Capítulo 14

Brie tem lágrimas nos olhos quando começa a nos contar direito o que vem acontecendo em sua vida. Minha cabeça mal consegue processar a informação que acabo de ouvir quando tudo é jogado  em cima de mim, tenho certeza que ela estava com tudo isso entalado já a algum tempo, e finalmente nos contar deve ter retirado um peso de suas costas, ainda assim é duro ouvir e saber que ela tem passado por tudo sozinha.

- Meu pai está com câncer, ele descobriu tem um tempo, não sei exatamente quando, ele contou pra minha mãe esse mês e ela contou pra mim essa semana. Quando ele descobriu já estava em um estágio avançado. Ele tem pouco tempo de vida, e quer que eu fique lá com ele. Não sei quando eu volto, mas não posso deixar meu pai sozinho num momento como esse.

- Minha Deusa, Brie, não acredito que você está passando por algo assim e demorou tanto pra contar pra gente. Amiga, muita força nesse momento, quando você vai? - Pergunta Max.

- Provavelmente daqui duas semanas, ainda estamos vendo tudo, as coisas de visto e tudo mais, o Japão é um país bem rigoroso pra entrar.

- Estou tão triste que você vai embora Brie, você é minha amiga mais antiga... Vou sentir tanto a sua falta. Precisamos fazer uma festa de despedida. - Fala Meghan entre lágrimas.

- Mas é claro que vamos fazer. Não tenha dúvidas. - Fala Tiff.

Estamos todos muito emocionados, saber que a Brie vai embora, não é fácil pra nenhum de nós. Eu apesar de não ter tanto tempo assim de convivência, não consigo me imaginar sem um dos meus amigos.

E nesse momento, eu decido que é a hora de eu contar pros meus amigos exatamente o que aconteceu comigo, eles sem duvidas precisam ser os primeiros a saber.

- Eu sei que talvez seja um momento ruim, mas eu queria falar pra vocês... Sobre o meu segredo, o motivo pelo qual as pessoas me odiavam ou seja lá como quiserem chamar.

- Nossa Senhora, claro que é um momento bom, é sempre um bom momento pra fofocar. Mas por favor, se eu precisar de psicólogo depois de hoje, eu mando a conta pra você. - Fala Meghan.

Então eu começo a contar.

"Eu tinha uma melhor amiga quando era criança, o nome dela era Nina, e a gente vivia sempre juntas. Nina e eu brincávamos juntas na minha casa e na dela, e eu gostava muito de ir lá, ela tinha muito brinquedo e muita coisa legal lá sabe."

"O pai da Nina era, ou melhor dizendo ele é uma pessoa muito influente e eles sempre tiveram uma condição financeira muito boa. Quando eu tinha 7 anos de idade, eu estava brincando na casa dela mas ela precisava sair com a mãe. O pai dela me garantiu que ela voltaria logo e que eu podia ficar esperando. Como eu gostava muito de brincar com os brinquedos dela, eu fiquei."

"O pai dela fez coisas comigo naquele dia, coisas que eu ainda não entendia tão bem, e que hoje que eu entendo eu não quero falar, mas foi algo que me traumatizou muito."

"Eu fui embora de lá, sem esperar a Nina chegar, e contei pros meus pais quando cheguei em casa. Meu pai não queria fazer nada a respeito, achava que eu tava mentindo, ou, que ninguém ia acreditar mesmo que fosse verdade. Minha mãe, ficou do meu lado, mas no fim meu pai estava certo."

"O pai da Nina disse que era mentira, que eu tentei roubar algo de valor da Nina e que ele me pegou e por isso eu estava inventando histórias. Ninguém acreditou em mim. Eu fui vista como mentirosa, como ladra, eu era uma pária, uma piada, alguém que não sabia dar valor as pessoas boas."

"Fizeram todo tipo de merda na escola comigo, eu precisei fazer terapia durante muito tempo, pra lidar com o trauma, com o bulling, com tudo o que aconteceu e com o transtorno de estresse pós traumático que eu desenvolvi, ainda preciso de terapia pra lidar com tudo na verdade."

É a segunda vez que o silêncio reina na minha casa, um momento se passa entre meus amigos me olhando, chocados e imóveis até todos me abraçando em um abraço coletivo. Estou realmente feliz de ter contado essa parte da minha vida pra eles.

Depois de todo o papo bad vibes passamos o resto da noite falando besteira e comendo porcaria. Ter amigos como os meus, foi uma das melhores coisas que me aconteceu, a minha vida toda, eu sempre ansiei por isso, e agora que eu os tenho, é ainda melhor do que eu consigo pensar.

ⅡⅡ ▶ ———————•———————— ↺

Acordo no sábado de manhã, e tem uma mão na minha cara e uma perna em cima da minha, de alguma forma conseguimos apertar 5 pessoas na minha cama de casal. O que, sinceramente parece coisa de doido pra mim, mesmo tendo sido uma decisão que tomamos sóbrios.

O clima acabou mudando durante a noite, rimos e brincamos muito, decidimos que era hora de aproveitar cada momento com a Brie enquanto ainda podemos tê-la conosco.

Foi bom encher a cara de pizza e refrigerante e esquecer nossos problemas. Esquecer meu trauma, esquecer que a Brie vai embora. E apenas rir da vida.

Max acorda um pouco depois de mim, e descubro que a mão que cobria meu rosto era dele. Começamos a conversar baixinho pra não atrapalhar as meninas a dormir, já que não teria condições de levantar.

- Eu devia mandar uma foto pros meus pais desse momento, tenho certeza que eles iam adorar me ver na cama com 4 lindas mulheres.

- Você se importa? Com o que eles pensam eu digo.

- Nem um pouco, mas no começo era difícil sabe. Eu não conseguia entender porque meus pais não me amavam, não conseguia entender que diferença fazia se eu gostava de homem ou de mulher, era eu que ficaria com as pessoas e não eles, isso não devia importar.

- Você tem razão, isso não devia importar mesmo, esse lance de preconceito... É algo que não faz sentido na minha cabeça.

- As pessoas gostam de se sentir superiores, e é mais fácil fazer isso inferiorizando outras pessoas. Sei lá, só acho que gente assim não devia ter filho.

- Muita gente não devia ter filho e tem.

- Eu queria pedir desculpas se te pressionei em contar seu lance algumas vezes, eu não imaginava que era algo tão grave.

- Tudo bem, você não tinha como saber.

- Mesmo assim, não devia ter pressionado, somos amigos e eu sabia que você diria quando tivesse pronta.

- Eu nunca contei pra ninguém, além da psicóloga e meus pais é claro.

- E como foi? Contar.

- Foi bom, me sinto mais leve.

- E esse negócio que você tem? Esse transtorno.

- Tept.

- Isso mesmo, como é? Eu já ouvi falar mas nunca conheci alguém que tivesse.

- Vai muito de cada um, eu acho, mas no meu caso, estar com outras pessoas era difícil. Principalmente no começo. Eu não me sentia bem de estar perto sabe... Muito perto, de ninguém. Não suportava que me tocassem. Foi difícil.

- Nem consigo imaginar. Eu sempre tive essa necessidade de pessoas perto. Incomoda você? Hoje, isso aqui por exemplo?

- Hoje não, mas alguns anos atrás, sem duvidas. O que mais me afetou foi no sentido romântico.

- Como assim?

- Eu achava que era assexual, pois nunca ne sentia interessada por ninguém. Nem homem e nem mulher, um cara uma vez pediu pra ficar comigo e eu beijei ele e foi ruim sabe, não sentir nada. Fiquei com mais algumas pessoas, mas nunca... Sabe... Era como se só meu corpo estivesse ali, e eu me sentia péssima depois.

- Então o James e o Bryan?

- O James foi o primeiro cara que me senti atraída. Foi estranho, eu me senti, sabe demais... Como era tudo novidade, eu faria qualquer coisa que ele pedisse.

- Faria? Hoje não mais?

- Não, eu gosto do James mas como amigo, ele é confuso demais, complicado demais, eu nunca sei o que ele realmente quer. Ele nunca fala, é difícil de lidar. Se ele fosse uma música... ele seria Hot n' cold da Katy Perry.

- Minha deusa Ali, eu amo essa música haha, vou lembrar dele sempre que eu ouvir agora. Mas e o Bryan?

- Eu... Eu am.... Eu adoro o Bryan, ele é completamente diferente do James sabe. Ele é muito aberto e conversa muito, é direto e deixa claro o que quer, nunca é complicado com ele, nunca é difícil.

- Ele é mais um... Enchanted da Taylor Swift?

- Sim, mais ou menos isso, haha.

- Meu Deus vocês não vão calar a boca não, tem gente tentando dormir aqui. - Fala Meghan.

- Que dormir o que minha filha já são 10 horas, já tá na hora de acordar.

- Só porque você quer né.

- Mas é claro!

No final Max joga um travesseiro na Meghan que acaba jogando nele de volta, e alguns minutos depois estamos os 5 rindo pulando e correndo, brincando de guerra de travesseiros.

Acabamos todos os 5 deitados no chão, exaustos. Rindo feito loucos, como se não houvesse amanhã.

Ⅱ ▶ ———————————•———— ↺

É quase meio dia quando o Bryan me manda mensagem. Minha mãe já havia mandado mensagem mais cedo avisando que ela chegaria só depois das 17 horas que ela teve um happy hour do trabalho pra ir, que eu respondi com um "divirta-se e juizo."

Bryan: Oi, que horas eu posso ir aí? Estou ansioso para ver você.

Alicia: Minha mãe avisou que chega depois das 17.

Bryan: Ok, então as 17 eu chego aí gatinha.

- É o Bryan? - Pergunta Tiff.

- Se for, pergunta se ele não tem um amigo bonito igual ele pra me apresentar. - fala Max, brincando.

- É ele sim, ele vai vir aqui mais tarde. E tá perguntando que horas pode vir, mas já avisei pra ele chegar as 17.

- Porque as 17? Porque ele não vem agora? - Fala Tiff.

- Porque agora eu estou com vocês, e quero dar atenção pra vocês ué, e vocês não vão querer ficar de vela também.

- Não seja por isso, então a gente já vai. - Fala Meghan.

- Que? Não vocês não precisam ir.

- Amiga, eu sei que você ama a gente e a gente ama você também, mas já estamos aqui desde ontem, você merece um tempo pra se divertir com seu boy, sem a gente aqui ou sua mãe. - Fala Brie.

- Sim, até porque a gente quer saber de tudo depois. - fala Max. - Então pode mandar mensagem pra ele vir, que a gente já vai.

- Sério gente, não precisa.

- Precisa sim, eu sei que precisa. - diz Meghan.

E em poucos minutos meus amigos estão indo embora, como se nada tivesse acontecido. O que por um lado me deixa feliz por que caraca eu tenho amigos realmente incríveis e qual é, eu realmente quero passar um tempo sozinha com o Bryan e por outro lado me deixa preocupada de ter sido uma amiga ruim por largar eles pra ficar com meu namorado, não quero que eles se sintam deixados de lado. Então mando mensagem, pra eles.

Alicia: Espero que vocês não tenham se sentidos deixados de lado. Amo vocês.

Max: Jamais, agora vai se arrumar gata.

Brie: Toma um banho e põe uma roupa bonita pro seu gato.

Tiff: Não esquece de por uma lingerie bem sensual.

Meghan: E de usar camisinha.

Max: esperamos notícias depois que ele for embora. Então por favor, enxote ele dai rápido pq se não vou morrer de curiosidade.

Alicia: Vocês não prestam!!!

Max: Não mesmo, por isso você ama a gente.

Logo após eu envio a mensagem pro Bryan, e só de mandar a mensagem já sinto meu coração acelerando dentro do peito.

Alicia: Oi, meus amigos foram embora. Se quiser pode vir, estou sozinha em casa.

Bryan: Claro, estou indo. Só vou tomar um banho e trocar de roupa, devo chegar aí dentro de uns 30 minutos. Beijos.

Alicia: Beijos, estou ansiosa pra ver você.

Depois de responder deixo o celular de lado, e bem, vou seguir o que meus amigos disseram. Dou aquela ajeitada no quarto, troco o lençol da cama. Tomo um bom banho escovo os dentes e depilo o que é necessário, ponho um conjunto de lingerie vermelho sensual que comprei quando cheguei aqui e nunca usei. E coloco um vestido vermelho de alcinha por cima. Dou uma ajeitada no cabelo, passo um perfume e só um rímel de maquiagem.

Quando termino de me arrumar o interfone toca e peço ao porteiro pra que deixe o Bryan subir. Meu coração ameaça sair pela boca a qualquer segundo.

Quando a campainha toca, eu respiro fundo e me apresso em abrir, sinto minhas mãos frias devido ao nervoso. Não tem borboletas no meu estômago, tem logo um panapaná inteiro.

- Oi, nossa, você tá linda. - diz Bryan, seus olhos brilham quando ele olha pra mim.

- Oi, você tá lindo também. - eu digo, e ele realmente estava lindo, de calça jeans e camiseta, com o cabelo arrumado, e cheiroso como sempre. - Vem, entra, vamos pro meu quarto.

Bryan entra, eu tranco a porta e acompanho ele até o quarto de mãos dadas. Entramos no quarto e eu também tranco a porta dali. Ele se senta na cama e eu me sento ao seu lado, minhas mãos estão suando, e meu coração mal cabe no meu peito.

- Você tá bem Alicia? Você parece nervosa.

- Eu tô um pouco nervosa realmente.

- Porque Alicia? Você sabe que eu nunca faria algo que você não quisesse, não sabe? Não é porque estamos sozinhos aqui que algo precisa acontecer.

- Eu sei, eu sei disso tudo...

- Mas?

- Mas eu quero. Eu quero fazer amor com você Bryan, e eu quero fazer amor com você hoje.

- Alicia, você tem certeza? Eu não ligo se a gente for devagar, não precisa...

- Bryan. - Eu interrompo. - Eu tenho certeza. Eu tenho muita certeza.

Bryan coloca a mão nos meus braços e olha nos meus olhos, seus olhos cheios de carinho.

- Você pode mudar de ideia quando quiser tá bom? Eu quero que isso seja especial pra você. Que seja perfeito, e principalmente que você goste.

- Tá bom Bryan, claro.

Bryan desliza as mãos até minhas costas e me segura firme, sua boca encosta na minha e a minha se abre automaticamente, sua língua invade minha boca, ele está cauteloso, eu sinto esse beijo diferente de todos que nós já demos antes. O cuidado que ele está tendo comigo, como se eu fosse algo delicado e precioso. Eu não sei como tudo aconteceu tão depressa, mas eu já sabia, esse jeito que ele me trata apenas faz com que tudo fique ainda mais claro pra mim:

Eu estou apaixonada por ele.

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