Capítulo 1

Uma coisa que gostaria de sugerir é escutar a música de abertura do livro. Creio que será algo que lhes dará uma plena noção do tom do livro que estão prestes a ler.

Tema de abertura do livro: DDLC Exit Music - Decks Dark

https://youtu.be/ZNYICBc65MY

2598 palavras - Arco introdutório

Não conseguia ver nada por alguns segundos, apenas se lembra de sentir um impacto de uma forte batida, ficando desacordado sem saber por quanto tempo.

O jovem garoto abre os olhos, mas sua visão segue turva e mal distinguia o que acontecia a sua frente. Se adaptou aos poucos ao misto de escuridão da noite e luzes piscando freneticamente de uma direção que não conseguir dizer exatamente qual.

Percebe sua mãe o observando com um olhar que não conseguia distinguir quantas coisas dizia de uma única vez. Sentiu uma mão o empurrando para trás, e então mais mãos em seu corpo o puxando para longe de sua mãe. Sem entender e sequer conseguindo se mover, viu ferros contorcidos passando lentamente a sua volta, estava sendo tirado para fora de um carro.

- Edan... Eu sempre estarei com você meu filho...

- Mãe... - Diz em voz baixa, quase sem força. Tudo se apaga em barulhos misturados, até o silêncio absoluto o cercar. O silêncio se rompe ao ouvir o sinal de sua escola tocando.

*****

Isolado em seu canto e ignorado por todos os presentes, estava Edan, um jovem garoto de 15 anos, de grandes cabelos negros e lisos caindo sobre o rosto, debruçado sobre sua mesa. Levantou o rosto e olhou para a janela por alguns segundos O cheiro de borracha escolar e tinta de sua caneta quase o fez ter uma tontura, somado ao barulho de uma habitual sala de Aula. Segundo sua visão sobre si mesmo, Edan é apenas um simples estudante do primeiro ano do colegial sem nada de especial, e pode se resumir apenas como o estranho de sua classe. Não por ser, ou por usar coisas estranhas ou diferentes em seu vestuário, mas apenas por não se enturmar tão facilmente, sempre manter sua vida um segredo, e ser de longe o aluno mais sério de todos. Todo final de aula fazia a mesma coisa, se levantava sem chamar a atenção de ninguém, colocava o capuz de sua blusa ao ponto de cobrir os olhos e voltava para casa. Apesar de não gostar muito de voltar para casa, era exatamente o que fazia todos os dias.

- Edan! Espera!- escuta, parando de caminhar próximo a porta da sala.

Se vira devagar, ainda mantendo a cabeça baixa – O que é, Leandro? – Falou como se estivesse se dirigindo a uma pessoa totalmente hostil. Sua voz saiu em tom frio como de habitual.

- Nossa, que belo jeito de falar com um amigo em... – Leandro, um rapaz de pele morena, cabelos castanhos desarrumados, botões de sua camisa abertos, uma blusa de gola alta e calça escuras, e um fone de ouvido em seu pescoço, comenta cruzando os braços e sorrindo com animação. – Quero saber se irá fazer algo hoje, lá pelas três da tarde.

Edan suspira, e enfim responde – Você sabe que eu sempre fico em casa sem fazer nada, afinal, não tenho motivos para sair. – Edan deu de ombros, e então continua – Por que a pergunta?

- Porque nós, seus amigos, queremos que você se divirta um pouco – Raquel, uma garota de pele clara, cabelo negro de pontas azuis, de roupas claras e não muito pesadas, comenta surgindo do nada e contornando o pescoço de Edan – Alias, tire esse capuz. Está frio, mas não tanto assim. – Diz puxando o capuz do rapaz, mostrando seus claros olhos esverdeados, cor essa que não representava a frieza que o rapaz carregava.

- Não precisava ter feito isso... – olha para o lado, evitando olhar para a sorridente Raquel. Pensa, pensa e pensa mais. Enfim respondendo – Não sei... Por mim, acho que quero ficar em casa mesmo.

- Pra ficar sozinho na sala sem fazer nada? Sabemos bem que nem filmes você assiste direito. Aliás, você nem liga a televisão, seu bicho do mato. Se vai ficar assim, por que não fica sem fazer nada conosco? – Leandro pergunta, colocando uma das mãos no bolso.

Raquel acerta um leve tapa no ombro de Edan - Você fica muito tempo sozinho, precisa mesmo sair de vez em quando... Não toma um sol, e nem sequer corta o cabelo.

- Não vejo graça nenhuma em tomar sol, não sei o que vocês veem de tão legal nisso. E meu cabelo assim não incomoda, então o deixo crescer. - Ele responde, ansiando pelo momento que seus colegas o deixarão ir embora.

- São exemplos, mas tem muito mais coisas que dá para fazer. – Raquel insiste. – Olha só esse mundão, sair por aí, andar um pouco. Ver coisas diferentes acontecendo!

Edan os observa. Conhece seus colegas. Sabe bem como são insistentes quando querem – Se isso fazer vocês se animarem e me deixarem ir logo para casa, então eu irei sim...

- Mas não iremos só nós três... – Leandro comenta – Tem mais uma pessoa. Tudo bem pra você?

- Pode levar quem quiserem, não me importo com quem seja. – Responde imediatamente, se virando e seguindo seu caminho, e antes de estar muito longe, ele diz – Três da tarde, estarei lá.

Leandro e Raquel o observam indo. Sorriem se entreolhando logo depois, como se tivessem conquistado algo.

Caminhou pelo corredor, alcançou e desceu dois lances de escadas e seguiu para fora do prédio da escola. Assim que saiu, sentiu o vento gélido bater em seu rosto e em suas mãos. Instintivamente pôs seu capuz de volta e recolheu as mãos aos bolsos. O barulho dos vários alunos que vinham logo atrás parecia distante para Edan, quase como se não houvesse ninguém a sua volta, e assim foi até atravessar o portão e seguir para casa. Enquanto anda, Edan refletia sobre mais cedo. Em sua mente, se perguntava se tinha sido grosso demais com seus amigos. Mesmo não se enturmando absolutamente, tinha seus únicos e bons amigos, e sabia que seria bem ruim se afastar deles. Seus dois únicos amigos na verdade. Sacudiu a cabeça tentando afastar tais pensamentos, e continuou andando até sua casa a passos curtos, mesmo não querendo voltar. O caminho é curto, apenas poucas quadras a andar, por que enrolar?

Mantendo o passo lento, o garoto alcança seu bairro. Várias pessoas costumam ficar para fora de casa em qualquer dia, faça chuva, sol forte, ou um dia mais frio como hoje. Tanto adultos rindo contando coisas de seus trabalhos e sacando os celulares dos bolsos, quanto adolescentes sentados no meio fio ou embaixo de arvores, conversando sobre escola, quem estão interessados, e olhando seus celulares, desprotegidos dos altos muros de suas casas-fortaleza. Sacou a chave do bolso e entrou em sua casa. A casa de Edan é grande e, diferente de sua rua, é completamente deserta. Apesar de só ter um andar, grande parte dos sete cômodos permanecem sempre apagados e silenciosos, a lavanderia com quintal vasto, além da grande estufa com diversas flores diferentes, que sua mãe cuidava com tamanho carinho.

Ao chegar, jogou suas coisas no sofá que costumava ser sua cama e seguiu diretamente para seu quarto. Mal abriu a porta e olhou toda a bagunça que havia ali. Nas paredes estavam colados vários desenhos antigos com os traços de lápis quase apagados, e com poucos desenhos mais recentes, alguns cadernos e desenhos espalhados em seu criado-mudo e no chão ao lado da cama. As únicas coisas arrumadas era sua cama e a mesa de seu computador, onde escrevia, desenhava e criava o que seus pais diziam ser animação, mas para si mesmo não passava de bonecos de palito fazendo movimentos truncados sem qualquer sentido aparente, todas coisas que havia abandonado a muito tempo. Tudo estava tomado pela poeira e desbotando com o passar do tempo. Edan não conseguia passar por aquela porta sem se sentir desconfortável de maneiras que não fazia esforço para entender. Sem muito o que fazer, se sentindo desgastado de um segundo ao outro, somente desabou no chão, olhou para sua cama, esticando seu braço, tentando alcança-la, mas desistiu em poucos segundos. Sua mão vai de encontro ao chão, e seus olhos se tornam pesados. A solidão e o silêncio da casa o abraçam suavemente, o fazendo dormir ali mesmo.

*****

Acordou o que achou ser poucos minutos depois, com a impressão do telefone da casa estar tocando. Se levantou e olhou ao redor, o silêncio e vazio da casa o cercavam. Foi até a cozinha fazer um lanche, até ouvir o telefone outra vez. Quando atendeu, ouviu que era Raquel.

- E então, você vem!? – Disse de imediato.

-Parabéns por nem cumprimentar com um oi... E eu vou, não se preocupe. – Comentava esfregando os olhos.

- Com essa voz de sono não me parece que você iria vir... – Edan torce o rosto, enquanto ouve as risadas de Raquel.

Edan da um longo bocejo e pensa se deve xingar a amiga. Decide por não fazer – Se eu não fosse, é certeza que você e o Leandro iriam ficar pegando no meu pé sem parar.

- Com toda certeza sim!

- É, e eu não quero isso... Por que ligou? Só vamos nos encontrar as três da tarde.

Raquel suspira do outro lado da linha – Agora são duas e meia da tarde...

- Ué... Podia jurar que ainda era bem mais cedo que isso.

Dessa vez, a garota parece rir do outro lado da linha – Você dormiu no chão de novo?

- É... Talvez. Como sabe disso?

- Não é difícil desvendar sua super intensa rotina. Agora venha logo, todos já estamos quase chegando no parque!

- Tudo bem, eu já estou indo. – diz, desligando e se dirigindo a porta. Antes de sair, olhou o quadro na estante ao lado da porta. Lá estava uma foto com seus pais. Edan sempre se sentia estranho quando olhava a foto, algo que o fazia se sentir mal, porém mal tinha ideia do por que. Ignorou a sensação e saiu de casa. Não se importava com o que aconteceu no passado, nem com o que aconteceria no futuro. Em si, nada mais no mundo importava nem possuíam um significado. Para Edan, sua vida nem mesmo possuía mais um sentido e já não tinha motivos para continuar. Está mergulhado no mesmo abismo que sua casa. Vazio, frio e escuro. Então, por que ainda acordava todos os dias de manhã? Por que ainda insistia em sair da cama, mesmo sem ter vontades ou motivações para continuar?

Por que ainda estava vivo? Esta era uma pergunta que fazia todos os dias.

Perdido em seus pensamentos, o rapaz caminha como se seu corpo tivesse vontade própria, em minutos percorreu praticamente todo o caminho e chegou ao parque, este que não ficava muito distante de sua casa. Edan percebe onde está, quase surpreso por não ter percebido o caminho percorrido, isso o fez passar a mão pelo rosto, tentando voltar a realidade. Quando acha ser o suficiente, começa a olhar em volta, buscando por seus amigos.

Durante os primeiros momentos, os procurou sem obter sucesso em acha-los. Seguiu adiante no parque, olhando em lugares que julgou parecerem óbvios para encontra-los. Passou perto de vendedores de pipoca, logo por food-trucks com enormes filas, por bancos debaixo das sombras das arvores, bebedouros, porém não importava o lugar que passasse, não os via por perto. Pensou em como seria muito mais fácil de encontra-los se ligasse para um deles, porém não tinha um celular, então isso era completamente fora de cogitação. Enquanto andava, não deixou de notar os vários grupos passando a sua volta, parecendo que todos seguiam em uma direção oposta a dele. Olhou para os vários grupos de amigos, casais jovens, adultos distraídos em seus fones de ouvidos ou celulares, algumas pessoas correndo ou apenas fazendo caminhadas, e principalmente o que mais atraia a atenção de Edan eram as famílias que passavam. Crianças correndo e famílias animadas, pais brincando com seus filhos, todos parecendo felizes por estarem ali. Mas por mais que presenciasse tanta animação, nada o atingia. Tudo era monótono demais, tedioso, cinzento e vazio. Balançava a cabeça para si mesmo, tentando evitar de se distrair com qualquer coisa que fosse, sendo ou não os próprios pensamentos isso não poderia tirar a atenção do que já estava fazendo, e se forçava a caminhar novamente.

Em seu caminho, algo particular conseguiu chamar sua atenção, tanto que o forçou a parar de andar para observar. Se deparou com uma garota parada próxima a uma arvore, olhando seu celular. Durante alguns segundos, ficou olhando seu rosto, os cabelos ruivos e longos, e seus olhos azuis claros. Algo nela atraia sua atenção, por mais que parecesse uma garota comum, havia algo de diferente nela, algo que não sabia dizer o que, mas era diferente e o fazia querer observa-la, tanto que levou as mãos aos bolsos da calça e permaneceu no mesmo lugar a observando. A garota, apesar de sozinha, parecia animada e radiante por si só, quase como se ela não precisasse de nada para estar daquele jeito, quando enfim ela nota sua presença e o olha de volta. Ela o olhou de um jeito diferente, parecia acolhedor, e imaginou até mesmo que os olhos dela pareciam brilhar quando o observou. Para o mundo foram segundos, mas que para ele, foram os segundos mais longos e confortantes que pode ter em muito tempo. Edan desviou seu olhar para frente, ignorando a garota e continuou caminhando devagar, de volta a sua tarefa de achar seus colegas, enquanto a garota seguiu cada um de seus passos com os olhos. Ele não olhou na direção da garota, mas por algum motivo sabia que ela o estava acompanhando com o olhar. Por algum motivo sentia isso.

- Lá estão eles! – Edan escuta a voz de Raquel de longe, mas não soube exatamente de onde.

- Finalmente nós os encontramos. – Leandro comenta logo em seguida.

- Caramba, fiquei uns 10 minutos aqui esperando. – Dessa vez é uma voz que não reconheceu, não sabia de quem era, por mais que soasse familiar. A voz veio da mesma direção de onde a garota estava. Edan ficou parado, se virando e os observando. Ele pode ver a garota guardando o celular em um bolso e correndo na direção de seus colegas.

- Não reclame, não foi tanto tempo assim. – Leandro comenta rindo. – Ta, demoramos um pouco, mas achamos.

- Tudo bem, eu deixarei passar dessa vez. Mas só dessa vez. – Todos ali riem juntos do comentário da garota – E então, onde está a outra pessoa que vocês chamaram?

- A outra pessoa está parada bem ali, atrás de você. – Raquel comenta, apontando para Edan, que ainda estava no mesmo lugar, sem reação para os colegas, o olhar igualmente vazio e gélido de sempre, mas focado em particular naquela garota. – Aquele antissocial é o Edan.

Por um momento, Edan pensou ter visto os olhos da garota brilharem uma segunda vez, enquanto se aproximava correndo. A garota para bem a sua frente, o encara nos olhos por alguns segundos, abrindo então um grande sorriso – Muito prazer... Nós somos da mesma sala mas nunca conversamos. Eu me chamo Anne! 

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