C A P I T U L O 0 7
Agora tudo faz sentido, a distância, o tratamento diferente, ele não encostar mais em mim e me tratar como um menino. Até mesmo ele ter saído correndo faz sentido.
Deito em minha cama, e não me permito chorar mais. Esse é para ser um momento feliz, minha mãe acordou, depois de quase 2 meses em coma. Eu não posso deixar que meu coração partido estrague isso, eu não posso nem dizer que o James me enganou, eu me iludi sozinha, a verdade é que a gente nunca nem ficou. Todo o resto, foi apenas eu, tratando uma amizade como algo que não era.
Preciso dar a volta por cima, eu preciso esquecer o James e manter ele no lugar que ele deveria ocupar desde o início. Fecho os olhos e tento evitar que as lágrimas caiam, mas eu não consigo, e eu digo a mim mesma, que nunca mais, nunca mais eu vou chorar por James novamente, enquanto choro deitada na minha cama.
É domingo, último dia antes da volta as aulas e minha casa está cheia. Minha mãe finalmente voltou, e todo mundo está aqui para ver ela.
— Eu devia ter alugado o salão de festas do prédio. — digo para ela, enquanto preparamos comida para as visitas.
— Não teria sido uma ideia ruim, mas não sabíamos que vinha toda essa gente. Você tem noção, que nem em Nova Barreira que vivi a minha vida toda eu nunca tive tanta gente em casa? Tantos amigos. Tem uma famosa, no meio da minha sala, Alicia. Quando eu ia imaginar uma coisa dessas.
A famosa em questão é a mãe da Meghan é claro, que eu descobri ser uma pessoa incrível, Meghan teve claramente a quem puxar. Também estão aqui os pais de Tiff, os quais são um pouco mais reservados, mas ainda assim bem simpáticos, os tios do Max e a mãe da Brie, juntamente claro, com suas crias. Também está aqui o chefe da minha mãe, que está muito feliz batendo um papo com a mãe da Meghan, e uma amiga do trabalho da minha mãe.
É uma tarde muito divertida, nós comemos e conversamos sem parar. Como eu havia imaginado, minha mãe fica amiga da mãe de Brie super rápido.
No fim da tarde, o suco se transforma em vodca, e pouco tempo depois os adultos estão animados e falando alto. Chego a ficar preocupada do síndico bater na nossa porta, e minha mãe tem a cara de pau de dizer que se ele bater na nossa porta, ela convida ele para entrar também.
Como as coisas estão animadas até demais para mim, eu surrupio a última jarra de suco não batizada da cozinha, e uma bandeja de salgadinhos, com coxinha e bolinha de queijo. E vou para o meu quarto com meus amigos.
— O James não vem? — Pergunta Meghan. Enquanto entra pela porta. — Gostei do quarto Ali.
— O James nem sabe que minha mãe já está em casa. — digo, enquanto arrumo um lugar para pôr as comidas e o suco.
— Você não disse que ainda são amigos? — pergunta Max. — Eu ia ficar chateado se você não me contasse.
— E eu, tenho certeza que ficaria chateada se você não me contasse que tem uma namorada, Max. — fala Brie, intervindo a meu favor.
— Brie, não sei se te avisaram. Mas sou gay, eu não vou arrumar uma namorada. — diz Max, fazendo com que todos nós caiamos na gargalhada.
— Gente, eu sei que vocês estão certos, é só que, eu não sei como agir com o James direito mais.
— Amiga, a gente tá te perturbando, mas tá tudo bem, mesmo se você não quiser contar para o James. Você não é obrigada a nada, muito menos fazer algo que não te deixa confortável, porque seus amigos são uns malas. — diz Meghan.
— Mas aí que tá, eu quero contar para ele, eu quero falar com ele o tempo todo, e por isso é tão difícil.
— Sabe o que diz o ditado amiga, para esquecer um amor nada como um novo amor. — diz Max enfiando uma bolinha de queijo dentro da boca.
Talvez ele tenha razão, eu penso, e mesmo depois que todo mundo vai embora e eu preciso organizar a bagunça com minha mãe, que fez questão em dizer para todo mundo que não precisava se preocupar, mesmo que se eles tivessem ajudado, a bagunça seria limpa muito mais rápido, aquilo fica na minha cabeça.
— O que você tá pensando tanto, minha filha? Tá com cara de quem está armando confusão.
— Acho que preciso de um namorado mãe.
— Um namorado?
— É, alguém sabe, para beijar na boca…
— Achei que você…
— Não ouse citar o nome do James. — eu interrompo.
— Ok, não tá mais aqui quem falou, é só que, eu me preocupo com você, sabe. Sei que você está na idade, e que, não sei, eu quando tinha meus 15 anos, tudo o que eu mais queria era alguém para dar uns beijinhos, é só que, eu não quero que você faça nada que se arrependa.
— Mãe, eu nem arrumei o namorado ainda. E, além disso, não tô procurando alguém para casar, só para beijar.
— Eu sei, eu sei, mas é que eu te conheço filha, você é maravilhosa, e tem um coração incrível, mas você é delicada também, eu sei tudo o que você passou.
— Não quero falar disso.
— Tudo bem, mas olha aqui para mim Alicia. — paro o que estou fazendo, e vou para a frente da minha mãe. Apoio minha mão na cadeira de rodas, e abaixo a cabeça para ficar na sua linha de visão. — Eu não vou te impedir de namorar, mas não force nada, ok. Não tente fazer algo que você não quer para agradar alguém, não arrume ninguém que não aceite seus amigos, e não os veja como as pessoas maravilhosas que eles são. E principalmente, arrume um namorado que te trate como você merece ser tratada, do contrário, nem se dê ao trabalho de me apresentar.
Minha mãe sai de perto de mim, sem nem esperar minha resposta. Termino de arrumar tudo, me deito na cama, olho o relógio e vejo que já é tarde. Eu devia dormir logo, pois amanhã tenho aula, mas mesmo assim, eu acabo pegando meu celular e mandando uma mensagem para o James.
Alicia: Tá preparado para a volta as aulas?
James: Na verdade, não. Como você está Alie?
Alicia: Estou bem, minha mãe já está em casa, eu esqueci de te dizer.
James: Fico feliz em saber isso. Posso passar aí amanhã para ver ela?
Alicia: Claro. Ela vai ficar feliz.
Alicia: Vou dormir, bateu o sono aqui. Boa noite, J.
James: Boa noite, Alicia.
Chego na escola no outro dia no horário de sempre, mas combinei de me encontrar com meus amigos no portão da escola e até agora nenhum deles chegou, então fico esperando.
— Oi, Alicia né?
Chega um rapaz na minha frente, eu já vi ele algumas vezes na escola e sei que ele é do terceiro ano. Seu cabelo é ruivo e sua pele é toda pintada com sardinhas fofas, eu sei que ele joga futebol num time semiprofissional, o nome dele é… Alguma coisa com B, mas não consigo me lembrar. Ele é forte, mas não de um jeito exagerado. Ele quase parece uma versão melhorada de um dos Weasleys de Harry Potter.
— Oi, você precisa me desculpar, eu não lembro o seu nome.
— Ah, não tem problema, é Bryan. — ele estende a mão para mim e eu a aperto. — Eu, fiquei sabendo da sua mãe, e sinto muito.
— Ah, obrigada Bryan, na verdade, ela tá bem melhor agora, já está em casa e tudo mais.
— Ah, que bom. Escuta, Alicia, você quer ir tomar um sorvete… Depois da aula? Não precisa ser hoje, pode ser qualquer dia, e pode ser outra coisa também, não precisa ser sorvete, pode ser…
— Bryan. — eu interrompo. — Eu aceito.
— Ah, que bom, nossa. Que bom! Então, até depois Alicia.
Ele dá um sorrisinho e entra na escola.
— Ai, Bryan, eu aceito tomar um sorvete com você. — Fala Max em tom de zombaria.
— Ah, que bom, que bom, que bom. — responde Meghan engrossando a voz.
— Ei! Não tem graça! — digo tentando não rir.
— Na verdade, tem, mas o que importa é que bicha, a senhora é rápida no gatilho hein. Quando eu crescer quero ser igual você. — fala Max.
— O Bryan é um fofo, é meio assanhado e tem dificuldade de manter a mão nos bolsos, se é que você me entende. Mas, é um gatinho. — Diz Meghan.
— Vocês já ficaram?
— Não, mas tenho uma colega do terceiro que já. Ela disse que ele beija muito bem.
— Quem beija bem? — pergunta Tiff que acabou de chegar, juntamente com Brie.
— Bryan. O do terceiro ano, jogador, que parece um Weasley.
— Ah, sim, eu sei quem é. Quem vai ficar com ele?
— Alicia.
— Arrasou, ele é um gatinho.
Fico vermelha, mas acabo não respondendo nada.
Entramos na sala do professor Daniels, e nos sentamos nos lugares de sempre. James também está lá, ele dá um aceno de cabeça para mim, mas ele parece aborrecido, eu me pergunto o porquê.
Alguns minutos depois o professor entra na sala.
— Bom dia, turma. Hoje é o primeiro dia de aula depois das férias, e como tive ótimas férias, eu decidi mudar vocês de lugar. Acho que já é hora de trocarmos os ares e as panelinhas aqui da sala. Eu vou falar o nome de dois em dois, e vocês vão sentando conforme os pares que eu disser. Vocês vão sentar assim até o final do ano, ok.
— Mas professor. — a turma grita quase em uníssono.
— Ok, então, Abel Dickens e Mario Carozzo. Adriana da Silva e Otávio Gallardes. Alicia Houstorm e James Berrybell… — ele continua falando os nomes, mas eu não escuto, me levanto da cadeira e vou até meu novo lugar. James não se mexeu.
O professor termina de listar os nomes e James continua no mesmo lugar de antes.
— Senhorita Houstorm, pode ir se sentar lá, no fundo, com o senhor Berrybell?
— Sim professor.
Eu me sinto em um livro com essa mudança de lugares, parece até que por dentro o professor Daniels é uma garota fanfiqueira, shippando eu e o James juntos. Mal sabe ele, que o “senhor Berrybell” já tem namorada.
— Oi, J.
— Oi, Alie. — diz ele sem olhar nos meus olhos.
— Tá tudo bem com você?
— Tudo ótimo.
— Por que você não foi sentar lá na comigo?
— Gosto de sentar aqui, mudar os lugares é uma besteira.
— Você teria ido se fosse outra pessoa?
— Você não ouviu o que acabei de dizer?
— Você tá bravo comigo?
— Não Alie, não tô.
— Você ainda vai lá em casa mais tarde?
— Não quero atrapalhar seu encontro com o Bryan Alie. — É por isso que ele está assim? Por que ouviu que eu teria um encontro? Isso não é justo.
— James…
— Chega de pergunta, Alicia. — James se levanta, pega suas coisas e sai da sala, me deixando ali, sozinha.
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