C A P I T U L O 0 1

Eu já estou acordada quando o despertador finalmente toca, levanto com um pulo. Logo eu que sempre sou uma lesma pela manhã, acordo com a corda toda. Tomo um banho, escovo os dentes e coloco minha roupa.

É a minha primeira vez numa escola que não é adepta ao uso de uniforme, e isso me deixa um pouco insegura, na outra escola eu usava uniforme completo, e ainda assim faziam piadinhas, imagina se escolho a “roupa errada” logo no primeiro dia, já diz o ditado que a primeira impressão é a que fica.

No fim escolho uma calça jeans skinny que comprei ontem, e uma camiseta um pouco mais larquinha que tem escrito “Nem eu me entendo, você que lute” na frente. Coloco meu all star, passo rímel e um gloss, não sou adepta da maquiagem forte em plenas 7 horas da manhã. Dou aquela conferida no espelho, e ok, não estou nada mal, pelo menos eu acho. 

Chego na escola alguns minutos mais cedo, pois preciso passar na secretaria, pegar meus horários de aula. A moça da recepção está ocupada, falando no telefone então aguardo um tempinho até ser atendida.

— Oi, bom dia! Eu me chamo Alicia, eu sou nova aqui, é meu primeiro dia! Vim pegar os horários das aulas!

— Oi, Alicia, seja bem-vinda. Espero que você goste daqui, vou pegar seu horário e te acompanho até a sala!

Ela me entrega um papel onde está anotado as aulas que tenho e as salas aonde elas ocorrem. Sai da secretaria e vai comigo até a sala da minha primeira aula. Bate na porta e um homem careca e barrigudo com uma cara simpática me recebe. 

— Professor Daniels, essa é a Alicia Houstorm. Ela veio de transferência. É o primeiro dia dela.

O professor Daniels abre um sorriso para mim e me cumprimenta. 

— Seja bem-vinda, Senhorita Houstorm. — em seguida se vira para a sala. — Prestem atenção aqui um momento, essa é a senhorita Houstorm. A nova colega de vocês. Peço que façam silêncio em quanto ela se apresenta.

Ele diz e vai até a sua cadeira e se senta, deixando apenas implícito o que eu deveria fazer. Todos os olhos dos cerca de 30 adolescentes ali estão voltados para mim, menos um. Um cara no fundo da sala, com fones de ouvido e os pés em cima da mesa. 

Eu me dirijo ao centro, ficando em pé bem no meio do quadro, minhas mãos estão levemente trêmulas, devido ao nervoso de me apresentar para uma sala lotada. Fecho os olhos por um segundo, e quando os abro novamente, meu olhar se volta ao rapaz com os pés na mesa, é muito mais fácil para mim falar com alguém que não parece estar prestando a menor atenção. 

— Oi, todo mundo, meu nome é Alicia Houstorm. Vim de uma cidadezinha no interior, chamada Nova Barreira, mais conhecida como “onde judas perdeu as botas”. Tenho 15 anos, e nenhum sotaque graças a Deus, então não esperem me ver puxando o erre. Eu poderia ficar horas aqui falando sobre mim, sobre as coisas que gosto de fazer e meu signo. Mas tenho certeza, que se eu fizer isso vou ganhar uma bela bronca do professor Daniels, então vou ficando por aqui, enquanto ainda estou numa boa. 

Fico feliz com minha apresentação, principalmente quando percebo que consegui fazer a turma dar algumas risadas. Me viro para o professor Daniels que acena para que eu procure um lugar para me sentar. E quando olho para a sala tentando achar um bom lugar para sentar, de preferência perto de alguém com quem eu possa fazer amizade fácil, me surpreendo quando noto os olhos do rapaz que encarei durante quase toda a minha apresentação, voltados para mim. Sua boca contornada por um sorriso belíssimo. 

Fico sem ar por um momento, não havia percebido o quanto ele era bonito. O visual meio bad boy combina muito com ele, que está todo de preto, com um tênis igual ao meu. Seu cabelo é preto e liso e está preso num rabo de cavalo, com algumas mechas mais rebeldes soltas no rosto. Seus lábios são grossos e os dentes bonitos, mas o que mais chama a atenção são seus olhos. Seus olhos têm um tom de verde lindo, que eu nunca vi antes. Olhar em seus olhos é como olhar o mar, são como esmeraldas, é indescritível. Meu coração bate forte no meu peito. Parece que fazem horas que estamos ali, nos encarando, apesar de fazer apenas poucos segundos.

Sou despertada do meu estado de quase torpor quando ouço alguém chamar meu nome. Meus olhos finalmente seguem em direção à voz, onde vejo uma menina loura de olhos castanhos acenando os braços. Percebo um lugar vago ao seu lado, e vou rapidamente até lá. 

— Oi, Alicia, prazer. Sou a Meghan. Essas aqui são a Tiff, a Briana e este é o Max. — diz ela apontando para uma garota negra que dá um tchauzinho, uma garota com feições asiática e um carinha com o cabelo cor de rosa. — Vamos ser os seus melhores amigos, no planeta todo!

— Bem, vocês deram sorte então… Pois as vagas de melhores amigos estão abertas mesmo. — digo, enquanto me sento.

A aula que logo descubro ser de português é ótima, o professor Daniels explica a matéria muito bem, de forma didática e divertida. Até o meio da aula, já troquei números com meus 4 novos melhores amigos, e já até criamos um grupo no WhatsApp. 

Meus novos amigos são incríveis, Meghan é filha de modelo, tem bastante dinheiro, é o tipo de pessoa que tinha tudo para ser a maior filhinha de papai, mas ela é super humilde, adora fazer piadas e falar mal dos famosos. 

Tiff, que, na verdade, se chama Tifany, é filha de um médico e uma dentista, e faz aulas de boxe depois da escola, aparentemente ela sofreu de racismo por um tempo, até que caiu na porrada com a menina que xingava ela, chegou em casa nesse dia morrendo de medo, achando que ia levar a maior bronca dos pais. Seus pais sentaram com ela e falaram que se era para bater em racista, que ela fizesse isso direito. No outro dia ela começou no boxe.

Briana é descendente de japonês. Seu pai mora no Japão e a mãe mora aqui no Brasil, eles têm um relacionamento ótimo mesmo a distância, um relacionamento aberto, ela me esclareceu. Eles me contaram que a mãe da Briana é a melhor pessoa do mundo para conversar, e que ela é super aberta para conversar sobre tudo, inclusive sexo.

Por fim, o Max, é criado pelos tios. Ele foi expulso de casa quando contou para os pais que era gay. Foi muito difícil para ele, principalmente no começo, mas hoje ele é super feliz com os tios. Ele diz que terem tirado ele de casa foi o melhor que eles puderam fazer, pois se não fosse isso seria ele sendo condicionado a ser algo que ele não era, ou até tratamentos para “deixar de ser gay” como se isso fosse uma doença. Pelo menos hoje, ele pode ser quem ele é de verdade, e ele é muito amado pelos tios, que tratam ele como um filho realmente. 

Eu pela primeira vez, me sinto realmente pertencente a um grupo. Finalmente tenho amigos e essa é uma alegria muito maior do que qualquer coisa. 

A aula acaba, estamos todos saindo quando o professor me chama até a mesa dele. 

— Oi, Alicia, e aí o que achou da aula?

— Excelente professor.

— Que ótimo. Preciso dizer que você chegou numa hora interessante, temos um trabalho a ser entregue na próxima semana. Esse trabalho deve ser feito em dupla ou trio. Infelizmente seus amigos já formaram um trio, e antes que me pergunte, não, não pode ser feito individualmente ou em grupo de 4 pessoas. Peço então que se junte com algum aluno que ainda não tenha feito o trabalho, ok?

— Ok, professor. 

Eu digo, e já começo a me sentir nervosa, quando o professor falou do trabalho fiquei tranquila, imaginando que poderia fazer com meus amigos, imediatamente depois me é jogado um balde de água fria, e agora, não tenho ideia do que fazer. Tenho pouquíssimo tempo, para arranjar uma dupla, e fazer um trabalho sendo que todo mundo já deve ter seus pares ou já deve ter feito o trabalho a essa altura do campeonato.

Felizmente meu nervoso não dura muito quando ouço a voz baixa e levemente rouca por trás de mim.

— Faço com você. 

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