Capítulo 14
9834 palavras - Arco amigos e família
- Hoje é o terceiro dia que consigo fugir do Fabiano pra vir aqui, e você só fica ai largado no sofá? – Anne resmungou, de braços cruzados.
- É, não tem nada melhor pra fazer – Edan da de ombros, ele lançou as mãos atrás da cabeça e se deitou no sofá, fechando seus olhos – Pelo menos o sofá está limpo e confortável.
Ela se aproxima devagar, olhando para o rosto do colega por alguns segundos, o analisando em cada detalhe. Edan adotou o estilo e manteve o olho roxo caprichosamente coberto pela mecha de seu cabelo, de forma que ela não conseguia enxergar o estado atual, e o corte na sua boca agora estava muito menor. – Como está seu olho?
- Melhor... Já estou enxergando com ele de novo, e o roxo sumiu... Mas meu braço ainda está péssimo, tanto onde fui mordido quanto no meu pulso, parecem ainda piores. Nem sei como consigo escrever na escola – Respondeu, sem sequer olhar para a garota. – Dessa história toda, ainda teve algo bom... Com esse cabelo no olho, estou me sentindo o Pegasus J. Crawford.
Arqueando as sobrancelhas, Anne da um sorriso sem jeito – Quem é esse?
- Não o conhece? – Edan passa a mão pelo queixo – É, pelo nome original do japonês eu duvido você conhecer. Aqui no Brasil, ele ficou conhecido como Maximillion Pegasus, personagem da animação Yu-gi-Oh!...
- Ta... Conheço a obra algumas das cartas, mas o personagem eu não conheço, ou então não me lembro... – Ela diz, pegando seu celular e digitando algumas coisas, permanecendo em silêncio por poucos segundos – Ah ta, agora me lembrei. Esse aqui de cabelo branco é o Pegasus.
Concordando com um balançar de cabeça, Edan responde – Na mosca.
A garota olha do celular ao colega algumas vezes – É, lembra um pouquinho no estilo de cabelo, claro, o dele é mais arrumado que o seu Edan.
- São apenas detalhes sua chata... – Edan boceja, e sua voz se torna mais preguiçosa. – Você pelo menos entendeu quem está me servindo de inspiração para esse estilo que adotei.
- Tudo bem, entendi sim seu idiota... E para sua informação, fique sabendo que ficou muito bom em você – Anne da um sorriso e balança a cabeça negativamente. – E aliás, eu fico feliz por você já estar melhor... Por que não desenha, baixa músicas ou algo do tipo?
Pensando, Edan diz, olhando para a colega – Hoje não estou tão a fim disso... Não quero me machucar de novo.
Anne ri, e então comenta – Fique tranquilo, que dessa vez eu não vou deixar isso acontecer.
- Será que eu acredito em você? – Ele boceja, tentando manter os olhos abertos.
- Você não dormiu bem essa noite? – Ela questiona, cerrando o olhar.
- Eu não durmo bem em quase nenhuma noite... Estou com uma insônia terrível, não descanso praticamente nada a muito tempo, sabe como é... Fechar os olhos é torturante...
Anne torce a boca, e então se afasta em passos curtos em direção ao quarto do rapaz, enquanto ele permanece no sofá em mais um bocejo. Ela olha algumas coisas e volta depois de menos de um minuto, batendo as mãos uma na outra – Você não entra aqui faz um tempo.
- Como sabe disso?
- Está tudo acumulando poeira... De novo... – diz, terminando de limpar as mãos nas roupas. Sentiu seu nariz começando a irritar pela poeira. – Coitada da Raquel se estivesse aqui agora. Depois você tem que limpar tudo aquilo Edan.
- E por que mesmo? – o rapaz questiona sem olhar para Anne, apenas passando os canais na televisão.
- Nada demais... – Diz, passando em frente a Edan que se mantinha entretido olhando para a parede. A garota alcança um travesseiro livre com a ponta dos dedos, e sem que o colega percebesse, o acertou de surpresa – Só porque estou mandando!
Edan pula para fora do sofá, imaginando um segundo golpe. Anne pula sobre o sofá, ficando na frente de Edan e conseguindo o puxar pela orelha.
Resmungando, o rapaz questiona – ... Pode me soltar...?
- Somente se você ir desenhar... Ou escrever algo... Fazer alguma coisa criatura!
- Por que é tão fissurada nisso? – questionou, olhando para o lado. – Eu mesmo não me interesso nada por isso. Achei que a essa altura você já sabia disso.
- Você lá sabe fazer outras coisas para se entreter? - Respondeu, colocando a mão na cintura.
- Até sei, mas não me atrai agora.
Respirando fundo, Anne solta Edan – Exatamente por causa dessa sua resposta que sou desse jeito com você.
- Por que não quero me entreter?
Anne olha de um lado a outro e passa a mão pelo rosto. Ela olha e aponta um canto para Edan, atraindo a atenção do colega. Conseguindo distrai-lo com sucessor, ela o acertou com o travesseiro novamente. – Não Edan, talvez seja por que eu quero que você faça algo mais relevante da sua vida.
- Acha que minha vida atual é parada?
- Acho! – responde imediatamente. – Na verdade tenho certeza disso!
- Ta bem então senhora sabe-tudo, o que acha que posso fazer pra mudar isso?
- Ainda insisto que você deve desenhar, por ser mais que um passatempo! – Anne insiste, levando as mãos a cintura.
- Me dê um motivo Anne. – O rapaz bufa, olhando para Anne e esperando.
Ela pensa um pouco, e então diz – Desenhar não é só uma coisa de rabiscar uma folha. Envolve muito mais do que isso. Fazer só linhas de qualquer jeito não da resultados, se torna um desenho morto... Semelhante a histórias e poemas escritos sem sentimentos... Eles são vazios...
O rapaz passa a mão no rosto – Não entendi onde quer chegar.
- Eu quero chegar na parte que desenhar é mais do que você está pensando... – Ela pausa um segundo, e então continua – Desenhar é uma das várias formas de ver a própria alma, e também uma das maneiras para ela se conectar e falar com o mundo!
Semicerrando o olhar, Edan então diz – Isso é sério?
- Claro, meus desenhos são tão bons por eu colocar parte de mim neles, minha alma fala por mim quando estou de frente com uma folha em branco... Eu a deixo falar por mim em cada momento, transmitir as mensagens que eu não poderia fazer com palavras... – Anne diz, convicta do que está falando para o colega – E você viu como desenho bem.
- É uma visão interessante, meus parabéns... Mas ainda não estou interessado...
A garota pensa um pouco – Bem, desenhar pelo jeito está fora de cogitação... E isso não está ajudando, você está parado no mesmo lugar... Ouvi falarem que você saiu, é verdade?
- É verdade... Acabei indo parar no shopping e em um parque. – Anne faz uma expressão de grande surpresa. – Por que a pergunta?
- Uau... Inesperado isso... – Anne zomba com um pequeno sorriso.
- Por que a pergunta mesmo?
- Que tal sairmos agora, seja lá pra qual lugar for? – Anne propõe de repente, juntando as mãos em frente ao queixo.
Pendendo a cabeça para o lado, Edan questiona – Agora? Pra onde?
- Agora, e o lugar tanto faz... Não vamos pensar, só vamos, o que acha?
- Que coisa repentina em... Não sei... – da de ombros, levando as mãos a cintura.
Com a resposta, Anne torce a boca. Ela avança, e segura Edan pela gola de sua camisa e aproxima seu rosto ao do colega até estarem a poucos centímetros. Edan se vê surpreso e sem nenhuma reação pelo que a colega acabara de fazer, e Anne ainda dispara um olhar inquisidor sobre ele, e acaba dizendo em um sussurro – Não aceito um "não" como resposta!
Edan fica sem saber como agir, olha de um lado ao outro em questão de um segundo, enfim responde – Então... Ahn, acho que... Sim?
- É, resposta certa... – Anne diz, balançando a cabeça uma vez com um pequeno sorriso, porém ela não o solta. Ao contrário, parece estar o segurando ainda com mais força. Por poucos, mas longos segundos, permanecem dessa forma com olhares conectados. Antes afastada, Edan sentiu o corpo da colega se aproximando cada vez mais, tão lento e de forma natural que parecia atraída, até estar junto ao seu, a respiração dela se alterando. O antes olhar firme de Anne se desmanchou dando lugar a um olhar totalmente diferente e mais intenso, a qual Edan não conseguia entender. Nunca viu nada desse tipo em Anne antes.
Um silêncio esmagador se estendeu na sala. Anne olha no fundo dos olhos de Edan, quase hipnotizada pelo verde esmeralda dos olhos dele, parecendo então despertar de repente, extremamente surpresa. Soltando a gola de Edan lentamente com as mãos tremendo de leve, ela pensa rápido, dando um passo atrás e dizendo, um pouco surpresa e vermelha, respirando como se acabasse de perder todo o fôlego – Ótimo... Então, ah... Coloque uma outra roupa e vamos...
Balançando a cabeça, o rapaz se recua a passos curtos para seu quarto. Na sua mente a única coisa que ecoava era "O que foi isso?". Se vestiu rápido e então saiu do quarto. Ao mesmo momento Anne saia da cozinha com um copo de água cheio de gelo.
- Pronto? – Ela questiona, terminando com a água em um único gole.
- Sim, estou pronto. – Pegou sua chave em cima da mesa, ajeitou a camisa e perguntou enquanto se espreguiçava – Qual o plano?
- Sem planos! – Anne responde, pegando a chave da casa.
- Sem planos... – Repete, balançando a cabeça. – Então, nós só vamos mesmo?
- Isso ai, só vamos e seja lá pra onde for, e fazer seja lá o que for.
Deu de ombros ao mesmo tempo que Anne o puxa pelo braço – Ok, vamos então.
Edan tranca toda sua casa, e então a colega aponta em uma direção aleatória para irem. Sem opções, o rapaz a segue, batendo as mãos nas pernas e erguendo a cabeça, praguejando para si mesmo. Desejava perguntar o que a garota estava planejando com aquilo, mas para evitar algo totalmente inesperado, resolveu por manter seu silêncio.
Andaram por minutos, atravessaram quadras e mais quadras, chegando a lugares que Edan não se lembrava de ter visitado antes. Apesar disso sabia que estava perto de casa ainda, afinal, sua cidade não era tão grande. Em certo momento, enquanto Anne olhava ao redor tentando se localizar, ela agarra o braço do colega, puxando assunto. – Acho mesmo que você precisa sair mais vezes.
- Ta, e eu te pergunto agora. Por que devo sair mais? – Ele devolve.
Anne ri de seu colega – É simples meu caro amigo, saindo você irá expandir a mente a novos horizontes. – Ela pensa – Pessoas novas, ideias, lugares... Dependendo de onde se vá, é um mundo novo a ser descoberto.
Ele avalia a resposta de Anne, realmente vendo a veracidade no que ela diz ao comparar em outras vezes que saiu – Tá, e você sai tanto como faz parecer? – Edan pergunta de repente.
Sendo pega de surpresa, Anne pensa, pensa, e então responde – Sim, eu saio muitão, aproveito muito meus dias... – Disse convicta, levando as mãos a cintura e estufando o peito.
- Ah... É mesmo? – perguntou de novo, agora em tom de ironia.
- Ta bom seu chato... – Anne bufa, fechando a cara – Você é muito estraga prazeres Edan.
- É uma das minhas melhores habilidades. – respondeu.
- Mas isso não significa que estou errada, sair mais será bom para você... – Anne estala os dedos de repente – Alias esqueci de algo, você ficou sabendo que a Raquel está de olho em alguém?
- Que? – Edan não esconde a surpresa na voz, por mais que ainda mantenha seu olhar de tédio absoluto –A Raquel, interessada em alguém?
- Por que a surpresa? – Anne fica em silêncio, e então solta uma risada contida – Tá bem! Eu também fiquei surpresa quando ela me falou!
- Mas quando foi isso? – Edan questiona.
- Ela me falou ontem de manhã sobre isso... Não acreditei até ela me falar quem era.
Edan pensa, então diz – Ela não me falou nada... Talvez nem tenha tido a chance. Sabem se o tal cara sequer tem ideia de quem é ela?
- Sabe sim, ele é do segundo ano, antes era do horário noturno.
Edan cruza os braços, pensando a respeito disso – E a Raquel sabe como falar com ele?
Anne ergue os ombros e revira os olhos – Esse é o problema.
- Acho que já vi casos parecidos... – comentou com a mão no queixo.
- E o que acha que ela pode fazer, senhor sabe-tudo?
O rapaz pensa por um minuto – Ela pode ir falando com ele aos poucos, pode falar tudo de uma vez... São as melhores opções.
- Isso não ajuda Edan. – Anne bufa – ela não sabe como puxar esse assunto com ele! Ela é bem amiga dele, mas nesse assunto ela fica sem graça...
Encarando a garota com o canto dos olhos de sua habitual forma neutra, Edan responde – Eu resolvo isso então!
Incerta do que ouviu, Anne pergunta – Como?
- Você verá... A Raquel não é a única que tem poder de convencimento... – Edan pensou no que disse, duvidando de suas próprias palavras – Tenho meus métodos quanto a isso.
- Está acreditando que será fácil assim? – Anne pergunta rindo.
- Estou certo disso... A Raquel consegue me convencer fácil de algumas coisas... E eu consigo fazer o mesmo algumas vezes.
Anne continua rindo, balançando a cabeça negativamente – Então me explique melhor o que te faz achar que será tão fácil assim, por que ainda não entendi.
- Fácil... Começando pelo fato de que o problema não é meu, por isso é assim tão mais simples para mim achar uma solução plausível.
Refletindo, a garota tenta avaliar o último comentário de Edan – Acho que está certo.
- E no caso do Leandro, ele ainda não pediu a Iris em namoro ainda?
Anne olha para o lado, então para o alto, tentando se lembrar – Acho que não também... Por que?
- Primeiro que eu não estou preocupado, porque eu nem ligo para eles... E segundo, ele está perdendo muito tempo... Deveria aproveitar o momento para firmar com a Iris.
- Mas por que está preocupado com eles? A Iris já não é toda afim do Leandro.
- Talvez seja, mas o Leandro não faz nada... – Edan passa a mão pelo queixo – Isso pode fazer ela se cansar de esperar por ele, e até acabar gostando de outro cara...
Anne concorda com a cabeça.
- Se o Leandro não fizer nada, alguém mais rápido irá fazer no lugar dele.
- Sim, você tem toda a razão nisso. – Anne responde, torcendo a boca de leve.
- Eu resolvo isso também... Posso muito bem cuidar tanto de Raquel quanto do Leandro sozinho. – Edan balança a cabeça como se tivesse recebido um trabalho chato, enquanto Anne faz uma expressão de estranheza, imaginando como Edan faria isso – E quanto a você?
- Ah... Bem... O que tem eu mesmo? – Anne diz, completamente perdida por ser arrancada da sua bolha de pensamento.
- Já conseguiu decidir o que vai fazer sobre o cara que você disse estar afim?
Sendo pega de surpresa, Anne abaixa a cabeça – Eu... Falei com ele já mas – A garota faz uma pausa e suspira – Ele me falou que não quer nada comigo, que gosta de outra pessoa... É uma pena, mas fazer o que...
- O que vai fazer agora? – Edan pergunta – Dará uma chance para aquele cara mais velho ou irá ficar sozinha?
- Não sei... Ele está pedindo tanto pra ficar comigo... Pra ficar e também depois pergunta se eu quero namorar ele... Mas sinto como se ele fosse só um substituto.
- Algum pedido dele foi sério, ou foram mais em tom de brincadeira? – Edan questiona.
- O de sexta-feira passada foi o mais sério de todos, parecia que ele queria mesmo, o rosto dele parecia dizer isso sabe?
Edan tenta imaginar a cena, o que passa em sua mente é o admirador de Anne com um outdoor ou então um letreiro digital acoplado na testa, descrevendo cada uma de suas vontades, mas o que imaginava fazia tudo soar mais ridículo do que sério. Ele balançou a cabeça uma vez, afastando os pensamentos e concordando com Anne – Acho que não sei, mas posso imaginar a expressão dele.
- Tinha verdade nas palavras dele... – Ela continua, um pouco sem graça.
- E qual o problema em você ter algo com ele, mesmo sendo um simples substituto? – Edan questiona, olhando em volta.
- Acho que seria errado usar ele só como um reserva... – Anne suspira mais profundamente – O Fabiano não merece algo assim.
- Você ainda tem algum interesse nele, ou no mínimo, alguma curiosidade? – Edan questiona, sendo para ele a coisa mais fácil do mundo.
- Acho que sim. – Anne responde.
- Então só vai, da uma chance pra ele e vê onde isso vai dar. Se for para ele ser só um simples substituto que talvez será jogado fora no primeiro momento, então que seja... – Edan da de ombros. – Não deve ser de todo mal.
Semicerrando o olhar, Anne diz com a voz um pouco mais ríspida – Isso é frio e indiferente demais até para você Edan.
- Já te disse... – Ele diz, mantendo um tom de voz calmo – O problema não é meu, por isso para mim é tão mais fácil ver uma solução e me tornar indiferente, por mais que esta não a agrade.
- Mas não precisa ser frio desse jeito – Ela bufa e vira o olhar.
- Esse sou eu... – Mantendo seu silêncio por alguns segundos, Edan pensa e então diz, parando de caminhar e estalando os dedos. – Façamos um teste, o que acha?
- Que tipo se teste? – Anne pergunta.
- Você vai imaginar que sou o tal cara mais velho, que te pede em namoro umas cem vezes por dia... – Edan olha para o alto com uma expressão pensativa misturada a tédio, cruzando seus braços – E pela centésima primeira vez no dia, eu acabei de te pedir em namoro, vamos lá... Bem Anne, você quer ser minha namorada? O que você me responderia agora?
- Sim! – Ela responde imediatamente, isso causou espanto no colega por ser tão direta.
- Sim? – Ele questiona, erguendo a sobrancelha.
- Sim... – Anne responde novamente. Ela então para por um momento, como se acabasse de despertar de um transe – Sim... Quero dizer não! Não!
Piscando algumas vezes, Edan coça a cabeça e então passa a mão pelo cabelo – E eu achando que seria fácil com você... É só falar sim ou não, o que diria para mim? – Edan pergunta, tentando ser mais direto com o a ideia de antes.
- Não! Pera... Sim! Sim! Ai, eu não sei! Estou confusa... – ela diz, levando as mãos à cabeça e resmungando – Nós estamos testando o que eu diria para o Fabiano mesmo?
- Isso... – Edan estranha à reação da colega – Para quem você estava respondendo sim?
A garota olha para os lados, recuperando a postura – Bem... Isso tudo seria para... Não, não precisa saber, isso é coisa minha...
Edan pende um pouco a cabeça para o lado, sem entender direito a reação de Anne.
- Tudo bem então... – Edan passa o dedo no queixo, tentando recomeçar – Ta, vamos tentar de novo. Agora antes de pensar em outra pessoa, o que diria ao seu colega pré universitário?
- Eu não sei ao certo... Talvez se ele me pedisse agora, não sei o que sairia da minha boca... Se eu falasse um "Sim", eu estaria me forçando a isso.
Edan a observa por um tempo, pensando em como ela havia sido tão direta a tão pouco tempo atrás. – Acho que entendo. Você não gosta dele exatamente, e acho que seria difícil dizer sim a quem não gosta tanto.
- Sim, é mesmo... – Anne respira fundo, e então continua, olhando fixa para o colega – Afinal, quem eu gostaria de namorar mesmo é outro...
- Percebi isso, e parece que está te deixando mexida – Edan concorda, colocando as mãos nos bolsos, dando um longo bocejo.
- Sabe, eu menti... Na verdade eu ainda não falei com ele Edan – Anne suspira – Sempre que tento falar, minha coragem acaba e não sei o que fazer... Ou algo acontece, e nós acabamos nos afastando e vamos por lados diferentes, como se algo me impedisse... Eu acho que posso falar de tudo com ele, mas isso eu não consigo.
Olhando para a colega, Edan pergunta – Como você se sente?
Anne suspira – Eu travo, não consigo falar, ou mudo de assunto do nada por ficar nervosa...
- Isso é algo complicado, parece que sente algum receio de falar com essa pessoa... Exatamente igual à situação da Raquel que já irei resolver...
- Talvez... Eu gostaria de poder falar tudo o que sinto para ele, falar tudo sem nenhuma exceção, mas eu não consigo. Ele tem uma vida bem difícil, já passou por muitas coisas difíceis, e boa parte acho que é culpa minha, por eu não estar lá com ele. – A garota pausa um segundo – Acho que tenho medo de perder a amizade que temos.
- Imagino... Você não tem nenhuma ideia do que falar? Como falar dos seus "sentimentos", ou seja lá como você chame isso... – Ele questiona.
- Nenhuma... O que acha que posso fazer?
Edan reflete a respeito, passando o dedo na testa – Você pode arriscar tudo falando com ele... Ou evitar falar para manter a amizade... – Edan pensa um segundo, e então volta a falar – De qualquer jeito que for, você estará arriscando alguma coisa. Se quiser, eu posso cuidar disso.
Anne da uma pequena risada – Obrigada, mas eu quero, e preciso fazer isso sozinha.
- Entendo... Acho que o melhor a fazer agora é tirar um tempo para pensar, decidir o que falar para ele... Se vale a pena arriscar tudo também...
- Pode ser... – Ela diz com voz baixa.
- Qualquer coisa, você fica com o seu veterano, e mantem a amizade... E quando se sentir confiante, converse com ele.
- Eu quero, mas preciso pensar... Pode ser a última chance que eu tenho.
- Sim, tem isso também, você não pode demorar muito pensando. – Edan se vira, para voltarem a caminhar – Vamos indo?
- Espera! – Anne segura Edan pelo braço, o fazendo parar. – Ainda não... – Ela respira fundo em um longo momento de hesitação. – Ainda não terminamos Edan... Eu ainda preciso te falar algo, e para mim é uma coisa muito mais importante.
Ele a encara, o olhar que ela carrega é firme o bastante para surpreender o rapaz. – Pelo seu olhar, parece que é mesmo importante... O que é?
Ela olha de um lado a outro, pausa por um momento e então diz – É que... A verdade é que você... – Uma gritaria se inicia de repente atrás da garota, fazendo Anne parar de falar pela surpresa e ter seu olhar atraído. O barulho é originado de um bar, onde um homem sai cambaleando e outros dois vem logo atrás na mesma situação, envolvendo gritos, zombaria e risadas muito altas. – Ai, o que está acontecendo logo agora?
- Bêbados... – Edan comenta simplesmente, olhando para trás da garota. Ele mantém seu olhar fixo, e gradualmente se tornando mais frio, andando então na direção de um deles.
Anne não diz nada, ela acompanha Edan com o olhar, que caminha até parar ao lado de um dos homens, sem sequer se abaixar. O homem se revira no chão, até notar Edan parado ao seu lado.
- Seu estado é deplorável. – Edan diz, evitando ao máximo parecer superior ao homem, porém fracassando quase de imediato.
- Vai... Vai cuidar da sua vida! – O homem retruca, unindo grito a uma voz totalmente desnorteada.
- Por enquanto não posso, você me atrapalhou... – Ele olha para Anne por um rápido segundo, e logo continua – Nos atrapalhou, e logo agora que estou ainda mais curioso...
- Edan, o que você está fazendo? – Anne pergunta, olhando para Edan.
- Não precisa se preocupar... – O rapaz diz, se abaixando enquanto ajuda o homem a se levantar, apoiado em seu ombro. – Bebendo desse jeito você não irá durar muito mais tio Marcos...
O homem passa a mão nos olhos, tentando se recuperar – ...Edan?
- É, eu mesmo... Agora cale a boca. Te darei uma ajuda.
- Eu... Eu não quero! – Ele devolve, quase gritando mas sem conseguir. – Me deixa...
Edan ergue seu braço machucado, fecha o punho com muita força, e acerta seu tio na barriga, que na hora acaba desmaiando. A força e impacto foram tão grandes, que até Anne pareceu sentir, mesmo estando distante. Edan então diz – Você não está em posição de escolher nada...
Anne se aproxima, com os braços cruzados – Você o conhece?
- Sim, quando está sóbrio, ele é o meu tio... Quanto aos outros dois, não me importo com o que acontecerá com eles... – Edan se endireita enquanto segura de pé seu tio desacordado O homem tinha uma estatura maior que a de Edan, claramente mais forte e pesado, mas o rapaz o mantinha de pé sem dificuldades, fazendo parecer que seu tio não pesava nada. – Me desculpe por estragar os planos de hoje... Mas preciso levar ele para casa.
A garota balança a cabeça – Não precisa se desculpar, você não tem culpa disso... Alias, eu irei com você, vou te ajudar...
*****
Colocando o tio no sofá, Edan se ergue enquanto estrala o pescoço – Pronto, aqui ele não terá e nem vai causar problemas...
Anne se encosta no batente da porta, olhando para Edan com a expressão um pouco cansada. Tentando esboçar um sorriso, Anne faz um sinal positivo com a mão. Edan a observa, erguendo as sobrancelhas – Ele é bem pesado, não acha?
- Bastante, me deu um cansaço. – Ela responde, soltando um pequeno riso. Ela olha para Edan, que sequer havia alterado a expressão em nenhum momento, nem antes de sair de casa até quando chegaram, e muito menos parecia cansado. – Você nem está suado.
- Já fiz isso algumas outras vezes, então tenho mais costume que você – Dando uma suspirada, Edan caminha até Anne – Me desculpe.
- Por que está pedindo desculpa?
- Talvez por estragar seus planos para hoje... Por não te deixar falar aquela coisa importante... Por você ter me ajudado a carregar meu pesado tio cheirando a cachaça de volta para casa... – Parou ao lado da garota, batendo as costas na parede, deslizando devagar até finalmente se sentar no chão e soltando todo o ar de seus pulmões. As aparências enganaram Anne, afinal seu colega estava igualmente cansado, por mais que não demonstrasse. – Talvez por isso...
- Você não precisa me pedir desculpas... Acabamos fazendo o que eu te falei.
- Fizemos? – Edan a observa.
Anne da um sorriso, tirando uma mecha de cabelo do rosto – Fizemos sim... Nós só fomos a um lugar, não fizemos planos, acabamos falando e fazendo algo totalmente inesperado... Fizemos a programação de hoje e até mais.
- Isso é bom... Muito bom – Edan comenta, encostando a cabeça na parede, suspirando.
- Eu tentarei ligar para meus pais e avisar que já vou voltar para casa... – Anne diz, retirando o celular da bolsa e digitando – Me da um momento?
- Ah vontade. – Edan diz, fechando os olhos. Sua mente estava vazia, mas se sente leve. O que o fez se sentir assim, ele não sabe. Escutou Anne resmungando uma vez, pouco depois resmungou outra vez. Se levantou e foi até a cozinha, olhou nos armários, então no congelador. Ainda haviam mini pizzas e alguns hamburguês. Pegou e ficou analisando, torcendo que ainda estivessem boas e no prazo de validade, que por sorte estavam. Nesse momento Anne entra na cozinha. – Meus pais não estão em casa... E já está anoitecendo...
- Voltar para casa sozinha a essa hora da noite pode ser perigoso... – diz a observando, voltando a sua atividade – Por que não passa a noite por aqui mesmo?
A garota ergue a sobrancelha – Aqui? Mas eu... Eu não posso, não tenho nem roupas para dormir aqui...
- Se esse é o problema, posso te emprestar algumas roupas minhas para pelo menos dormir... Ai amanhã depois da escola você fala para seus pais o que aconteceu... Você já dormiu aqui uma vez, qual o problema de dormir de novo?
- Se não for incomodar... – Ela comenta, um pouco sem graça.
- Não será de nenhum incomodo... Só que não terá filmes hoje... – Diz calmamente – Já mostro o quarto que você vai ficar, quer que eu já pegue algumas roupas para você também?
- Pode ser. – Ela diz, abrindo caminho – Anfitriões primeiro.
Edan deixa tudo em cima da pia e segue até seu quarto. Abriu o guarda-roupa e algumas gavetas do armário. Passando o olhar rápido entre as opções que tinha, pegou uma camisa regata cinza e então uma bermuda leve – Isso está bom? Quer que eu troque algo?
- Não, estão ótimas. – Anne responde, pegando as roupas.
Fechou tudo sem mal olhar direito – Agora onde você irá dormir... – Edan segue para o quarto logo no fim do corredor, um lugar que normalmente ele mesmo entra poucas vezes por querer sempre manter intacto, porém apenas nessa situação, deixaria esse ambiente ser utilizado. Assim que entrou, viu o largo quarto com uma cama de casal larga com lençóis avermelhados, tapetes alinhados de cores semelhantes aos lençóis, um guarda-roupa grande de tonalidades escuras, uma cômoda com algumas gavetas, logo acima uma televisão de 40 polegadas, além de uma larga prateleira sobre a cama com alguns livros e também algumas figuras de ação do pai de Edan. Como sempre, o lugar estava muito bem cuidado em todos os aspectos – Você já sabe desse cômodo mas nunca entrou antes, é o quarto dos meus pais... Tem bastante espaço e a cama é confortável... Hoje você não poderá dormir no sofá e nem acho que você deva dormir no sofá... E duvido que queira dividir a minha cama de solteiro.
- Acabamos "dormindo juntos" no sofá aquela vez, não acho que teria tanto problema dividir uma cama né? – Ela diz, soltando um riso tímido, a qual Edan não lembrava se já viu antes. – Mas tudo bem, ficarei aqui... Apesar que estou sem jeito de ficar aqui...
- Fique tranquila... Está livre para aproveitar o quarto, é seu essa noite. – Ele comenta, apontando em direção a uma porta do outro lado do quarto – Ali fica o banheiro, se quiser lá tem uma banheira e também uma ducha.
- Obrigada Edan – Anne entra no quarto, praticamente maravilhada com o espaço, e fica ainda mais sem graça e pede rindo – Bem... Pode me trazer uma toalha então? Acho que preciso de um banho depois daquele esforço...
- Claro, já te trago uma. – Ele comenta, já se virando. Ele vai até seu quarto, olha nas gavetas e pega uma toalha macia grande, que estava bem dobrada. Voltou até o quarto onde Anne estava, mas de imediato não a viu. – Anne?
Ele entrou devagar, andando devagar quarto adentro, escutando um barulho se iniciando vindo do banheiro. A porta do banheiro estava entreaberta, mas Edan não conseguia ver nada de onde estava. Ele se aproximou devagar, dando umas batidas na porta. – Pode entrar Edan.
- Tem certeza disso? – Ele pergunta, olhando para a toalha em sua mão.
- Claro seu bobo, estou vestida. – Ela comenta rindo, abrindo a porta de repente e surpreendendo o colega.
- Aqui está a toalha – Disse, olhando para os lados e a entregando para a garota.
- Obrigada, vou aproveitar essa banheira, ela está me convidando. – Disse animada enquanto a banheira enchia.
Edan colocou a mão no queixo, entrando no banheiro e olhando. – Se não me engano, eu comprei algumas coisas que fazem espuma a um tempo atrás e que ainda nem usei direito... Devem estar aqui em algum lugar... – Edan entra e procura por poucos segundos, ele os pega e deixa ao lado da banheira – É esse pote vermelho e o verde, pode escolher o que quiser.
Anne fica animada dando pulinhos de animação – Assim eu fico mimada, vou escolher um deles. Obrigada de novo. – Ela disse sentindo a temperatura da água, assim que tirou a mão da água já retirou sua camisa e a jogou de lado. Mas a garota esqueceu que Edan ainda não havia saído. Quando a garota percebeu, Edan estava parado bem ao seu lado, olhando um outro pote que achava ser também para espumas. Sua camisa já estava no chão, muito longe para conseguir se esconder e a toalha em cima da pia, ao lado do colega – Ah... Edan, pode me deixar sozinha agora?
Olhou para a garota – Ah sim, tudo... – Parou de falar com a surpresa que teve, enquanto Anne envergonhada tentava se cobrir com as mãos sem sucesso. Edan, sem saber o que fazer, desviou o olhar e disse – Estou saindo! – Assim que saiu, encostou a porta.
Edan deixa o quarto e segue para a cozinha, afinal ainda tinha que preparar algo para jantarem. Antes de voltar a sua dúvida anterior, decidiu por fazer aquilo que estivesse mais perto, e a outra opção ficará para o dia seguinte. Assim, pela sua regra, acabou por preparar hamburguês para a janta. Separou alguns e fritou bem rápido, os colocando em um prato e deixou no micro-ondas. Passaram-se alguns minutos desde o momento que terminou os hamburgueres, e nada de Anne aparecer. Edan decidiu por ir chamá-la para comer, afinal não achava que ela ficaria tanto tempo aproveitando uma banheira.
Seguiu para o quarto da garota, notando algumas pegadas de água vindo e saindo do seu quarto. Apesar de estranhar o que viu, ignorou e continuou até chegar à porta fechada. Deu umas batidas e entrou devagar, procurando pela colega com um passar de olhos. Anne saiu do banheiro ao mesmo momento, com uma toalha ao redor do corpo e outra no cabelo.
- Ai que relaxante... Que relaxante mesmo! – Anne diz sozinha com voz doce, logo após se jogando na cama e se encolhendo – Eu precisava disso, estou bem mais leve.
Naquele momento em que Edan ainda a observava, lembrou o que realmente deveria fazer ali, mas antes que pudesse falar algo, escutou Anne dizendo rindo – Eu realmente não deveria fazer isso... Nem sei se a porta está trancada, mas... Mania é mania.
Assim que acabou de dizer, Anne arrancou a toalha do cabelo e abaixou a que estava presa no corpo, erguendo os braços e dando uma longa espreguiçada. Edan acabou por ver tudo de Anne, recuando assim que deu por si de quem estava espionando sem querer.
Pensou, e respirou fundo, tentando parecer o mais normal possível. – Nada disso aconteceu... Nada aconteceu... Nada aconteceu... – Disse para si mesmo em voz baixa, dando batidas notórias na porta, e começando a falar com a voz alta o bastante para a garota ouvir – Anne, já tem coisas prontas, quando acabar ai venha comer.
A porta é aberta do nada, Anne está com seu cabelo ruivo ainda molhado, só com uma toalha amarrada na cintura e com a outra cobrindo o que podia – Claro, eu já estou indo... Alias, eu adorei aquela banheira, é muito relaxante mesmo. – Ela diz animada e devolve a toalha de Edan com um movimento – Toma de volta sua toalha, acabei lavando o cabelo e só uma era pouco.
O rapaz tem seu olhar atraído não para a toalha, mas para outro lugar. Ergueu a sobrancelha, e só depois de longos segundos desviou os olhos para o alto – Se vista logo Anne... Deu pra ver tudo com detalhes demais...
Anne fica vermelha, solta tudo e fecha a porta na cara de Edan com tudo, causando um estrondoso barulho que se espalhou pela casa inteira. Parado em frente a porta, igualmente sem graça por tudo que viu em tão pouco tempo, o rapaz pega sua toalha do chão e lança sobre o ombro, ouvindo Anne resmungando do outro lado. Balançou a cabeça e se afastou.
Assim que entrou na cozinha, abriu a geladeira e tirou de lá alguns tomates, picou e lançou em um pote, temperou e deixou sobre a mesa. Avaliou o que tinha pronto, uma carne rápida, uma salada de tomate simples, arroz e feijão prontos, e assim, se sentindo satisfeito, preparou um prato, esquentou no micro-ondas, e então se sentou.
Anne aparece na cozinha pouco depois amarrando o cabelo pouco úmido em um coque bagunçado. Inevitavelmente ele observa sua colega, que agora vestia algumas de suas roupas. Seu olhar ficou na garota por mais tempo que imaginou. Em sua mente, não esperava que acabassem combinando e ficando tão boas em sua colega, e até mesmo não esperava que fosse tão agradável ao seu olhar. Segundos silenciosos se estendem, tanto que Anne ficou sem jeito naquele momento por seu colega a olhar sem parar.
- Pode se servir à vontade... – Edan rompe o silêncio, mostrando o prato com um gesto – Não sei se gosta de hambúrguer, mas é o que tem hoje...
- Está tudo bem, adoro hambúrgueres. – Ela deu um sorriso, preparando seu prato de forma tímida, ainda sob o olhar de Edan.
Ele hesita um segunda – Se quiser, eu preparo alguma outra coisa...
Anne negou com um leve gesto de cabeça – Não, obrigada. Eu não dispenso hamburgueres como jantar.
- Bem... sendo assim, pode se servir e comer quantos quiser. – Edan finaliza.
- E quanto ao seu tio? – Anne questiona, olhando rapidamente de volta pra sala.
- Deixe ele... – responde com um bocejo – Quando acordar sóbrio amanhã, ele vai procurar algo pra comer no armário, e tenho algumas bolachas que ele pode comer sem se preocupar.
- Não querendo desconfiar da sua família... Mas não é um pouco arriscado? – A garota pergunta, batendo os dedos na mesa.
- Pensei nisso já a um tempo... Mas como falei, não é a primeira vez que meu tio fica bêbado e para aqui em casa – Edan pausa um momento – Em nenhuma vez ele fez algo de errado, e caso faça, eu darei um jeito nele.
Anne concorda com a cabeça, visivelmente insegura, por mais que a cena de como Edan nocauteou seu tio usando seu braço machucado com relativa facilidade ainda esteja nítida em sua mente. Ter dito que já aconteceu mais vezes não a tranquilizou, por mais que o homem nunca tenha feito nada de errado – Tudo bem então...
Anne prepara seu prato e se senta para jantar, sob o olhar sonolento do colega.
- Então... Tem algum assunto em mente? – Anne pergunta, enquanto esquenta seu prato.
- Assunto? – Edan pende a cabeça para o lado.
- Alguma coisa que podemos falar, ou fazer algo para nos divertir, descontrair... Qualquer coisa serve.
Batendo o dedo na mesa, Edan tenta pensar algo relevante. – Assunto...? – disse em voz baixa. – Assunto... – Repetiu novamente, agora dando de ombros por não pensar em nada, o que acabou por arrancar um pequeno sorriso de Anne.
- Já sei, me fale sobre aquela sua namorada. – Anne comentou, com um sorriso de canto.
- Namorada? Do que está falando? – Questionou, semicerrando o olhar, vendo Anne se sentando bem a sua frente.
Anne ri, aparentando certo desdém – A sua mais velha, a Carol.
Edan pensa, tentando puxar a pessoa pela memória. Ele fixa seu olhar na mesa, tentando ao máximo lembrar de quem Anne estava falando – Não sei de quem está falando...
A colega o encara, incrédula do que ouviu. – Não sabe?
- Não tenho nem ideia de quem seja. – Edan deu de ombros.
- Cabelo curtinho, mais ou menos nessa altura abaixo do rosto... – Anne faz o gesto com a mão indicando o tamanho – Roupas justas... Do terceiro ano, toda atirada... – Edan fica ainda mais confuso, sob o olhar agora impaciente da colega. – A que ficou mostrando os peitos para você.
- Ainda n... – Antes de terminar de falar, a pessoa vem em sua mente. – Ok, lembrei agora.
- Falando assim você lembra fácil né? – Anne zomba, começando a comer.
- Primeiro que você descreveu ela como minha namorada... Como vou saber quem é, se eu sequer namoro? – Questionou dando de ombros.
Anne revira os olhos, como se estivesse profundamente incomodada com algo. – Tanto faz isso, você tentará alguma coisa com ela?
- Não! – ele respondeu sem nem pensar.
- Ainda não né. Tenho certeza que em pouco tempo vai ficar todo caidinho pela "pré-universitária atraente"... – respondeu, antes de acabar com o hambúrguer inteiro em poucas mordidas vorazes.
- Não, e nem vou tentar... Só de olhar da para saber que a Carol é uma jovem adulta pré universitária com mais coisas interessantes para fazer, sou apenas um adolescente do primeiro ano e sem nada de especial para oferecer, vários homens mais velhos provavelmente estão de olho e farão muitas coisas grandes para conquistar ela... – Edan recupera o fôlego, e então continua – E ela também é alguém que estava prestes a pular no meu pescoço para me estrangular na primeira coisa que eu falasse.
Anne está tampando os ouvidos com os dedos – Acabou o discurso autodepreciativo?
- Acabei sim. – disse, se levantando.
Anne bufa, e então diz – Você pode estar certo nisso tudo, mas esqueceu que talvez ela tenha interesse em você.
- Tenho minhas dúvidas quanto a isso. – Edan balança a cabeça – Me impressionaria o fato de ela, ou qualquer uma ter interesse em alguém como eu.
- Olhe pelo lado que talvez tem uma doida que goste de você... – Anne fica em silêncio por um longo segundo – Talvez tenha até duas.
- Essa sua fé é tão legal e motivante... – Edan responde, depreciando o comentário da garota e completa. – Com toda certeza tem duas garotas afim de mim.
- Não me venha com esse tom irônico, eu digo isso porquê sei... – Anne diz com a boca um pouco cheia – E eu te garanto, tem uma na nossa sala que morre de amores por você há muito tempo e sempre te dá várias olhadas, até eu já percebi... Você que nunca olhou pra ela.
Cruzando os braços e erguendo a sobrancelha, Edan a observa sem dizer nada. O comentário de Anne despertou sua curiosidade, e agora ansiava por explicações.
- Ai, eu não devia ter dito nada disso... – Anne reclama, desviando o olhar e tapando sua boca com uma mão – Era pra deixar esse assunto morrer... Você não deveria saber.
Mantendo o silêncio e o olhar neutro, Edan bufa, torcendo o nariz – Não precisa se preocupar quanto a isso... Não sei de quem está falando, nem se essa pessoa existe.
Anne abaixa a cabeça, não dizendo mais nada até finalizar sua refeição. Edan aguarda algum pronunciamento de Anne, mas nada vem da garota. Retirando seu prato e deixando na pia, e então ela diz – A pessoa que falei é bem real... E o que ela sente também é, sei muito bem disso. Você só nunca olhou para ela... Pense nisso Edan... – Anne da um beijo no rosto de Edan, e então diz – Eu estou indo deitar, me bateu um cansaço agora... Boa noite e até amanhã.
Assim que terminou de falar, Anne saiu da cozinha. Agora sozinho, apenas com o som da água corrente da pia ecoando, Edan diz para si mesmo – Pensarei nisso...
*****
Na manhã seguinte, Edan desperta com um barulho vindo da cozinha. Atordoado de sono, empurra-se para fora da cama e vai ver o que está acontecendo. Passou pela sala, seu tio não estava mais no sofá e viu tudo lá organizado. Foi para a cozinha, lá estava seu tio fritando pães na frigideira.
- Olha só quem acordou, bom dia Edan. – Ele diz assim que nota o sobrinho.
- Olá tio Marcos, acordou cedo. – Disse, analisando o estado de seu tio. De nenhuma forma ele se compara com o homem da noite anterior, antes caindo de bêbado de forma patética. Agora, até sua expressão física quanto seu rosto e olhar carregavam um ar de respeito e também seriedade mixada a um tom de voz tranquilo e descontraído, realmente sendo a pessoa que ensinou tantas coisas a Edan quando este esteve sozinho. Marcos era, em todos os aspectos, um homem completamente diferente do que era na última noite.
- Desde as 5 horas da manhã acordado... – Ele disse rindo de si mesmo – Esperei um pouco e fui na padaria aqui perto comprar algo para fazer de café da manhã.
- Entendi... Só é uma pena ter acordado de madrugada. – Edan se senta na cadeira mais próxima da porta, debruçando a cabeça sobre a mão – Se sente melhor que ontem?
O tio faz um sinal de "mais ou menos" com as mãos – Eu já estive bem melhor antes... Hoje eu só estou sentindo uma dor terrível no estomago, acho que tomei um golpe muito forte ontem, mas não me lembro de nada... Só de encostar na minha barriga já sinto doer...
- Você vai sobreviver tio... – responde com um bocejo, disfarçando que ele era o responsável pela dor que seu tio estava sentindo na hora. – Já passou por coisa pior...
Servindo uma porção de pães, o homem se senta – Como andam as coisas? Está tudo bem na escola?
Edan pensa, falando então – Na escola tudo indo bem, continuo mantendo minhas notas e não tenho reclamações... E aqui em casa está quase à mesma coisa dos anos atrás.
- Quase? – o tio disse rindo, como se já soubesse algo.
- As coisas andam mais movimentadas que antes... – disse, pegando um pão e comendo – A Clarice veio ver a casa já faz um tempo, e alguns amigos da escola estão vindo aqui ultimamente, com mais frequência do que eu poderia esperar...
- Percebi, estão até dormindo aqui já – Edan ergue uma sobrancelha, o tio ri. – Eu vi sua amiga passeando pela casa no meio da madrugada. Mas minha cabeça doía tanto, e meu corpo estava tão mal que pensei ser uma alucinação.
Edan balança a cabeça confirmando – Anne, é uma colega da escola, senta bem do meu lado.
- Pra ser amiga de um mala antissocial como você, ela deve ser muito gente boa, além de corajosa. – O tio zomba, soltando uma risada.
- É, de certa forma, ela é sim... – Edan concorda. – Mas não deixa de ser uma chata.
- Mas olha que interessante, você reclama... Mas é a chata que está aqui, dormindo na sua casa em pleno sábado de manhã.
- Hoje é sábado? – Edan questiona, balança a cabeça e continua – Sim, é irônico que a amiga mais chata dormiu aqui essa noite de novo... Mas essas bizarrices não me incomodam.
- De novo? – O homem solta um pequeno riso – Essa sua situação é bem interessante. Acho que tem mais algo ai...
Edan bate o dedo na mesa, semicerrando o olhar – Tipo o que?
- Ah, não sei... Se a sua amiga mais chata está dormindo aqui já, ela não deve ser assim tão chata como você acabou de dizer – Se recostando melhor na cadeira, Marcos continua – Quem sabe até você goste dela.
- Mais um que me fala isso... – Edan bufa com o comentário, encostando sua testa na mesa, totalmente inconformado. – Primeiro Raquel e Leandro... Depois o pessoal do terceiro ano perguntando se eu e Anne namoramos... E agora você?
Ele solta uma risada forte – Se tanta gente disse isso, então pode ser uma verdade... E alias, eu nunca falei que namoravam, você quem disse. Você deve mesmo ter algo com ela.
- Nós discutimos mais do que outra coisa, e é frequente. – Edan comenta, tentando explicar.
- Os melhores casais são assim... Brigam, brigam, e brigam mais, para no fim se gostarem mais que os casais que não brigam... E também serem muito unidos.
Revirando os olhos e balançando a cabeça, Edan pensa em algo a dizer – Não sei... Nós não temos nada, e tenho motivos para achar que não irá acontecer nada.
- Se está dizendo com tanta convicção... Eu só falei que casais que brigam são unidos, e não que vocês dois são um casal... – Marcos da de ombros. Suas palavras soam como se brincasse com o sobrinho. – Por exemplo, eu não digo nada caso ela tenha ficado na porta do seu quarto te olhando enquanto dormia, ou até mesmo sentada na ponta da sua cama.
- É o que? – pego de surpresa pelo comentário, Edan arqueia o corpo para frente batendo as mãos na mesa. Ouviu mas simplesmente não acreditou. – Como assim?
A reação do sobrinho faz Marcos rir, tanto que quase cai da cadeira. O homem ri tanto a ponto de desabar a cabeça sobre a mesa, tentou falar mas não conseguiu de começo – Calma, só estou brincando. Ela não fez isso, só casados e pessoas muito apaixonadas fazem isso... – Diz entre as risadas imparáveis.
Edan pende a cabeça para trás, levando a mão a testa – Seria algo surpreendente, e estranho.
- Com toda certeza sim... Ou não, as vezes algumas mulheres fazem coisas bem questionáveis, e outras vezes fazem coisas surpreendentes – Ele diz, tentando respirar para conter a risada. Ele se controla, e continua – Nem só as mulheres, nós homens também fazemos esse tipo de coisa. Mas normalmente somos vistos como malucos ou depravados que só pensam em sexo.
- E como andam as coisas com a Clarice? - Edan questiona de imediato, fazendo o tio parar de rir de um segundo ao outro, assumindo uma postura mais rígida, juntando as mãos sobre a mesa. A mudança tão brusca afetou o tio de forma bem imediata.
- Você sabe como quebrar a animação de alguém Edan. – Diz, olhando em direção à porta.
Anne entra na cozinha, esfregando os olhos e visivelmente com sono. Estava com o cabelo solto e bagunçado, mechas ruivas caiam sobre o rosto da garota, o que fazia se parecer que estava quase que dormindo de pé. – Olá... Bom dia...
Edan ergue a mão – Bom dia Anne... Agora que está sóbrio posso apresenta-lo de forma devida, este é meu tio Marcos.
- Prazer em conhecê-lo – Anne cumprimenta com um pequeno sorriso sonolento.
- Igualmente Anne – Marcos comenta, um pouco menos animado que antes. – Edan, você disse que sua amiga era bonita, mas não disse que era tanto.
- É mesmo? – A garota desperta com o comentário do homem. Ela olha para o colega, soltando um sorriso incrédulo enquanto leva as mãos à cintura. Sem se defender, Edan da de ombros enquanto a garota se senta – E por que não me elogia diretamente senhor Edan?
- Muita timidez! – Marcos completa, dando um sorriso de cumplicidade ao sobrinho. Neste momento, Anne sequer consegue acreditar que aquele em sua frente era o mesmo homem bêbado da noite anterior. Agora ele realmente aparentava ser alguém a qual poderia ter cuidado de Edan como Raquel havia dito – Sirva-se, fiz esses pães agora, ainda estão mornos.
- Obrigada. – Agradece, se servindo do primeiro pão.
- O senhor ainda não respondeu minha pergunta. – Edan diz.
Ele diz com um pequeno sorriso, mas com o tom de voz entristecido. – As coisas com sua tia estão... Estão indo como dá.
- Essa sua resposta é bem pouco animadora – Edan comenta. Anne os observa enquanto come sem se intrometer no assunto, lentamente pegando um braço de Edan, o puxando para si e deitando de leve sobre.
- É difícil... Estou empurrando esse relacionamento como consigo... A Clarice se foca mais em falar como te odeia, como gostaria de te expulsar daqui e tomar a casa, em como gastar muito dinheiro e vive saindo com muitos homens diferente... – Marcos solta as mãos e suspira de forma pesada. Anne aperta suas mãos em volta do braço de Edan, como se houvesse se incomodado com o que ouviu – Isso está me destroçando.
- Imagino como está fazendo mal... – Edan concorda.
- Me mato no meu trabalho... Faço de tudo para agradar mas... Nada nunca parece ser o suficiente. – Marcos pensa, e então continua – Além que me esforço ao máximo para que a loja da sua mãe continue aberta e você continue tendo a renda necessária... Mas é tão desgastante, que acabo bebendo tanto para fugir de tudo isso por um tempo.
- Uma fuga talvez não seja a melhor ideia... Com certeza já falou com Clarice – Edan comenta.
- Não... Ela me ignora como se eu não existisse. Ela mal dorme em casa, e nem sei mais a cor do meu cartão, ela gasta tudo e não posso decidir nada na casa.
- Sua situação é difícil... Mas por que não tentou terminar com ela? – Edan pergunta.
- Não consigo... Depois de tantos anos, mesmo sendo tão maltratado ainda amo ela. – O homem balança a cabeça – Sou mesmo um idiota.
- E a Gisele também está indo pelo mesmo caminho?
- Gasta tanto igual à mãe, não me respeita, e agora está com aquele bosta de namorado... – Ele reclama, tanto que passa a mão no rosto impaciente.
- É difícil por ainda se importar tanto com ela... Nem consigo imaginar o que está passando.
- Meus colegas do trabalho e até meu chefe já me perguntaram como não dei um tiro na minha cabeça. – Ele zomba – Não faço isso por que já estou praticamente morto e com a tumba construída.
- Você quer sair disso tio Marcos? – Questiona, Edan da uma olhada para Anne, que já estava o olhando. Visivelmente preocupada com o que está ouvindo. Retornou o olhar para o tio, que confirma com a cabeça. – Se quer melhorar, Devem haver mudanças.
- Que tipo? – Ele pergunta, praticamente derrotado.
- Primeiro levantar a cabeça, ignorar o que te falam. Segundo, começar a agir para você mesmo, não para uma esposa infiel ou uma filha que não o respeita.
O silêncio paira no lugar.
- Não decida agora... Tire um tempo para pensar, decidir o que quer da vida... Se desiste ou se quer dar a volta.
- Pensarei – Marcos diz com pesar... Ele respira fundo e se levanta. – Eu irei para casa, a essa hora estarei sozinho.
- Irá para casa mesmo? – Edan questiona seriamente enquanto se levanta junto com Anne.
- Sim, irei... Vou pensar o que fazer.
Edan balança a cabeça – Tudo bem então... Irei lá abrir o portão para você.
Seguindo na frente e acompanhado de Anne, eles deixam a cozinha e saem de casa. Edan abriu o portão e o tio seguiu em frente. – Bem, obrigado por me resgatar da rua ontem Edan... Vai saber o que aconteceria se você não estivesse por lá.
- Agradeça a ela – Edan sinaliza Anne com a cabeça – Se não fosse essa chata, eu nem teria saído ontem.
- Então moça, obrigado por ter arrancado esse antissocial de casa – Marcos diz com um sorriso de gratidão – Você não tem ideia do que fez de bom.
Anne sorri – Não precisa agradecer, faço o que posso... E seu sobrinho não é um caso perdido.
- Sei disso... Tão novo e precisando lidar com esse mundo de problemas, tantas responsabilidades que não deveriam ser dele... Esse tio irresponsável que só da dor de cabeça, uma tia complicada, e ainda estar crescendo sozinho... – concorda, colocando a mão no ombro do sobrinho – Edan é assim todo fechado, mas esse jeito dele me lembra muito os seus pais... A aparência desleixada e a cara fechada do meu irmão, o jeito mais bondoso e cuidadoso da mãe escondido ai dentro dessa casca, e a responsabilidade dos dois...
Edan fica em silêncio, enquanto Anne bagunça de leve seu cabelo entre seus dedos.
- Com certeza, seus pais estão olhando pra você, e estão orgulhosos do homem que você está se tornando. – Assim que diz isso, o tio se afasta e sai andando – Se cuidem vocês dois, cuide bem do meu sobrinho.
- Pode deixar – Anne concorda com um aceno.
Assim que está longe, Edan entra primeiro e Anne fecha o portão. O rapaz para no meio do quintal, olhou na direção da estufa nos fundos da casa, começando a pensar abaixando a cabeça.
- Ei Edan... – Anne o chama, parando ao seu lado sendo tomada por surpresa em seu olhar – Por que você está chorando...?
Edan levanta a cabeça, igualmente surpreso enquanto toca seu rosto. – Eu não sei... – Deu uma longa suspirada, sentindo um grande peso em seus ombros. O que seu tio havia dito o afetou de uma forma que ele mesmo não entendia. Secou o rosto com a mão como se não fosse nada, voltando a mesma expressão vazia que sempre carregou, assim olhou em direção a estufa no fundo da casa. A garota segue seu olhar. – Gostaria de perguntar algo Anne... Você... Acha que eles se orgulhariam de mim?
Anne não responde. Envolveu o colega com os braços o confortando. – Sim... Com certeza sim...
Considerações Finais:
E aqui acabamos mais um capítulo, mais um dos vários capítulos titânicos de tão grandes. Aqui tivemos finalmente a aparição do tio Marcos, aquele quem cuidou do Edan e ensinou muitas coisas que ele sabe. O que acharam dele?
Sem mais, espero que tenham gostado do capítulo de hoje, que sigam acompanhando, me contem suas opiniões, teorias, eu sempre me empolgo para saber... Eu os aguardo no próximo capítulo, até lá.
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