O resto das aulas passa sem nem sinal do James, nem mesmo por mensagem, não que eu tenha ficado esperando, ou conferindo o celular de tempos em tempos, nem nada do tipo.

— Alicia, pelo amor de Deus, mulher, você já olhou esse bendito celular umas 100 vezes. — fala Max na hora do intervalo.

— Você está exagerando Max, eu olhei algumas vezes só… Para ver a hora.

— Sei muito bem a hora que você tá vendo Alicia, a senhora não pense que me engana não. 

— Não tô tentando enganar ninguém! Isso aí é pura inveja.

— Claro que é inveja, meu amor. Eu tinha esperança dele ser gay, tô sofrendo pelo luto ainda.

— Ai, Max, você é ótimo. Vocês são todos ótimos, na verdade, não achei que ia arrumar amigos tão bons e tão rápido. 

O sinal toca e vamos para as últimas aulas, as quais são com o mesmo professor, a aula é de biologia, com o Senhor Fennygan, o qual é um velho alto e magro, ele é divertido e sério ao mesmo tempo, e consegue prender a atenção de todos na aula, o que é difícil, principalmente se tratando de adolescentes. 

Depois que a aula termina eu me despeço dos meus novos amigos e vou para a casa. Felizmente moro bem perto da escola, então faço questão de voltar a pé, com a cabeça no mundo das nuvens, pensando um milhão de coisas.

Chego em casa e não tem ninguém, claro que não tem, minha mãe está no trabalho, quem mais estaria aqui? Preparo um sanduíche para comer, e vou para frente da televisão zapear alguns canais, quando meu celular começa a vibrar sem parar. Aparentemente todo mundo decidiu me mandar mensagem ao mesmo tempo.

Mãe: Já chegou em casa? Como foi o primeiro dia? Conheceu alguém legal? Não fique só comendo sanduíche. Coma coisas saudáveis também. Amo você. 

Dou uma risadinha ao terminar de ler a mensagem, às vezes parece que minha me conhece bem até demais. É muita loucura eu querer que ela não me conhecesse tão bem assim? Enfim, respondo ela rapidamente e leio a próxima mensagem que é do meu grupo com meus amigos. 

Alicia: Primeiro dia foi ótimo. Fiz amigos incríveis! Acabei com um sanduíche agorinha, tarde demais!

Max: Ali já chegou em casa?

Max: parou de olhar o celular agora ou não vai responder só porque não é o James? 

Brie: Para de drama Max.

Max: não! Sou a própria drama queen.

Dou uma risada e respondo.

Alicia: Max, eu sempre vou te responder, você é um dos meus melhores amigos!

Max: Você não tinha amigos na outra escola?

Meghan: Max!!!

Max: qual é? Só quero saber como está a concorrência.

Alicia: sem concorrência! 

Max: Tem algum motivo para você não ter amigos? Algum segredo obscuro?

Alicia: Mais ou menos…

Max: Qual, conta!

Meghan: Também quero saber!

Brie: Desembucha

Tiff: Conta, conta!

Alicia: Vou ali e já volto gente! Haha

Saio da conversa no grupo, deixando meus amigos revoltados para trás. Planejo contar para eles, tá bom, só que tudo tem sua hora, e ainda é cedo para falar sobre isso.

Eu, obviamente deixei a conversa com a qual eu estava mais ansiosa por último né, afinal, por que não me torturar um pouquinho? 

Meu coração acelera antes mesmo que eu abra a conversa com o James, então fecho os olhos e respiro fundo, qual é, é só uma mensagem parece até que eu nunca falei com um menino antes.

James: Sentiu minha falta, Alicia?

James: O que você está fazendo agora?

James: Estou vendo você online, Alicia! Está ocupada? Ou ainda está falando de mim com seus amigos?

Alicia: Você não deveria matar tanta aula! Vai acabar reprovando. 

Alicia: Estava almoçando, e você precisa parar de achar que todas as minhas conversas são sobre você. 

James: Não matei aula, eu tinha coisas importantes para fazer hoje. Não precisa se preocupar comigo. Todas não, mas pelo menos metade, duvido que não sejam sobre mim…  

James: Tem algum compromisso hoje? Pode vir aqui para casa?

Alicia: Você se acha demais James! Ir à sua casa para quê?

James: Não é que eu me acho, só que sei que sou um mistério, seus amigos estão curiosos sobre mim, não necessariamente interessados. ;)

James: Vir aqui fazer o trabalho, claro, a menos que você tenha outra ideia? ;)

Alicia: Por que você não manda emoji como uma pessoa normal?

Alicia: Me manda seu endereço. 

James me mandou seu endereço, e marcamos para daqui a uma hora. Quando vejo seu endereço fico feliz em ver que é razoavelmente perto de casa. Organizo as coisas que tirei do lugar, tomo um banho, escovo os dentes e troco de roupa, confesso que talvez eu tenha caprichado demais apenas para fazer um trabalho na casa de um colega. Coloquei uma sandália baixa, um vestidinho rodado de amarrar no ombro, que vai até o joelho, até uma maquiagem leve fiz, com um pouco de base, delineador, rímel e blush.

Depois ligo para minha mãe para avisar que vou fazer trabalho na casa de um colega, mas como ela não atende apenas mando uma mensagem.

Saio de casa faltando cerca de 20 minutos para o horário combinado, o que é mais ou menos o tempo que levo para chegar até a casa dele caminhando. James mora numa casa bonita, do portão da para ver um belo jardim e a casa com a faixada azul bebê. Parece um lugar gostoso de se morar.

Toco a campainha e não demora muito até que o James venha abrir o portão, com os cabelos soltos, bermuda e outra de suas camisetas pretas.

— Oi, Alicia, seja bem-vinda. 

— Você só tem camiseta preta?

— Posso ficar sem camisa também se você preferir. — diz James com um sorriso.

Eu não respondo, mas sinto meu rosto corar. James abre espaço para que eu entre, e pega minha mão, como fez quando me levou até a aula de matemática. Dessa vez, ele me leva até seu quarto, passamos tão rápido pelo primeiro andar da casa, que eu mal notei algo além dos pisos de madeira. No segundo andar consigo ver apenas três portas fechadas e uma aberta, pela qual ele me leva. 

Assim que entramos no seu quarto, ele solta minha mão e vai fechar a porta. Aproveito o momento, para bisbilhotar é claro.

Seu quarto grande e bem organizado, é uma suíte, na verdade, da para ver a porta que leva ao banheiro, mesmo que também esteja fechada, dou uma olhada ao redor e me surpreendo novamente com a arrumação, é tudo de um jeito que eu não imaginaria um quarto masculino. Nenhuma roupa, ou embalagem de comida espalhados, isso conta muitos pontos a favor do James. Sua cama grande de casal está bem arrumada. No quarto também tem um guarda-roupa com espelho e uma escrivaninha com um notebook fechado, com vários adesivos de instrumentos e bandas, em sua grande maioria bandas de rock. As paredes são um tom de cinza bem bonito, e tem alguns pôsteres das mesmas bandas colados nas paredes. Uma estante pequena, com livros e alguns CDs. E o que chama mais a minha atenção, um violão preto, ao lado de sua cama.

— Você toca? — eu pergunto.

— Um pouco, posso tocar alguma coisa para você depois, se você se comportar.

— E a sua família? 

— Eles não precisam se comportar, fica tranquila. Agora, você já terminou de olhar tudo? Posso mostrar minha gaveta de cuecas se você quiser.

— Você faz essa proposta para todas as meninas que traz aqui?

— Só para as mais especiais. Agora se não se importa, temos um trabalho a fazer. 

Passamos cerca de duas horas e meia totalmente focados no trabalho, o trabalho era sobre o morro dos ventos uivantes, por sorte eu já tinha lido esse livro, apesar de não ter gostado muito.

James, se mostrou um cara muito inteligente e focado. Pelo seu comportamento no primeiro dia de aula, eu esperava algo totalmente diferente. Fiquei positivamente surpresa com a descoberta. Conseguimos terminar o trabalho bem mais rápido do que o esperado, eram cerca de 19h e James já tinha até imprimido o trabalho no escritório.

— Acho que terminamos. — eu disse me levantando.

— Tá com pressa de ir embora?

— Na verdade, não e você ainda não tocou.

— Vou buscar nossa janta e já toco para você. — Ele disse, antes de sair e fechar a porta do quarto novamente. 

Eu estava sozinha no seu quarto, e eu até tentei me comportar, mas eu tava tão curiosa sobre o James, ele falava tão pouco a seu respeito, era tão misterioso que eu não resisti. E comecei a fuxicar coisas um pouco mais íntimas. 

Comecei pelo seu caderno, que era muito mais organizado que o meu, diga-se de passagem. No final, havia frases, versos soltos, trechos de músicas não terminados. Li um deles e eu senti minha pele arrepiar da cabeça aos pés, ele era bom, era muito bom.

“Seus olhos ardem como fogo
E você me prende com suas garras
Me faz querer mais, me faz querer logo
Me enfiar no fundo das suas armas”

“Sou prisioneiro
Desse desejo louco
Momento derradeiro
Busco pelo pouco
Que você pode me dar”

Estou sem ar com esse verso, é tão, cru, real e cheio de sentimentos. Meu corpo fica quente de repente, e percebo que preciso me afastar desse caderno. Fecho rápido o caderno, e isso faz com que folhas acabem voando de dentro dele, eu pego as folhas para colocar dentro dele de novo e é quando eu vejo. O trabalho do professor Daniels, só com o nome dele, datado de duas semanas atrás. 

Minha cabeça gira, ele já tinha feito o trabalho, então, o que estou fazendo aqui? Ele nunca faz trabalho com ninguém, então por que se oferecer para fazer comigo, ainda mais um trabalho que ele já tinha feito? 

Tiro uma foto da capa do trabalho, e guardo no caderno dele novamente. Torcendo para que ele não perceba que está num lugar diferente. 

Sento na cama, e decido não fazer mais nada, fuçar as coisas dele só me deixou ainda mais confusa sobre ele. Mas passam alguns minutos, e eu começo a ficar entediada. Ele está demorando demais.

Depois que mais de 10 minutos se passaram lembro da sua oferta de me mostrar sua gaveta de cuecas, e a curiosidade toma conta de mim, eu sei que estou ultrapassando uma barreira que eu não deveria, mas estou sozinha aqui, entediada, e sem conexão de Internet porque esqueci de pegar a senha do Wi-Fi dele, e meu 3g me deixou na mão. 

Sendo assim, não tem ninguém para me parar e dizer que é uma má ideia, quando eu me levanto abro a porta do seu guarda-roupa e observo, claro que tudo muito organizado, como todo o resto do quarto. Suas roupas como imaginei, são predominantemente pretas. Mas ele possui sim algumas camisas e camisetas brancas e até mesmo umas coloridas.

Antes que eu possa recobrar meu juízo, eu abro a primeira gaveta do seu guarda-roupa e bingo, é a gaveta de cuecas, eu dou uma olhada claro que esta tudo muito organizado, vejo suas cuecas estilo boxer e na hora que dou por mim que fui longe demais, com essa minha curiosidade, meus olhos se deparam com uma pilha enorme de preservativos. Não resisto e acabo pegando alguns na mão, tem diversos tipos aqui. 

E é claro que é nessa hora que James abre a porta do quarto, equilibrando dois pratos e dois copos nas mãos.