CAPÍTULO 26

Acordo na manhã seguinte com meu celular tocando desesperadamente. Resmungo baixinho por ser acordada e atendo a ligação do número desconhecido.

- Angel Castillo? - pergunta uma voz feminina do outro lado da linha.

- Sim. Quem está falando? - pergunto sonolenta.

- Senhorita, aqui é a enfermeira Torres. O senhor Ryan Sales sofreu um acidente. Seu número estava como contato de emergência.

Assim que ouço a enfermeira falar, desperto rapidamente levantando-me da cama.

- Como assim? Ele está bem? Por favor, que ele esteja bem. - digo mais para mim do que para a mulher que estou conversando.

- A senhorita precisa vir logo. Vou mandar o endereço.

Troco de roupa com os pensamentos transbordando em minha mente. Chego ao hospital em minutos depois de ter passado vários semáforos fechados. Não avisei ninguém para onde estava indo e nem a Mattia sobre o motivo de me atrasar para o serviço.

Pergunto na recepção pela enfermeira Torres e em seguida ela aparece vestindo seu uniforme e me chamando para acompanha-la.
Chegamos no terceiro andar do quarto 13 e quando entro me deparo com Ryan deitado na cama ligado a várias máquinas.

- Ele ficará bem? - questiono angustiada.

- Não sabemos senhorita. O caso dele é grave. Perdeu muito sangue.

- Como aconteceu?

- Ryan bateu em outros dois carros. Apenas ele ficou com ferimentos graves. Ele não consegue falar muito, mas fique ao seu lado. Deixarei vocês sozinhos. Qualquer coisa pode me chamar. - diz dando um sorriso caridoso e saindo da sala.

Sua frase parecia mais como um pedido para aproveitar os últimos minutos com Ryan. Me aproximo da cama e noto seus terríveis ferimentos. Um calafrio atravessa meu corpo. Toco sua mão que está com uma agulha em sua veia. Ele faz um movimento fraco com os dedos.

- Ryan, sou eu. - digo baixinho - Você vai ficar bem. Eu estou aqui, ok?

Ele abre devagar seus olhos e os mira em mim.

- Você é forte. Não desista. Você tem seus lindos sonhos para realizar.

Ryan tosse um pouco e tenta falar, mas não consigo entender nada.

- Não faça muita força na voz. Só tente descansar.

Continuo segurando sua mão e ficamos em silêncio enquanto ele fica me olhando. A máquina ligada a ele começa apitar me fazendo levar um susto. Seus batimentos cardíacos estão diminuindo. E sinto um aperto em meu coração. Ele não pode desistir.

Grito pela enfermeira e lágrimas rolam pelo meu rosto. Meu amigo.. O cara que me beijou depois de tanto tempo.. Está me deixando. Sua mão aperta a minha um pouco mais forte chamando minha atenção. Um sussurro baixinho sai dos seus lábios.

- Eu te amo Angel. - Ryan diz fechando seus olhos.

E assim ele se foi completamente da minha vida.

                               ***

A perda é uma das coisas mais complicadas da vida. As pessoas reagem diferente ao luto. Muitas sentem medo de morrer. Outras sentem medo de perder as pessoas que ama. Me encaixo na segunda opção.

Quando meu avô faleceu pensei que nunca mais teria uma vida feliz porque eu era feliz com ele. Mas com o tempo consegui superar. Nós nunca esquecemos das pessoas que amamos, somente aprendemos a viver sem a presença delas na nossa rotina.

A mesma coisa com o Ryan. O conheci no emprego que me ajudou a realizar meu sonho. Sua amizade era importante para mim, mesmo que só nos encontrássemos na lanchonete. Seu velório teve poucas pessoas e uma vez ele tinha tido que gostaria de ser cremado. Fiz o que ele me disse naquela época. Meus amigos foram comigo jogar as cinzas de Ryan em seu lugar favorito. Aquele lugar aonde ele declarou seu amor por mim.

Scott e Mattia estavam conosco nos apoiando. E saber que Mattia estava ali me fazia ficar mais forte. Naquele dia não trabalhei e passei o dia em casa com Ragnar. No segundo dia também não trabalhei e Mattia apareceu lá em casa apenas para me fazer companhia.

Terceiro e quarto dia Sabina e Dylan vieram me ver e chorei lembrando de Ryan. No quinto dia Mattia apareceu novamente com uma comida que tinha feito, ficamos rindo por não estar muito boa e sua presença me alegrava. No sexto dia fiquei deitada com Ragnar.

No sétimo dia Mattia mandou uma mensagem dizendo que Ryan gostaria que eu conseguisse terminar o caso. Chorei por saber que era verdade. No oitavo dia voltei ao serviço e dei um selinho em Mattia. Me sentia mal por estar apaixonada por ele e Ryan ter falecido.

                               ***

-Ótimo trabalho. - Senhor Finn diz em sua sala depois de ter analisado as nossas anotações - Angel, se você precisar de mais um pouco de tempo, vamos entender. Sua saúde mental é mais importante do que esse caso.

- Obrigada senhor. Mas acho que estou pronta para continuar. - digo sorrindo.

- Certo. Quem é o próximo suspeito?

- Josh Bernardes. - responde Mattia.

- Ok. Perguntem ao diretor da faculdade. E vigiem Josh Bernardes.

- Sim, senhor.

- Façam suas anotações e podem se retirar. - fala Finn nos olhando.

Saímos de sua sala e vamos para a faculdade. Parece que voltou ao normal. Os alunos andam pelo campus como se as jovens nem estivessem estudado aqui. Batemos na porta do diretor Morales.

- Podem entrar. - ele logo responde. - Sejam bem-vindos novamente.

- Obrigada. - agradecemos.

- No que posso ajudar vocês? - pergunta sentado de sua mesa.

- Queremos saber aonde está Josh Bernardes. - digo sendo direta.

- Josh? Do grupo de apoio? Ele não aparece na faculdade há bastante tempo. Está internado no hospital São Francisco.

- Na cidade vizinha? - pergunta Mattia.

- Esse mesmo.

- Mas não é um hospital psiquiátrico?

- Sim. - responde o diretor - Vocês vão visitá-lo?

- Vamos nesse momento. - respondo saindo de sua sala.

Ouço Mattia agradecer e vim atrás de mim. Saímos da faculdade e entramos no carro, estamos entusiasmados com essa longa viagem. Josh talvez seja o assassino das vítimas e poderemos finalmente terminar esse caso. Ligo o carro enquanto Mattia coloca o cinto de segurança, pegaremos o responsável.

Mattia segura minha mão durante a viagem fazendo carinho, sorrio tímida pelos gestos de amor, não vejo a hora de poder nos assumir publicamente. Até lá ficaremos em segredo. Sempre foi assim, um amor proibido.

Dois corações batendo um pelo outro e um assassino à solta. Não podemos ter nosso final feliz se as famílias das vítimas não estão em paz igual a nós. Quando tudo se resolver, vou poder segurar sua mão em público, beijá-lo sem ter medo de ser julgada por Ryan ter falecido, ir em shows com ele sem sonhar com o assassino, ficar em casa em paz.

                               ***

Estaciono o carro ao lado do hospital São Francisco. Meu coração começa a bater descontroladamente por estar ansiosa, Mattia me encara lendo meus pensamentos e pega minha mão.

Estamos em outra cidade aqui podemos fazer essas coisas de casal, penso.

Entramos no hospital indo em direção a recepção. Estou acostumada com esses lugares, mas esse é diferente. Pode ter muita verdade aqui dentro nos esperando.

- Gostaríamos de visitar o paciente Josh Bernardes. - diz Mattia para a recepcionista.

A mulher ruiva roda em sua cadeira em nossa direção e encara Mattia descaradamente. Um pequeno traço de ciúmes sobe pelo meu corpo, mas ignoro as investidas dela.

- Quem gostaria? - pergunta ela sorrindo.

- Eu e minha namorada. Somos da polícia. - diz Mattia mostrando seu distintivo.

Namorada.. Sorrio mordendo meus lábios satisfeita.

- Ah, sim. Claro. - a recepcionista responde nervosa - Qual é o paciente mesmo?

- Josh Bernardes. - confirmo.

- Vou chamar a enfermeira para falar com vocês.

- Algum problema com ele? - pergunto.

- Já volto. - diz saindo de perto.

Ficamos alguns minutos esperando elas voltarem. Uma enfermeira idosa nos acompanha até a ala em que Josh se encontra. Paramos na frente de uma porta aonde policiais vigiam o quarto; o hospital todo é cercado com câmeras e policiais, algo normal por se tratar de um hospital psiquiátrico.

- Vocês não vão poder falar com o Josh. - fala a enfermeira para nós.

- Por que não? Viemos aqui para isso. - digo confusa.

- Querida, Josh Bernardes se encontra em coma. - diz ela.

Encaro-a chocada com o que nos foi dito. Se Josh Bernardes está em coma, quem é o assassino?

- Como assim? - pergunta Mattia tão confuso quanto eu.

- Josh se tratava conosco em outro hospital há um ano, porém só alguns meses atrás que foi internado. Ele entrou em coma por uso excessivo do álcool. Desde então nunca mais abriu seus olhos ou se movimentou.

- Meu Deus. Mas ele está bem? - pergunto preocupada com o homem atrás da porta.

- Sim. Esperamos que ele se recupere em breve.

- Podemos vê-lo? - pergunta Mattia.

A enfermeira concorda com a cabeça e abre a porta, somos recebidos por um lugar silencioso e pálido, apenas os barulhos dos equipamentos dão som ao ambiente. Josh está deitado em sua cama, pálido como as paredes e quieto como o nada. Preso em seu leito tem uma placa escrito: "Josh Bernardes".

Minha respiração fica pesada e sinto que preciso de ar. Puxo a mão de Mattia para perto da minha e seu corpo grande me abraça me deixando segura.

Chegamos a lugar nenhum. Apenas em um homem lutando pela vida.

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