguir naquele momento – E se você ainda lembra o que eu disse, eu também não aguentava mais me segurar... Aproveitei a ótima chance para colocar minhas mãos em você e te dar uns beijos, antes que outra pessoa chegasse primeiro. A um tempinho queria fazer isso.

- Conseguiu me pegar desprevenido, e ainda deixou o Fabiano sem reação. – Edan comentou e deu de ombros. Em sua visão, ela conseguiu mais do que esperava. – Para você tenho duas palavras apenas, para-béns.

Carol acaba rindo com o que ouve, da um beijo no rosto de Edan e continua – Sim, talvez eu tenha ajudado o Fabiano por ter feito o que fiz, mas não tenho certeza... Por agora, vamos aproveitar a manhã vendo TV, e daqui a pouco tomamos café da manhã. E não esqueça, nós não estamos namorando, somos só bons amigos coloridos... Se quiser ter alguma coisa com outra pessoa, sair, ficar ou fazer o que quiser, eu não vou me importar, e espero que você não se importe se eu fizer algo!

- Ok, irei me lembrar bem disso. – Ele respondeu. – Não ficarei pegando no seu pé.

Carol passa a mão pelo rosto de Edan, em seguida dando dois tapas de leve – E não confunda as coisas, eu ainda não vou com sua cara.

O rapaz, balançando a cabeça, e responde – O sentimento é mútuo!

Carol olha em direção a uma estante, quase que despercebida na sala, e então indaga. – Escuta... Quando foi que você colocou aquelas rosas ali?

Edan olha na direção que a garota dizia. Lá estava o vaso com as rosas branca e preta, quase escondidas. Pensativo, ele responde. – Foi ontem, enquanto eu arrumava a casa... Eu acho.

- Você acha? – Ela ri com a resposta tão inesperada.

- Não tenho certeza de que horas foi, só que foi ontem. – Ele continua.

Carol fica sem dizer nada, abre a boca para falar algo, mas desiste por duas vezes seguidas. Enfim ela diz – Lembro que mostrou essas rosas uma vez que vim aqui com a Tamires, que sua mãe havia plantado e você cuida até hoje... E toda aquela tal lenda que existe para essas rosas.

- Também me lembro desse dia. – Edan pensou alguns segundos, lembrando do dia em que Carol e Tamires foram visita-lo. Isso ocorreu logo depois que comprou seu celular novo, e também aproveitou para contar toda a lenda que Anne tinha contado. Lembrou também que tanto Carol quanto Tamires fizeram uma expressão estranha sobre a lenda, quase como se não quisessem que fosse algo verdadeiro, mas ele mentiu ao advertir que tinha visto sozinho quando as rosas nasceram e isso impedia a lenda de ser verdade, ocultando o fato que já viu primeiro com Anne. Pensou novamente na lenda, e também sobre a suposta veracidade que existe na família de Anne, porém ignorou vendo que Anne estava com outra pessoa. Em sua mente, isso só provou como a lenda não existia – Eu trouxe para dentro de casa porque acho que é uma coisa que minha mãe faria. E meu pai com certeza iria apoiar minha mãe nessa escolha, por mais que não fosse um fã. Todas as outras plantas dela estão muito bem na estufa, então não preciso tirá-las.

Pensando, a garota enrola alguns fios de cabelo de Edan no dedo – Se me lembro bem, aquela rosa preta estava bem feia, sem algumas pétalas e toda caída... Agora tá ao contrário, ela está inteira, só um pouco murcha, mas inteira, e é a branca que está horrível.

- Isso acontece as vezes. Logo a branca fica bonita de novo – Edan diz simplesmente. O que ele prefere não contar a Carol é que isso nunca aconteceu antes. Pensando melhor, ele se lembra que exatamente no dia anterior, a rosa preta estava em péssimas condições, e a branca estava intacta. Não sabia o por que de uma mudança tão repentina, quase inexplicável.

*****

Mantendo seus olhos atentos nas palavras, Edan segue uma leitura no ritmo mais rápido que pode sem comprometer seu entendimento matéria. No fundo de sua mente praguejava por Carol ter feito ele ficar acordado até tão tarde vendo filmes, por mais que a companhia da garota fez seu domingo ser bem melhor e fora do convencional, isso o impediu totalmente de estudar. Tentava adiantar o máximo que podia antes de alguém aparecesse para puxar conversa, e esperava que isso não acontecesse tão cedo. Torcia para que o apelido que ganhou de Tamires fizesse ainda mais sentido neste momento.

Um barulho forte bem ao lado chama a atenção de Edan o assustando na hora, quase como se alguém tivesse arremessado um bloco de tijolo com toda a força na cadeira ao lado. Ao direcionar seu olhar, encontra uma Anne muito diferente de tudo que já tenha visto antes. Ela arranca as coisas de sua bolsa da forma mais bruta possível, se senta com a cara fechada, pegando seu celular enquanto bufa de raiva, batendo na tela de forma ruidosa, quase como se fosse para atravessar o celular com cada próximo toque. Evitando olhar no rosto da garota em primeiro momento, Edan se mantém focado em seu livro, se concentrando o máximo que conseguia, mas ouvir a colega bufando cada vez mais, batendo as coisas na mesa e xingando sozinha atraia mais sua atenção do que os estudos. Com o canto dos olhos e disfarçado pelo cabelo, ele se permite olhar para Anne.

- Olá Anne, bom dia. – Disse sem nem ao menos perceber.

- O que é que tem de bom!? – Anne dispara de volta de um segundo ao outro, praticamente assustando Edan uma segunda vez.

Ele se compromete em olhar bem para Anne antes de falar qualquer coisa. Anne está com os olhos um pouco inchados, com olheiras, seu cabelo ruivo está muito pouco arrumado em um coque, que claramente foi feito as pressas e de qualquer jeito, sem qualquer mínima maquiagem, e apesar de fulminante, a expressão facial e corporal entregam que a garota está muito cansada. Isso desperta mais do que apenas curiosidade no rapaz. – O que foi? Aconteceu algo?

Anne bufa novamente – Não aconteceu nada! – Responde ríspida.

- Não parece, você está muito diferente do seu normal... – Edan apoia o rosto na mão. Esperou alguns segundos até que Anne falasse algo como ela sempre faz, mas isso não ocorreu. Edan estranhou isso – Não aconteceu nada mesmo?

- Passei o sábado a noite e o domingo inteiro com dor de cabeça infernal e passando mal. Não descansei nada!

Ele a observa, pensando se deve falar algo ou não. – Situação horrível, você tomou algum remédio ontem, ou então hoje? Acho que é melhor chegar em casa e descansar um pouco. Você está precisando...

A garota o encara, dando um golpe na mesa com o punho fechado. – Eu to ótima! Você não tem que ficar me enchendo ou se preocupando! – Ela retruca, contendo a voz para não gritar, mas sendo muito agressiva com cada palavra. Independente disso, atraiu a atenção de todos presentes, tanto que com sua visão periférica Edan pode notar os colegas de classe os observando. – Vai atrás de outra pessoa pra pegar no pé, da sua não-namorada ou qualquer outra pessoa que quiser. E eu estou sem paciência nenhuma pra você! Melhor, me faz um favor, finge que eu não existo e não fale mais nada comigo... Me deixa em paz! Me esquece!!!

A explosão de Anne o deixou sem nenhuma reação, desde que a conheceu nunca a viu tão agressiva como naquele momento. Pensou em falar, mas a garota endureceu ainda mais. Anne estava parada em sua frente, completamente diferente, seu olhar mostrava isso, os olhos azuis que considerava tão belos antes agora estavam tão enfurecidos como uma tempestade, e Edan não tinha a menor ideia do que fazer para resolver essa situação, e por ser pego tão de surpresa, não tinha como responder.

Anne se virou e voltou para sua cadeira, o ignorando de imediato. O rapaz olhou em direção a suas mãos, estavam tremendo, sentiu que estava suando frio, se sentia estranho, nervoso e quase aflito. Respirou fundo, se recuperando do acontecido. Olhou em volta, vendo que vários colegas estavam olhando em sua direção em meio a cochichos. Tudo que estudou havia sido esquecido, precisava de ar e de um gole de água para se recuperar. Se levantou e, olhando uma última vez para Anne que sequer olhou de volta em sua direção, deixou a sala.

*****

O clima se tornou estranho em todos os aspectos. O céu que antes estava claro, foi tomado por uma densa escuridão tão esmagadora quanto a própria noite, pesadas nuvens negras espalhavam-se pelo céu anunciando a aproximação de uma esmagadora tempestade, tão forte ao ponto dos trovões serem facilmente ouvidos vindo ao longe, e dos raios que cortavam o céu de forma violenta iluminarem praticamente toda a cidade em seguidos clarões. O clima era tão denso que parecia não ser algo puramente natural. Edan observava pela janela de sua classe, desejando estar no topo da escola para poder ver tudo com mais detalhes. Esse clima, e esse mundo o atraia de uma maneira magnética, que ele mesmo não entendia. Observar tudo pela janela era sua única forma de ignorar seus colegas fazendo arruaça pela forte chuva que se aproximava, e também a energia pesada que vinha de Anne. Em alguns momentos, poderia até dizer que ela era a causadora daquele clima. Durante todas as aulas do dia, a garota esteve extremamente agressiva com todos, sendo Raquel a única exceção em alguns poucos momentos.

O sinal para o intervalo de aulas toca, todos saem as pressas, porém Edan permanece em sua mesa. O silêncio neste momento seria a melhor companhia. Olhou em direção a janela e assim ficou. Ouviu alguém entrando na sala, e então mais uma entrou em seguida, mas ignorou as presenças. Uma das pessoas andou em sua direção e se sentou bem a sua frente – Eu quero saber se você sabe, ou talvez o que você fez com a Anne para ela estar tão mal hoje!

Era Raquel.

O surpreende o fato de Raquel ir questionar sobre Anne. Olhou em direção a porta, e ali estava o namorado de Raquel, que lançou um discreto cumprimento com a cabeça. Edan volta seu olhar a colega e responde. – Eu pensei que você poderia saber. Eu não tenho a menor ideia do que aconteceu com a Anne hoje, e alias, ela não deu nenhum sinal que vai querer me falar mais qualquer coisa que seja...

- Do que você está falando? – Ela questionou novamente.

- São palavras da própria Anne. – Responde, balançando a cabeça. – Ela foi bem clara quando disse que estava bem, que não queria saber da minha preocupação e ainda me mandou fazer o favor de deixar ela em paz, além de esquecer dela.

Raquel solta uma risada seca, sem acreditar no que ouviu – Não brinca com isso Edan. Conheço ela, a Anne nunca diria isso para você. – Edan mantém um silêncio enquanto olha para a colega, erguendo a sobrancelha e mantendo firme o que havia acabado de dizer. Diante desse silêncio, a expressão de Raquel muda de forma drástica. – Espera... Ela disse mesmo?

- Metade da sala ouviu ela falando. Pode perguntar para qualquer um se quiser ter certeza.

Raquel olha para seu namorado como se buscasse ajuda, e então diz ao voltar seu olhar para Edan – Não consigo acreditar nisso.

O rapaz deu de ombros – Aconteceu. É a escolha dela, e na realidade, será o melhor. A Anne não perderá nada se eu fizer o que me pediu.

Raquel se levanta, e então diz – Irei conversar com ela, descobrir o que aconteceu ou tentar fazer ela mudar de ideia. Isso não pode acontecer!

Balançando a cabeça negativamente, Edan diz – Não vai adiantar. Você sabe como ela é teimosa...

- Eu sei disso, mas eu vou tentar fazer alguma coisa mesmo assim. Não da pra acreditar que ela vai deixar as coisas tomarem esse rumo. – Raquel diz impaciente, passando a mão pelo cabelo – A própria Anne não iria querer isso. Tenho certeza que não.

- Sabe Raquel, eu não entendo qual o motivo de vocês duas se importarem tanto com coisas pequenas. Nunca entendi, e nem sei se um dia irei entender... – Edan desvia o olhar.

Balançando a cabeça, Raquel diz – Isso é um pouco maior do que você acha Edan! É difícil para você entender até porquê você nunca se importa com nada. Se as coisas irem por esse caminho todo mundo vai sair perdendo, e eu não quero isso, então sim eu me importo e tentarei algo a respeito! – Ao dizer isso, Raquel se vira se afastando do colega, indo em direção ao seu namorado.

- Raquel, uma última coisa... – Edan diz, chamando a atenção de Raquel – Espero que não se esqueça que eu não fiz nada, e não tenho culpa de nada. Essa foi uma escolha da Anne.

A garota não diz nada, simplesmente desvia o olhar e deixa a sala.

Edan batia a ponta do dedo na mesa, se perguntando o que poderia ter acontecido se somente desse um oi para Anne, ou um simples aceno sem dizer mais nada. Provavelmente nada disso teria acontecido, e as coisas estariam bem melhor para todos, mas a essa altura não tinha outro jeito. Pensou no que Raquel disse, mas não adiantaria em nada fazer algo a respeito.

Sem pensar mais, decidiu então fazer o que Anne disse mais cedo.

*****

Após longas e muito tediosas horas, Edan deixa sua classe da mesma maneira que costuma fazer, de capuz cobrindo o rosto, mãos nos bolsos e andando despercebido a todos. Pensou em como o apelido "fantasma Edan" recebido de Tamires combinou tão bem naquele momento. Finalmente estava deixando um ambiente sem ser notado, muito menos impedido por alguém.

Perto de atravessar os portões da escola, Edan olha a multidão de alunos parados a sua frente. Acreditou inicialmente que era apenas a bagunça causada por uma briga bem nos portões, ou então muita gente querendo sair ao mesmo tempo e causando o trânsito de pessoas que via a sua frente. Vendo que ninguém se movia, o rapaz percebeu pelas conversas alheias que todos estavam acuados do clima tempestuoso.

Esse clima poderia ser um problema grande para todos ali, mas não para Edan. A escuridão no céu não o amedrontava, apenas o chamava. Durante todo o dia, aquela tempestade parecia chama-lo cada vez mais, quase em chamados silenciosos, que gritavam em sua mente. Afastando gentilmente quem estava no seu caminho, o rapaz atravessa o mar de pessoas até o portão, e indiferente do temor de todos, aquele clima o agradava. Olhou para o céu, um véu negro cobria completamente toda a cidade, as luzes nos postes traziam o máximo de iluminação que fosse possível contra a escuridão causada. Ele sente o vento gelado tocando seu rosto, suas roupas se tornando geladas no corpo, algumas gotas molhando suas bochechas. Mesmo com todos conversando, gritando e rindo alto em sua volta, o som do vento, e os ruidos da chuva ecoaram em seus ouvidos, tornando todo o resto um grande silêncio. Um relâmpago rasga o céu, iluminando tudo em um único clarão, acompanhado de um trovão ensurdecedor, quase como se o raio houvesse caído a poucos metros de distância. Para Edan, essa foi o "sinal" que queria para partir de volta para casa. Olhou para um lado, olhou ao outro, a rua completamente vazia. Com isso, seguiu em direção a sua casa, enfrentando a pesada chuva que o aguardava.

O caminho se mostrou muito mais difícil do que esperava. O vento estava cada vez mais forte, conseguindo impedir Edan de caminhar normalmente, em vários momentos até mesmo o empurrando para trás, os pingos da tempestade eram pesados em sua totalidade e faziam a pele doer mesmo batendo por cima da roupa, isso causava uma dor latente que cada vez mais se espalhava pelo corpo do rapaz, braços, pernas, peito, tudo doía devido a chuva. Isso sem contar a quantidade absurda de raios que rasgavam o céu, ou então que pareciam cair perto demais de Edan, as vezes dando a sensação de cair nas ruas ao redor, criando a sensação de que naquele momento sua cabeça não passava de um alvo ambulante. Cada passo de Edan era largo para tentar alcançar sua casa o quanto antes, mantinha as mãos nos bolsos tentando se manter seco por o máximo de tempo que pudesse.

Faltando apenas uma rua para chegar em casa, surge em Edan a sensação de estar sendo observado, e principalmente seguido por alguém. Tentou ignorar, mas a sensação parecia maior a cada segundo, parecia que alguém estava se aproximando a cada novo passo. Parando de andar para recuperar o fôlego, o rapaz sentiu um temor passando por todo seu corpo. Sentiu uma presença esmagadora de um segundo ao outro. Havia alguém ali, parado a poucos metros atrás de si, o observando, não tinha dúvidas quanto a isso. O rapaz se permite olhar para trás.

Não havia nada, para seu alívio. Apesar disso, a sensação não passou, olhou de um lado ao outro procurando por algo ou alguém por perto. Edan tinha certeza naquele momento, tem alguém ali, o observando de algum lugar. Enquanto olhava em volta, percebeu que, saindo debaixo de algumas caixas, surge a silhueta de um cachorro andando para o meio da rua, olhando em sua direção. Edan apertou os olhos na direção do animal, que agora caminhava lentamente para o rapaz.
Recuando alguns passos ele se virou, reconhecendo ser o mesmo cachorro que o atacou da outra vez, Edan volta a seguir seu caminho a passos largos, pensando em quanto faltava para alcançar sua casa. Ouvindo então latidos, o cão surge no canto de sua visão, Edan faz o maior esforço possível para ignora-lo e continuar andando. Acreditava que em qualquer momento seria deixado de lado, mas para sua infelicidade, isso não acontece.

Ao chegar em frente ao portão de casa, Edan saca a chave de seu bolso, se permitindo olhar para o lado e lá estava o cachorro, caminhando em sua direção sobre a calçada e continuando a latir. Planeja abrir apenas uma fresta do portão e entrar, mas assim que destranca o portão, o cão corre e, ao invés de ataca-lo, ele entra na frente empurrando o portão e adentrando o quintal primeiro e deixando Edan incrédulo para trás. Praguejando, o rapaz entra, respirando aliviado e agradecendo não ter sido mordido uma segunda vez. O cachorro se escondeu da chuva debaixo da cobertura que fica bem na porta para a sala. Ignorando isso como podia, Edan avançou quase correndo, destrancou porta e entrou, torcendo para a casa não ser invadida pelo cão. Mal adentrou a sala, fechou a porta com o calcanhar causando um barulho ensurdecedor. Jogou as costas contra a porta, impedindo qualquer invasão possível, lançou a mochila no chão e, a caminhando lentamente retirando seu capuz e percebendo que seu cabelo também estava encharcado e pingando, foi até o sofá sem sequer ligar a televisão, ou muito menos se importar com todas as suas roupas molhadas que pesavam em seu corpo. O som da chuva do lado de fora ecoava pela casa, quase se assemelhando a uma melodia tranquila. Ele se permitiu dizer para si mesmo um "Que dia...", carregado de exaustão.

Seu relaxamento é interrompido quando sente seu celular apitando no bolso. Pensou em ignorar, mas apitou uma, duas, três. Ao total, achou ser quase sete vezes, e a essa altura Edan acreditava ser algo bem sério. A operadora de celular não mandaria tantas mensagens de uma vez. Abriu e viu as mensagens. Algumas de Tamires e outras de Raquel. Abriu primeiro a de Tamires e leu em sequência.

"Fala fantasma, tudo bem? Eu só quero perguntar uma coisa. Você é o tal maluco de capuz que saiu correndo da escola no meio dessa chuva? Se for, tem um monte de gente falando de você aqui na escola!!!"

Edan terminou de ler a mensagem, passando a mão no queixo e pensativo. Tudo que poderia não querer nessa hora é virar alvo de pessoas falando dele por ser o "maluco de capuz", apesar que por ser quem sempre veste capuz até nos dias quentes, seria fácil todos deduzirem que foi ele quem fez isso. Ele bufa sozinho, pensando na provável dor de cabeça que vai ter quando aparecer na escola de novo, seja de seus amigos ou então dos olhares em sua direção por ser um potencial maluco. Apesar disso, no momento também queria saber o que Raquel havia dito.

"Eu não sei quando essa mensagem vai chegar, mas tanto faz.

Eu falei com a Anne e ela não disse que exagerou. Ela quer mesmo que você esqueça ela e nem pense em falar a menor coisa que seja.

Eu tentei, mas não consegui nada...".

Ao terminar de ler, Edan teve a certeza de que não estava exagerando em sua atitude, porém em sua visão, agir assim pareceu ser o mais adequado, e ao que Anne demonstrou, ela deseja a mesma coisa. Jogando seu celular de lado sem nem ao menos responder Raquel, Edan decidiu em não pensar mais, e muito menos dar atenção ao que Raquel ou qualquer pessoa falar a respeito do assunto "Anne". Não entendia como uma pessoa tão recente poderia ficar tão gravada em sua mente, ser pensada tantas vezes e como criaria tanta bagunça em apenas um dia. Edan até mesmo perdeu a conta de quantas vezes pensou em Anne até aquele momento.

Sacudindo a cabeça de um lado ao outro, afastando tantos pensamentos, Edan se lembra do problema que está agora perambulando no seu quintal. Olhou da janela da sala em direção ao quintal, tentando achar o cão. Os muros altos da casa o faziam pensar que estava em uma prisão, onde a única forma de tentar enxergar a rua eram através das grades do portão. Edan se dirigiu a cozinha, tentando achar alguma coisa que servisse de alimentação para aquele cachorro, ali encontrou alguns pães não tão novos, mas ainda visivelmente comestíveis, e decidiu por dar aquilo mesmo. Foi até a sala, abriu a porta e olhou em volta, e correndo pelo quintal da casa, lá estava ele claramente se divertindo com a chuva. Balançou a cabeça negativamente, e jogou os pães ao cão. Antes de entrar, ouviu um assobio, e alguém chamando seu nome. Ali no portão estava Carol, acuada embaixo de um largo guarda-chuva.

*****

- Minha primeira pergunta é: Porque veio para cá nesse tempo e não para sua casa? E minha segunda pergunta: Por que raios você está aqui? – Edan questiona, assim que Carol entra na sala, largando suas coisas ao lado da porta e indo direto para o sofá.

- Primeiro, porque minha casa fica um pouco mais longe do que a sua. Segundo, ta relampeando e ventando muito lá fora. Terceiro, se você pensou que eu iria ficar parada na frente da escola com essa chuva e perdendo o precioso tempo do meu dia, está muito enganado. E quarto, eu vim porque me deu vontade! – Ela ri de seu próprio comentário. Para Carol parece que foi a coisa mais engraçada do mundo, e então continuou – E meus pais me deixam livre, e nem ligam muito para o que eu faço, a única regra é não aparecer drogada em casa.

- E isso já aconteceu? – Edan questiona, erguendo uma sobrancelha.

Rindo novamente, ela nega com a cabeça – Nunca, apenas chego tarde e um pouco bêbada. E agora eu que pergunto, de onde saiu aquele cachorro lá fora?

Erguendo o braço e apontando o ponto do seu braço onde antes esteve enfaixado, ele começa a falar – Lembra do cachorro que me atacou um tempo atrás?

A garota quase pula do sofá pela surpresa – É esse cachorro? E o que ele ta fazendo aqui?

- Também gostaria de saber. Acho que quer me morder de novo. – Deu de ombros, indo para a cozinha, a garota se levantou e vai logo atrás – Ele estava no meio dessa chuva, me viu e começou a me seguir até aqui. Enquanto ele não me atacar e não ser hostil, vou deixar que fique aqui em casa.

Encostando na porta e fazendo uma expressão que claramente mostrava sua vontade de rir, Carol balança a cabeça negativamente, cruzando os braços, observando enquanto Edan alcançava um pacote de biscoitos em um dos vários armários – Não tenho nada a dizer. Outra pergunta, você não vai tirar essa roupa toda molhada?

Olhando para suas roupas, sentindo na pele todo o frio e o peso que a umidade excessiva causava em seu corpo, dando batidas com a palma da mão como se avaliasse a uma armadura de aço, e então, se servindo de biscoitos Edan diz – Não é preciso, e não está tão ruim assim.

- Você diz isso, mas pode acabar doente... E é só olhar o chão todo molhado de pegadas que terá outro motivo para tirar essa coisa toda molhada.

- Não ficarei doente, não se preocupe – Se espreguiça ao dizer isso – E quanto ao chão, é um bom motivo, mas eu dou um jeito depois.

- Se divirta encerando o chão. – Carol passa a ponta do dedo na sobrancelha, como se pensasse em dizer algo, mas desiste. Se aproximou, e ignorando o pacote de biscoitos, rouba o único que Edan segurava e come – Não vou insistir nisso... Alias, aquela sua amiga ruivinha, a Anne, estava toda estranha hoje, ficou emburrada sem falar com ninguém. Você sabe o motivo?

- Não tenho ideia! – Respondeu de imediato. A resposta tão rápida fez Carol se surpreender de leve. De certa forma, ela parecia esperar outra resposta.

- Não esperava isso... Achava que pudesse saber por você. O Fabiano ficou bem preocupado o dia inteiro.

- "Que pena dele"... É isso que eu diria se...

- Se você se importasse! – Carol completa com um sorriso maldoso. A garota volta para a sala sendo acompanhada pelos olhos do rapaz, falando em alto tom para Edan, pronunciando cada palavra como um discurso. – Claro, é bem sua cara. Sei que você não ta nem aí pra ele, nem pra nada que existe. Isso é bem grosseiro da sua parte, e eu adoro!

Indo atrás, viu que Carol olhava as duas rosas dentro do vaso. A garota olhava de forma curiosa, ela então pergunta – Escuta, até ontem essa rosa negra estava tão bonita, e olha agora, está horrível igual a branca. Será que aconteceu alguma coisa de ontem pra hoje?

Se aproximou a passos curtos, olhando para a rosa negra na mão de Carol, o rapaz a analisa. A negra teve uma mudança brusca, e a branca parecia um pouco pior do que antes. – Se você não me dissesse, eu nem teria notado... Mas não se preocupe, em pouco tempo elas vão se recuperar e voltar a ficar bonitas. Só precisam de um pouco de cuidado e voltarão ao normal.

Deixando a rosa negra escapar lentamente de seus dedos, Carol apenas concorda com a cabeça.

- Sabe, eu lembro bem da minha mãe dizendo que as plantas são parecidas com pessoas, que todas podem crescer sozinhas, mas que se forem observadas do jeito certo e bem cuidadas, podem ficar mais bonitas que o normal... – Edan passa a mão no rosto lentamente – Até hoje não consigo entender bem o que ela queria me dizer.

- Eu acho que entendi um pouco... É algo bem mais simbólico do que lógico. Talvez você entenda alguma hora.

- Talvez... De qualquer jeito, eu irei cuidar dessas rosas do jeito que minha mãe faria. Ela disse que quando tivessem nascido, elas me seriam importantes de alguma forma.

- Quem sabe, mas você precisa estar vivo e saudável pra descobrir isso. Certeza que sua mãe não iria querer te ver resfriado – Carol empurra Edan em direção a seu quarto. – Agora troque de roupa antes que fique doente, e enquanto isso vou preparar um almoço rápido para nós.

- Ta, não precisa empurrar. – Edan diz, entrando em seu quarto e fechando a porta, enquanto Carol retorna a cozinha.

Longe do olhar de ambos, lentamente uma pétala da rosa branca se desprende, caindo suavemente no vaso. 

Considerações Finais:
Então acabamos aqui. Situações que sinceramente, aconteceram um pouco fora do meu controle. O rumo das coisas estão bem incertos, não acham?
Uma pequena curiosidade, a primeira versão de Rosas Gêmeas acabava no 20º capítulo, mas não é esse o caso. As coisas vão ainda mais longe.
Sem mais, espero vocês no próximo capítulo. Novas coisas estão reservadas no 21. Espero que continuem acompanhando.

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