Oeste: Libertas Quæ Sera Tamen
Uberlândia,
Triângulo Mineiro,
Minas Gerais, 2018
Ele tinha ganhado. Como isso aconteceu ainda não sabemos, mas fato é que um fantasma havia ganhado a disputa para a presidência da república. O Brasil seria governado pelos próximos quatro anos pelo fantasma de um ditador. Quando apareceu um candidato até então desconhecido dizendo que incorporava o espírito de um antigo ditador brasileiro, ninguém acreditou. Mas bastou um trabalho muito bem feito com a ajuda de um líder espírita de extrema direita, além de vários dias gravando lives incorporando o fantasma do ditador, e muitos acreditaram. E com o tempo, vieram os debates, os comícios, ele se contorcia todo e incorporava, e aí começavam os discursos e ataques contra a esquerda, acusando toda a classe política de corrupção, prometendo salvar o Brasil das imoralidades para purificar o povo e assim o futuro do país ser melhor. Homofobia, defesa do porte de arma, privatizar tudo, militarizar o ensino. Ele prometia o caos.
Pode ser que muitos não acreditassem que ele incorporava um espírito, mas o modo como ele mudava e então dizia coisas que toda uma classe represada e envergonhada de suas opiniões reacionárias tanto clamava fez toda essa classe emergir. E em pouco tempo começou a ficar perigoso. Todos os outros partidos recebiam ataques, todas as instancias da judiciário eram atacadas, os movimentos sociais eram atacados. O discurso moral e fundamentalista religioso cristão, que não era nada parecido com cristo, ganhou força instantânea.
O slogan "Médici em mim, e Deus em todos" começou a ser pichado, desenhado em paredes; colado em carros; tatuado; cantado... era loucura. A briga foi grande, não foi qualquer um que aceitou essa barbaridade. Mas no final faltou unidade, faltou uma voz capaz de articular com a massa de trabalhadores, faltou consciência política, faltou vontade e identidade própria, faltou debate público, faltou democracia e faltou república.
Uma coisa diferente se passava na mente de cada um. Mas para Fernando só lhe vinha uma coisa a mente: O desespero. Mas quem é Fernando? Fernando é um em milhões de milhões. E faz parte desses milhões no mundo todo que são desprezados. Ele caminha descalço por seu apartamento e vai até a janela. Tem um buzinaço lá fora. Às vezes, Uberlândia era uma cidade barulhenta, mas hoje estava mais. O som da amargura lhe doía os ouvidos. Parecia o som do ódio.
Lágrimas vinham de seus olhos. Seu destino era incerto, e já sabia disso antes da eleição presidencial, mas agora seu futura virou um completo mistério. Ele já tinha sofrido tanto na vida, e não queria sofrer mais. Será que a homofobia iria aumentar? Será que a flora iria desaparecer de vez? O cerradão que todo ano pegava fogo iria virar cinzas de vez? Os pobres ficariam ainda mais pobres e os ricos ficariam ainda mais ricos? Sua tão difícil de ser conquistada vaga na universidade pública estaria ameaçada? O destino é incerto, e especular não adianta de nada. Mas o que nos resta no momento de incerteza, senão especular?
Mas será que vale chorar por isso? Já aconteceu. Não nos resta esperar? Não dá pra saber se vai virar um festa pra reacionário até ver com os próprios olhos até onde isso vai. Mas a sensação de que alguma coisa muito ruim vinha por aí era certa. Por algum motivo, ele sentia que muita gente iria morrer. O próximo ano seria um susto, mas então algo mudaria, e não traria bons resultados. Desde antes do segundo turno, sonhava com enterros coletivos, e não sabia porque tinham tantos caixões sendo jogados em covas daquela forma. Isso era o mais cruel do pesadelos, eles não podiam ser explicados, era como se fossem causados por algo que ainda não existisse, e portanto era inexplicável.
Ele caminhou de volta até a sua cama e olhou para as fotos espalhadas sobre ela. 5 fotos. Os momentos de sua vida expressos em papel. A cada imagem era ativada uma memória, bem guardadinha no fundo de sua mente, esperando apenas o momento de voltar ao seus pensamentos. Se lembrava de cada um desses dias. Ele pega a primeira foto e vê, ela era de 4 anos atrás.
Ele e Catarina de cabelo rosa. Se lembra desse dia. Tinha entrada pro curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Uberlândia. E em vez de rapar a cabeça, como geralmente os homens que entram no curso fazem, ele e sua amiga resolveram pintar o cabelo de rosa. Os cachos do cabelo de Fernando estavam adoráveis daquela cor. Ao ver aquilo, ele voltava no tempo.
2014
"Cheguei em casa!" Fernando tinha acabado de pintar o cabelo, e tinha tirado uma foto com a melhor amiga. Ele já vinha meio apreensivo, mas não iria deixar de fazer algo que era sua vontade há tanto tempo. Ele caminhou pelo corredor até a cozinha, e já era esperado pelos pais ali.
"'Cheguei' ou 'Sou gay'? Eu num ouvi direito. Que merda é essa no seu cabelo, menino? Eu vi esse negócio pelo seu facebook, e num acreditei" Disse Seu Agenor apontando o dedo para os cabelos rosa choque da cabeça do filho.
"Uai, é só tinta. Eu passei na UFU pra Medicina. Então tinha que pagar a promessa..."
"A regra pra homem é raspar a cabeça, e se não quer, passa azul, mas num passa rosa. Cê num sabe que homem que usa rosa é boiola?" Novamente o pai interrompe o filho, com um tom nítido de raiva na voz.
"Cê já tá tendo uns comportamentos muito suspeitos. Sempre pra lá e pra cá c'um tal de Alberto. Pinta cabelo, depila as pernas, fica preocupadinho com os cachos, anda com shorts mostrando a perna... cê virô puta?" A mãe falou dessa vez.
"Oi? Puta? Que história é essa? Eu só gosto de roupas leves. Eu sempre fui calorento, e muito homem esses shorts pra futebol inclusive..."
"Ah, deixa de desculpa. E agora é pra me dizer a verdade. Você é boiola ou não é?" O pai se levantou e, literalmente, pôs o filho contra a parede. Com um empurrão Fernando foi empurrado até estar com as costas contra a superfície de azulejos da cozinha.
"Eu sou." Fernando disse já com lágrimas nos olhos, pois sabia o que ia acontecer agora.
2018
Ele põe a foto de volta na caixa de papelão da qual a tirou. Se lembra de como nesse dia, seu pai o bateu e cortou seu cabelo com a tesoura de cortar carne. Fernando ficou sem seus tão queridos cachos por três anos. Demorou até o cabelo crescer até ficar no ponto pros cachos voltarem do mesmo modo que antes. Esse memória o lembra de o quão más as pessoas podem ver, e que amor paternal e maternal não é tão irrestrito como se prega por aí. Infelizmente, e felizmente, é algo construído. Pode ser desconstruído em segundos, mas também pode ser construído com outras pessoas.
A outra foto foi ele no carro saindo de Araxá em rumo a Uberlândia. Ele estava de boné para esconder a humilhação que passou. E ao lado estava sua família.
2014
Seu pai e sua mãe não estavam ali para se despedir dele. Estavam dois primos e uma tia.
"Vai com Deus, meu bem. Que você consiga realizar os seus sonhos lá." Disse a tia Jane.
"Vai com tudo, mano. E quando tiver dando pra alguém, traz o cara pa nóis conhecer." Disse Paolo, um dos primos.
"É, se seus pais não querem, saiba que nóis tamo contigo." Falou Daniel, o irmão de Paolo.
"Brigado, gente. Eu não o que seria de mim sem vocês." Isso era verdade. Sem a tia e os primos que o acolheram, ele não sabia o que seria dele.
Fernando deu um abraço em cada um deles e entrou no táxi. Depois o carro passou na casa de Catarina. Ele viu a família dela toda com ela, e isso machucou. Mas também não desejava o que aconteceu com ele para Catarina. Mas não podia negar uma inveja. Ela é lésbica, e bem aceita pela família. Por que com Fernando não pode ser assim também?
Embora saiba que ele tem uma família de verdade para quem voltar nas férias, junto de Jane, Paolo e Daniel, as memórias boas que teve com seus pais não deixavam de voltar a sua mente para causar tristeza. Queria ter a capacidade de esquecer permanentemente, e assim não sofrer com a tristeza de se lembrar daquilo que não vai mais voltar.
2018
Colocou essa foto na caixa também. Eles foram muito importantes em sua vida. Se não tivessem o abrigado, Fernando teria ido parar no olho da rua. Mas ir para outra cidade, especialmente uma muito maior que a sua é desafiador. Muitas vezes nos sentimos sozinhos, mesmo rodeados de pessoas. É uma solidão estranha. Tem mais gente morando com você em sua república, e vocês tem momento de bate papo na sala que são o que salvam a sua cabeça de explodir. Eles são muito preciosos.
Mas, ao fim do dia, quando você se deita exausto na cama, e olha ao redor para seu quarto, e vê as paredes brancas, você se sente em uma prisão. As melhores amizades são aquelas que você leva junto consigo, ou de pessoas que estão na mesma situação que você.
Quem faz faculdade na mesma cidade que sempre morou só vai e depois volta da casa para o campus e do campus para casa. Eles tem sua vida inteira já muito bem consolidada naquele lugar, agora ela vai se transformar e eles vão passar por um novo processo de amadurecimento. Mas quem vem de fora está construindo algo totalmente novo, e se apega nessas outras pessoas que também estão se rasgando e se remendando para se refazer do zero e construírem sua identidade e sua vida. Não é a mesma coisa para quem está ali, e quem veio se fazer enquanto indivíduo.
Muitas noites são momentos tristes em que a gente tem aquela saudade de um carinho, mesmo que sua família não seja de toque físico e palavras de afirmação, mas o tempo de qualidade e o costume de dezoito anos juntos faz falta.
E aí vem as pessoas que vemos todos os dias na faculdade, na salinha do curso jogando truco, na biblioteca estudando juntos. Compartilhando conquistas e dificuldades uns com os outros. Aí vem uma janta com seus colegas da república, ou um noite juntos para beber. E a gente parece que é de porcelana e se quebra todo lembrando como esses momentos são especiais, e como vale a pena produzirmos mais e mais memórias como essas, memórias que gostamos de lembrar, e gostamos de reproduzir, cada vez de uma nova forma, mas em mesma essência.
A próxima foto é ele, Jorge, Catarina e Sabrina.
2015
Novamente Catarina queria tirar ele da cama. Superava o abandono com estudos excessivos, então repetir uma matéria foi um tiro no peito do rapaz.
"Anda logo, Nando. A gente tá de férias, desde que chegamos cê só estuda e se prende nesse quarto fazendo nada o dia todo. Vai pra rua! Conhecer gente nova, jogar truco e fumar um cigarro." Catarina já tava cansada de tanto tentar puxar Fernando pra fora da cama, ele era o dobro do tamanho dela, e não queria ter que pedir ajuda aos outros republicanos outra vez.
"Eu num quero." Fala ele com aquela voz manhosa que dá até dó em qualquer um, menos em Catarina.
"Ah, mais vai levantar sim. E bota uma calça que a gente vai pra rua." Só quando Catarina disse isso que Fernando lembrou que ele tava só de blusa e cueca. Afinal era Dezembro e tava um calor desgraçado. "É melhor levantar daí. Ou prefere que eu te leve pra rua seminu?"
Fernando se deu por vencido. Sabia que se quisesse ficar ali, Catarina não teria força para o tirar, mas foi o cansaço da discussão que o fez botar uma calça e ir com a amiga no Shopping. Logo que chegaram, ela já viu uma colega do curso com um menino junto dela. Que beleza! Interação social, a pior especialidade de Fernando.
"Oi, Sabrina. Como cê tá? E quem é o boy? Traindo o Rodrigo?"
"É mais fácil o Jorge roubar o Rodrigo de mim." Disse ela rindo. Nando se deu conta de que ele e Jorge haviam caído em uma armadilha de duas casamenteiras de primeira. Se gays estivessem em extinção e precisassem se reproduzir, Catarina iria liderar o esforço de procriação. Nando era o único de seus amigos que não namorava.
"Olá, muito prazer. Eu já ti vi antes. Faço Letras." Ele fala com um sotaque nitidamente de europeu, provavelmente de português.
"Veio devolver nosso ouro?" Nando fala com sarcasmo na tentativa de frustrar os planos de Catarina, e esperando uma resposta não amistosa do tuga, mas quebrou a cara.
"Eu te levo pra Lisboa e a geste raspa o ouro da parede das igrejas juntos se você quiser." Jorge falou olhando direto nos olhos de Nando, e dando um passo a frente. Fernando era alto, mas esse homem era ainda maior, parecia um jogador de basquete.
Também vamos roubar os móveis de pau-brasil?" Fernando deu outro passo a frente, e lançou mais uma.
Se você quiser. Mas antes a gente podia beber um café. A Catarina me disse que você é meio viciado, não vai recusar a droga que te sustenta em pé, não é? Suas olheiras estão a denunciar que você nunca recusa algo que te deixa acordado a noite toda." Catarina olhava com os olhos arregalados. Sua tentativa de fazer um programinha legal com Nando parecia que iria fazer dois homens gays começarem a se engalfinhar no chão feitos dois lutadores de luta livre.
"Tá me chamando de viciado, tuga?" Nando tinha um sorriso de desafio enquanto chegava mais perto do homem, agora seus peitos estavam quase se tocando.
"Tá me chamando de tuga, viciado?" Parecia que era questão de segundos até um deles mandar um: vai encarar, irmão?
"E se eu estiver?"
"Aí eu vou roubar mais ouro ainda." Nando não conseguiu conter sua risada. O português tinha quebrado sua cara carrancuda. E logo Jorge também riu. Eles se afastaram um pouco, e então pararam de rir e sorriram um pro outro.
"Eu aceito o café." De algum modo, Fernando gostou do homem. Ele entrou na sua brincadeira em vez de ficar sem graça ou constrangido como ele tentou. Nando não conseguia sustentar aquela pose de mal e briguento, mas podia topar um café para se manter acordado por mais tempo do que já estava.
2017
Fernando estava olhando fixamente para a foto quando sentiu braços em volta do seu corpo.
"O que estás a olhar, meu bem?"
"A foto do dia que a gente se conheceu." Disse e logo depois deu um beijo no namorado. Era uma sensação tão gostosa sentir a barba de Jorge roçando contra a sua, e suas línguas se enrolarem. Os corpos se encostando e se esfregando dava uma sensação elétrica pelo seu corpo. Ele parou o beijo e pegou a última foto. Ele e Jorge se beijando enrolados em uma bandeira LGBT. Os dois olhavam juntos e lembravam da memória compartilhada.
2018
Os dois saíram correndo de mãos dadas entre o povo. Jorge enrolado em uma bandeira arco-íris e Fernando com uma maquiagem em tons de verde e azul.
Teve uma hora que alguém apertou a bunda de Jorge e o português nem viu quem foi, de tanta gente que estava naquela parte da parada. Adoravam chamar um terceiro, mas hoje não. Deu um tapão na mão quando sentiu, e seguiram por entre a multidão, estavam sem tempo. Era a primeira parada LGBT de Fernando. E ele iria dando o seu depoimento como um gay expulso de casa que deu a volta por cima. Catarina estava dentre as organizadoras, e disse que outras pessoas que estavam na mesma situação poderiam gostar de ouvir um pouquinho do que ele tinha para dizer.
"Será que eu vou me dar bem?" Disse Fernando.
"Fica calmo que tudo dará certo. Tu ensaiaste comigo ontem. Estás maravilhoso, então relaxa."
"Brigado, amor." Os dois deram mais um selinho antes de subirem no Trio Elétrico. Ele ouviu o discurso de duas moças e um cara antes de ser sua vez. Ele caminhou até a beirada com Jorge atrás dele.
"Oi, meu nome é Fernando. Eu sou um homem gay. Um dia voltei pra casa com o cabelo colorido de rosa. E por esse estereótipo ridículo de cores, meu pai me pôs contra a parede pra eu confessar que era gay. Na mesma noite fui mandado pra morar com uma tia e dois primos, e meus pais nunca mais falaram comigo. Agora vejo que eu não tenho pai e nem mãe. Mas tenho uma família. A minha família são meus primos, minha tia, meu namorado, minha melhor amiga Catarina, e todos os meus irmãos da comunidade. Eu não tô sozinho nesse mundo. Por muito tempo eu me isolei, e me concentrei na minha faculdade a ponto de quase enlouquecer com os estudos. Mas aí minha melhor amiga não desistiu de mim, e me levou pra ir no shopping, onde conheci um moço que roubou meu coração." A multidão que rodeava o trio elétrico foi aos gritos. "E hoje eu estou aqui. E eu sei que muita gente aqui já foi rejeitado pela família, mas digo, eles não são suas famílias verdadeiras. Família é quem te ama e te aceita. E lembrem-se, que um dia, nós seremos livres. Um dia, todos os LGBTs, negros, índios, mulheres, adeptos de religiões de matriz africanas e todos os tipos de minoria irão viver em um mundo saudável e justo que respeita a todos. Seremos livres. Não sei quando, mas sei que isso vai acontecer. Na escola me diziam que na inconfidência eles tinham um lema: 'Liberdade ainda que tarde'. E eu digo o mesmo, mas não vamos deixar que esse tarde seja quando muitos de nós já estejamos mortos. Eu tenho medo de morrer, e sei que muita gente aqui também tem medo de saírem de mãos dadas com o namorado ou namorada e não voltarem para casa mais. Vamos batalhar para que esse tarde não seja tarde demais, começando agora." E Fernando puxou Jorge para um beijo digno de novela. O beijo mais apaixonado de suas vidas. E nessa hora, Catarina, que estava por ali, tirou uma foto.
2018
"Foi inesquecível." Falou Fernando.
"Sim, foi." Concordou Jorge.
"Será que aquele tarde ainda vai demorar a acontecer depois de hoje?"
"Eu não sei. Mas se demorar, nunca deixaremos de lutar. E que se dane se aquela cria de mula com satanás venceu. Ele não vai impedir a nossa vida de ser boa. E quer saber mais? Eu te amo. E sempre irei te amar." Disse o português. Os dois se beijaram mais uma vez. E foi naquele beijo que selaram para sempre o seu amor. Um amor que um político asno que só fala merda não iria ameaçar, e nem todos aqueles intolerantes. Pois se o amor é verdadeiro, ninguém o destruirá.
Fantasmas podem ser exorcizados. Presidentes vem e vão. Ditadores podem cair, e quando estiverem no chão, debaixo de sete palmos de terra, enterrados no meio de um pasto qualquer e uma vaca cagar em cima da sepultura deles, a justiça terá sido feita.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top