Capítulo 13 - Morro dos Ventos Uivantes
"No fim da noite, deveríamos dizer adeus
Mas continuamos enquanto todos se foram
Nunca me senti assim antes
Somos amigos ou algo a mais?
Enquanto ando até a porta
Eu não tenho mais certeza"
Change My Mind – One Direction
Bella
Amo ler desde que me entendo por gente. Esse modo de fuga incrível, que nos leva para outro mundo; e os problemas cotidianos deixam de importar, ao menos por algumas horas. Tudo o que passa a interessar são as aventuras dos personagens, os romances... Ah, o amor. Tão terrivelmente maravilhoso.
Digo, ainda não tinha um namorado, mas de algum modo sentia que seria mágico! Ainda era muito nova, logo, não havia porquê de ser apressada, mas era algo que desejava em minha vida.
Até então, tudo que eu sabia sobre amor estava nos livros.
Não deveria ser surpresa que minha matéria favorita era Literatura. Aprender a interpretar apenas aguçava minha paixão. Infelizmente, o professor Fitzgerald conseguia deixar tudo tedioso, sonolento, ainda que eu me esforçasse bastante para a matéria. Quando ele dava uma pausa para pegar um café, gemidos de vitória eram ouvidos na sala de aula.
Dei início a um assunto com Zoe. Alguns faziam o mesmo e outros aproveitavam para terminar de copiar.
Bia: Alguém pode me emprestar uma caneta azul? — a pergunta chamou a atenção daqueles próximos à ela.
Por algum estranho motivo, Nick, que estava sentado atrás dela, apressadamente pegou uma de seu estojo e estregou para ela. Bia agradeceu sorrindo para ele, o que achei suspeito. Ela sempre fora uma fofa, mas não costumava sorrir assim para as pessoas. Quando ela se virou, meu amigo fez um gesto sutil e engraçado de comemoração. Zoe me cutucou e pediu para eu me aproximar.
Zoe: Eu estou achando que o Nick gosta da Bia Holister — ela sussurrou com uma leve risada.
Eu ri e ela me olhou confusa. Eu já havia notado há muito tempo e olha que eu nem era a irmã. Mas não tive tempo de dizer isso a ela, pois o professor voltou dando continuidade à aula.
Prof. Fitzgerald: Pois bem, falaremos sobre Emily Bront — disse simplesmente, pegando seu caderno um suas aulas sempre idênticas em cada turma anotadas, e leu — Esta misteriosa autora da Era Vitoriana conseguiu ser aclamada e polêmica com sua imortal obra O Morro Dos Ventos Uivantes, uma obra violenta e sombria sobre um amor que sobrevive até a morte. E inicialmente publicado sob o pseudônimo Ellis Bell...
Subitamente, observei a sala ao meu redor. Era bem notável a diferença entre os totalmente desligados, os neutros, os nerds e apesar de não me considerar como este último, em Literatura eu extravasava. Sentia como se fosse o meu momento. Arrumei a postura na carteira, como um modo de entender melhor os ditos do professor — mesmo que este não tenha nem um pingo de empolgação.
O professor fez um gesto para que Greg Roberts e Josh Carson fossem até a mesa, onde o ajudariam a distribuir as cópias do livro em questão para cada um de nós.
Prof. Fitzgerald: Agora vamos à parte divertida, onde vou pedir a leitura de vocês e teremos um pequeno debate. E anotem t-u-d-o!
Dry: Vai cair na prova? — perguntou entediado.
Prof. Fitzgerald: Karrie Holister! Faça às honras, sim? Página 111.
A garota jogou os cabelos para trás e depois de um período consideravelmente bizarro de tempo, encontrou a tal página.
Bella: Melhor preparar os ouvidos — disparei em sussurro.
Meus amigos me acompanharam com uma risada, por mais que Zoe me lançasse um olhar de repreensão. Mas fala sério! Todos sabiam o quão doloroso era ouvir a Karrie lendo. Estava no top 3. Troy: o que têm de músculos, falta de dicção; Karrie: uma criança lia melhor que ela; e Hugo Trainor: é cônjuge, não con-ju-jê.
Nem o professor aguentava mais (e não mas). Assim, o vimos passar a vez para o Edward Jones, para ele abrir na página 146. Minha atenção fora toda voltada para o garoto. Nick me olhou malicioso.
Bella: O quê? Preciso anotar para a prova! — disse simplesmente.
Mas era verdade só em parte.
Ele apenas deu de ombros, porém às vezes era estranho pensar que sim, eu tinha uma queda pelo Ed desde que ele e Greg fizeram um maldito trabalho em grupo com Dry; e tinha pouco tempo que chegamos em Nova York. Mas eu nunca tomei atitude. E ele namorava a Karrie — se é que podíamos chamar aquela relação esquisita, onde eles nunca sequer deram as mãos, de namoro. Se bem que nenhum dos dois parecia levar àquilo a sério, mas nunca deixei com que esse fato me deixasse esperançosa.
Diferente de Kate, que ainda se esforçava para manter Greg por perto, mesmo que como um modo de exibi-lo como um troféu. E Greg era sempre muito legal, pena que meio sonso para não acabar com aquilo de uma vez por todas.
Espantando meus devaneios, me concentro no trecho lido por Ed.
Ed: "Oh! Disseste que não te importava que eu sofresse! Pois o que eu digo agora, vou repetir até que minha língua paralise..." — deu apenas uma pausa para pigarrear. Tirando isso, Ed sempre leu muito bem — "Catherine Earnshaw, enquanto eu viver, não descansarás em paz! Disseste que te matei. Pois então assombra-me a existência! Os assassinados costumam assombrar a vida dos seus assassinos, e eu tenho certeza de que os espíritos andam pela Terra. Toma a forma que quiseres, mas vem para junto de mim e me enlouquece! Não me deixes só, neste abismo onde não te encontro..."
Kate: Meu Deus, que dramalhão! — escarniou.
Ouve algumas risadas. E pude ver Greg lhe dando uma cotovelada bem dada. Não pude evitar revirar os olhos para aquela fresca sem cultura.
Bella: "Oh! Meu Deus! É indescritível a dor que sinto! Como posso eu viver sem a minha vida?! Como posso eu viver sem a minha alma?!" — de um modo impulsivo, finalizei.
Mesmo que tenha garantido mais zombaria, tinha valido a pena. E nem precisei ler no livro.
Prof. Fitzgerald: Obrigado, senhorita Swan. Parece saber tanto, conte-nos sobre essa história — virou-se na minha direção, cruzando os braços.
Bella: Bom, o relacionamento de Catherine e Heathcliff é exacerbadamente conturbado. E muito controverso, pois ela sente um amor realista, enxergando os defeitos do amado. Já ele, sempre foi obcecado e sente um amor romantizado e idealizado. Quase a pondo em um pedestal.
O professor assentia, interessado em minha interpretação. Curiosamente, Ed me acompanhou.
Ed: O final do livro é soturno. Afinal os protagonistas morrem, mas é só através da morte que eles, enfim, alcançam a felicidade e podem viver juntos. É trágico e sombrio, mas de um certo modo belo.
Ele me trocou olhares comigo e tentei não me deixar apaixonar pelo brilho em seus olhos negros como a noite.
Prof. Fitzgerald: Parabéns. Vocês dois foram o ponto alto dos meus anos lecionando Literatura... — disse em tom melancólico e nos dispensou para a próxima aula.
Que triste. E emocionante, já que eu e Ed demos um show!
Meu Deus, o que estou falando?!
Todos colocamos os livros de volta na mesa do sr. Fitzgerald e nos dirigimos para fora da sala. Enquanto eu tentava ignorar meus amigos encarnando como eu e Ed realmente combinávamos.
E eu acenei e sorri para ele.
~☆~
Mais tarde naquele dia, Ed conversava de um modo estranho com Karrie. Ele falava de modo sério, como alguém dando um ultimato. Já ela, estranhamente despreocupada. Em um dado momento, eles se despediram. Ela foi falar com as meninas e ele, suspirou como se estivesse se libertando.
Terminaram? Não, não deve ser... Mas será? Oh, meu Deus! Que babado seria!, pensei tentando manter a calma. E estava tão concentrada nisso que mal vi Ed chegando e dando "oi". Me espantei.
Ed: Eu só queria dizer que fez um bom trabalho. Na aula — disse estufando o peito, e um tanto tímido.
Bella: Valeu. Você também mandou bem — assenti e tentei mudar de assunto antes que ele me visse corar — E como estão as coisas? Tudo bem? E a Karrie? Estão bem?
Admito que exagerei. Ele até riu.
Ed: Estão bem. Pra ser sincero, acho que vão ficar bem melhores agora — seu tom era esperançoso.
Tentei decifrar o que aquilo significava enquanto Greg passou por nós e eles se despediram, com o moreno indo embora. Apenas acenei para ele.
Ed: Sabe, eu estava querendo muito um sorvete, e ahn... — coçou a nuca, um tanto envergonhado — Queria saber se, de repente, não gostaria de vir comigo. Se não tiver problema, claro! — acrescentou apressado.
Certo, Anabella! Edward Jones te convidou para um sorvete, mas não quer dizer nada demais, já que vocês são amigos — eu acho — e amigos saem juntos de vez em quando!, pensei.
Bella: E-eu a-acho que... só preciso avisar os meus amigos. Mas seria legal. Quero dizer, faz um tempo que não conversamos — ri nervosa ao final.
Ele sorriu e assentiu em concordância. Corri de um modo esquisito até meus amigos, e minhas mãos suavam. Avisei a todos que daria uma volta com Ed e estava tudo ótimo até acrescentar do nada que era só como amigos. Nick e Zoe trocaram olhares de desconfiança e Dry apenas disse para não demorar, de modo tranquilo. Afinal, erámos só amigos!
Assim, voltei ao Ed, que me esperava pacientemente na calçada; e me guiou até a sorveteria da praça. Como tudo no Frozen Mind poderia ser maravilhoso? Pedi uma casquinha de sorvete de morango e o Ed, de chocolate — com pedaços de fruta e de chocolate! E depois, caminhamos pela praça.
E conversamos. Realmente já havia um tempo.
Ed: E seus amigos? Estão se adaptando bem? — disse dando uma lambida em seu sorvete.
Bella: É, por enquanto, tá tudo bem. Só foi um pouco estranho no início... você sabe — ele assentiu franzindo o cenho. — Mas eu e Dry estamos dando nosso máximo.
Ed: Eu sei que sim. Você é uma ótima amiga — ai... amiga — Vocês dois são. — corrigiu envergonhado. Nos sentamos em um banco — É estranho que a gente não converse que nem antes.
Bella: Ahn... Acontece, eu acho. Quero dizer, você entrou pro time de basquete. E eu e Karrie não somos as melhores amigas — dei de ombros e ajeitei a postura, envergonhada pelo final da frase.
E também pelo fato de um vento forte bater nas árvores, fazendo as folhas caírem em um belo contraste com a luz do sol entre os prédios da cidade. E a forma como os cachos dourados de Ed brilhavam... Oh, meu Deus! Estou viajando!
Pigarreei e desviei o olhar para o sorvete, tão rosa como jurava que as minhas bochechas estavam naquele momento.
Ed: Sinto falta que quando discutíamos sobre livros. E você era bem irritadinha quando nos conhecemos — ele ria.
Respirei fundo e pus uma mão na cintura.
Bella: Vamos lá! Você me irritava só porque eu sou muito fã de Crepúsculo! E francamente, você era meio esnobe, às vezes!
Ed: Maaaass você assume hoje em dia, pelo menos, que... Tem umas coisas muito estranhas? Quero dizer, Edward Cullen é um cara estranho. Perseguia, controlava, queria mata-la... — disse em um tom assustado, que soou engraçado. — E a garota sempre larga tudo por ele.
Bella: Ele só era meio...
Ed se divertia com a forma que eu procurava palavras para defender meus livros. Eu tinha a noção que nunca foi a história mais coerente do mundo, mas não daria esse gostinho a ele.
Bella: Podia ser pior.
Ed: É seu argumento? — assenti fingindo irritação. — E a própria história se compara com O Morro dos Ventos Uivantes. Isso devia ser considerado um crime.
Ponto para ele. Acabamos por rir daquela conversa estranha. E lembramos de pequenos momentos nossos desses anos que nos distanciávamos e voltávamos nos falar de repente, como quando eu me fantasiei de Hermione Granger no Halloween de 2015. Ele tinha tido que eu estava linda e me deu um chocolate — eu tinha ganhado a noite com aquele momento.
Eu só conseguia sorrir e desejar que o tempo tivesse congelado. Eu conhecia o Ed havia um tempo e era impressionante a forma como combinávamos. E o quanto adorava seu conteúdo; nosso papo sempre fluía bem, especialmente quando estávamos sozinhos. E como era desanimador para mim ele ser de outra garota. Uma garota imbecil.
Infelizmente, chegara a hora de eu voltar para casa. Finalizamos os sorvetes e nos levantamos do banco. Ele insistiu em me levar até em casa, mas garanti que estaria tudo bem. E afinal, ele mora um pouco mais longe.
Ed: Sendo assim... — disse ainda preocupado, mas confiando em mim. — Se cuida.
Bella: Você também.
Quando ele se inclinou, mesmo que só para um abraço, meu coração disparou. E impulsivamente beijei sua bochecha. Bem rápido. E assim, virei-me e dirigi-me para casa, com aquele momento passando de novo em minha mente, como um filme. Pus os fones de ouvido e escutei One Direction enquanto caminhava.
Emily Bront veio à tona quando a música me fez pensar em Ed: "Seja qual for a matéria de que nossas almas são feitas, a minha e a dele são iguais".
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para juliguvi amo você, mana! 😍
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