Capítulo 2

2405 palavras - Arco introdutório

- Anne...? – Edan a observa pendendo a cabeça para o lado, um pouco surpreso e se sentindo um pouco estranho por motivos que não sabia definir. Seu olhar era fixo, o fazendo mais parecer com um sádico que estava enxergando através da alma da garota do que um colega de escola, o que foi algo que a fez estremecer a primeiro momento e recuar um passo mesmo que tenha sido quase imperceptível.

Raquel acerta um tapa na cabeça de Edan, tentando desfazer a bizarra expressão do colega – O que aconteceu com seus modos? Já não basta ser um bicho do mato, ainda quer assustar ela... Anda, se apresente direito!

Edan resmunga para si mesmo mentalmente pela dor que sentia do tapa, enquanto Leandro ri do ocorrido, e Anne mantem o sorriso, apesar de recuada – Bem... Desculpe. Sou Edan... – Edan pensa um pouco, e então diz – Espera, você disse que somos da mesma sala?

- Sim nós somos. – Ela responde amigável, levantando mais dúvidas no rapaz.

- Eu nunca percebi você antes. – Ele diz simplesmente.

- Eu fico pelo fundo e sou bem quieta. Isso faz eu não ser muito notada, então não é surpresa você não saber de mim. Só converso mesmo com o Leandro e a Raquel e é as vezes. – comenta mantendo um sorriso encabulado no rosto.

- Entendo, acho que algo assim acontece comigo. – diz apenas, entendendo a familiaridade que sentiu antes ao ouvir a voz dela.

- No seu caso, você é o estranho que não fala com ninguém, e ninguém consegue te notar por que some do nada – Leandro diz dando de ombros, recebendo o olhar congelante de Edan como resposta – Não reclame comigo, é coisa da Raquel.

Balançando a cabeça negativamente, Edan ve Anne se virando na direção aos colegas e começando a falar algo que não deu atenção, afinal havia se perdido em seus pensamentos. Não sabia o por que de ainda estar se sentindo estranho, porém apenas ignorou como sempre fazia com tudo. Seguiu junto de todos, mas ficou calado a maior parte do tempo.

Poucos minutos depois de andarem pelo parque conversando, Anne deu a ideia de se sentarem para comer e beber algo. Apoiando a ideia, se dividiram entre comprar lanches e escolher uma boa mesa. Durante todo esse tempo, Edan ficou sem dizer uma única palavra, enquanto todos conversavam de maneira animada. Leandro girava seu fone nos dedos, Raquel, como a mais extrovertida criava assuntos com as coisas mais simples, e Anne tornava cada assunto mais atrativo com detalhes pequenos, já Edan se mantinha calado, apoiando o rosto em uma mão e olhando em volta, entediado e em busca de algo que não tinha ideia do que era. Em um certo momento, pensou em levantar para ir embora.
Viu uma oportunidade, onde todos estavam completamente distraídos com a conversa, Edan se levanta de maneira quase imperceptível, porém sente a manga de sua blusa presa em algo, na verdade, notou estar sendo puxado de volta devagar. Se virando, Edan percebe Anne o segurando, o que causa certa surpresa.

- Por que está tão quieto? – Anne pergunta, mantendo seu olhos concentrados nos de Edan.

O rapaz não consegue encontrar palavras por um tempo, a surpresa o impede de falar qualquer coisa. Se recuperando após ter sido notado, enfim diz. – É apenas o meu jeito. Não gosto de falar muito. – Desvia o olhar da garota lentamente. Com o canto dos olhos, Edan consegue perceber que Raquel e Leandro se posicionam um ao lado do outro e os olhando, o jeito como estão os faz parecer como se estivessem assistindo um programa de televisão.

Questionou quando foi que os dois pararam de conversar entre si, para olharem em sua direção?

- Por que não me fala um pouco de você, e do que gosta de fazer? – Anne diz, atraindo novamente sua atenção. Ele percebe a garota o puxando de volta devagar, quase como se fosse um convite a voltar, isso o faz se sentar novamente.

O rapaz a observa, inexpressivo e suspira – Não tenho uma vida muito divertida.... Eu não faço nada em particular, nem tenho nada especial para contar.... Aliás, eu nem gosto de muita coisa, então não tenho muito a contar sobre mim.

- Não gostar não significa não fazer, não é? – Edan a observa com o canto dos olhos. Pensando em seu argumento, balança a cabeça em concordância. – Você faz pelo menos uma coisa pra se distrair quando está em casa, e quero que me diga o que é. – A esta altura, olhou para seus colegas em busca de auxilio, porém recebe como resposta ombros se erguendo. Estava sozinho nessa situação.

- Tudo bem... – suspira – Quando estou em casa eu desenho e escrevo... Bom... Eu pelo menos costumava fazer isso, a muito tempo atrás. Mas não digo que gosto de fazer.

Anne pensa, batendo a ponta do dedo na mesa, enfim sorri outra vez – É melhor que apenas chegar em casa e só deitar no chão e ficar ali até dormir.

Edan é pego de surpresa pelo comentário tão espontâneo. O som de risos sendo segurados podem ser ouvidos.

Anne olha para Raquel e depois para Leandro, intrigada com a reação deles, continua – Não... Só falta me dizer que faz isso. – Edan encara seus colegas, quase os fuzilando com o olhar. Somente eles sabiam desse detalhe, e pelo jeito compartilharam isso.

- É, talvez isso tenha acontecido uma ou duas vezes. – Responde, ainda encarando seus colegas.

- Por semana né? – Leandro completa, e sem aguentar mais, começa a rir junto de Raquel. Sem se segurar, Anne ri junto.

- Coisas assim acontecem com qualquer um. – bufa em defesa controlando o tom calmo da voz.

- Não acontecem não. Pelo menos não com as pessoas que conheço – Anne responde, segurando o riso. – Depois pode me mostrar seus projetos Edan?

- Que projetos? – pergunta erguendo a sobrancelha.

- Desenhos e histórias escritas. Se tiver feito mais alguma coisa, também irei querer ver.

Pensando por um tempo, finalmente concordar – Por que não? Quando quiser, eu mostro o que eu faço.

- Legal! – Anne diz com uma animação explosiva. – Quero ver ainda hoje. Pode ser?

- O que... – Olhou para Raquel e para Leandro em sequência. Ambos concordaram com a cabeça.

Raquel se adianta – Ótima ideia. Você tem muita coisa das boas guardada Edan.

- E estão todas cobertas de poeira... – Diz, tentando uma última vez convence-los de que não era uma boa ideia. Olhou de um lado ao outro, para cada um de seus colegas, e tudo que recebia eram olhares pidões, não só de Anne, mas de seus colegas de classe. Se sentiu cercado neste momento, sem muita saída, virou-se para Anne e disse, balançando a cabeça negativamente claramente desaprovando a ideia – Ta, acho que não tem problema. Pode ser hoje mesmo.

Todos se entreolham e comemoram, pegando latas pouco cheias de refrigerante e fazendo um brinde.

Depois de mais alguns minutos mantendo a conversa, se levantaram e partiram para a casa de Edan. O rapaz não estava se animando de nenhuma forma. Sua expressão triste e desanimada se contrastava com seus colegas. As pessoas que passavam pela rua encontravam com três adolescentes extremamente animados, e em contrapartida um iceberg gélido que Edan conseguia ser tão facilmente. O sol ainda estava forte, aumentando a vontade de todos para chegarem em um lugar mais fresco.
Assim que chegaram, Leandro e Raquel entraram de imediato, mas diferente dos colegas que buscavam a confortável sombra e refresco, Anne permaneceu do lado de fora por poucos segundos, como se admirasse a casa, até finalmente entrar. A garota olhava a cada detalhe da casa, com a total curiosidade de uma criança.

O anfitrião Edan não sabia como lidar com visitas. Não recebia pessoas em casa com frequência, então não sabia como reagir com seus colegas ali. – Onde estão seus desenhos? – Raquel perguntou.

- Estão aqui, no meu quarto. – abriu a porta e ligou a luz, dando espaço para os amigos entrarem.

- Ah Edan... Há quanto tempo você não arruma o seu quarto? – Leandro pergunta

Edan olhou para seu quarto. Está ainda pior com a luz ligada. – Sinceramente, não sei. – diz olhando para seu quarto. Tentava se lembrar quando foi a última vez que havia entrado para fazer qualquer coisa que seja neste cômodo além de dormir. Edan olhou para o alto, notando que até mesmo a lâmpada tinha conseguido ser tomada por poeira. Raquel começou a espirrar e voltou para a sala, escoltada por Leandro. – Desculpem pela bagunça... E por toda a poeira...

- Tudo bem, meu quarto também é bem bagunçado. E aposto que o deles também é.

- Mas tenho certeza que o quarto de vocês não parece com o de uma casa abandonada...

Anne entra no quarto cuidadosamente, olhando tudo ao redor como se explorasse algo praticamente incrível a seus olhos. – Nossa... Faz muito tempo desde a última vez... – diz em baixo tom.

- Disse alguma coisa? – Edan pergunta a observando.

 - Não, não disse nada demais, só estava pensando alto que faz tempo que não desenho... Alguma hora te mostro os meus desenhos. – diz, virando seu olhar para os papeis colados na parede.

- Você também desenha? – Edan pergunta, cruzando os braços a observando.

- Sim, e desenha muito bem. – Raquel comenta, entrando no quarto com o rosto molhado e o nariz vermelho da crise de espirros. – Você precisa ver.

- Isso explica todo o súbito interesse no que eu fazia... Raquel, o que aconteceu com você? – pergunta assim que olha o estado da amiga.

- Toda a poeira do seu quarto atacou minha alergia, tive que lavar o rosto para não ficar espirrando e morrer sem ar. – Ela responde.

Edan pende a cabeça para o lado. Com certeza tinha culpa nisso, e volta a seu olhar para Anne, que por vários minutos, continuou observando seus desenhos. Por diversas vezes permaneceu admirando os traços de cada desenho. A certo momento, olhou os dois quadros na estante do rapaz. O primeiro havia uma foto de Edan quando ainda era criança, junto de sua mãe, e no outro quadro, Edan estava bem diferente, e com ele na foto estava... – Meu Deus, já está ficando tarde! Tenho que ir para casa urgente. – diz de repente, pegando Edan de surpresa e o arrancando de sua bolha de pensamentos. Anne pega suas coisas e sai correndo da casa do rapaz, deixando todos confusos.

- Edan, o que você falou pra ela? – Raquel perguntava

- Nada. – Da de ombros – Ela só disse que tinha que ir para casa do nada, e saiu correndo desse jeito que você viu.

- Assim de repente? – Raquel responde – O que será que aconteceu?

Já um pouco distante, Anne continua correndo para sua casa, parando perto de um poste para respirar, levando uma mão aos olhos. – Edan... O que aconteceu com você? Por favor, me perdoe...

*****

No dia seguinte, Edan agia como se nada tivesse acontecido, o que era verdade. A única coisa que aconteceu foi Anne sair correndo de sua casa sem nenhum motivo aparente, e isso era motivo para seus colegas ficarem bastante desconfiados dele. Raquel o encheu das mais variadas perguntas, tentando sondar qualquer coisa que Edan pudesse ter feito para espantar Anne, mas ela desistiu depois de pouco tempo de interrogatório. Estava novamente debruçado sobre sua mesa, lendo um livro que havia trago de casa, e deixado apoiado aberto, bem a sua frente. Estava começando a cochilar, quando percebe seu livro sendo pego por alguém.

- Você está lendo ou dormindo? – Anne pergunta, colocando sua mochila na mesa ao lado e dando uma olhada rápida no livro.

- Um pouco dos dois – Diz de uma maneira sonolenta, se endireitando em sua cadeira. – Esse ai é o seu lugar? – Anne responde acenando com a cabeça. – Nunca te notei ai.

- Lembra o que falei ontem? Sou meio ignorada por todos, e você não é uma excessão sobre me ignorar – Responde, mostrando a língua para o colega.

O rapaz permanece em silêncio, olhando a colega sem nenhuma expressão no rosto – Bem vinda ao clube. – Edan apoia a cabeça em sua mão, soltando um longo bocejo.

Anne sorri – Sabe, eu também faço isso várias vezes – comenta, se sentando na mesma cadeira de Edan, o espremendo contra a parede

- Também faz o que? – diz a observando, tentando se ajeitar como dava.

- Fingir estar lendo, mas na verdade estar dormindo. Faço isso várias vezes em casa.

- Eu estava lendo sim, é que essa parte estava chata. – resmunga, olhando para o lado da janela. – Está apertado aqui... Da pra deixar mais espaço pra mim?

- Tudo bem, vou fingir que acredito em você – responde, ficando um pouco sem graça logo depois – Ah sim, desculpe por ter saído daquele jeito ontem. Eu precisava mesmo ir para casa.

- Entendo, e não me importo com isso. Seja lá o que tenha sido aquilo, acho que você teve seus motivos.

Por mais uma vez, Edan teve a impressão de ver os olhos de Anne brilharem para ele, algo que ele simplesmente não entendia por que tinha tal impressão. – Eu sabia que você era um cara legal mesmo antes do Leandro me falar de você. Sabia que iria me entender. – diz com animação na voz, apertando Edan ainda mais contra a parede – Vou voltar para o meu lugar e te deixar respirar de novo – comenta se levantando e sorrindo uma última vez para o rapaz.

- O que é isso...? – Edan pensava, enquanto observava Anne com o canto dos olhos, sem conseguir dizer nenhuma palavra que fosse. Seu próprio corpo se recusava. Pensou então consigo mesmo – O que é essa sensação estranha? Será por causa dessa garota? ... E além disso, por que tenho a sensação de já conhecer, ou ter visto ela antes?

Edan balança a cabeça e espanta tais pensamentos. Se convenceu que a conhecia de vista tanto na sala quanto pela escola. Apenas se focou em ignorar, em sua mente, tais coisas não deveriam ter nenhuma importância.

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