CAPÍTULO 10
Paramos o carro no prédio do meu escritório, entramos em silêncio. Mattia está com uma cara séria e eu também estou com uma postura profissional. Sento em minha cadeira e ele se senta na minha frente. Retiro de minha bolsa as provas, caderno e meu celular. Ele também coloca encima da mesa seu bloco de anotações que fez no local.
- Vamos tentar analisar o broche e depois mandamos ele junto com o fio de cabelo para analisarem no laboratório. – digo rápida e direta.
Mattia parece sair do seu círculo de silêncio.
- De acordo.
Coloco novamente a luva na minha mão e retiro o broche do saco. Seguro-o estendendo meu braço para o meio da mesa para que Mattia conseguisse observar. É um broche pequeno, da cor vermelho com as inicias da faculdade. Mas uma coisa me deixou intrigada, embaixo das iniciais da faculdade tem um desenho muito pequeno de uma borboleta com um pedaço da asa cortada, mas ainda viva.
Mattia nota o que estou olhando e eu me apresso para escrever no meu caderno para procurar saber mais depois sobre esse desenho.
- Vamos entrar em contato com os pais de Brooke amanhã? – pergunta Mattia depois que termino de escrever.
- Sim. Na parte da tarde.
- Ok. Já tem os endereços deles?
- Já sim. Moram um pouco longe, mas conseguimos chegar.
- Podemos montar uma rota mais curta até lá. Assim não perdemos muito tempo na estrada.
- Ótima ideia, Sr. Ferrari.
- Vamos nos tratar desse jeito? Como profissionais?
- Eu sou profissional. Você também é. Estou só fazendo meu trabalho.
- Você é realmente impossível. – ele diz revirando os olhos.
- Por quê fez isso? Está estressado? Acho melhor tomar um pouco de ar então. – digo ríspida.
- Preciso. Ficar no mesmo ambiente do que você me faz perder o ar.
Ele me observa com seus lindos olhos e sinto minha respiração parar. O encaro também tendo noção que por mais uns segundos posso ficar completamente sem ar. Espero Mattia se levantar da cadeira e ir embora, mas minha espera é inútil porque ele continua sentado me observando.
Tenho consciência que estamos no meio do meu caso mais importante, mas como posso focar no trabalho, se para qualquer lugar que olhe, Mattia está lá do meu lado?
Abaixo a cabeça desconectando nosso olhar, pego a caneta e começo a notar as observações do caso. Se Mattia não está focando no trabalho, eu estou. Quem sabe mais tarde consiga conversar melhor sem tirar o ar.
Observações do caso 694: Assassino de estudantes de psicologia:
1. No local aonde Brooke Park foi encontrada era uma rua sem saída. O assassino sabia que aquela rua era pouco movimentada e que demorariam para achá-la.
2. Sem testemunhas de sua morte. O corpo foi deixado lá. O assassino a matou em outro lugar.
3. Encontramos no local um broche da faculdade debaixo da lixeira na rua.
4. Encontramos também fio de cabelo dela com sangue, provavelmente o sangue de Brooke, mas enviaremos para análise mesmo assim.
5. No broche é visível a imagem de uma borboleta com uma asa cortada, porém viva. E as iniciais da faculdade.
Termino de anotar tudo para não me esquecer e levanto minha cabeça, estava focada em escrever que nem lembrava que Mattia ainda estava aqui. Ele está na minha frente anotando algo em seu bloco de notas também.
- Acha que devemos ir primeiro falar com os pais das jovens e depois ir na faculdade? – pergunto.
- Sim. Porque aí já teremos informações suficientes para saber o que procurar.
- Inteligente. Acho que já podemos terminar. Estamos há quase três horas aqui.
- Concordo Angel.
- Achei que fossemos nos tratar profissionalmente Sr. Ferrari.
- Íamos. Mas gosto de te provocar.
- É por isso que não gosto de você.
- Não tenho certeza se está dizendo a verdade Angel.
- Estou. Totalmente. Você se acha demais.
Mattia sorri me provocando ainda mais. Ele sabe que esse jeito dele me estressa.
- Vou embora. – digo me levanto da cadeira – Pode se retirar, por favor? – aponto para a porta.
- Claro senhorita Angel. – ele diz piscando.
Mattia se levanta e sai da sala, fecho a porta e sigo-o.
- Como pretende ir embora Angel? – pergunta quando já estamos do lado de fora do prédio.
- A pé. Talvez.
- Você vai para casa a pé?
- Sim. Algum problema?
- Pode entrar no carro e eu te levo. – abre a porta do passageiro.
- Não, obrigada. Prefiro ir observando esse céu. Viu como o céu está lindo?
- Você veio comigo, mas não quer ir embora comigo?
- Entendeu certo.
Começo a andar pela calçada deixando Mattia para trás.
- Não vai entrar mesmo? – grita Mattia.
- Não. – grito de volta.
Não posso entrar naquele carro. Não posso ficar perto dele depois do trabalho. Não é certo.
Continuo andando olhando o céu que realmente está muito lindo. Com tons vermelhos e laranjas. Mattia para o carro do meu lado na calçada e abaixa o vidro.
- A vista está mesmo muito linda. – ele diz sorrindo do carro e vai embora.
Meio que sinto que ele não está falando do céu, mas como ele gosta de provocar, prefiro acreditar que estava elogiando o céu. O caminho até minha casa é um pouco demorado, mas já estou acostumada a fazer as coisas sem um carro. Não foi sempre que tivesse um.
Se você não tiver uma família rica, nada na sua vida vai ser fácil e eu entendi isso com o passar dos anos. No fundo a gente só quer conseguir viver. Viver do jeito que nos agrade porque viver para os outros, não faz bem para ninguém. Mesmo que você não tenha uma família rica, mas quer viajar, fazer faculdade, cursos; corra atrás disso que te faz bem.
***
Chego em casa, Ragnar vem me receber na porta todo feliz, deixo minha bolsa encima do balcão e vou tomar um banho. Vou para a cozinha preparar algum lanche, faço panquecas com mel e café.
Sou totalmente viciada em café; até meus 16 anos não gostava muito de tomar café puro, tomava com leite as vezes, porque ainda preferia leite com chocolate, mas fui crescendo e café puro virou parte da minha rotina. Tomo as vezes chá e chocolate quente também, mas nunca pode faltar meu café.
Sento no balcão e como o que preparei. Não sou Master chef, mas aprendi a me virar quando precisasse e com isso, aprendi a preparar refeições deliciosas e algumas saudáveis. Quando decidi morar sozinha minha mãe disse que eu não iria saber me virar e agora percebo que ela estava errada.
Consegui me virar nesses anos que moro aqui, arrumando a casa bem, fazendo refeições sem precisar comprar em algum lugar e me cuidando também.
Cuidando do Ragnar, principalmente, porque ele é meu bebê e precisa de todo cuidado possível e sabe ser bastante dengoso quando necessário.
Mando mensagens para minha mãe perguntando como elas estão e mando um áudio dizendo boa noite para minha vó. Digo para Sabina como foi meu dia, deixando claro que não posso sair com Mattia fora do nosso expediente porque ele já tem alguém há um tempo, como ele mesmo falou. Sabina responde dizendo que o dia dela foi agitado também e que é difícil ter que analisar os corpos das mulheres tão jovens. Sabina está a par do caso porque ela que faz a análise para ver o que tem para relatar a polícia e a mim, que também estou cuidando do caso.
Dylan responde minhas mensagens uma hora depois dizendo que a academia está cansando ele e que nem está fazendo as aulas. Falou que hoje teve uma aluna que não sabia se dava encima dele ou tentava pegar as barras. Meu amigo é realmente muito bonito.
Depois que todos já responderam, coloco meu celular para carregar para amanhã e deito com Ragnar para vermos alguma coisa. Escolho uma série curta que acabou de lançar chamada Lupin. Quando ela termina fico chocada e já espero por uma nova temporada, ótima mesma.
Desligo a TV e me ajeito na cama para dormir, mas como sempre o sono não vem tão facilmente para mim e fico rolando para um lado e para o outro buscando a posição mais adequada. Mesmo quando tomo os remédios que meu psicólogo passa, tem noites que não adianta muita coisa. Nas noites que não consigo dormir, acho que deve ser porque meu dia foi agitado ou estressante. Você tem quer ser frio ao lidar com casos como esse ou pacientes e as vezes não consigo ser, porque ainda sou humana e ainda me assusto em como pode existir pessoas que matam outras sem sentir remorso.
Horas mais tarde consigo dormir quando os remédios começam fazer o efeito desejado.
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