Capítulo 35

Eu pego um pote de sorvete no freezer e uma barra de chocolate no armário e volto para a sala, pronta para emprestar meu ombro e meus ouvidos para Max. Amigos servem para isso afinal, não apenas para as horas de farra e de festa, mas pra ajudar e apoiar, assim como ele fez por mim ontem, quero poder ajudar ele, como for possível.

— Ok, agora me conta exatamente o que aconteceu. — Eu digo enquanto me sento ao seu lado e estendo uma colher para ele.

— Não tem o que contar. Eu fiquei com o cara, foi ótimo pra mim, dormimos juntos e hoje de manhã ele disse que estava arrependido, que foi no calor do momento e não tinha pensado nisso. — Diz ele enquanto come o sorvete de chocolate.

— Que grande babaca. Você não merece isso, merece alguém muito melhor que esse tipo de gente.

— Pois é, mas, não sei, eu achei que tinha sido tudo ótimo sabe, pra nós dois, mas no outro dia... Ele só fez de tudo pra se livrar logo de mim, e, bem, ele deixou claro que não gostou da noite...

— Simplesmente não acredito nisso, tem coisas que, bem, não tem como fingir.

— Ele usou ótimos argumentos, pode ter certeza... Eu me sinto quase humilhado.

— Isso, é simplesmente terrível, que tipo de ser humano faz isso, mesmo que tenha sido ruim sabe, pra que jogar isso na sua cara? Especialmente se vocês já tinham combinado que seria uma vez só, isso é uma coisa tão baixa para se fazer. Ele foi seu primeiro?

— Mais ou menos, eu já  tinha feito umas coisas... Mas nunca tinha... Você sabe. E depois dessa noite, não sei se quero ficar com outra pessoa tão cedo. Acho que estou estragado para o sexo.

— Estragado? Não acho que seja verdade. Você vai conhecer a pessoa certa, esse cara só não era a pessoa.

— Eu sei... Não sei o que deu em mim entende, eu sempre levei minhas regras muito a sério. Eu nunca me imaginei... Sei lá. Acho que eu estava carente.

— Você estava carente, aí decidiu perder sua virgindade com um cara aleatório que nunca viu antes e pra piorar se apaixonou?

— Soa terrível quando você coloca assim...

— Não é isso, só, não parece carência pra mim. Mas, talvez eu seja muito antiquada pra esse tipo de coisa.

— Você não é antiquada, apesar de estar me julgando friamente nesse momento.

— Não estou te julgando, só tentando entender... Eu nunca faria algo assim, sabe...

— Ficar com um cara aleatório?

— Sim... Eu tenho um problema.. Não  é fácil pra mim ficar com qualquer pessoa, não consigo imaginar porque você ficaria com alguém que acabou de conhecer, muito menos porque você perderia a virgindade com uma pessoa dessa. Não é que eu seja recatada ou algo do tipo, é só, inimaginável pra mim.

— Tenho certeza que você sabe como é... Passa um cara gato perto de você, vocês se beijam o desejo fala mais alto e quando você dá por si, é tarde demais.

— Eu definitivamente não sei o que é isso.

— Como assim?

— Eu nunca senti isso, esse... Desejo... Querer beijar alguém completamente aleatório, não parece atraente pra mim.

— Você nunca sentiu desejo? Não precisa ser um cara que você viu na rua, pode ser um cantor ou alguém que viu na televisão e pensou, nossa adoraria ir pra cama com ele?

— Não.

— Sério?

— Sim, eu nunca tinha sentido desejo por ninguém antes do James e do Bryan na verdade.

— Mas você sentiu desejo por eles assim que viu eles?

— Não,  eu não conseguiria. Eu precisei conversar, conhecer, ter uma ligação emocional sabe... Mesmo que pequena, e só depois que comecei a desejar eles. Não consigo entender como é possível simplesmente sabe... Sem nunca ter conversado.

— Jura?

— Sim, meu primeiro beijo com o Bryan, chegou a ser levemente desconfortável. Eu achei que era por causa, sabe, do meu trauma, mas depois que a gente se conheceu melhor, as coisas fluíram muito bem.

— Amiga você não é demissexual não?

— Eu nem sei o que é isso Max. Mas, não devíamos estar falando de mim aqui e sim de você.

— Amiga, meu barco já está naufragando. Pelo menos assim vou ajudar você a se conhecer melhor, eu fico feliz por isso. Posso te dar uma aula de você quiser. Demissexual são as pessoas que só sentem desejo por quem tem alguma ligação, algum vínculo. Acho que pode ser o seu caso. Por isso você nunca tinha desejado alguém antes.

— Isso faz realmente sentido... Se eu for realmente demissexual e eu não sinto desejo sem ter um vínculo,  e com meu TEPT eu não consigo me vincular a ninguém, por isso era tão ruim beijar as pessoas antes, porque uma coisa atacava a outra e agora que estou melhorando do TEPT consigo formar vínculos e por isso também consigo, sabe... Beijar.

— Viu, eu estou certo. Sempre soube que estou certo.

— Mas, isso continua não importando agora. Ainda quero falar sobre você e esse cara.

— Não sei se tem muito o que falar Ali. Foi o que eu disse, eu fui um idiota.

— Você não foi idiota, não ouse dizer isso, você não fez nada de errado. Ele que foi um grande idiota não você. Você não tem culpa de nada.

—Ele também não fez nada de errado. Eu sabia que ele não queria um relacionamento, que ele queria só algo de uma noite.

— Mas mesmo assim, ele não precisava ter sido tão cruel. Mas sabe o que eu não consigo entender. Por que você foi?

— Porque eu queria muito ficar com ele, e no momento, não parei pra pensar que ele podia quebrar meu coração depois. — Max diz e recomeça a chorar.

— Ah, Max... — Eu digo enquanto o abraço e deixo que ele chore com a cabeça apoiada no meu ombro.

— Você  realmente acha que não foi burrice minha me entregar assim?

— Claro que não. Ele que é um burro, de perder alguém como você.

— Você diz isso porque me ama.

— Sim, eu te amo. Porque você é uma pessoa incrível. Que merece alguém incrível. Agora chore tudo o que precisa chorar, tome quanto sorvete quiser e coma muito chocolate, depois disso não quero ninguém borocoxo aqui não. Você é uma estrelinha Max. Merece o mundo e merece ser feliz. Um dia vai achar um cara que te ame e te valorize, tenho certeza.

— Ok.

— E esse cara é um trouxa.

— Mas é um trouxa belíssimo. — Fala Max logo antes de seu telefone tocar e ele responder rapidamente. O que me deixa levemente curiosa.

— É alguma das meninas? Elas devem estar preocupadas. Você já falou com elas?

— Eu falei que estava bem, mandei mensagem. Só você que eu quis ver pessoalmente. Acho que era a mais adequada para conversar sobre esse assunto. É Francis, na mensagem.

— Francis é o rapaz que a gente odeia?

— Não. É o cara que eu dispensei.

— Ótimo, sabe o que dizem?

— O que?

— A melhor coisa pra curar um amor, é um novo amor.

— Tá vendo é por isso que eu vim conversar com você. — Max fala enquanto me abraça e continuamos a tomar sorvete.

Ⅱ ▶ ——————————•————— ↺

Eu e Max passamos toda a tarde juntos, tomando sorvete e jogando conversa fora. Depois de um tempo coloquei um filme de romance bem clichê na netflix e nos acabamos de chorar juntos.

Eu realmente adoro a companhia do Max, ele é um ótimo amigo, e quero estar aqui para apoiar ele. Mas, confesso que acho meio estranho, é quase como se uma peça não se encaixasse ou estivesse faltando, tenjo essa sensação estranha de que ele está escondendo algo de mim, mas não  consigo entender o motivo. De qualquer forma tento não pressionar ele, tenho certeza de que no momento que ele julgar ideal ele me contará toda a verdade.

No fim da tarde Max vai embora para se encontrar com o tal Francis, e eu fico muito feliz por ele parecer estar realmente melhor. Não sei exatamente o que realmente aconteceu, mas espero que ele consiga esquecer esse rapaz, pelo bem dele mesmo. Logo que Max vai embora meu celular toca com uma mensagem da minha mãe.

MamãeVou demorar algumas horas. Tive um imprevisto. Te conto quando chegar. Beijos.

Alicia: Tá tudo bem?

MamãeEstá sim, prometo. Conversamos quando eu chegar, longa história.

Alicia: Ok.

Como minha mãe aparentemente ainda vai demorar, ligo pro Bryan pra conversar um pouco enquanto espero, e secretamente tento conter minha curiosidade sobre o que aconteceu com minha mãe.

— Alô

— Oi. — Noah atende.

— Oi Noah, cadê o Bryan?

— Deve estar vindo. Foi beber água. Vi que era você atendi. Max tá aí? Bryan falou que ele tava indo aí.

— Ele já foi, tinha um encontro.

— Encontro é? Com o cara de ontem?

— Sim,  quer dizer não com o babaca que fez ele chorar. Com um cara que ele dispensou ontem. — Eu digo e o outro lado fica mudo.

— Noah? Tá aí ainda?

— Tô, desculpa. Me distrai aqui. Não sabia que o cara era um babaca.

— Um completo babaca, mas, não é da minha conta. Você devia conversar com ele, apesar de tudo você é bom em dar conselhos, e acho que é quem sabe melhor o que aconteceu ontem.

— Acho que ele não vai querer falar comigo.

— Porque?

— Noah?

— Noah? — Olho para o celular e vejo que não estamos mais em ligação. Tento ligar novamente e o celular está desligado.

Será que eu disse algo de errado?

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