CAPÍTULO 19

Sabe quando achamos que nunca mais vamos gostar de alguém? Quando achamos que nosso coração está quebrado demais? Eu me sentia assim depois do meu relacionamento com Xavier, não quis me envolver com mais ninguém porque estava protegendo meu coração de pessoas como ele. Construí essa muralha envolta do meu coração e não queria que ninguém se arriscasse a entrar, estava muito bem sozinha.

Sempre preferi minha independência do que ser dependente de outra pessoa, familiares ou namorados, e sempre me viam como alguém intensa em todos os momentos. Do mesmo jeito que posso me jogar rápido demais na piscina de outra pessoa, também posso sair bem plena dela.

Tantas coisas já aconteceram comigo que não me afeto mais, não me importo com o que dizem de mim e muito menos do que acham da minha vida. Eu vivo do meu jeito. Faço o que eu quero. A época da Angel sofrer por causa de opiniões alheias, passou.

Gosto mais de mim assim. Agradeço ao meu psicólogo que em todos os momentos desde a faculdade, esteve constantemente do meu lado. Me ajudou a superar meu passado, ter amor próprio e aumentar minha autoestima, atualmente compreendo que sou uma mulher atraente com minhas curvas e bem fascinante.

Estou do lado de Mattia entrevistando os professores das grades das jovens, dois já falaram que o professor Calliman estava se envolvendo com algumas delas. Ainda não ouvimos sua versão dos fatos, mas anotei o que falaram. Se esse professor deveras estiver tido um caso com elas, se tornará o principal suspeito de nossa investigação. É um passo tão grande para nós que anoto grifado no post-it.

- Ele é o próximo. - diz Mattia assim que a professora sai da sala.

- Está preparado? - pergunto ansiosa.

- Com você sempre estou preparado. - responde piscando para mim.

- Não aceito menos do que isto querido. - provoco-o.

- Angel. - ele me repreende, mas vejo brilhos em seus olhos.

Ele gosta dessa nossa pequena provocação.

- Vou chamar o Sr. Calliman. - me levanto sorrindo.

- Está fugindo senhorita? - pergunta levantando suas deslumbrantes sobrancelhas.

- Não sou de fugir senhor, mas preciso.

- Não vai acontecer de novo. - diz me encarando.

- Será? - pergunto provocando.

Mattia dá um sorrisinho de lado e pisca para mim. Juro que a cada dia ele fica mais bonito.

Desvio do seu olhar e abro a porta para o professor Calliman entrar. Diria que é muito charmoso e jovem para ser professor em uma universidade. Com certeza as jovens daqui ficam babando por sua aparência. Mas não podemos descartá-lo como suspeito.

- Pode entrar senhor. - digo sendo gentil com o homem a minha frente.

- Obrigado senhorita. - diz me olhando de cima a baixo.

- Pode sentar aqui na frente. - diz Mattia com um leve toque de ciúmes.

Sr. Calliman se senta aonde Mattia pediu e me sento no meu lugar. Espero antes de perguntar, o professor em minha frente está com os olhos fixos em mim. Mattia percebe e limpa a garganta para chamar a atenção dele. Dou uma risadinha baixa por constatar o ciúme em seu comportamento. Me surpreendo quando os lábios de Mattia encostam em minha orelha, me fazendo arrepiar.

- Eu sei que você gosta Angel.

Encaro o professor Calliman que está nos olhando de um modo curioso. Não posso perder o controle agora.

- Foca no caso Sr. Ferrari. - digo gentilmente.

- Sr. Calliman.. - diz Mattia se recompondo e olhando para ele - Há quanto tempo trabalha na faculdade?

- Já estagiei aqui há muito tempo, mas trabalho oficialmente há seis anos.

- Bastante tempo senhor. - digo - Você diria que tem um bom relacionamento com seus colegas de trabalho?

- Sim. Nunca briguei com nenhum deles e quando algo os incomoda, nos sentamos para conversar.

- É claro. Conversar é base de qualquer tipo de relacionamento. E seu relacionamento com as alunas?

- Como assim senhorita?

- Seu relacionamento com as alunas Sr. Calliman.

- Acho que me dou bem com todas as minhas alunas.

- Imagino que sim. - diz Mattia do meu lado.

- E com as garotas que foram mortas? Como era? - pergunto tentando coletar o que puder.

O professor Calliman fica pálido em minha frente, diria até que viu algum fantasma. Aguardo a cor voltar para seu rosto. Pacientemente, as bochechas dele voltam a ficar vermelhas e seus olhos se arregalam.

- Aonde.. Aonde vocês querem chegar? - pergunta nervoso.

- Você era professor das cinco jovens que morreram. Queremos saber como era seu relacionamento com elas!!? - pergunto um pouco irritada.

- Bem, eu gostava delas e acho que elas também gostavam de mim. - diz com um sorriso provocativo.

- Não nos enrole. - diz Mattia batendo as mãos na mesa me fazendo tomar um susto - Nos conte tudo.

- Ok policial. Fiquei com minhas alunas, mas não as matei. - diz com um olhar pesaroso.

- Você dormia com elas? Com as cinco que foram mortas?

- Sim. Nunca quis machucá-las. Acreditem.

- Como podemos ter certeza? - pergunto desconfiada.

- Porque eu gostava de todas. Sem querer sempre envolvia meu coração em casos apenas casuais.

- Está nos dizendo que gostava das cinco? - pergunto tentando entender.

- Exatamente. Também gostava das outras que me envolvi. Todas tinham suas qualidades.

- Com quantas alunas já se envolveu? - pergunta Mattia.

- Dez. No máximo.

- Mas o senhor tem algum relacionamento fixo? - pergunto.

- Sim. Hã.. Sou casado, há mais de 12 anos.

- Mesmo assim saia com suas alunas?

- Minha esposa não sabe. Não conte para ela, por favor.

- Sem problemas. Não vamos contar. Mas precisamos saber o que anda fazendo. - digo mentindo calmamente.

- Ok. Estou dando aulas ainda. Na época que as garotas foram mortas estava dando aulas também e a noite estava indo para casa ficar com minha esposa.

- Não estava se encontrando com as meninas? - Mattia pergunta confuso.

- Não. Não estava.

- Porque estava indo para casa depois das aulas e não estava saindo com suas alunas na época que cinco delas foram mortas? - pergunto olhando para o professor.

- Porque minha esposa está grávida. Não acho justo não cuidar dela e de nossa filha. Traí-la já é demais, não? - diz arrependido do que tem feito há meses ou anos.

- Com certeza. Mas o mínimo que você tinha que fazer era não trair ou se separar. - diz Mattia irritado com o comportamento do Sr. Calliman.

- Eu sei. Agora que minha esposa está grávida e minhas queridas alunas foram mortas não consigo pensar direito.

- Sério? Vai colocar a culpa em suas alunas? - digo brava.

- Meu comportamento não tem sido os melhores, mas pretendo mudar. Ser um pai melhor. - fala com a voz embargada.

- Senhor, precisamos de respostas e você não está ajudando muito. Sabe alguma coisa da vida dessas garotas? - pergunto sobre as jovens.

- Não. Elas não falavam sobre a vida pessoal. Tínhamos um caso apenas casual, porém existia muitos sentimentos complicados entre nós.

- Resumindo: Você ficava com todas, fazia elas se apaixonarem, dava a desculpa que também gostava delas. Elas não iam embora e você não largava sua esposa. - diz Mattia irritado - Só vejo aqui vantagens para você.

- Policial - diz o professor encarando Mattia - Existia vantagens para todos.

- Agora não existe mais. Elas não existem mais. - digo irritada também.

- Sei disso. Mas não posso fazer nada.

Respiro para me tranquilizar. Me levanto da cadeira e vou para a porta, fazendo os dois caminharem até mim.

- Senhor pode se retirar. Obrigada. - digo tentando ser mais calma.

- Apenas isso? - pergunta ele chocado.

- Sim. Qualquer coisa entraremos em contato.

- Obrigada senhorita. - diz o professor piscando para mim.

- Você não está em um encontro. Respeite a senhorita. - diz Mattia bufando de raiva.

- Desculpa. Vou me tirar agora para não piorar a situação.

Senhor Calliman sai da sala liberando o ar tenso que estava entre nós.

- "Você não está em um encontro"? Sério? - pergunto sorrindo.

Mattia apenas levanta os ombros se fazendo de sonso para minha pergunta.

- Eu te disse isso quando conversamos sobre o caso pela primeira vez.

- Eu sei Angel. Entendi quando me disse aquilo e queria que ele entendesse também.

- Ciúmes? Vindo logo de você?

- Não posso te defender? - pergunta me encarando.

- Você estava apenas me defendendo?

- Não. Não gostei do jeito que ele te olhou.

- Mattia.. Já conversamos sobre isso.

- Não conversamos não. Você apenas disse o que achou lógico dizer. Não disse o que sentia.

- O que eu sinto? Você quer saber? - pergunto nervosa.

- Sim. Eu quero saber tudo o que se passa na sua cabeça.

- Vou te dizer - engulo em seco e dou um sorrisinho - Te conto quando ficar solteiro.

- E se eu nunca ficar solteiro? - pergunta segurando meu braço.

- Então você nunca vai saber. - Fico na ponta dos pés e aproximo meus lábios no ouvido de Mattia - E eu posso guardar um segredo muito bem.

- Não me provoque agora. - a voz de Mattia sai abafada de sua boca.

- Me solte e te deixarei em paz. - digo rindo.

- Você está diferente Angel. Diferente de todos os outros dias que passamos juntos.

- O caso está me deixando ansiosa. O professor ainda é nosso suspeito.

- Sim. Ele acha que nos enganou. Mas não é isso. Eu diria que você agora está aceitando o que sente por mim.

- O que eu sinto por você? Já disse que não vamos falar disso.

- Eu sei. Mas duvido que você não sinta a mesma coisa que eu quando me aproximo.

- Acho que não sinto. - digo provocando Mattia.

- Você não sente vontade de me beijar? - pergunta se aproximando demais de mim.

- Eu.. Sinto.. - começo a gaguejar ao sentir ele muito perto - Você tem que se afastar.

Mattia com dificuldade se afasta de mim e fica me encarando com seus olhos intensos. Meu peito sobe e desce com a adrenalina e meu coração bate disparado.

- Você tem que parar com essas coisas. - digo irritada por sentir o mesmo que ele.

- Odeio ter que dizer que você está certa. Você e Emma não merecem isso. Angel, você merece alguém que possa te assumir. Alguém que te escolha. E eu não posso ser esse homem agora. Não posso ser o seu homem. - Mattia diz cada frase baixa demais fazendo meu coração parar por saber que essa é a decisão certa.

- Você está certo em cada maldita frase e eu sinto muito que passei dos meus limites. Podemos ser só amigos? Ou você quer ser só o meu parceiro? - pergunto nervosa e triste ao mesmo tempo.

- Eu adoraria continuar com nossa amizade. Somos perfeitos juntos, lembra? Não pense que não adoraria ser seu. Só não posso querida.

- As vezes não temos que ficar juntos nesse sentido. Talvez te conheci apenas para descobrir que ainda posso encontrar alguém incrível e que meu coração não está mais machucado como aconteceu tempos atrás. Que eu posso ainda me sentir viva e sentir as coisas que passei anos achando que não sentiria novamente.

Mattia me olha tenso e ele quer negar o que disse. Ele quer descobrir o que eu quis dizer com tudo aquilo. Ele quer dizer que pode ser meu. Em seus olhos posso ver que ele me quer. Uma parte minha talvez já seja dele, a parte que não pensa direito.

Me afasto totalmente e saio da sala. A parte racional sabe que não posso continuar aqui.

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