O mundo da TV

Em 1999, eu estava formada e trabalhando numa rede regional de televisão - a Desterro & Arte TV, sucursal da TV Mundi de São Paulo, que exibia programação nacional e alguns programas locais selecionados. Graças à medalha de ouro na faculdade, consegui uma entrevista de emprego e lá estava eu, desde então, ocupando um cargo junto à produção.

Lembro-me até como foi a entrevista de emprego... Quando lá cheguei, pela primeira vez, a pessoa encarregada de me entrevistar demonstrou abertamente o seu desprazer por estar diante de uma pessoa obesa. Ela, a recrutadora, bem que tentou me reprovar, mas quando o chefe da seção viu o meu currículo universitário, declarou que estava contratando a minha competência, não a minha aparência.

-Afinal, ela nem vai aparecer na frente das câmeras, mesmo. – Ele sentenciou. – Dê uma chance à gorducha!

Sim, eu podia ouvir a conversa pela porta entreaberta. Mas como a minha vida era uma humilhação só desde a infância... Uma a mais, uma a menos. A recrutadora voltou com uma atitude diferente. Mas dava para perceber que ela iria ficar na minha cola apenas para ver se encontrava algum defeito no meu trabalho. Fiquei em experiência, nos primeiros meses. Olhos e ouvidos me seguiam por toda parte.

Com o passar do tempo, provei o meu valor e fui designada para trabalhar na elaboração de matérias e chamadas para os programas diários locais - e, às vezes, para os programas de entrevistas.

Mesmo gostando do que fazia, o clima no ambiente de trabalho era sempre tenso. No mundo da televisão, a competitividade é enorme. A maioria das pessoas quer engolir umas às outras, disputando para ver quem brilha mais.

Parece que a selva da adolescência nunca desaparece. Não é mesmo? O jogo só fica mais sofisticado.

***

Eu estava subordinada a uma chefona intransigente, histérica, um protótipo de loira dominatrix, sessentona (resumindo, ela se achava uma "Top model geriátrica"). Sentiu o quanto eu amava a minha chefa? Pois é... Dona Gilberta Flores. Nunca, jamais esquecerei dela! Eu a apelidei de "Sibilante". Por quê? Porque acho que ela tinha problema nas cordas vocais. Falava num estranho sussurrar em voz alta. Era muito parecido com o sibilo de uma cobra. É difícil de descrever com palavras... Basta dizer que se tratava de uma voz de arrepiar os cabelos! Eu poderia estar no primeiro andar do prédio, mas conseguia distinguir os seus sibilos, mesmo que ela estivesse no quarto ou no quinto andar. É mole?

Eu sei, parece "surreal" demais... Mas, é pura verdade. Para quê eu iria mentir para o meu diário?

A questão é que desenvolvi uma verdadeira ojeriza pela voz daquela mulher, que por si só, já era intragável. Ela gritava com todo mundo, quer dizer, ela sibilava com todo mundo. Até tentava bater nos funcionários, sempre que perdia o controle. Será que era parente da minha mãe e eu não estava sabendo...? Titia Gilberta? Acho que as duas podiam dar as mãos e sair em direção ao pôr-do-sol.

Uma vez Gilberta chamou uma funcionária de "nojenta"... Não sei como não foi processada por discriminação, assédio, entre outros. Acho que a funcionária em questão ficou com medo de perder o emprego, se levasse o caso adiante. Não se tinha claro o conceito de assédio moral. Portanto, acusar alguém era algo mais difícil do que é na atualidade.

Tirando Gilbertinha, meu trabalho era bem legal.

***

Àquela altura, minha mãe havia se casado novamente com um bom homem. Mas o seu modo de me tratar não mudou. Ela tinha prazer em me humilhar publicamente. Esse tipo de comportamento, quando proveniente de uma frustração pessoal, não muda nunca – porque é preciso a pessoa mudar por dentro. A única coisa boa que veio disso é que ela foi morar na casa do novo marido. E eu fiquei com a nossa casa inteirinha só para mim.

O fato de minha mãe se casar novamente, para mim, foi um grande alívio. Ela melhorou de vida - como tanto desejava - e desviou toda a sua atenção nociva para o marido, o Roberto. Finalmente, pude me libertar das suas dívidas e começar a usufruir um pouco do meu salário, comprando coisinhas só para mim. Enfim, "supérfluos" que, até aquele momento, eu não tinha me dado ao luxo, já que a minha mãe controlava todo o meu dinheiro. Eu sei que é estranho. Afinal, eu já era uma mulher adulta. Mas se eu me negasse a deixá-la ver quanto a emissora me pagava, ela ameaçava fazer um escândalo na porta do meu trabalho. Assim, eu cedia. Não queria perder o meu emprego por causa dela.

Agora, com o seu afastamento, eu passei a cuidar mais da aparência e da saúde.

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