C A P I T U L O 0 8
Acabou a aula, e eu não vi mais o James o resto do dia todo, o professor Daniels disse algumas coisas sobre irresponsabilidade, mas acho que ele estava mais falando sozinho que qualquer outra coisa. Meus amigos não me questionaram muito sobre o James, na verdade, o resto do dia todo se deu ao redor de Bryan, e vamos lá, eu sei que eu devia estar feliz, afinal tenho um encontro com um carinha bonito e tal, e eu até estou feliz, mas, ao mesmo tempo, não estou, porque eu só consigo pensar no James, estou preocupada com ele e minha vontade é ir correndo para a sua casa.
De qualquer forma, fugir do bendito encontro não parece uma opção provável, já que quando saio da escola, Bryan está encostado no muro me esperando.
— Alicia! Que alegria te ver. Vamos?
— Na verdade, Bryan, eu preciso ir. Minha mãe está precisando de mim. — digo antes que eu possa me interromper, e até antes mesmo que eu saiba o que estou fazendo.
— Ah, ok. Podemos marcar para amanhã, ou depois, ou qualquer dia que for melhor para você. — ele diz, sua voz soa decepcionada e até mesmo insegura, e me arrependo um pouco por ter mentido para ele.
Bryan não é um babaca, ele não merece ser tratado assim, até agora ele se mostrou uma ótima pessoa, um cara que de verdade, vale muito a pena, e eu estou sendo uma verdadeira vaca com ele.
— Pode ser amanhã Bryan. Desculpa mesmo. — digo, depois que o arrependimento bate.
— Tá tudo bem, Alicia, sério, eu entendo. Então, até amanhã né.
— Até amanhã.
— Alicia, você pode me passar seu número?
— Claro, anota aí! — digo, e passo meu número para ele.
— Obrigado Alicia, tchau. — Ele se despede e me dá um abraço, sinto seu cheiro, e preciso dizer, o cheiro dele é ótimo, algo como cheiro de perfume amadeirado e de roupa lavada.
Bryan, aproveita o momento em que estamos abraçados e encosta sua boca na minha, bem lentamente, como se estivesse esperando minha autorização, ou mais, como se tivesse com medo que eu o afastasse. Mas eu não o afasto, eu permito que minha boca encoste na sua, abro passagem para que sua língua explore minha boca, e eu o beijo de volta.
O beijo começa suave, como duas pessoas que nunca se beijaram antes se beijariam, o que obviamente é o nosso caso, mas logo se transforma em algo mais feroz, a colega de Meghan não mentiu ao dizer que Bryan beija muito bem. Sua boca devora a minha, sua língua busca a minha incessantemente e suas mãos passeiam pelo meu corpo e param na minha bunda, nesse momento sinto algo frio dentro de mim, percorrendo minha espinha e se alojando nos meus ombros. É uma sensação terrível, e eu arrumo suas mãos de volta na minha cintura, mas ele não parece se importar, na verdade, ele dá uma risada na minha boca, e eu gosto da sensação, de beijar a sua risada. Gosto de sentir sua pele, seu beijo e seu perfume que me embriaga lentamente. Mas ainda assim, meu coração não está aqui, talvez seja devido à minha preocupação com o James, ou talvez seja apenas questão de tempo. De qualquer forma, mesmo sem um sentimento profundo, esse foi sem dúvidas o melhor beijo da minha vida.
Ele se afasta de mim lentamente, e coloca as mãos no bolso da calça. Ele está com um sorriso que vai de orelha a orelha. Como se ele tivesse, não sei, ganhado um jogo muito importante.
— Até amanhã, Alicia. — ele diz e se vira, dá um pulinho, e sai correndo. É bem fofo, eu acho que posso aprender a gostar do Bryan, na verdade, gostar do Bryan parece mais fácil que qualquer coisa, principalmente quando percebo como me sinto feliz nesse momento.
Vou para a casa por um caminho muito mais longo, um caminho que coincidentemente me faz passar na frente da casa do James.
Juro para mim mesma que só tô indo por ali por coincidência, e quando aperto a campainha da sua casa, eu juro para mim mesma que é só porque ele é meu amigo, e ele é importante para mim como amigo, e somente como amigo. Eu não quero perder a amizade dele.
Ele abre a porta da casa e sai. Está vestido com uma camiseta branca e calça jeans escura. Seu cabelo é um coque no alto da cabeça.
— Alie, não esperava te ver aqui hoje. O que aconteceu com seu encontro?
— Eu cancelei, estava preocupada com você.
— Não precisava se preocupar. Alie, eu estou bem.
— Você foi embora, no meio da aula.
— É, eu fui, Daniels não deve ter gostado nada disso.
— Não gostou não.
Ficamos nos olhando, sem saber o que dizer, é como se tivéssemos tanto a dizer um para o outro que não conseguimos dizer nada.
— Você falou que queria ver minha mãe, você não quer vir comigo? Ela está em casa ainda, volta do afastamento na quarta. Aí vai ficar mais difícil para ver ela.
— Tá bom, você tem razão. Vou com você.
Ele sai e a gente começa a ir em direção a minha casa, eu sei que não devia, afinal ele tem namorada, e eu, bem, eu não tenho namorado, mas estou saindo com o Bryan, e isso, acho que significa alguma coisa, mas mesmo assim, meus dedos esbarram nos seus, e quando ele não afasta sua mão entrelaço um único dedo no dele, andamos o resto do caminho assim.
Chego em casa e minha mãe não está, tem apenas um bilhete na geladeira dizendo que ela volta logo, então ficamos sozinhos, James e eu.
— Tá com fome? Posso preparar um sanduíche.
— Não, obrigado, eu já almocei.
— Ok, se importa se eu comer?
— De jeito nenhum, sinta-se em casa Alie. — diz ele com um sorriso.
Preparo um sanduíche rápido, e chamo ele para o meu quarto. Ok, essa frase não ficou boa, rolou um duplo sentido, mas qual é, foi exatamente isso que fiz. Sento na beirada da cama, e enquanto como ele aproveita para bisbilhotar meu quarto.
— Não é tão maneiro quanto o seu. — digo entre uma mordida e outra no sanduíche.
— Eu gostei, é bem sua cara. Da para ver que você lê bastante.
— Leio, os livros foram meus únicos amigos por um bom tempo. Era bom, sabe, viver outras realidades quando a minha era, bem, uma merda.
— Qual o seu preferido?
— Ah, eu tenho vários. Você gosta de ler?
— Gosto, mas não leio muito, eu prefiro tocar.
— Claro.
Ficamos em silêncio enquanto termino de comer. Quando termino, James se senta ao meu lado na cama, e quando jogo meu corpo para trás, ficando com as costas deitadas na cama e os pés ainda no chão, ele faz o mesmo.
— Eu te devo 3 perguntas.
— Deve mesmo. Mas não sei se quero fazer agora.
— Por quê?
— Porque sei o que quero perguntar, e tenho medo do que você vai responder.
— Então pergunta outra coisa.
— Você se sente assustada toda vez que sai de perto da sua mãe, com medo que aconteça alguma coisa com ela?
— Sim, eu me sinto. Por mim, eu ficava grudada nela o dia inteiro. Mas sei que ela nunca me deixaria fazer isso. Ela é forte, eu só tenho medo que eu não seja.
— Algum dia você vai me responder se eu te perguntar o que aconteceu no outro colégio?
— Sim, eu só preferia que esse dia não fosse hoje, mas quando você me fizer essa pergunta, eu vou responder.
— Eu não quero perguntar, até você estar pronta.
— Eu sei. Pode fazer outra pergunta, essa não conta.
— Você ficou com o Bryan? Ou planeja ficar com ele?
— Sim, ele me beijou hoje, e eu deixei que ele me beijasse, ele parece ser um cara legal. Você tem algo contra ele?
— Não, nada além do fato dele ter beijado você. Mas queria ter, eu de verdade queria ter.
— Você ainda tem uma pergunta. — Eu digo, minha voz mal passa de um sussurro.
— Você ainda tem vontade de me beijar?
— O tempo todo, a droga do tempo todo. Mas sei que não posso fazer isso. Sei que a gente deve ser somente amigos.
James não responde nada por um bom tempo, apenas solta um suspiro alto, sua mão procura a minha do seu lado, ele a agarra e começa a fazer movimentos circulares nela com o dedão. De alguma forma, esse mero mexer de dedos faz meu coração se apertar no peito. As borboletas fazem acrobacias dentro do meu estômago. Até que finalmente James responde.
— Ser seu amigo é o suficiente para mim, por enquanto.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top