Capítulo 19

Eu obviamente estava com medo a toa, Dolores, a mãe do Bryan é um amor de pessoa, super simpática e receptiva. Logo que eu entrei ela me puxou para um abraço caloroso e disse o quanto estava feliz por me conhecer, o que fez com que minhas barreiras logo caíssem.

Também acabo conhecendo Jake o irmão mais novo de Bryan, ele tem 5 aninhos e da pra ver o quanto é apaixonado pelo irmão, afinal, foi só o Bryan entrar pelq porta para ele começar a segui-lo por toda a parte e falar com muita animação sobre vários assuntos.

É lindo ver a relação do Bryan e da sua família, a forma que eles se dão bem e se entrosam, parecendo, não sei, uma família de verdade. Aparentemente não conhecerei o pai de Bryan hoje, pois ele está trabalhando, mas Dolores fez questão de dizer o quanto ele estava feliz com o namoro e triste por não estar ali, e que mesmo longe mandavaum abraço. Aquilo preencheu o coração de Alicia completamente, o gesto, a preocupação,  aquela família era como nenhuma outra.

A casa do Bryan é simples, nas muito aconchegante. De alguma forma, parece um pouco minha casa no interior, o que me deixa muito confortável.

— Venham se sentar que vou servir o almoço. — Dona Dolores anuncia, e logo nos reunimos envolta da mesa.

A mãe de Bryan prepara um banquete, arroz, feijão, macarronada, frango assado, maionese, farofa,  legumes assados e uma salada de alface com tomate, comida pra um batalhão, sem sombra de dúvida.

Nos sentamos para comer, e a comida espetacular de Dolores logo ganha meu paladar.

— Dona Dolores, a senhora é uma cozinheira de mão cheia, sério, está tudo absolutamente delicioso. — Eu digo após algumas garfadas.

— Obrigada Alicia, foi feito com muito carinho, pode ter certeza.

— Bry, ela sabe de quando você tinha minha idade e pulou do sofá porque achava que sabia voar, mas acabou torcendo o pé? — Pergunta Jake.

— Não, ela não sabe Jake — Responde um Bryan envergonhado.

E logo a mesa vira palco para as histórias constrangedoras de um Bryan criança.

— Bryan começou a namorar muito novo sabe Alicia. — A mãe do Bryan começa. — Também,  sempre foi esse rapaz bonito, não tinha como a mulherada resistir. Mas depois que a Maxine morreu, nós achamos que ele nunca fosse arrumar outra pessoa.

Bryan parece constrangido, deve ser um assunto difícil pra ele já que ele nunca comentou sobre essa Maxine, mesmo sendo uma pessoa muito aberta. Percebendo o clima constrangedor, me apresso a mudar logo de assunto.

— O Bryan aprontava muito quando era criança dona Dolores?

— Bryan? Era terrível, menina. Teve uma vez, quando ele tinha uns 3 aninhos que ele saiu correndo só de cuequinha atrás do gato da vizinha e não sossegou até por a mão no bendito gato. O gato arranhou ele todo para largar de ser besta, você tinha que ver. — Diz dona Dolores, e o assunto volta para o pequeno Bryan arteiro.

Alicia consegue imaginar, a linda criança de apenas 3 aninhos correndo atrás do pobre gato, com seus cabelos ruivos e seus lindos olhos. Seu peito se enche de carinho ao imaginar a cena.

Ⅱ ▶ —————•—————————— ↺

Após o almoço Alicia se prontifica a lavar a louça,  mas Dolores logo a dispensa.

— Que lavar louça o que, visita não lava louça aqui não. Bryan, mostre o resto da casa para a menina, e Jake,  vai tomar banho e se arrumar que vamos sair logo.

— Vocês estão saindo?

— Sim, achei que Bryan tinha avisado que hoje é aniversário do coleguinha do Jake, essas festas em parque sabe,  Jake ta louco pra ir. Me desculpa por não poder ficar e fazer companhia pra você, mas volte mais vezes, vai ser um prazer te receber quando quiser.

—  Volto sim dona Dolores, foi um prazer conhecer você.

A senhora me dá outro de seus abraços de urso e fala ao meu ouvido.

— Você tem feito muito bem pra ele menina, obrigada de verdade.

— Eu digo o mesmo dona Dolores. — respondo num sussurro.

Bryan me mostra o resto da casa, mas na verdade, não tem muita coisa para mostrar.  O quarto do irmão é o típico quarto de una criança dessa idade, uma cama com edredon do Batman, e brinquedos espalhados por toda parte. O quarto dos pais, ele obviamente não mostra, não teria motivo para fazê-lo,  e por fim, sou levada até seu quarto.

O quarto de Bryan é levemente desorganizado, nada fora do comum, sua cama de casal está desfeita, mas organizada, algumas roupas empilhadas ocupam a cadeira de sua escrivaninha, e o guarda-roupas tem uma das portas aberta, que ele se apressa em fechar. Uma das paredes é coberta de fotos, a maioria delas com o irmão,  a mãe,  ou um garoto loiro da mesma idade dele que Alicia supõe que seja Noah. Tem também muitas fotos dele jogando e a típica foto de time de futebol.

— Eu gosto muito de fotos impressas. — Ele diz. — É meio antiquado, eu sei, mas é diferente de uma foto digital.

— É incrível, você é muito fotogênico.

— Obrigado Alicia, eu queria falar com você, pode se sentar, por favor?

— Aconteceu alguma coisa?

— Não,  não aconteceu nada, eu só... Eu vi o que você fez lá na mesa, e eu agradeço, sinto muito por nunca ter falado sobre isso com você.

— Eu entendo, é um assunto difícil. — Eu digo, Bryan se senta ao meu lado e olha para suas mãos em seu colo.

* Atenção! Alerta de conteúdo sensível *

— Maxine era minha vizinha,  ela foi, meu primeiro amor. Começamos a namorar quanto eu tinha 11 anos, dei meu primeiro beijo com ela, perdi minha virgindade com ela, eu a amei muito. Eu tinha 15 quando ela morreu, ela 18, um assaltante a abordou na saída do banco, ela passou tudo, dinheiro, celular, mas ela usava um colar, de ouro. O bandido achou que ela estava demorando muito para tirar a corrente, ela levou dois tiros, morreu na hora. Eu nunca me perdoei por não ter feito nada por ela, por não conseguir defender ela, no dia do velório dela, eu descobri que ela me traia, com um cara mais velho, um professor ou algo assim. A melhor amiga dela me contou,  até hoje, eu nunca tinha contado isso para ninguém, nem minha mãe sabe disso. Max estava grávida quando morreu, esperando um filho do professor. Ela tinha ido ao banco sacar dinheiro para fugir com ele, a corrente de ouro que ela usava, também era um presente dele. — A voz de Bryan estava embargada, eu conseguia ver as lágrimas pingando dos olhos dele.

— Eu me revoltei depois disso, comecei a beber, peguei um monte de mulher. Foi horrível, nada ocupava o vazio do meu peito. Até que meu técnico me viu, bêbado, fazia um ano que tudo aconteceu. Ele viu potencial em mim, ja tinha me visto jogando bola com a mulecada, me chamou para treinar com ele, e falou que se eu quisesse jogar eu tinha que me manter limpo, do contrário, eu podia voltar a "chorar por vagabunda", eu fiquei irado quis ir pra cima dele, mas ele me explicou que o cara que max dormia era cunhado dele, ele largou a família por ela, a mulher ficou arrasada. Ele me achou por coincidência, mas logo descobriu quem eu era, ele ficou resistente em me convidar pro time, mas ele percebeu que eu estava sofrendo igual a irmã dele.

— Eu comecei a jogar e nunca mais bebi, nem fui pra cama com ninguém. Pelo menos não até conhecer você,  eu tinha decidido que se um dia fosse pra cama com alguém novamente,  seria com alguém que valesse a pena.  — Bryan fica em silêncio até eu começar a falar, apenas o som das suas lágrimas percorre o quarto.

— Eu tinha 7 anos, minha melhor amiga precisou sair e o pai dela permitiu que eu ficasse lá, sozinha com ele. Eu comecei a brincar com os brinquedos da Nina, até ele aparecer na porta e perguntar se podia brincar comigo. Eu concordei obviamente.  Começamos a brincar, mas ele não queria brincar de nada que eu sugeria, até que eu sugeri brincarmos de casinha, e ele falou "claro, essa é uma ótima ideia, eu sou o papai e você  a mamãe, tudo bem?" Eu concordei, e começamos a brincar, até que ele me agarrou e beijou minha boca, papai e mamãe fazem isso ele dizia. Ele colocou a mão na minha bunda, afinal, papai e mamãe fazem isso, ele sabe, ele é papai de verdade. Ele tirou seu membro para fora da calça e pediu que eu o tocasse, eu o fiz, enquanto ele apertava minha bunda com muita força, de um jeito que doía muito. Quando ele tentou colocar em mim, eu saí correndo, morrendo de medo. Eu contei para todo mundo, ninguém acreditou em mim, ninguém além da minha mãe, a última  conversa que eu tive com a Nina aconteceu depois disso. Ela-ela disse... — Eu começo  a chorar tanto que eu não consigo falar.

— Shhhhh, eu entendi, calma, tá tudo bem, já passou tá bom. — Bryan me abraça e choramos juntos por toda a dor que as pessoas nos causaram.

E apesar de serem dores totalmente diferentes, nos encaixamos nessas dores, nessa mágoa que alguém em quem confiávamos nos causou, a dor cruel da traição.

Meu coração bate forte abraçada com ele, hoje eu enxergo ele por completo, a pessoa que é forte por dentro e por fora, dono de um coração tão bom, que me faz querer ser mais forte, e eu o amo ainda mais nesse momento.

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