CAPÍTULO 8
Desperto com meu celular tocando e levanto sonolenta para começar o dia. Visto uma saia lápis justa preta com uma blusa azul pastel de manga e botões. Tomo rápido meu café porque já são 07:00 horas e envio uma mensagem para Mattia dizendo para me encontrar no departamento. Deixo ração e água no pote para Ragnar e pego minha bolsa colocando o caderno, as chaves e o celular.
No meio do caminho, sinto a sensação deliciosa do vento de manhã entrando pelas janelas do meu carro e me sinto feliz por estar indo atrás desse assassino.
Entro no elevador que dessa vez Mattia não está, imagino que ele ainda esteja vindo. Quando saio do elevador vejo ele, de costas para mim falando com Delegado Meyer.
- Bom dia senhores. – digo me aproximando deles.
Mattia se vira para me olhar.
- Bom dia Dra. Castillo.
- Bom dia Angel. – diz Senhor Meyer apertando minha mão com carinho.
- Pode me chamar de Angel, Mattia. – provoco-o.
- Sim, senhorita Angel. – fala sorrindo.
- Só Angel. – digo revirando os olhos.
- Ok Angel. Como está essa manhã?
- Animada.
Quase dou uns pulinhos, mas lembro de ser profissional.
- É esse o espírito que gosto. – Meyer diz apontando para mim.
- O senhor vai querer falar algo conosco ou podemos nos retirar?
- Só tenho a dizer uma coisa.. Os dois são teimosos então espero que deem certo juntos. – ele rir.
- Senhor, conseguirei passar umas horas com essa senhorita que por um milagre é mais determinada do que eu. – diz Mattia rindo também.
- Engraçados. Espero sobreviver nessas horas do seu lado.
- Você já sobreviveu antes, por que não ia sobreviver agora?
- Porque antes estava te conhecendo e agora estamos trabalhando.
- Vocês vão dá trabalho. – diz Meyer rindo baixinho.
Saio da sala na frente e Mattia vem atrás deixando Senhor Meyer em sua sala. Decidimos que vamos no carro de Mattia até um dos locais dos assassinatos. Entramos no elevador que está vazio. Escuto a respiração alta de Mattia. Ele toca meu braço me fazendo olhá-lo.
- Está com raiva de mim? – ele pergunta.
- Raiva? Por quê estaria?
- Talvez porque me viu com outra mulher.
- Está insinuando que estou com ciúmes?
- Não sei Angel. Me diga você.
- Mattia quero deixar bem claro que separo minha vida pessoal da profissional. Nunca sentiria ciúmes de você, principalmente no meio do meu trabalho. Com quem você sai ou não, não é da minha conta.
- Eu entendo Angel. Me desculpe. Queria me desculpar pela aquela noite também.
- Por estar beijando? Mattia, você tem 30 anos, você não precisa se preocupar com o que os outros vão achar.
- Não me preocupo. Só estou me preocupando com o que você acha. – ele diz engolindo em seco.
Olho para ele e sinto uma corrente forte ser ligada entre nós. O elevador chega na garagem e eu saio de lá como se nada tivesse acabado de acontecer. Por que nada aconteceu exatamente né?
Mattia abre a porta do carro me fazendo entrar e entra também. Uma tensão se instala no ar. Como posso me sentir conectada com esse homem do meu lado sendo que mal o conheço? Deve ser porque há anos não sinto isso por ninguém.
- Quer começar por onde? – pergunta Mattia me olhando dentro do carro.
- Separei umas coisas importantes. – digo tirando meu caderno da bolsa – Acho que deveríamos começar indo ao local aonde foi achado o corpo de Brooke Park.
- Tudo bem. Por quê quer começar por ela?
- Era a mais nova das jovens.
- Vamos. Ótimo trabalho, aliás. – diz olhando as minhas anotações.
- Obrigada.
Mattia liga o carro e vamos ao local.
Brooke Park. 20 anos. Achada numa rua deserta sem saída. A polícia fazia ronda por perto e entraram nessa rua porque era aonde deixavam restos de maconha, para a surpresa deles acharam um corpo sem vida. O bairro é pequeno, todos estão assustados com o acontecimento. Brooke morava em um apartamento perto dali que dividia com outras garotas.
Quando chegamos ao local vemos que a rua está interditada com faixas da polícia para pessoas curiosas não entrarem. Passamos por debaixo delas e começo a observar. Sou boa nisso, observo com um pouco mais de atenção e descubro coisas. Sou chamada em alguns casos por ter esse dom!?
Mattia me entrega luvas e coloca as também. Ele fica abaixado observado por outro ângulo. As garotas eram tão jovens, nem conseguiram terminar a faculdade, comemorar com a família. Em um minuto elas não estavam mais aqui.
No fundo da rua tem uma lixeira grande vermelha, chego perto e observo. Arrasto a lixeira do lugar e peço a ajuda de Mattia; Debaixo dela, no chão encontro um broche da faculdade. Coloco dentro do saco de provas e deixo para olhar melhor no escritório. Mattia acha fios de cabelo e também coloca em outro saco.
Passamos uma quatro horas no local e começo a sentir fome. Está na hora de comer algo. Fico em pé porque estava agachada observando a parede.
- Acho que preciso comer. – digo para Mattia.
- Eu também. – ele diz sorrindo.
Caminhamos até aonde seu carro estava estacionado. Entramos cansados.
- Quer comer numa lanchonete? – pergunto olhando para a janela.
- Adoraria. Tem algo em mente? – diz Mattia.
- Em San Diego tem uma ótima lanchonete. E preciso respirar um pouco um ar diferente.
- Entendo. Esse caso é complicado.
- Totalmente. Não consigo nem pensar direito.
- Comida sempre ajuda. – diz Mattia dirigindo sorrindo para mim.
Sr. Ferrari, Mattia, com toda certeza é a pessoa que não esperava. Porém, tenho que odiá-lo no trabalho. Pelo menos para o meu bem. Se não, daqui a pouco estarei babando na sua beleza e inteligência. Deveria ser proibido uma pessoa ser perfeita desse jeito.
Chegamos na lanchonete, nos sentamos em uma mesa do lado da janela e fazemos nossos pedidos para o garçom.
- Boa tarde, o que querem? – pergunta Ryan todo profissional.
- Quero um X-bacon com batata-frita e Coca-Cola, por favor. - diz Mattia.
- Eu quero um Cheseeburguer duplo bacon, batata-frita e milk-shake, por favor Ryan.
- Ah Angel, você sempre pede isso. Anotado. – diz ele saindo com nossos pedidos.
Ryan tem 29 anos, cabelo loiro castanho, olhos castanhos, pele parda igual a minha e muitos músculos. O conheço há bastante tempo, sempre conversamos quando venho aqui sozinha comer. Ele é brasileiro e decidiu se mudar quando tinha 20 anos, deixando tudo para trás. É uma ótima pessoa, principalmente para conversar numa noite de semana. Ryan, é o tipo de pessoa que você encontraria em um bar falando sobre a vida, ele tem filosofias maravilhosas sobre ela e está juntando dinheiro para ser professor de filosofia.
- Você.. o conhece? – pergunta Mattia.
- É claro. Venho quase sempre aqui.
- Deve ser importante lanchar aqui.
- Muito. Aqui tem cheirinho de algo que já tive.
- Como o quê?
- Eu não sei. Talvez seja porque a lanchonete é brasileira e minha família também.
- Brasileira? Uau. Já fui ao Brasil. Acho as praias maravilhosas.
- As do nordeste e do Rio de Janeiro são perfeitas.
- Concordo. Nasceu lá?
- Sim. Mas nos mudamos para cá antes de completar três anos.
- Gosta daqui?
- Por um tempo foi difícil, mas amadureci e passou.
- Toda mudança é difícil Angel.
Sim Mattia, mas a época difícil não foi por causa da mudança, penso.
Nossos lanches chegam à mesa e comemos quietos. Não digo nada nem ele. Mil coisas se passam na minha mente, o passado pode ser mais complicado do que imaginamos, o presente pode ser mais difícil de superar e o futuro mais inseguro.
Olho para o homem que está na minha frente, terminando de comer quieto, fico nervosa por estar tendo um momento tão.. normal com ele. Sua profissão é difícil e a minha complicada. Mas já passamos por experiências no trabalho parecidas.
Ele me olha como se estivesse tentando ler o que penso. Não faz isso, sua imagem sobre mim vai mudar completamente.
- Mattia. – digo – Qual seu gênero musical preferido?
- Hã.. Rock. – ele diz parando de me olhar.
- Ótimo gosto musical. – digo sorrindo – O meu também.
- Colocarei na lista de coisas em comum com você.
- Lista? Sério? Me senti uma adolescente agora.
- Sinceramente, acho que nem adolescente fazem isso.
- Com certeza não. Eles fazem cartinhas de amor.
- Você já fez alguma na adolescência?
- Sim. Sim. Eu tinha vários garotos de quem gostava. Não era correspondido, claro. E você?
- Nunca escrevi nenhuma. – ele ri – Achava profundo demais escrever cartas de amor sendo que era jovem e não sabia o que era esse sentimento.
- Certo. Na adolescência você não pensa no que é amor. Todos falam que estão amando e você só quer sentir o mesmo. Já recebeu cartinhas de amor Mattia?
- Já sim. De uma garota que eu gostava também. Mas nunca deu em nada.
- Que pena.
- É. Já amou Angel?
Engulo em seco. Amor.. Pensei que já tivesse conhecido ele. Mas estava errada.
- Não. Nunca amei. Você já?
- Sim.
Algo passa pelos olhos de Mattia, mas não consigo perceber o que é.
- É a loira da boate?
- Emma? Não. Não foi ela.
- Mas você gosta dela?
Por quê estou perguntando isso?
- Gosto. Faz um tempo que estamos juntos.
- Fico feliz.
Mattia me olha e o encaro também. Ele já tem alguém, não preciso passar por isso de novo. Nos levantamos para irmos embora.
- Já volto. – digo para ele.
Vou até Ryan como faço toda vez e pergunto como ele está. Ryan vive em Madrid sozinho o que é corajoso de sua parte. Poucos viveriam sozinhos em um país diferente.
- Sabe que posso te ajudar com a faculdade. Ou falando com o diretor. – digo.
- Eu sei. Agradeço. Mas você já é bastante ocupada com seu trabalho.
- Não venha me dizer que vai me atrapalhar. Você sabe que não vai.
- Vou pensar Angel. Te ligo quando decidir.
- Ok Ryan. Estarei esperando uma resposta positiva.
Nos abraçamos e sigo para o carro, aonde Mattia está.
O caminho inteiro é um completo silêncio. Só escuto o barulho da cidade agitada do lado de fora das janelas do carro. Não me importo mais com os arrepios que sinto, nem com essa corrente que liga toda vez que fico perto dele. Algo parece ter ficado na lanchonete na hora que ele disse que gostava dela.
Ela está aqui com ele. O relacionamento deles é sério.
E não vai ser eu que vou destruir. Igual meu pai fez.
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