Capítulo 36

Alguns minutos se passam antes que o telefone toque de novo. Imagino que é Noah, para explicar o que aconteceu com a ligação, mas é realmente o Bryan dessa vez.

— Oi amor. — Ele diz assim que atendo o telefone.

— Aconteceu alguma coisa com o Noah? Ele atendeu seu telefone, mas tava meio estranho. Desligou do nada, não sei o que está acontecendo. — Pergunto assim que ouço sua voz.

— Ele disse que a ligação tinha caído,  mas meu celular estava desligado. Se quer saber a verdade, estou realmente preocupado com ele.

— Porque?

— Não sei exatamente, ele anda estranho, nervoso, quebrando coisas... Eu pergunto o que está acontecendo e ele não quer falar sobre o assunto, estou tentando ser um bom amigo e dar espaço para ele, mas eu não sei o que fazer.

— Acho que você conhece o Noah melhor que ninguém. Tenho certeza que vai arrumar um jeito de ajudar ele. Se ajuda em alguma coisa, a ligação caiu misteriosamente quando estávamos falando do Max. Acho que aconteceu algo que eles não estão nos contando.

— Eu também acho isso, mas, não consigo pensar no que pode ser.

— Talvez eles tenham brigado.

— Mas, porque o Noah não me contaria?

— Talvez foi uma briga muito feia, talvez ele tenha defendido o babaca que fez o Max chorar. Ele parecia muito surpreso quando eu disse que o cara era um babaca.

— Eu nunca vi o Noah assim, já vi ele bravo antes, mas desse jeito não. Eu tô muito preocupado.

— O que ele está fazendo agora?

— Saiu, acho que foi correr. Ele geralmente faz isso quando está estressado.

— Ok, então não adianta focar nisso agora. Amanhã a gente conversa com ele, na escola.

— Você tem razão. — Bryan solta um suspiro. — Mas, e o Max, como está?

— Ele chegou aqui muito mal, mudou o visual e tudo, o cara de ontem foi um babaca com ele, o Max não entrou muito no assunto, mas deu pra ver o quanto ele estava arrasado. Conversamos bastante e ele estava melhor quando saiu, espero que tudo fique bem com ele.

— Ainda bem que ele está melhor. Fico feliz de ter valido a pena ter abandonado você com ele.

— Você sabe que podia ter ficado, tenho certeza que o max não se importaria.

— Mas, eu me importo. Ele precisava de privacidade. Ele é meu amigo também, eu abro mão de um pouco de você para ajudar ele se isso é preciso.

— Você é muito bobo.

— Sou, e você me ama assim mesmo.

Ⅱ ▶ —————•—————————— ↺

Continuo conversando com o Bryan no telefone até que a porta do meu apartamento se abre e minha mãe entra por ela, ela está com uma cara péssima o que me faz desligar o celular na mesma hora.

— Ei, o que houve? Você está bem? Cadê  seu namorado? — Digo, bombardeando-a de perguntas assim que a vejo.

— Foi tudo horrível. Nem sei por onde começar.

— Pelo começo, sempre começe pelo começo.

— Eu cheguei lá, e a família dele não sabia da minha condição... Ele não tinha contado pra ninguém que eu era cadeirante. Isso por si só já foi uma saia justa mas eu achei que se resolveria... Não resolveu. A família dele começou a me tratar como se eu fosse uma inútil, uma incapaz, e eu me senti extremamente incomodada. — Minha mãe faz uma pausa e respira fundo antes de continuar.

— Pra começar, eles negaram minha ajuda na cozinha, mas não foi somente um, "não precisa, fica tranquila" foi algo tipo "não preciso da SUA ajuda, você não conseguiria alcançar as coisas".

— Isso é horrível.

— Nem é a pior parte, fiquei aguentando comentários asquerosos durante a noite toda, piadas com deficientes, todo o tipo de barbaridade. O ápice pra mim foi quando eu fui comer com eles e a mãe dele perguntou se eu precisava de alguém para me dar comida na boca. Foi grosseiro, mas eu aguentei, disse que não e comi a minha comida.

— Você aguentou demais. Eu já teria ido embora a essa altura.

— Eu sei, mas, eu quis acreditar que eles eram apenas ignorantes quanto ao assunto. Não queria acreditar no mais óbvio, que era preconceito. Eu conversei com ele então, e disse que os comentários estavam me incomodando se ele poderia falar com sua mãe e explicar que eu não estava gostando das piadas. Ele disse que faria isso, mas não fez. — Minha mãe engole em seco e sei que o pior ainda está por vir.

— Fomos dormir e eu acordei cedo, ele não estava comigo na cama e imaginei que ele teria ido falar com sua mãe. Ele estava falando com a mãe mas não era o que eu esperava... Ouvi ele dizer coisas sobre nossa intimidade, coisas que não deviam ser ditas, me senti exposta, e a cereja no topo do bolo foi quando a mãe dele respondeu que ele não podia "trazer uma inválida pra casa e esperar que não questionassem ELE, que isso não aconteceria se eu fosse uma mulher NORMAL".

Eu estava furiosa, nem imagino como minha mãe se sentiu nesse momento. Até hoje nós tínhamos dado muita sorte, todas as pessoas com as quais conviviamos tinham sido muito legais e ninguém fez comentários ou perguntas constrangedoras. Tem coisas que você pode simplesmente procurar no google afinal.

Eu sabia que chegaria o momento em que minha mãe sofreria sua primeira discriminação, e apesar de querer muito ter estado ao seu lado nesse momento, eu sei que não seria o melhor. Eu teria arrumado a maior confusão, brigado feio com todo mundo lá, o que eles mereciam, mas ainda assim não seria essa uma decisão sabia.

— Eu odeio ele, odeio a família dele e gente como eles, que se acham no direito de pensar que são superiores a quem quer que seja. Isso é horroroso e ninguém precisa de gente assim, muito menos você  mamãe.

— Você está certa. É por isso que eu terminei com ele no mesmo momento e fui embora daquele lugar terrível. Infelizmente meu carro não quis cooperar e deu problema no meio da estrada. Precisei chamar ajuda, e concertar o carro numa oficina antes de voltar. Foi nessa hora que te liguei. Espero que o seu fim de semana tenha sido melhor que o meu.

— Foi, mas também teve seus momentos. O James veio aqui, e bem... Não foi legal.

— Ele e o Bryan brigaram?

— Pior, ele tentou me beijar a força.

— Você está bem? Vocês fizeram algo? Chamaram a policia?

— Não,  eu não quis... Não depois de tudo o que já aconteceu... Não quero que aconteça tudo de novo... De qualquer forma, eu tinha o Bryan dessa vez e meus amigos. Eles focaram comigo e me deram apoio. Isso é muito mais do que a policia podia fazer por mim.

— Você arrumou ótimos amigos.

— Os melhores que alguém poderia ter.

Ⅱ ▶ ————————————•——— ↺

Eu chego na escola junto com o Bryan e a maioria dos meus amigos já estão em uma rodinha no lugar de sempre, todos menos Noah, que não está em lugar nenhum.

— Oi todo mundo. — Me digo quando me junto ao circulo, todo mundo responde, incluindo o cara abraçado no Max, cujo o nome eu não sei, mas se pudesse apostar eu diria que é o mesmo cara que ele encontrou ontem, o que me diz que o encontro foi bom.

Eu e meus amigos conversamos por um bom tempo, logo descubro que o cara com Max se chama Francis e confirmo que ele é realmente o cada do encontro de ontem. Porém,  ao contrário do que eu pensei eles não estão juntos desde ontem. Eles ficaram ontem e hoje ele se ofereceu para trazer Max até a escola, o que eu achei muito fofo, mas ele por outro lado não pareceu impressionado.

— Não é o Noah ali? — Pergunta Tiff que está ao meu lado.

Olho para onde ela aponta, e realmente é Noah, ele está dentro da escola, agarrado com uma garota que posso jurar ser a Rita, se não fosse o fato da garota ser obcecada pelo meu namorado.

— É ele mesmo. — Eu digo, mas minha voz é abafada pela briga ao meu lado.

Não sei o que está acontecendo, Max de repente está chorando e Francis está falando alto com ele, dizendo algo sobre o Max estar usando ele. Eu dou um passo em sua direção, mas, não consigo chegar perto dele antes que Max chame Francis de algo que eu não consigo entender e entre correndo na escola. Pelo menos a briga não chamou muito a atenção, pois toda a discussão foi feita em voz razoavelmente baixa. Diferentemente de uma outra briga que começa logo em seguida.

Eu planejo ir atrás do Max sem me importar com a briga, tenho certeza que a fofoca vai acabar no meu ouvido depois e de qualquer forma, meu amigo está precisando mais nesse momento. Entretanto quando eu percebo que uma das vozes pertence a Noah eu paro e presto um pouco mais de atenção.

Quando eu vejo Rita gritar algo sobre um viado de cabelo rosa, já sei que estão discutindo por causa do Max. Eu olho o Noah e posso ver que ele está se segurando muito para não bater em Rita.

Eu intervenho no momento em que Rita insinua que Max e Noah são namorados e Noah concorda, e depois concerta dizendo que são amigos. Algo de errado está acontecendo, eu tenho certeza disso.

.
.

Pra quem quer saber mais sobre a briga, ou mais sobre a história de Max e Noah, leia "No máximo" conto já disponível no Wattpad!!

https://www.wattpad.com/story/330543000

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top