Capítulo 14 - Sabe a Halice Valentine?
"Acho que estou desperdiçando minha vida
Com essas coisas que eu nunca vou dizer
O que há de errado com a minha língua?
Eu gaguejo, eu tropeço
Como se eu não tivesse nada para dizer"
Things I'll Never Say – Avril Lavigne
Dry
Nunca fui o primeiro da classe. Provavelmente, nunca seria. Ainda me salvava em algumas matérias decorativas e em esportes, mas estaria completamente perdido se não fosse o Nick. Não que eu já tenha dito para ele. E ele nunca se incomodou, mesmo. Logo, sempre fomos dupla na sala de aula. Especialmente em Física — que ele é louco —, Biologia, Matemática...
Ah, a merda da Matemática!
O assunto daquele dia era Geometria Espacial — eu acho — e o Nick me cutucou quando eu estava quase pegando no sono. O professor Rodrick passava uns exercícios na lousa.
Prof. Rodrick: Senhorita Franklin, poderia calcular o volume do cilindro? — disse terminando de desenhar o exemplo.
Aquele não era o dia de sorte da minha amiga. Fazendo numa conta...
Matemática + falar em público = uma Zoe surtando por dentro 2. Matemáticos que me perdoem.
Então, ela suspirou cansada e se dirigiu para a frente da classe, pegando o pincel de quadro branco que o professor estendia para ela. Enquanto ela escrevia algo sobre "V" ser igual a área da base vezes altura; e Pi e "r" e quadrado e alguma outra coisa lá — eu disse que não era o primeiro da turma — Nick e eu pudemos ouvir o grupinho das Gêmeas K zombando a forma que minha amiga escrevia tremido e torto. E óbvio que isso fez Zoe se atrapalhar um pouco.
Nick: Dá para as cobras deixarem minha irmã em paz?! — cerrou os olhos, esbravejado.
Porém, até eu tive vontade de rir de sua cara sardenta e estranhamente infantilizada. Parecia mais um mascote de Princesa da Disney.
Kate: Own, você quer que eu deixe sua irmã em paz, fofucho? — forçou uma voz doce, que soou azeda. Porém, logo em seguida voltou a latir com seus olhos de tormenta — Pode esquecer, esquisitão!
Elas deram risadinha do meu amigo, que se virou emburrado. Zoe voltou apressada para o seu lugar.
Dry: Ah, deixa elas. Esses projetos de piriguete... — olhei diretamente para a líder delas.
Kate: O QUE VOCÊ...
Prof. Rodrick: CHEGA DE BAGUNÇA AÍ ATRÁS!
Todos se aquietaram na sala.
A loira se emburrou na cadeira, enquanto as outras me olhavam de cara feia. Zoe conseguiu completar a questão e voltou para o seu lugar imediatamente, enquanto me olhava como se quisesse me repreender. Porém os cantos de sua boca tremiam para não rir das caras de tacho daquelas piranhas.
~☆~
Na hora do intervalo, eu e Nick já estávamos na mesa esperando as meninas, que haviam ido ao banheiro. Nick devorava as fatias de pizza sempre em maior quantidade do que o resto do grupo — ou do universo.
Nick: Eu já disse que estou amando as letivas dessa escola?! — disse com a boca cheia e dando pulinhos na cadeira.
Dry: Sim, umas cinco ou seis vezes.
Minha resposta não tirou a alegria do rosto do meu amigo, que estava tão mais agitado e empolgado com a escola havia uns dias. Mas nem cheguei a perguntar, afinal era Nick e sua alegria de ver o mundo. Apenas ri e revirei os olhos.
Ao tomar um gole de suco, acabei avistando Bia Holister carregando sua bandeja e acenando discretamente na minha direção. Eu estranhei, a gente nunca se falou. Mas então vi que Nick acenava nada discreto na direção dela; eu olhava para ele e para ela, para ele e para ela.
Dry: O que eu perdi?
Nick: Como assim?
Dry: Desde quando se cumprimentam? — arqueei a sobrancelha.
Nick: Ah, acho que desde de quando me apresentei oficialmente para ela e acabamos conversando e nos conhecendo um pouco. Descobri que ela é bem interessante. Pudim? — disse simplesmente.
Dry: Não acredito que tá ficando amiguinho de uma Holister!
Nick: Pudim só para mim, então — começou a comer a sobremesa. — E qual é o problema? Ela é bem legal e fofa, como sempre desconfiei! A culpa não é minha se você é um repelente de garotas. E eu sou receptivo e amigável.
Dry: Não sou um repelente de garotas! Eu falo com uma garota...
Nick: Que garota?! Ela é bonita?! Qual o nome dela?! Você gosta dela?!
Conforme ele fazia as perguntas, se aproximava do meu rosto com os olhos brilhando de curiosidade. O empurrei de volta, pois as pessoas começaram a olhar.
E onde diabos as meninas se meteram?!
Dry: Antes de eu falar, não é nada demais. Ela é uma garota que fala comigo e é bem bacana. Nada demais. Somos amigos. Quero dizer, quase — ele piscou os olhos esboçando confusão. Eu senti receio em revelar a informação a seguir, mas era bom deixar às claras. — Posso sentir algo por ela, mas com toda a certeza não é nada mais do que um... pequeno crush. E não se empolgue! Mais uma vez, não é nada demais! Entendeu?!
Ele assentiu com os olhos arregalados e, então, contei nossa história.
Que eu achava que não era nada demais, mesmo! Tínhamos nos conhecido dois anos antes, na hora do intervalo. Ela estava tentando entrar para o grupo de fotografia e tirou algumas fotos para mostruário. E eu estava com um humor terrível. Era uma péssima semana devido a um boato que preferia não mencionar ainda. E andava pela escola e todos rezavam para nem sequer esbarrar em mim.
E foi justamente nesse dia que uma garota atrapalhada com uma pasta acabou por esbarrar em mim. Ela se desculpou por não prestar atenção no caminho, mas eu estava tão fulo na vida que gritei com ela e saí em passos pesados. O que eu não tinha visto era que as fotos caíram no chão... onde eu pisava. E ela deu um chutão nas minhas costas que me fez cair. E uma boa surra no rosto.
Depois de nossos pais conversarem sobre o ocorrido, eu levei um ralho por ter gritado com ela. Foi ali que a minha raiva passou e enxerguei o que fiz com ela. No dia seguinte, eu pedi desculpas pra ela. Acabamos por conversar e nos entender. Felizmente, ela era talentosa e consegui entrar no grupo desejado.
Nick: Cara, você é muito mala quando tá com raiva — comentou após o fim do meu relato. — Acho que entendi, mas afinal quem é ela?
Dry: Sabe a Halice Valentine? — após pensar um pouco, ele assentiu que não. — Ela é alta, bem moreninha, de cabelo meio curto, usa roupas esportivas.
Nick: É a que manda bem em Educação Física?!
Dry: Sim.
Nick: E que anda sempre com a Bia?!
Dry: Sim, ela mesma!
Eu a avistei e indiquei com a cabeça. Ela estava conversando com Bia Holister no outro lado da cantina, pareciam animadas. Depois, elas se despediram. Halice veio em linha reta na nossa direção, com seu olhar sempre focado, típico dela. E eu acho até bem charmoso, ainda mais na forma que seus cabelos balançavam conforme seu andar meio rígido.
Meu amigo se virou para mim, parecendo surpreso.
Dry: O que foi?
Nick: Sei lá. É que pelo o que já vi, ela parece ter um temperamento forte — disse de modo pensativo, com o queixo apoiado na mão. Mas ele mudou de humor para um bem empolgado — Em contrapartida, ao contrário de você, ela parece ser um amor de pessoa!
Dry: Valeu.
Nick: Disponha — sorriu, deixando claro que não notara o sarcasmo.
Senti um leve soco no meu braço e já sabia que era Halice. Ao me virar, ela disse "e aí?". Isso era costumeiro das nossas bem pequenas conversas.
Dry: E aí?
Halice: E seu amigo? — deu um leve sorriso para o Nick e ergueu o queixo. — Tudo bem?
Nick: Tudo sim! Sou Nick, prazer em conhece-la — acenou com um sorriso largo para ela.
Ela deu um meio sorriso, achando bem estranho e riu da forma como ele se apresentou, todo agitado.
Halice: Que bom, sou a Halice — deu um aceno de cabeça.
Nick: Eu sei. Dry me falou muito de você...
Por instinto, dei um chute em sua perna por baixo da mesa. Seria esquisito se ela soubesse que estávamos falando dela esse tempo todo, certo?
Halice: Interessante... — ela me analisou com os olhos semicerrados. — Preciso ir, Sherlock está prestes a entrar em ação.
Ela mostrou o livro As Aventuras de Sherlock Holmes, que estava em suas mãos esse tempo todo.
Dry: Ah, sim. Prioridades — brinquei.
Ela riu de leve, arqueando uma sobrancelha.
Halice: Nos vemos por aí. Foi bom te conhecer, Nick — ela deu uma piscadela.
Por que é tão charmoso quando ela dá uma piscadela? Ou sorri levemente de lado?
Nick: Igualmente. Você parece muito legal! — disparou, deixando-a um pouco sem graça.
Halice me olhou de olhos arregalados e as sobrancelhas arqueadas. Apenas dei de ombros, também sem graça com a empolgação que pedi para o meu amigo não ter; e ele teve. Ela me deu outro soquinho no ombro e se despediu, deixando-nos sozinhos.
Dry: E eu sou o repelente de garotas, não é? — disse entredentes.
Nick: Ei! Só queria ser legal com sua futura namorada.
Dry: Nós não vamos namorar! — Meu amigo me olhou desacreditado, sorrindo como um moleque. Finalmente, as garotas chegaram. — Onde diabos vocês fizeram xixi?! Em Nárnia?!
Bella: Banheiro feminino tem altos bababos — sentou-se e comeu um tanto apressada. — Conversa vai, conversa vem... Acabamos puxando papo com Louise Baker, você sabe como ela é fofoqueira.
Zoe apenas deu de ombros e ria, um pouco envergonhada.
Nick: Nem podemos falar nada. Ficamos esse tempo todo falando da...
Dry: Segunda temporada de Stranger Things!
Zoe: Ai, eu adorei a série, mas me dava um medinho... — falou olhando para os dedos.
Bella: Eu adorei! Maravilhoso! E as crianças?! Tão fofuchas! — ela tinha um brilho no olhar. — Sabe aquela cena que a Nancy...
As meninas começaram a falar da série, enquanto Nick me olhava em dúvidas. Eu ignorei.
Não queria que soubessem que falávamos da Halice quando nem eu sabia direito o que sentia. Afinal, podia ser uma mera admiração, porque ela é uma garota bem diferente e legal. Ou se fosse algo a mais... Não! Não devia ser nada. É só uma garota que eu gosto e me importo, igual a Zoe, só que não-branca, nem ruiva, nem com sardas... Na verdade, não tinha nada da Zoe nela.
Só uma garota descolada e legal. Que eu gostava. Ponto.
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Sendo sincera, não sabia qual música colocar kkkk.
Mas estou muito animada com as edições.
420 leituras?! Muito obrigada, queridos!
Até o próximo capítulo!
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