CAPÍTULO 24

Já fazem três dias que estamos vigiando o Sr. Calliman e nada suspeito aconteceu. Ele tem ido dar aulas, voltado para casa, ido na academia. Rotina normal de qualquer pessoa. Não tem mais se encontrado com suas alunas, só tem ido para casa encontrar sua esposa.

Depois desses três dias observando cada passo dele, decidimos o descartar como suspeito. Mas não significa que não foi ele que matou as jovens, apenas que não temos provas suficientes para julgá-lo por isso.

Mattia parece estar ficando mais desanimado em relação ao caso porque nunca conseguimos chegar em algum lugar. Sempre damos de cara em alguma porta falsa que achamos que nos levaria para o caminho certo.

Não posso desanimar, não posso desistir. São jovens, são meninas, eram sobreviventes que foram mortas por esse psicopata doentio. Queria saber qual foram seus últimos pensamentos, o que estavam pensando quando perceberam que não sairiam vivas das mãos do assassino.

Preciso encontrar esse cara para dar um fim nesse caso, para os familiares e amigos das vítimas conseguirem dormir bem a noite sabendo que o responsável por tudo está preso. Essa história precisa de um ponto final, nós vamos colocar um ponto final.

Continuo olhando para fora da janela do carro aonde observo o Sr. Calliman entrar no mercado. Essa rotina simples dele me faz pensar que o assassino pode ser qualquer um entre nós.

Um psicopata nunca tem cara de psicopata. Igual a homens tóxicos que na maioria das vezes são os mais bonitos.

Essas pessoas tem o dom de conseguir fingir muito bem, me sinto desafiada por esses casos, por essas pessoas. Quando finalizarmos tudo, será o dia mais feliz da minha vida porque vou estar em paz comigo mesma e com as jovens.

O Sr. Calliman sai do mercado com as compras e volta para seu carro. Sinto um leve desapontamento dentro de mim, mas o afasto. Nada vai me fazer desistir de encontrar o responsável por esses crimes.

Olho para Mattia e percebo que ele pensa o mesmo do que eu. Estamos juntos até o fim desse caso. Estamos aqui. Juntos para resolver cada pista.

- Acho que não vamos conseguir nada de novo. – digo por fim.

- Concordo Angel. Mas não vamos desistir, ok?

- Claro Mattia. Vamos achar esse assassino nem que precisemos rodar Madrid inteira.

- Eu gosto de você assim. Disposta. – Mattia diz me fazendo ficar sem graça.

- Eu gosto de você assim. Lindo. – digo provocando-o.

- Angel.. Você não é uma boa moça. Diz que não ficará comigo enquanto estiver namorando, mas vive me jogando indiretas no meio do trabalho.

- Não, querido. Joguei uma direta mesma. Sei que não deveria.

- Não, não deveria. É um jogo perigoso.

- Gosto de perigo. Não sabia?

O ar dentro do carro fica tenso e provocativo. Sorrio por notar que Mattia está me encarando intensamente como todas as vezes que acontece esses nossos jogos.

Não posso fazer nada se sou atraída por ele e por seu charme de bom policial. Mattia me faz sentir todas as coisas que um dia pensei que não sentiria novamente e se só poderei senti-las agora nesse sentimento proibido, estarei disposta a me arriscar.

Porque não é todos os dias que sentimentos como esses batem em sua porta. Ou não é todo dia que chove. Dessa vez não irei abrir meu guarda-chuva. Deixarei a chuva cair em mim. Me arriscarei nessa nova sensação incrível que não podemos assumir.

Sr. Calliman vai embora e leva com ele nossa última chance de provar que talvez fosse o assassino.

Esta ficando tarde e hoje teremos a comemoração no departamento, chamei Sabina, Scott e Dylan para irem comigo. Scott chegará um pouco mais tarde, mas irá se encontrar com Sabina lá. Preferi não chamar Ryan para essa reunião, não quero parecer infantil por pensarem que estou tentando provocar Mattia.

Não estou mais na idade de tentar substituir homens na minha vida. Ou fazer joguinhos para causar ciúmes. Somos sinceros um com o outro. Mattia sabe dos meus sentimentos e sabe que nunca me expressei abertamente sobre isso por conta do seu relacionamento.

Mas no fundo, mesmo não querendo admitir, ele sabe. Sabe o que sinto quando olho para ele. O que sinto quando estamos perto um do outro. E quando suas mãos fortes encostam em meu rosto. Pequenos gestos e momentos que fazem perceber que a atração está lá.

Sua atração por mim me faz sentir que estou nas nuvens. Fico pensando porque ele demorou tanto para aparecer em minha vida e de alguma forma mudar tudo. Sempre digo que o caso está mudando minha rotina por me identificar com as jovens.

Mas, na verdade, Mattia é uma parte dessa mudança. Ele transformou meu presente e o quero no meu futuro.

- Vou te deixar em casa. – Mattia fala me tirando dos devaneios que estava tendo em minha mente.

- Sim, por favor. – respondo escutando-o ligar o carro.

                                      ***

Desde a última vez não recebo nada do assassino. Primeiro as flores, depois a caixa e ele sumiu. Fiquei esperando algo aparecer em meu apartamento, mas nada aconteceu. Silêncio. Silêncio.
Fico me perguntando se ele não esperava que mostrasse a caixa para o Sr. Finn. Se ele pensava que guardaria essas informações para mim. Espero não tê-lo feito desistir porque ele me enviar coisas, no fundo, mostra que confia em mim.

Parece patético falar de querer a confiança de um assassino, mas só saberei realmente o que levou-o a matar essas jovens, se me aproximar. Posso tentar pensar igual a ele, em suas atitudes e comportamento no dia a dia, porém não saberei se estou certa.

Apenas ele poderá me dizer o motivo para essas mortes terem acontecido. Raiva? Vingança? Amor? Ou simplesmente prazer em ver sangue?

Tomo um banho para começar a me arrumar. Visto um vestido preto longo com decote princesa e uma fenda na perna esquerda desde encima da coxa. Coloco um salto branco com prata e faço uma maquiagem forte preta com delineado e um batom vermelho sangue nos lábios.

Quando abro a porta para ir em direção ao elevador, vejo um envelope no chão. Abaixo-me para pegá-lo. Sinto uma adrenalina percorrer meu corpo por saber que pode ser algo relacionado ao assassino.

Abro o envelope e com letras digitalizadas leio o texto que está escrito. Encaro a folha nas minhas mãos por alguns segundos tentando racionar o que pode estar acontecendo. Quando eu achava que estava indo pelo caminho certo, novamente me vejo em outros problemas.

“Dra. Angel,
Não fui eu que te enviei as flores. Por que faria isso? Achei melhor deixar claro. Estou lidando com algum outro concorrente? Um dia vamos nos encontrar e te direi tudo o que sei.
Ass.: Seu assassino favorito.”

Leio mais uma vez cada palavra descrita e consigo decifrar algumas coisas. Primeiro, ele tem um ar de superioridade, o que já imaginava vindo de um assassino. Segundo, outra pessoa está me mandando presente. Quem? Terceiro, como ele soube das flores se não as enviou?

Guardo o envelope em minha mini bolsa prata e vou para a festa de comemoração. Ficar no meu apartamento não está mais sendo seguro. Ele fez questão de não deixar a carta na recepção e colocá-la diretamente no meu apartamento.

Encontro Sabina e Dylan na frente do departamento. Os dois impecáveis em suas vestimentas. Sabina está com um vestido branco curto e suas tranças soltas com uma mecha rosa. Dylan está vestindo um smoke preto que fica perfeitamente em seu corpo malhado.

Vamos para a área de recreação aonde fica um enorme pátio ao ar livre. Luzes douradas estão colocadas em todo lugar. A pista de dança no centro está lotada com pessoas se divertindo. Bebidas sendo servidas pelos garçons e músicas sendo tocadas em toda área. O ar puro e frio me traz uma sensação boa.

Vou cumprimentar o Sr. Finn e sua esposa Helen.

- Boa noite filha. – ele diz me abraçando.

- Boa noite Finn. Como vocês estão?
Abraço Helen também.

- Que saudades querida. – ela diz me dando beijinhos na bochecha.

- Também senti saudades. A vida está uma correria. – respondo.

- Imagino. Não se preocupe. – ela toca minha mão – Quando terminar o caso, vamos marcar um almoço lá em casa de novo.

- Eu adoraria. Precisamos colocar nossas fofocas em dia. – digo rindo lembrando da última vez que fui em sua casa.

- Mulheres. – Sr. Finn fala sorrindo.

- Não podemos fazer nada se tanta coisa acontece, amor. – Helen diz colocando seus braços envolta de Finn.

Os conheço há bastante tempo e sempre foi notável o amor e carinho que sentem um pelo outro. Finn sempre falou de sua esposa com brilhos nos olhos. Sempre quis um amor assim.

- Vou deixar vocês aproveitarem, mais tarde venho aqui. – digo deixando-os à vontade.

Sabina e Dylan já estão na pista de dança. Rindo e dançando. A alegria contagiante deles me faz sorrir mesmo distante.

Olho ao redor e vejo vindo em minha direção Mattia e Emma. Se pensava que eu e Ryan parecíamos algum casal de filme, era porque não os tinha visto juntos ainda. Com elegância eles veem até mim.

- Boa noite Angel. – diz Mattia me abraçando.

Seu simples toque faz meu corpo formigar.

- Boa noite Mattia. – respondo me afastando de seu abraço.

Espero ele me apresentar para Emma, a loira maravilhosa do seu lado.

- Angel, essa é Emma, minha namorada. Emma, essa é Angel, minha parceira. – ele diz calmamente.

- Prazer em finalmente conhecê-la. – digo a abraçando.

- Digo o mesmo. Mattia falou tanto de você. – ela responde sinceramente retribuindo meu abraço.

Olho para seu rosto para ver se noto algum ciúme, mas tudo o que reparo é na sua sinceridade e carisma.

- Como está indo o trabalho? Mattia tem dito que está complicado. – ela fala sorrindo.

- Nem me fala. Complicado é pouco. – falo e me lembro do envelope que está em minha bolsa – Mas hoje estamos aqui para nos divertir. – sorrio.

- Claro que sim. Querem uma bebida? – Emma nos oferece gentilmente.

- Sim, por favor. – respondo agradecendo.

- Obrigada, querida. – diz Mattia beijando sua bochecha.

Emma se afasta nos deixando sozinhos. Arrumo a fenda do meu vestido que estava dobrando, chamando a atenção do olhar de Mattia para minhas pernas. Amo como esse vestido modela cada curva do meu corpo e destaca minhas pernas e ombros delicadamente.

- Pensava que você nunca poderia superar sua beleza, mas estava enganado. Você está angelical esta noite. – Mattia confessou sussurrando.

- Obrigada. Você está magnífico esta noite. – digo sorrindo.

- O que vocês estão conversando? – pergunta Emma ao chegar até nós.

Ela me entrega uma taça de champagne e outra para Mattia. Agradeço novamente por sua gentileza.

- Estava falando em como Angel está bonita nesse vestido. – Mattia admite.

Levo um susto com sua confissão e paro a taça a centímetros dos meus lábios encarando Mattia confusa. Emma sorri e concorda.

- Você está mesmo muito linda. – Emma responde dando um gole em sua bebida.

- Muito obrigada. Você que está encantadora. – respondo bebendo também.

Ficamos mais alguns minutos conversando sobre nossos gostos musicais e hobbys. Não vejo problema em estar me dando bem com Emma, essas rivalidades femininas são coisas de pessoas sem maturidade. Fico feliz que ela também pensa assim e não me tratou mal em nenhum momento que estávamos conversando juntos. Sempre me incluiu na conversa e pedia minha opinião sobre os assuntos falados.

- Acho que vou dançar, dar um pouco de espaço para vocês. – falo depois que termino de beber minha taça.

- Tem certeza? Não tem problema em querer ficar conversando. – Emma responde.

- Obrigada. Mas vou encontrar meus amigos também. – digo já saindo de perto deles.

Caminho para a pista de dança aonde Sabina está com Dylan. O céu limpo está agradável e estrelado. Incrível para uma festa ao ar livre. Sorrio para meus amigos e começo a dançar com eles. Meu corpo se conecta com a música me fazendo querer dançar ainda mais. Continuamos dançando sem dizer nada, só aproveitando o clima.

Uma parte de mim gostaria de estar conversando com Mattia, de estar do seu lado. A outra parte sabe que não posso fazer isso com Emma. Eles estão aqui juntos. Não posso ficar grudada nele a noite toda.

- O que foi aquilo? – pergunta Sabina curiosa ainda dançando.

Sei o que ela está se referindo.

- Não sei amiga. – respondo – Ela me tratou tão bem que gostei de conversar com eles.

- Ela não sentiu ciúmes? – pergunta Dylan ao nosso lado.

- Se sentiu, já não sei. Mas ela não demonstrou nada.

- Será que ela não repara no jeito que ele te olha? – Sabina sussurra.

- Ele nem está me olhando. – retruco.

- Então por que ele está vindo na nossa direção? – cochicha Dylan.

- Sozinho? – pergunto entre os lábios.

Sabina e Dylan balançam a cabeça confirmando. Viro-me e o vejo perfeitamente belo vindo em minha direção. Queria poder tocar em seu rosto e acariciar delicadamente.

- Angel. – ele diz rouco.

- Mattia?

- Deveria ser proibido existir pessoas tão perfeitas quanto você.

Sorrio e o encaro.

- Deveria ser proibido flertar sendo comprometido. – respondo.

- Tento não flertar com você, mas algo sempre me puxa para perto e as palavras saem da minha boca antes que perceba.

Não sei o que está fazendo mais barulho: a música ou meu coração.

- Lembra quando eu disse que estávamos conectados pelo caso? – pergunto para ele.

- Sim. Lembro.

Me aproximo mais um pouco.

- Eu menti. Estamos conectados pela atração. – sussurro.

- Atração? Vai continuar chamando o que temos de atração? – Mattia pergunta segurando meu braço.

- Fala baixo. – censuro-o – Emma pode ouvir e não temos nada.

As pessoas ao nosso redor continuam dançando enquanto estamos tendo nossa pequena conversa. Começa uma outra música, mas dessa vez lenta. Noto que Sabina está dançando com Scott, que provavelmente chegou em alguma hora que estava conversando com Mattia. Dylan está dançando com uma policial. Olho para Mattia e vejo o seu amor por mim bem claro em seus olhos.

- Quer dançar Angel? – ele pergunta me oferecendo sua mão.

Aceito colocando minha mão direita encima da sua. Sua mão me puxa para mais perto fazendo nossos corpos se encontrarem. Seguro seu pescoço e dançamos lentamente como se só existíssemos ali. Cada nota musical era um segundo a menos em seus braços. Faço carinhos suaves em seu cabelo e sua mão desce um pouco mais em minha cintura.

Não desvíamos o olhar em momento nenhum da dança. Minha respiração fica pesada por estar perto demais de Mattia e seu hálito quente toca meu rosto.

- Preciso contar uma coisa. – ele fala olhando profundamente em meus olhos.

- O que foi? – pergunto ainda acariciando seu cabelo.

- Terminei com Emma. – sussurra em meu ouvido.

Arrepios atravessam meu corpo, mas não consigo entender o que ele acabou de dizer. O encaro com uma expressão confusa.

- Estou solteiro Angel. – sua voz rouca trás mais arrepios em mim.

Continuo olhando-o sem acreditar. Diversas vezes pensei em Mattia me falando isso, mas nunca imaginei que realmente aconteceria. Minhas mãos vão para seu rosto e acaricio-o como se fosse meu. Mattia sorri para mim como se entendesse o que estou pensando.

Seu sorriso brilhante está ainda mais perfeito quando da vez que nos conhecemos. E com uma pequena frase pronunciada de seus lábios meu mundo foi virado de cabeça para baixo.

 
 

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