Capítulo 17

6921 palavras - Arco casais

Soltando um enorme cesto cheio de roupas na porta da cozinha, Edan passava a mão pelo cabelo que caia aos poucos na frente dos olhos – Muito bem... As duas podem me dizer o que fazem aqui a esta hora da manhã de sábado? – Disse se virando para suas visitantes inesperadas: Carol e Tamires.

- Apenas uma visita cordial a um conhecido, senhor fantasma! – Tamires disse rindo.

- E você fala como se fosse super cedo... – Carol resmunga, olhando no mínimo relógio prateado em seu pulso – São apenas 8:13h... Ta, isso é bem cedo mesmo.

- Muito cedo... Não deveriam estar aqui a essa hora... – Edan reclama, ignorando o fato que acorda ainda mais cedo que isso. Apesar de inesperada, a presença das garotas não era uma surpresa. Já fazem duas semanas que Anne começou a namorar Fabiano, e desde aquele dia ela não apareceu uma vez sequer em sua casa, não foi atrás quando estava voltando para casa as pressas, ou então ficar falando por longos períodos com Raquel e Leandro, estes que também haviam engajado em seus próprios relacionamentos, graças ao próprio Edan. Aliás, todos eles estavam falando bem pouco com Edan desde que começaram seus namoros. E ao que notou, Fabiano era o centro de animação de seu grupo, quando de repente ele sumiu pelo início de seu namoro, o grupo praticamente se desfalcou por completo. De certa forma, queria por isso mesmo, que todos o esquecessem. Mas ainda assim, as duas garotas presentes se sentiam abandonadas pelos seus círculos de amizade. – Não ligam de me ver lavando roupas a essa hora da manhã?

- Sem problema nenhum. – Tamires deu de ombros. – Ver outra pessoa trabalhando e ficar de braços cruzados pode ser um bom passatempo.

- Você acorda cedo só para isso? – Carol questiona.

- As vezes só volto a dormir no sofá mesmo, ou fico vendo televisão. Vocês viram as cobertas lá na sala quando chegaram, elas me denunciam. – As garotas se entreolharam, tentando engolir a rotina de Edan, ao mesmo tempo que seguram o riso. – Não tem muito o que fazer aqui em casa, só as tarefas de sempre... E eu não costumo sair.

- Você precisa sair mais, ou ter uma vida melhor. – Carol resmungou enquanto o rapaz carregou o cesto até a lavanderia.

- Apesar que passar o dia nessa casa gigante deve ser bem confortável. – Tamires acrescentou, olhando pelo batente da porta, tentando explorar a sala escura.

- Confortável até pode ser! – Edan falou em alto tom, sua voz ecoou na lavanderia. – Mas as vezes dá um tédio insuportável ficar aqui sozinho o dia inteiro, por todos os dias da vida. Por isso que bem as vezes eu escrevo ou desenho. – Assim que terminou de falar, Edan percebeu o tamanho da contradição de suas palavras com sua vida, por simplesmente não achar sua casa tão confortável como fez parecer, e muito menos fazia desenhos ou escrevia. Depois que Anne começou seu namoro, ele simplesmente abandonou tais coisas.

Carol aparece na porta da cozinha, encostando na divisória. Ela vestia uma camisa cinza sem decote, uma calça jeans clara e tenis, roupas que não mostravam tanto do seu corpo como das outras vezes que a viu. Edan não conseguiu deixar de olhar, não por desejo, mas por surpresa de ver Carol tão mais vestida. – Eu ainda prefiro um dia inteiro de tédio a ter um monte de coisas pra fazer. – Disse quase cantando. – Se você desenha ou escreve, onde está tudo?

- Estão colados nas paredes ou então espalhados nas gavetas do meu quarto.

Carol da de ombros enquanto o observa – Ainda sim é uma rotina.

- Morando sozinho, todo dia é uma coisa diferente... Seja uma tarefa, ou um tédio diferente... – comentou com preguiça na voz, terminando de socar roupas na máquina e a ligando. Quem aparece é Tamires, deixando o cabelo solto pelos ombros e pelas suas costas, ela se veste com uma camisa mais folgada, seu óculos preso na gola da camisa, um shorts jeans pouco rasgado até metade das coxas e um tênis gasto. Ela parecia combinar com o estilo. – Pior é quando alguma coisa queima nas panelas ou no banheiro, alguma coisa fica toda suja, eu tenho que resolver sozinho.

- Preços de se morar sozinho, o bom é que você se torna bem prendado... Você é um tipo de faz-tudo? – Tamires questiona.

Pensando na pergunta, Edan encosta na máquina de lavar, cruza os braços, e avaliando bem sua vida responde – É uma boa definição sobre o que faço aqui...

Por um segundo, ignorou as duas garotas e olhou para os fundos em direção a grande estufa. Ao que viu, o lugar parecia estar o convidando. Tamires percebeu e seguiu o olhar de Edan, e atraída pela curiosidade perguntou. – O que tem ali?

- As várias plantas da minha mãe – Respondeu sem desviar o olhar – A estufa que meus pais fizeram... Meu pai fez o desenho da estrutura junto com meu tio. No dia de começar a montar até ficar pronta eu ajudei meu pai, lembro muito vagamente de ficar pegando as ferramentas que meu pai pedia e as vezes algumas peças, e quando ficou pronta, minha mãe tirou um domingo inteiro para fazer as prateleiras, arrastar vasos, espalhar várias plantas e sementes por todo o lugar.

Tanto Carol quanto Tamires permaneceram olhando para Edan, quase que hipnotizadas pelo que ele dizia. Ele ocultou o fato de apenas contar isso fez as memórias renascerem do fundo de sua mente. Ele podia ver e até ouvir nitidamente o que falava com seu pai quando começaram a montar a estufa. Edan lembrava que não tinha nem 5 anos ainda, mas se lembrava bem daquele e de vários outros dias.

- Eu lembro também que eu e meu pai ficamos doloridos de tanto trabalho, além de cobertos de terra. Acabei quebrando um vaso da minha mãe, mas ela não brigou comigo... – Edan solta um suspiro profundo – Depois de tudo, minha mãe ficou bem feliz com o resultado, então acho que todo o esforço que fizemos no dia acabou valendo a pena.

Se aproximando um pouco, Carol levou as mãos a cintura, absorvendo a história – Parecia que seus pais adoravam as plantas.

- Só minha mãe mesmo, um pai não era muito fã. Uma vez ela me disse que só começou a gostar de plantas por que meu pai a incentivou na faculdade, meu pai odiava ficar todo sujo de terra, principalmente por sempre gostar de estar bem vestido... Mas ele aceitava e fazia essas coisas porque gostava de ver minha mãe contente. Do jeito que ele ficava quando via minha mãe rindo, acho que era uma coisa que só meu pai sabia descrever. – Fez uma pausa, e então olhou para as garotas. Suas expressões mostravam estar impressionadas, mas não soube dizer pelo que estavam assim. – E agora, sou eu quem cuida de tudo.

- Deixaram tudo para você de herança? – Tamires perguntou, inclinando um pouco o rosto para o lado. – Digo... Você nunca fala sobre seus pais, e eles nunca estão em casa quando viemos. Imagino que não conviva muito com eles.

- Bem... Isso é porque... – Ele começou a dizer, abaixando um pouco o olhar. Edan lembrou que nunca havia dito para elas o que havia acontecido a seus pais. Na verdade, nunca contou a história completa para ninguém, apenas Anne e Raquel sabem os detalhes sobre sua mãe, mas não sobre seu pai, a qual passou por uma doença grave e não conseguiu resistir, isso quando ainda tinha 7 anos de idade. Pensou, olhou para as garotas, para o lado e de volta para elas, tentando escolher as melhores palavras. – Acontece que meus pais morreram há muito tempo.

Tamires ergueu as sobrancelhas em surpresa – Desculpa, eu não sabia... Não quis parecer ser inconveniente... – Tentou se desculpar.

- Está tudo bem... Não precisa se desculpar – Deu um longo suspiro – Muitas das vezes eu ainda sinto falta, mas já estou acostumado. – Mentiu ao dizer isso, era uma das coisas que por mais que tentasse, não conseguia realmente se acostumar.

Sentindo seu celular vibrando, Tamires o pega na borda de seu shorts e então disse, colocando seu óculos – Desculpe cortar todo o assunto, mas o Fabiano acabou de mandar uma foto dele com a Anne... – comentou, virando o celular para Edan e Carol verem. – Ele acabou de acordar, e ela está dormindo ainda, bem do lado dele.

Carol soltou um sorriso de canto ao ver a foto. Edan por sua vez ergueu uma sobrancelha mantendo seu olhar neutro. Olhando a foto, sentiu algo revirando em seu estômago. Não achou que ver uma foto da sua colega de sala deitada com um cara, no que poderia ser um potencial momento íntimo, a cena mais agradável para se ver em um sábado de manhã.

O que Anne diria se soubesse que seu namorado está tirando fotos assim sua, e compartilhando com amigas?

- E mais! – Carol disse, assim que surgiu notificação se uma nova mensagem – Ele acabou de falar que esse é o melhor jeito se acordar. Por que eu sinto que tem algo a mais nessa mensagem?

- O que quer dizer? – Tamires questiona.

- Simples, você sempre disse que o Fabiano considera o "Fantasma" aqui um arquirrival. Ele pode ter mandado essa foto com esse sentido, de me mostrar que ele é o grande vitorioso.

- É, mas o Fabiano não sabe que estamos aqui. Ele está contando vantagem e massageando o próprio ego... – Tamires disse balançando a cabeça. – Mas olha só, pensei em uma coisa, que tal darmos uma resposta para ele?

- Mandar uma foto de resposta? – Carol pergunta rindo.

- Isso, o que acha? – Tamires questiona. Carol faz um aceno na direção de Edan, que já estava distraido com outra coisa. Com cumplicidade as garotas se entendem, correndo uma para cada lado dele, e antes que percebesse, ambas encostaram a cabeça em seus ombros, ergueram o rosto de Edan, o fazendo olhar para o celular, e assim tiraram uma foto. Rindo enquanto olham a foto, concordam com gestos que gostaram, e assim mandam a foto. Edan, pego de surpresa com o gesto das garotas, balançou a cabeça em negação, jogando produtos e mais produtos na máquina e ativando o funcionamento. – Vocês inventam cada coisa... E talvez ele esteja certo, deve ser bom mesmo.

- Vai dizer que você nunca fez isso antes. – Carol diz rindo, passando a mão pelo cabelo curto.

Edan não respondeu. Ele olhou para Carol, claramente respondendo com o olhar. Apenas deu de ombros demonstrando que nem ao menos se importava que nunca havia feito. – Tirar foto de surpresa, ou então dormir com alguém... Nunca, alguma de vocês já?

- Algumas poucas vezes. – Tamires falou, cruzando os braços.

- Melhor ainda se for em um daqueles domingos confortáveis, que da pra ficar até tarde na cama, os dois bem agarrados na cama... Aos beijos e muita diversão a dois. – Carol completou, com os olhos quase brilhando.

Sem se conter, e demonstrando um lado mais doce que Edan ainda não havia visto, Tamires continua – Talvez com bem pouca luz pra não dar vontade de sair da cama.

- Vocês duas sabem que estão falando outra língua para mim, não é? – O rapaz disse, semicerrando o olhar para ambas.

- São situações que nós duas já tivemos chance de aproveitar querido. – Carol zombou, rindo alto. Era uma garota que conseguia ser maliciosa até na risada. Ela se aproxima de Tamires, e então continua – E nós já aproveitamos juntas algumas vezes.

- Não precisa ficar espalhando... – Tamires a repreende aos risos.

- Você nega? – Carol questiona.

Tamires então começa a rir – Olha, essa é uma coisa que com certeza eu não nego.

- Então pronto. Te convenci e você quis e não só uma vez. Não faz segredo agora. – Carol se vira para Edan, evitando que a colega dissesse mais algo – E você precisa ter essa experiência na sua vida.

- Não sei se faço tanta questão de passar por essa experiência. – Retrucou, jogando algumas roupas para as próximas lavagens – Me sinto bem tranquilo quanto a isso.

- Diga isso até o dia que tiver sua chance... Depois disso, vou perguntar de novo sua opinião. Tenho certeza que vai ter mudado um pouquinho. – Carol rebateu enquanto o rapaz passava os olhos por cima na cozinha, analisando se faltava fazer algo.

- Talvez você esteja certa, ou não... – Disse simplesmente, dando um suspiro cansado. – Tanto faz. Terminei por aqui, que tal ficarmos na sala? 

- É uma desculpa para a Carol ficar quieta? – Tamires zomba.

Edan da uma olhada para Carol, que levou as mãos a cintura abrindo a boca para dizer algo, mas ela desiste e então faz uma expressão, esperando que respondesse, e assim ele faz. – Não exatamente, me refiro a ficar em um lugar mais cômodo... Mas evitar que a Carol fale mais parece convidativo.

Carol atravessa a cozinha empurrando tanto Tamires como Edan para a sala – Vocês falam isso, mas devem adorar os belos tons da minha voz.

- Fale por si mesma, por mim é parecida com uma gralha escandalosa. – Edan diz dando de ombros, recebendo um empurrão mais brusco na direção do sofá.

Carol ergueu um pouco o rosto, assumindo uma postura de superioridade – Então você deve gostar ainda mais se prestou atenção por tanto tempo assim. – Rebateu com um sorriso, então continuou. – Se interessou tanto assim por mim "Fantasma"? Vai perder tempo tentando.

- Espera... Que? – Ele questiona.

- Vocês dois podem parar por gentileza? – Tamires ri já estando no sofá com o controle da TV em mãos. A garota cruzou as pernas e lançou um braço para atrás do sofá, parecendo estar fazendo pose – Estou sobrando aqui, se quiserem ter uma conversa de casal, eu vou lá pra fora e fico lá por uns dez minutos, ou vocês que vão para o quarto e eu espero aqui na sala mesmo. Definitivamente eu não quero ver isso.

Edan ergueu uma sobrancelha, entendendo e ao mesmo tempo não entendendo o que Tamires tinha acabado de dizer.

- Nem me venha com essa conversa Tamires... Não somos um casal, e você não está sobrando por aqui... – Carol diz cruzando os braços. Dando uma olhada para Edan, algo parece ter despertado em seu olhar, assim se aproximando sem titubear. O rapaz estranhou a aproximação tão repentina de Carol, recuando um pouco no sofá e olhando para Tamires, que também estava sem entender. – Se fosse para você estar sobrando amiga, então eu faria algo assim. – Ao terminar de falar, Carol sentou no sofá bem ao lado do rapaz, deitando sobre ele e se aproximando ao máximo, posicionou as mãos de Edan sobre seu corpo, jogou seu braço em volta do pescoço do rapaz enquanto passava a ponta dos dedos pelo rosto de Edan. Seus olhos se conectaram, Edan sentiu o doce perfume de Carol. Ela aproximou seu rosto ao dele, seus olhos fecharam e, antes de suas bocas se tocarem, ouviram um "clic" seguido de um flash. Os dois olharam na direção da luz quase que de imediato, Tamires estava com uma expressão indecifrável e com um largo sorriso, havia sido rápida a ponto de tirar uma foto.

- Viu Tamires? Se você estivesse realmente sobrando, eu estaria dando em cima dele, e talvez estaríamos nos beijando agora mesmo. – Carol desconversou rindo, enquanto saiu de cima de Edan com a respiração um pouco desajeitada, se sentando mais próxima da amiga. Tamires solta um sorriso e de novo esta olhando seu celular. Olha, suspira, digita algumas coisas e então o deixa de lado. – Algum problema? – Carol questiona, vendo a amiga revirando os olhos.

- Nenhum, só o Fabiano falando um monte de coisa por causa da foto que mandei antes. Nem darei mais atenção.

- Só guarda esse celular e pensa em outra coisa – Edan boceja, tentando esquecer o recente ocorrido.

- Manda essa foto que tirou agora! – Carol comenta, dando uma olhada com um sorriso de canto para Edan. – Com certeza você vai calar a boca dele.

- É uma ótima ideia! – Tamires concorda, clicando algumas vezes na tela – Agora me lembrei fantasma, nunca vimos você com um celular na mão. – Tamires comentou, batendo os dedos no joelho.

- Deve ser porque eu não tenho.

- O que?! – as garotas questionam ao mesmo tempo. Elas se entreolham, sem acreditar no que Edan diz.

- Estão surpresas?

- Um pouco... É inesperado uma pessoa não ter um celular hoje em dia. – Carol diz, dando de ombros.

O olhar do rapaz fazia a pergunta "Ter um para que?". Respirando profundamente, ele então responde – Não acho que seja algo necessário.

- Mas é sim! – Tamires comenta, pensando um pouco – Muitas vezes para você falar com aquela pessoa chata sem precisar olhar na cara dela, ou manter contato com amigos e grupos.

Edan reflete, sem responder as garotas. A ideia de manter contato sem precisar estar presente o agradava, principalmente no caso de sua tia. Mas logo lembrou que, se não fazia questão de falar com ninguém, então teoricamente deveria permanecer sem celular.

- Fora câmera pra vários tipos de fotos, redes sociais, jogos, vídeos, música. Tem até bastante coisa, é bom ter um. – Carol completa terminando de contar nos dedos se falta algo que seria relevante a ela. – Podemos ir com você ao shopping comprar um, se tiver vontade e dinheiro, claro.

- Não digo que estou realmente interessado, mas parece que pode me ser útil.

*****

Na entrada frontal do shopping em pleno meio dia, Edan estava de braços cruzados e olhar frio, quase como se exigisse explicações, e na verdade era isso que queria. – Talvez eu esteja sendo um pouco chato, mas... O que todos vocês estão fazendo aqui?

Diante dele estavam os três casais que ele formou. Leandro e Iris que de longe era o casal mais grudado, Raquel e Ricardo onde a principal característica era a diferença de altura entre os dois, e por fim Anne e Fabiano, o casal mais equilibrado.

- Veja que novidade, estávamos todos nós, quietos em nossos cantos, quando chega a notícia que o cara mais antissocial que conhecemos no planeta vai comprar um celular – Raquel diz, brincando com as palavras. – Com toda certeza era algo a se observar de perto.

- Estão fazendo disso um show... – Edan revirou os olhos, claramente não querendo estar ali. Acabou relembrando que apenas de falar que um celular poderia ser útil fez Carol e Tamires começarem a insistir sem parar em comprar um, ao ponto de começarem a tentar negociar uma troca, ele comprar um celular novo e as duas iriam ajudar a terminar de lavar as roupas, porém Edan só concordou para que as duas garotas se calassem. – É só um celular.

- Você não tem ideia de como isso é um grande marco, precisamos de várias testemunhas, e talvez um escrivão. – Leandro riu alto, todos seguiram sua animação e riram junto.

- Tanto faz, vamos logo. Hoje está muito quente, e quero voltar para casa logo. – Disse, adentrando o shopping. O ar frio dentro do shopping era de total contraste com o calor que sentia antes, tanto que quase achou necessário se agasalhar para continuar ali.

- Então, qual modelo pensa em comprar irmãozinho? – Raquel questiona, dando um soco de leve no braço de Edan.

Pensando com a mão no queixo, ele responde – Não pensei quanto a isso...Vou precisar decidir na hora.

- Você não escolheu nenhum? – Ouviu uma voz diferente, mais grave que a de todos no grupo o que atraiu seu olhar, percebendo se tratar de Ricardo. Claramente tentando se encaixar no grupo como podia.

- Na verdade, eu nem mesmo planejava vir comprar um celular hoje – Edan suspirou pesadamente – Só estou aqui hoje porque... Aquelas duas bem ali insistiram... – Disse, encarando Carol e Tamires. As duas garotas saltam para o lado de Edan, agarrando seus braços.

- Você tem que fazer isso, cumprimos nossa parte do combinado – Tamires reclama puxando a gola de sua camisa que havia secado no corpo mesmo. – Te ajudamos a lavar as roupas, e nós duas ficando ensopadas com tantas roupas molhadas.

- Eu queria que vocês duas se calassem... E eu disse para vocês tomarem cuidado, a centrifuga da máquina não está funcionando tão bem e ainda não sei como concertar aquilo... Por sorte eu não acabei todo molhado igual vocês – Retruca balançando a cabeça.

- Não fico molhado por causa da máquina, mas fizemos questão de te deixar ensopado também. E depois nossas roupas secaram no corpo mesmo, espero não ficarmos doentes – Carol termina de dizer – Mas olhe pelo lado bom, também conseguimos tirar esse aqui de casa.

- Vocês cumpriram suas partes... Então, meio que sou abrigado a vir comprar essa coisa. – Edan diz balançando a cabeça. Por mais que fosse "útil", não achava ser realmente algo tão importante, pelo menos não a ponto de reunir tanta gente em um shopping.

- Elas cumpriram bem as partes delas? – Iris pergunta. Iris estava completamente encolhida, totalmente tímida diante de tantas pessoas, e ao que parece também tentando se entrosar ao máximo que podia.

- Se ofereceram para me ajudar a lavar roupas, e isso elas fizeram... Mas não cumpriram bem com a parte de ficarem quietas – Deu de ombros, e revirando os olhos. – Como me ajudaram nisso, talvez eu precise "corresponder" a ajuda.

- Que troca proporcional – Ricardo comentou – Os amantes fissurados da troca equivalente iriam surtar com isso.

O comentário não foi tão bem recebido pelo grupo.

- Eu entendi a referência! Fullmetal Alchemist! – Edan disse, dando um aceno positivo para Ricardo, que balançou a cabeça confirmando. De alguma forma, era o jeito de inclui-lo melhor no grupo. – Bem, me ajudaram com uma coisa, então eu concedo uma vontade delas. Era isso ou não me deixariam quieto.

- Alias, mais alguém aí está com fome? – Fabiano questionou, dando alguns tapas na barriga.

Anne disparou um olhar quase que reprovador, mas carregando um sorriso doce – Ainda está com fome? Mas tivemos um café da manhã caprichado hoje.

- Eu sei minha querida, mas é de mim... Fico com fome rápido... – Ele respondeu de maneira carinhosa, o que gerou um sorriso tímido de Anne como resposta. – Então, quem mais quer almoçar aqui no shopping?

Leandro e Iris se entreolham, conversam com gestos que parecem terem sido criados justamente para eles mesmos, e concordam com a proposta. Raquel e Ricardo se entreolham ao mesmo tempo, concordando com um aceno afirmativo. Quanto a Carol e Tamires, aceitaram sem nem mesmo pensar. Nenhuma das duas comeu mais que uma grande porção de biscoitos de maizena amanteigados que Edan serviu poucas horas mais cedo. Edan deu de ombros sem se pronunciar, seguindo na frente para onde acreditava haver alguma loja, se desprendendo de Carol e Tamires.

- Ótimo, então vamos terminar isso e termos um ótimo almoço, aproveitar como podemos esse sábado. – Fabiano comentou com sorriso na voz. Sua animação estava alta o bastante para atrair todos para si, contagiados com sua animação.

- Mas em ordem, vamos à loja primeiro – Tamires comentou, olhando em volta. – Aliás, onde o Fantasma Edan se enfiou agora?

- Deve ter ido na frente... – Leandro comentou, soltando um riso – É um costume dele, o problema agora é conseguirmos achar ele.

Ao mesmo tempo em que o grupo seguiu atrás de Edan, o rapaz acabara de entrar em uma loja espaçosa, quase que atraído pela música eletrônica, os celulares nas vitrines, as reluzentes peças para computadores mais ao fundo. Todos foram detalhes que atraíram sua atenção. Simplesmente não teve paciência de esperar todos, então apenas seguiu na frente sem avisar, e se sentia satisfeito por já achar um lugar em potencial para comprar o celular.

- Olá amigo, posso ajudar? – Disse um homem um pouco mais alto de cabelo e barba baixos, e vestido uma camisa com o logo da loja.

- Pode sim, estou procurando por um celular novo... – Olhou em volta e continuou – E talvez por um computador também.

- Claro, tem algum modelo em mente? – O homem pergunta, enquanto passa para trás de um balcão de vidro, onde Edan enxergou o que pareceu capas e mais capas de celulares, aparelhos de som e fones de ouvido e bem próximo ao chão, várias caixas com peças de computador. O homem juntou as mãos sobre o balcão, aguardando a resposta.

- Nenhum em mente. Na verdade não sei nada sobre celulares, é o primeiro que venho comprar... Tem alguns modelos que me recomenda?

Coçando a barba como se usasse isso para pensar, o homem alcança algumas caixas embaixo do balcão, e logo em seguida outras que estavam mais afastadas, e as apresenta ao rapaz. Explicou sobre as funções de cada um, processamento, capacidade de armazenamento, câmera, suporte para jogos, muito parecido com o que Carol havia dito mais cedo. Edan questionou algumas funções explicadas, o que deixava o vendedor mais animado com a demonstração, quase como um grupo da sexta série explicando um projeto muito bem feito em uma feira cultural.

- Olha só quem está fazendo compras sozinho – Edan ouviu atrás de si. Fabiano? Olhou para trás por cima do ombro, vendo o veterano parado, de braços cruzados e um sorriso de superioridade. Na porta da loja, percebeu Anne os observando também de braços cruzados, e mais atrás o restante do grupo.

- Finalmente... Achei que vocês nunca me alcançariam. – Edan diz, se virando para o celular.

- O "sensor fantasma" da Tamires não está funcionando bem, mas até que foi bem fácil de te achar. – Respondeu rindo para si mesmo. – Já escolheu algum?

- Ele estava me falando deste último modelo – Edan ergue um celular preto fosco, tão grande que não sabia se caberia em seus bolsos.

- Essa coisa ai? – Fabiano zomba, apontando para o celular como se fosse algo estranho – É uma coisinha boa, e costuma dar uma bela explosão depois de uns dias.

- Ah é...? – Edan ergue uma sobrancelha, olhando o vendedor – Esse celular pode explodir?

O vendedor hesita um segundo, e então começa a falar – Bem... Houveram reclamações que o celular superaqueceu demais... E houveram sim alguns casos de explosão. – Disse, batendo o dedo de leve no vidro. Sua expressão corporal endureceu um pouco, visivelmente incomodado com a chance de perder uma venda.

- Acho melhor escolher outro – Fabiano comentou com um sorriso. – Se quiser se matar, então pegue esse mesmo.

Ficando em silêncio, o rapaz não olha para trás, porém então ele diz de um jeito que Fabiano e o vendedor quase não ouviram. – ...Talvez seja isso que eu queira...

Edan olha para o celular, olha suas informações na caixa. Ele era superior aos outros modelos em alguns poucos aspectos. Segurou o celular, dando uma olhada em cada detalhe em sua arquitetura. – Risco de explosão, parece interessante... Eu gostei, ficarei com ele.

Fabiano olhou para trás dando de ombros, demonstrando como se estivesse tentando ajudar. O vendedor então embala o celular e segue para o caixa. Questionou a forma de pagamento, quase perdendo o equilíbrio quando Edan confirmou um pagamento de mais de três mil reais a vista por um cartão de débito, o mesmo aconteceu com Fabiano que acabou desnorteado com o que ouviu, e ficou encarando Edan com a surpresa estampada em seu olhar. Talvez satisfeito com sua mais recente compra, o rapaz deixa a loja olhando a caixa do seu celular novo, como se fosse uma espada de aço polido onde podia ver a si mesmo que acabara de comprar, tanto que ignorou a chuva de perguntas do grupo. Agora, só precisava passar um almoço com eles e fugir de volta para casa.

*****

O almoço que esperava ser rápido se estendeu por muito mais tempo que Edan esperava. Acabaram por separarem as mesas entre os casais e os solteiros e cada hora era uma bagunça diferente. Durante todo o tempo na praça de alimentação, pode sentir que alguém estava de olho em cada um dos seus movimentos. Por vezes o rapaz olhava ao redor de forma disfarçada, mas não conseguia achar ninguém. Só o deixou tão inquieto que mal tocou no lanche que comprou, apenas nas batatas fritas murchas e no refrigerante aguado, decidindo assim levar o lanche para comer em casa, isso se ainda estivesse comestível.

Assim que deixaram a praça de alimentação, Fabiano tentou convencer a todos a irem para o parque. Inicialmente todos refutaram, porém um a um Fabiano foi convencendo a todos com a desculpa de ser um dia bonito e a ser aproveitado. Antes que pudesse se pronunciar, Carol agarrou tanto Edan quanto Tamires pelo braço, os impedindo de escapar.

Momentaneamente rendido, Edan seguiu junto do grupo até o parque, e Carol fez questão de segura-lo, o soltando apenas quando passam pelos portões do parque. O lugar estava muito mais lotado que da última vez que veio. Durante quase todo o tempo, precisaram desviar de pessoas, bicicletas e bichos de estimação. Quanto mais andava, mais quente ficava, e também muito mais lotado, parecendo que todos tinham decidido ir ao parque aquele dia quente. Edan seguia atrás do grupo, se sentindo cada vez mais para trás, enquanto conseguia ouviu pouco das seguidas piadas entediantes que Fabiano contava.

Em um súbito momento ele para de andar, deixando com que todos seguissem em frente sem percebe-lo. Olhou bem para todos, se afastando dele cada vez mais. Todos rindo, animados, felizes. O único que não se encaixava era ele mesmo, por mais que estivesse realmente se esforçando para interagir com todos, fazer presença, achar as piadas idiotas e os risos algo acolhedor, Edan não conseguia. Tudo continuava monótono e sem sentido algum, a única coisa que sentia era estar cada vez mais excluído. Não precisavam de Edan nem de sua presença, era completamente desnecessário em todos os aspectos. Todos estavam muito bem "sozinhos". Dando um pesado suspiro, fez o de costume: Vestiu o capuz de sua camisa, jogou as mãos nos bolsos, se virou e seguiu por uma direção totalmente oposta, mergulhando na solidão que sempre o acolhia.

Andou, andou e andou. A luz do sol passando por entre as folhas das arvores iluminavam pouco do seu rosto, sentia a brisa do dia tocando seu rosto, o aroma das arvores inundavam o lugar, apagando qualquer outro cheiro que poderia haver no parque. Olhou ao longe algumas pessoas fazendo lanches embaixo de arvores, uma criança passou correndo bem na sua frente quase esbarrando em Edan. Olhou para o outro lado, um lago imenso que se estendia pelo parque inteiro, e muitos estavam sentados em sua beirada. Pessoas que já havia visto antes andando pela cidade passavam por ele, porém provavelmente não o reconheceram.

Algo chamou a atenção do rapaz, do lado de fora do parque, ele viu algumas pessoas, moradores de rua. Uma mulher com duas crianças pequenas, e aquilo o afetou. Antes que percebesse, estava caminhando na direção deles, sem sequer desviar seu olhar. Chegou bem próximo, parando de andar e olhando para eles. Estava claro a dificuldade que passavam, e ver isso conseguia machucar Edan de uma forma estranha. Podia ver que o olhar deles, tanto da mulher quanto das crianças carregavam algo que ele conhecia bem, carregavam dor. Sentia que precisava fazer algo, não poderia deixa-los daquela forma. Ele olha em volta, caminhando rápido. Seu objetivo era achar algum mercado, uma padaria ou qualquer coisa que fosse. Levou um tempo, mas conseguiu achar um mercado, entrou e comprou várias coisas fáceis, três sacos de pães de forma, uma boa quantidade de frios, e também pacotes de bolachas. Gostaria de ter comprado algum cobertor novo para as noites deles, mas não achou nenhum lugar. Sabia que não era o suficiente, mas pelo menos para causar algum alivio para aquelas pessoas, por menor que fosse. Correu novamente até onde a mulher estava, que sequer havia saído do lugar. Ele se aproximou devagar, e sem dizer qualquer palavra, deixou as todas as sacolas ao lado da mulher, que o olhava incrédula misturado a um agradecimento ao rapaz. Sem dizer nada, Edan se afasta, esperando que aquilo pudesse ser algum conforto para aquelas pessoas. Já bastava ele passando por um sofrimento, e não conseguia aguentar ver outras pessoas sofrendo. Se permitiu olhar para trás, e pode ver que a mulher tinha um sorriso agradecido, enquanto servia as crianças. Enquanto se afastava, Edan imaginava como gostaria de fazer mais por eles, e também por outras pessoas no mesmo estado.

Ao longe, atrás de muitas arvores Edan notou várias pedras, quase que formando algo. Se lembrou que já havia visto aquele lugar antes, mas não entrou.

Apressou o passo até a estranha construção de pedra. A medida que se aproximava, o lugar se mostrava ainda maior do que imaginava. Lembrou que só havia visto o lugar de frente, porém era a primeira vez que via pela lateral, dando uma melhor noção do quão grande aquilo era. Chegando perto, rodeou até estar de frente à entrada, que ainda estava bloqueada com uma faixa. Desta vez ignorou o bloqueio, passando por debaixo da faixa e seguindo adiante. Por dentro parecia completamente diferente, quase como a estufa de sua casa.

Dentro deste estranho caminho de pedras era muito mais fresco, apesar do cheiro das arvores ainda rodear o lugar. O caminho que se estendia a sua frente era inteiro de pedras cinzentas bem niveladas, o que fez o rapaz se abaixar e bater nas rochas para ter certeza que eram verdadeiras. Olhou para trás semicerrando o olhar, desejando ter certeza que não iria se meter em problemas, e seguiu adiante. O vento balançou seu capuz a ponto de tira-lo de sua cabeça fazendo seu cabelo negro voar de leve. Deu poucos passos, encontrando duas pequenas estátuas uma de cada lado, precedendo uma pequena escada de apenas cinco degraus, elas davam em um largo espaço com mais estátuas espalhadas nas extremidades. Todas elas representando anjos nas mais diversas poses. Alguns de pé, outros ajoelhados, rezando, pregando algo ou brandindo espadas em prol de proteger algo. Edan os observou, até mesmo as estátuas em suas poses pareciam mais felizes em existir do que ele mesmo, até pareciam demonstrar isso. Seguiu da esquerda para a direita, contando todas que haviam ali, ao total eram sete estatuas desse tipo.

Aproximou-se a passos lentos, todas estavam diretamente no chão o que o permitiu toca-las. Esperou sentir o áspero das pedras, porém foram tão bem esculpidas que eram macias, firmes e ao mesmo tempo parecendo tão frágeis, que qualquer coisa poderia reduzir todas a nada mais que um amontoado de pedras.

Vendo melhor onde estava, mais do que nunca se sentiu sozinho.

- O que está fazendo aqui? – Ouviu. Edan olhou por cima do ombro, ali parada atrás de si com os braços cruzados estava Anne, e apenas ela. Seus olhos azuis estavam duramente cravados no colega. Pensou como ela o encontrou, mas por algum motivo, imaginou e sabia que seria ela que iria encontra-lo. Por alguns segundos, conseguiu ver semelhança entre Anne e os anjos em volta, como se Anne fosse uma anja igual eles.

- Talvez... Aproveitando um momento sozinho... – respondeu como se fosse um pesado fardo. Sua voz denunciou isso. Ele olhou em volta, cada uma das estatuas.

Anne suspirou, olhou ao redor, para cada um dos monumentos ao redor, quase acompanhando o olhar de Edan, e então diz – Por que...? – Respirou e então continuou – E por que se afastou de todo mundo assim?

Edan olhou para a estátua a sua frente uma última vez, se virando para Anne. A garota perdeu completamente a firmeza assim que seu olhar se encontrou com o de seu colega. – Talvez porque... Eu não seja necessário.

Anne ficou em silêncio. A primeira vez que viu Edan sorrindo, e era um sorriso que ao mesmo tempo que único e singelo, era melancólico, carregava uma tristeza absoluta junto ao seu olhar, ainda mais vazio que antes. Aquele sorriso entristecido revelava como o garoto estava destruído. Pela primeira vez, Anne soube que estava vendo o verdadeiro Edan, que sempre esteve escondido de todos. O Edan que carrega sozinho toda a dor dentro de si e nunca a deixa escapar, mas naquele momento, ele estava ali, diante dela. Seu olhar mostrava sua tristeza. O lado que ele sempre fez questão de manter escondido de todos, agora se revelou para a garota.

- Sabe, eu... Olhei bem você e os outros, todos vocês... – Edan disse, andando devagar em volta sem se afastar de Anne. O silêncio era rompido somente pelos suaves sopros do vento naquele local – Vocês todos, o grupo se encaixa tão bem... Tem uma conexão única... Todos compartilham uma animação invejável, cada um tem sua utilidade no grupo, um importante papel, vocês se aplicam sem falhas... – Hesitou por um segundo – Já eu... Eu sou apenas um intruso sem propósito, alguém sempre deslocado, que não consegue participar de jeito nenhum... Eu não tenho um papel, sou só o fracasso ambulante... Na verdade eu influencio vocês todos de uma péssima maneira, e em todas as vezes. Acha que já não percebi isso antes?

Anne mantem o silêncio. Ela não sabe o que falar

- Posso muito bem ser deixado de lado agora, e não fazer nenhuma falta... Aliás, isso já aconteceu hoje mesmo, não é? Algum de vocês realmente sentiu minha falta?

- Não... Não diga isso... – O olhando, Anne torce o lábio. – Como pode ter tanta certeza?

- Não sei, é só o que eu vejo quando olho para vocês... Quando eu olho tudo que existe. É o que esse mundo, e todas as vozes me dizem... Eu permanecer junto de você e dos outros, ou me afastar não fará diferença, sou uma presença insignificante, vocês podem seguir sem mim... Eu quero que sigam em frente sem mim... Existem também meus familiares, mas outros que sequer se importam se eu existo ou não, apenas com as coisas deixadas para mim.

- Mas... Edan... – Anne tenta falar.

- E vocês, meus amigos podem muito bem existir sem mim, afinal não farei diferença nenhuma... A única coisa que faço é preocupar vocês, e ver como vocês ficam por minha causa, preocupados e também sofrendo, apenas me machuca... – Anne mantinha seu silêncio. Ela sequer conseguia falar qualquer coisa – Eu já percebi... Não sou importante, nem necessário para nada nem ninguém nesse mundo. Não existe uma razão ou um propósito para mim. Nada, absolutamente nada... Só um frio, um vazio e uma escuridão que sempre me rodeiam, me machucam e conseguem me consumir cada dia mais... Anne, se eu sumir ninguém irá notar, e talvez, esse seja o melhor caminho... – Edan parou de falar um segundo, e então continuou – Como te falei uma vez, só existe um caminho... Eu desisti Anne, eu só quero morrer, e nem isso sou capaz...

Anne alcançou a manga da camisa de Edan com a ponta dos dedos, incapaz de deixa-lo continuar a falar, mas também sem força para conseguir dizer algo. Isso o fez parar de andar e olhar em sua direção. – Eu notei... Notei quando você sentou do meu lado no primeiro dia de aula, quando apareceu na minha frente nesse mesmo parque da primeira vez que nos falamos, nas vezes que você dorme escondido atrás do seu livro... Notei você quando tinha escondido aquela mordida de cachorro por não querer ninguém se preocupando, me forcei a mentir para a Raquel que eu não sabia de nada... Notei você sempre com o olhar distante para o céu pensando em não-sei-o-que, notei você sempre andando sozinho, notei hoje quando ficou para trás nos olhando, na hora que se virou e foi embora... Eu notei você sozinho... Eu notei tudo Edan, eu estava te olhando em cada um desses momentos, mas nunca estive perto de você... Nunca fiquei perto de você como deveria...

Desta vez foi Edan quem ficou em silêncio olhando para a colega.

- Não pense, e nunca diga que ninguém notaria... – Anne se aproximou, encostando a cabeça no peito do colega, o envolvendo com seus braços e segurando firme sua camisa, impedindo Edan de se afastar o mínimo que fosse dela. Suas mãos se apertavam e discretas lagrimas caem de seus olhos, e Anne diz com a voz baixa – Eu noto, eu sempre estou olhando na sua direção. Se você desaparecer... Se você morrer... Eu não sei o que farei... 

Considerações finais:
Então, ficamos por aqui com mais esse capítulo. Mais uma lista de acontecimentos, bem variados como gosto de fazer. Anne de fato com Fabiano, Carol e Tamires mais próximas do Edan... O que mais pode acontecer? Gostaram? Opiniões? Teorias?

Não hesite em comentar, eu leio todos os comentários, e adoro ver suas teorias.

Os espero no próximo capítulo. Até lá.

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