C A P I T U L O 0 2

Eu nem preciso olhar para trás para saber de quem é essa voz, apesar de nunca ter ouvido ela antes, eu sinto, no ribombar do meu coração, no arrepio que percorre meu corpo, que essa voz só pode pertencer a uma pessoa.

— Faço o trabalho com você, eu não tenho dupla e não fiz o trabalho ainda. A essa altura, devo ser o único que ainda não fez.

Eu me viro, e claro que eu tinha razão, o garoto bonito do fundo da sala está ali, na minha frente, esperando a minha resposta. Ele é ainda mais bonito de perto, de alguma forma. Ele é magro, e bem mais alto que eu, apesar de eu não ser baixinha, eu tenho 1,65 e a julgar pela altura dele, deve ter certa de 20 centímetros a mais que eu. 

Percebo que estou encarando ele há mais tempo do que deveria, e sinto meu rosto ruborizar. Solto um som constrangido e finalmente respondo.

— Claro, ótimo, obrigada. 

Sei que estou vermelha igual um pimentão na hora que me viro novamente, e apresso o passo para sair da sala do professor Daniels. Alguns segundos depois sinto um braço no meu ombro, novamente, eu sei que é ele, mesmo antes de olhar em seus olhos.

— Você não me passou seu número. 

Me sinto atordoada por um momento.

— Meu número? 

— É, para a gente fazer o trabalho. Precisamos marcar o dia e horário e eu preciso te passar o endereço da minha casa. — ele tira o celular do bolso e me entrega. — Anota seu número aí.

Eu pego seu celular e com os dedos ligeiramente trêmulos digito meu número. Confiro se está certo e entrego de volta para ele.

— Você não colocou seu nome.

— É Alicia.

— Por favor né, eu sei que seu nome é Alicia, eu tô falando que geralmente as pessoas colocam os próprios nomes quando passam o contato. Agora, vamos, eu te levo até a próxima aula. 

Ele encaixa minha mão na dele e abre um sorriso para mim. Eu quase tropeço algumas vezes, é meio difícil olhar para a frente, meu coração parece uma bateria de escola de samba dentro do meu peito. Fico repetindo para mim que isso não é nada de mais, que ele deve tratar todas assim, e isso me ajuda a manter os pés no chão e a cabeça no lugar.

— Chegamos. — ele diz quando para em frente a uma porta aberta. — É melhor você entrar.

— Você não vai entrar?

— Não, eu não costumo frequentar essa aula. — ele diz, me dá um beijo na testa e se vira de costas para mim. — Depois eu te mando um oi Alicia.

Não consigo tirar os olhos dele, eu me sinto nas nuvens e, ao mesmo tempo, quero bater na minha própria cara para que eu não caia do pedestal, qual é, eu sou do interior, mas existem homens galinhas lá também, e por mais que eu não seja tão versada no assunto, eu tive minha cota de homens galinhas na minha cidade. 

Claro, que nenhum deles era tão gato quanto o… Espera, eu fiquei tão ouriçada com toda a atenção que ganhei que nem me dei ao trabalho de perguntar o nome dele… Sou uma tapada mesmo. 

Entro na sala balançando a cabeça, em negação com minha estupidez. Deixei um garoto segurar minha mão, e nem o nome dele perguntei. Quando me sento junto com meus amigos, percebo que todos estão me olhando com uma cara de surpresa.

— Que foi gente? Que caras são essas? Aconteceu alguma coisa? 

— Garota, a gente que te pergunta o que aconteceu, num minuto você tá com pobres mortais como a gente, no outro você chega de mãozinha dada com o bonitão do James! Qual é o segredo, conta tudo! — fala Max, e as meninas todas concordam com a cabeça. 

— Ah, o nome dele é James?!

— Alicia, como assim mulher? Vocês chegaram de mão dada, ele te deu um beijo na testa! Sabe quantas vezes o James me deu um beijo na testa? Exatamente, nenhuma. E você não sabe nem o nome dele! Pelo amor da deusa! — fala Meghan, praticamente gritando.

— Da para falar um pouco mais alto, Meghan? Acho que o pessoal da outra escola não escutou direito. Além disso, eu esqueci de perguntar o nome dele, mas ia perguntar assim que ele me mandasse mensagem. 

— Vocês trocaram número de celular! Socorro, eu tô surtando.

— Trocamos, mas só porque vou fazer o trabalho do Daniels com ele. Ele precisou do número para acertarmos dia e hora.

— Caraca, isso só melhora. Alicia, o James nunca faz trabalho com ninguém. Os professores nem tentam mais, acabam deixando ele fazer sozinho, já que não adianta.

— Tenho certeza que vocês estão exagerando, ele deve ser o maior galinha, só está assim comigo por que sou carne nova. 

— Olha, eu não ia me importar nem um pouquinho que o James fosse o maior galinha, viu, ainda mais se isso significasse que eu teria alguma chance com ele. — fala Tiff, e todos acabamos caindo na risada.

Quando a aula começa, eu me aproximo de Brianna que está do meu lado e pergunto baixinho.

— Brie, fala sério para mim. Com quantas meninas aqui da escola o James já ficou? Vocês disseram que ele não é galinha, eu só quero saber em que nível ele está… Não sei se isso faz algum sentido.

— Alicia, vou ser bem sincera com você. O James mudou para cá, fazem uns 4 anos, e eu nunca soube dele com nenhuma menina, ou menino, em todo esse tempo.

— Vejo que estão prestando muita atenção na aula em senhoritas. Brianna, que tal você e sua coleguinha resolverem a equação que está na lousa já que estão tão interessadas. 

— Oi, professora, me desculpa. Sou aluna nova, meu nome é Alicia.

— Alicia, eu não perguntei se você é nova ou não. Mandei você resolver a equação. Brianna, não precisa levantar. Como sua colega fez o favor de nos informar que é nova, ela vai ter suas boas-vindas, resolvendo sozinha a equação do quadro.

Eu me levanto nervosa, já vi que a professora de matemática não é de muitos amigos, mas felizmente os anos de bulling me serviram de alguma coisa, já que eu não tinha amigos, eu focava muito na escola. Vou até o quadro, pego o giz com a mão trêmula, respondo à equação, e me sento novamente, mas não sem antes murmurar um pedido de desculpas para a professora, que está me olhando sem graça.

Não abro a boca durante toda a aula, não que eu precisasse, afinal, minha cabeça está a mil. Porque um cara como o James, se interessaria por mim? Porque ele se disponibilizaria em fazer o trabalho comigo, sendo que sempre faz sozinho? São muitas perguntas, e nenhuma resposta.

Depois do que parece ser uma eternidade a aula finalmente acaba. Eu me levanto e saio com meus amigos, todos falando horrores da professora Martha, a professora de matemática. Quando já estou fora da sala pego o celular e vejo uma mensagem não lida de um número desconhecido.

Desconhecido: Salva meu número, Alicia. Espero que esteja se divertindo na aula da bruxa! Aliás, você não me perguntou, mas meu nome é James. ;)

Alicia: Sim a aula foi muito divertida. Você devia ter visto a cara que a professora fez quando tentou me fazer passar vergonha. Na próxima, vê se não mata aula. Aliás, eu já tinha descoberto que seu nome é James.

James: Espero que tenham falado coisas terríveis ao meu respeito, quando você perguntou. 

Alicia: Quem disse que perguntei de você? 

James: De que outra forma você descobriria meu nome? É melhor guardar o celular, a próxima aula é com o professor Adalberto e ele odeia celular, sempre toma dos alunos que ele vê mexendo.

Guardo o celular no bolso rapidamente, é incrível como foi fácil trocar mensagens com o James, eu sempre ficava nervosa conversando com os meninos da minha cidade, pensando no que dizer, mas com o James foi fluindo naturalmente. Não quero criar expectativas, mas tá cada vez mais difícil de não fazer exatamente isso, e olha que esse é só o primeiro dia de aula.

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