CAPÍTULO 22
O primeiro dia da semana chegou e com ela todas as preocupações sobre o caso. O Sr. Finn pela manhã ligou dizendo que está ansioso pelas anotações que faremos da Sra. Calliman e seu marido. Estamos nesse caso há semanas e dessa vez estamos chegando em algum lugar, abro um lindo sorriso por pensar que em breve teremos o assassino em nossas mãos.
Cinco jovens foram assassinadas e não vou conseguir dormir até finalizar essa investigação. Se tornou mais do que um caso importante e que ganharia ótimas recomendações, acabou tornando uma parte de mim.
Toda noite quando coloco minha cabeça no travesseiro fico imaginando o que aconteceria se uma dessas garotas ainda estivesse viva. Seria totalmente diferente. Entretanto, temos que continuar correndo atrás do culpado.
Passei a noite colocando em ordem meus pensamentos, principalmente os amorosos. Acredito que o melhor a se fazer no momento é finalizar o caso e depois me envolver romanticamente. Não seria certo com nenhum de nós, muita coisa está em jogo.
Se Ryan gosta de mim irá entender o que estou passando e deixará que esse caso seja minha prioridade. Se Mattia se importa comigo e Emma irá compreender que seus sentimentos precisam estar de lado. Afinal de contas sempre foquei na minha vida profissional, por que agora seria diferente?
Ainda não sei quem me mandou as lindas flores que estão encima do meu balcão, mas pensarei nisso mais tarde quando chegar em casa. Agora irei me encontrar com Mattia.
Estaciono meu carro na esquina que combinei de encontrá-lo. Nunca negarei que sinto algo por ele, porém as jovens vem em primeiro lugar. Inclusive Mattia já percebeu que gosto dele mais do que transpareço.
- Bom dia Angel. – diz Mattia entrando no carro.
- Bom dia Mattia. Como foi seu final de semana? – pergunto olhando-o.
- Passei com Emma. A ajudei com uns trabalhos. – responde diretamente.
- Ela faz faculdade? – pergunto querendo saber mais de sua namorada.
- Não. Ela é professora. Formada em literatura.
- Que interessante. Deve ser uma ótima professora.
- Ela é. – Mattia responde – E você? O que fez?
- Fiquei aproveitando minha companhia. Cuidei da minha saúde mental e física. – respondo ligando o carro.
- Eu aprecio seu jeito de se cuidar. Tendo amor próprio. As mulheres deveriam ser mais assim.
- Obrigada. Dou conselhos para minhas pacientes e tem alguns que gosto de seguir.
- Perfeito. Quando o amor bater, você estará pronta para abrir a porta. – ele diz olhando para o vidro do carro.
Também olho para a janela e pingos pequenos de chuva começam a cair. O clima ainda está agradável, mas provavelmente fará frio mais tarde.
- Depende do amor. – digo quebrando o silêncio entre nós e saindo da onde estava estacionada.
- O que? – pergunta Mattia confuso.
- O amor. Depende de quando ele baterá em minha porta. As vezes ele aparece pela manhã, mas apenas a tarde percebo que não é para mim. Ou as vezes nunca aparecerá mais porque não estava disposta abrir a porta quando veio.
- O que está tentando dizer Angel?
- Estou dizendo que achei que o amor já estivesse aparecido. Me enganei. Porque eu nunca amei e com certeza nunca fui amada. – respondo lembrando-me de Xavier.
- O amor aparece quando menos esperamos. – ele diz olhando para mim.
- Como no seu caso? Emma apareceu quando você menos esperava encontrar alguém? – pergunto nervosa.
- Não. Por que acha que amo Emma? O amor é mais complexo Angel.
- Por que estão juntos se não se amam?
- Porque temos um passado e precisamos resolvê-lo.
- Nunca amou Mattia? – pergunto tentando prestar atenção na avenida em minha frente.
- Eu falei que o amor aparece quando menos esperamos. Talvez um dia você entenda.
Puxo minha respiração com força e a solto devagar. Percebo que essas poucas palavras que ele falou foram suficientes para dizer que me ama. O amor apareceu de repente para ele e para mim. Não esperava acabar me apaixonando pelo meu parceiro. Não esperava me apaixonar novamente depois do que me aconteceu na faculdade. Porém, o amor sempre nos surpreende.
Fui surpreendida quando esse homem apareceu na minha frente, não imaginava que passaríamos por tantas coisas, muito menos imaginaria que ele fosse comprometido. O amor gosta de nos pregar peças.
Fazemos o caminho para a casa da Sra. Calliman em silêncio. Escutamos apenas a chuva e o vento batendo contra o carro. Mattia não falou mais nada depois de ter dito um pouco mais do que o necessário. Decidi também permanecer quieta.
Paro o carro na frente de uma casa grande de tijolos com o quintal todo gramado. Bato na porta duas vezes e só escutamos o cachorro latir. Bato novamente e a Sra. Calliman aparece. Bonita e elegante exatamente do jeito que a vimos numa foto.
- Bom dia. Podem entrar. – ela diz apontando para dentro de sua casa.
- Obrigada. – digo.
Eu e Mattia entramos e observamos tudo em nossa volta. As paredes estão pintadas de creme com quadros da família. Vários porta-retratos estão decorando a casa. A Sra. Calliman nos encaminha para a sala aonde nos sentamos para conversar.
- Querem chá? – pergunta com delicadeza e elegância.
- Não, obrigada. – respondemos juntos.
- Seu marido está em casa? – pergunto observando o silêncio na casa.
- Não. Hoje ele trabalha. Ele mal para em casa. – ela diz se sentando.
- Vocês estão juntos há muito tempo? – pergunto para confirmar.
- Sim. Somos casados há 13 anos, mas nos conhecemos há vida toda.
- Que lindo. - Tento manter um sorriso simpático em meu rosto – O que a senhora faz?
- Com o que trabalho? Ah querida, não trabalho há anos. Escolhi dedicar minha energia para cuidar desta casa.
Faço anotações sobre isso.
- E o seu marido? – pergunta Mattia.
- Ele sempre foi viciado em trabalho. Mas é um ótimo marido.
- A senhora acha que ele pode ter matado as jovens? – pergunto sendo direta.
- O que? – ela pergunta chocada – Ele nunca faria uma coisa dessas.
- A senhora sabe que estava sendo traída? – Mattia pergunta.
A Sra. Calliman abaixa a cabeça e mexe sem parar suas pernas. O que me faz perceber que sim, ela sabia que estava sendo traída.
- Por que continua com ele? – pergunto tentando me colocar no lugar desta mulher.
- Ele paga tudo o que quero. Vivo nesta casa linda sem precisar fazer nada. Compro o que sinto vontade. Não sei porque deveria me importar com essas coisas tendo tudo.
- A senhora prefere um casamento assim do que ter amor? – pergunta Mattia tão chocado quanto eu.
- Meu jovem, amor não é tudo. Se ele quer me trair e continuar me bancando, eu aceito. O que importa no mundo de hoje é dinheiro. – ela responde me fazendo ficar enjoada com suas palavras.
- A senhora está enganada. E um dia estará nessa casa sozinha e perceberá isso. O amor é o a única coisa que realmente importa. – rebate Mattia.
Meu coração dá pequenos saltos dentro do peito ao vê-lo defender o amor.
- Só os sortudos conhecem o amor verdadeiro.
- Eu tive essa sorte, mas Sra. Calliman, você só não tem porque não quer abrir mão do dinheiro. – Mattia responde me olhando.
Será que ele está pensando em mim?
- A senhora sabia que ele te traía com as alunas? – pergunto voltando ao Sr. Calliman.
- Com as alunas dele? Não. – ela responde sincera.
- Ele saia com as cinco jovens que foram assassinadas.
- Não acredito. – ela coloca suas mãos na boca e fica nos encarando chocada – Mas isso é motivo para ele ter matado elas?
- Não sabemos. Ele diz que nunca as machucou. Por isso viemos falar com a senhora.
- Ele é muitas coisas, mas duvido que assassino seja uma delas.
- Pode nos dizer o que ele faz no dia a dia? – pergunta Mattia anotando mais alguns detalhes.
- Claro.
A Sra. Calliman nos conta detalhadamente cada passo de seu marido. Deixando nada de fora. Anotamos e perguntamos o necessário. Depois de meia hora, vamos embora.
Fico o caminho inteiro de volta pensando em como uma mulher pode se submeter a um casamento assim, sem amor. Ser sustentada pelo marido não deveria ser motivo para mulheres continuarem em casamentos que não as fazem crescer. Por esse motivo gosto de sempre deixar claro meus conselhos para meus pacientes.
Exatamente por existir homens como o Sr. Calliman que devemos ser independentes. Se a Sra. Calliman fosse independente financeiramente dele, esse casamento já estaria acabado. Mas ela não tem para onde ir, caso decida se separar.
Temos que tomarmos cuidado para no futuro não sermos as próximas Sras. Callimans do mundo.
- Quer que te deixe aonde? – pergunto para Mattia.
- Pode me deixar na esquina mesmo.
- Claro que não Mattia. Está chovendo. Posso te deixar em sua casa.
- Mesmo? Obrigado. Vira na direita e depois a esquerda.
Faço o que ele diz e paro na frente de um prédio lindo. Primeira vez que apareço aqui.
- Obrigado. – ele agradece me encarando.
- De nada. – respondo sorrindo.
Mattia se aproxima de minha orelha e sinto sua respiração quente.
- Um dia vou pedir para entrar. E espero que nesse dia você esteja aberta para o amor. – ele diz e sai do carro.
Fico lá parada ainda sentindo minha respiração pesada e suas palavras ecoarem em minha mente. Quem diria que uma investigação de assassinato me traria um amor.
Vou para casa ainda me perguntando por que Mattia tem que sempre dizer as coisas certas em momentos errados.
- Senhorita Castillo. – o recepcionista me chama assim que entro no prédio.
- Sim, Gabriel.
- Senhorita deixaram isso.
Gabriel me entrega uma pequena caixa com um laço vermelho encima e sem nenhum bilhete.
- Quem deixou? – pergunto sabendo o que ele vai dizer.
- O correio senhorita.
Pego a caixa e olho-a atentamente, mas nada por fora me parece familiar.
- Obrigada. – respondo indo em direção ao elevador – E Gabriel?
- Sim senhorita?
- Pode me chamar de Angel.
Assim que entro em casa deixo as coisas encima do balcão e vou logo abrindo a caixa. Quando tiro a tampa da caixa meu coração sai da boca e perco o ar dos meus pulmões. Meus olhos continuam encarando o conteúdo dentro dela.
O que está acontecendo?!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top