Capítulo 7
A semana passa tão rápido que quando percebo, já chegou o dia de voltar no estúdio e ver que baboseira Léo vai me dizer dessa vez.
Estive tão ocupada todos os dias, que depois da minha experiência de quase morte (tá bom, estou exagerando, mas foi horrível), quase não conversei direito com minha amiga.
Mandei uma ou duas mensagens pra ela, e acabo de mandar mais uma com o horário que vamos nos reunir.
Ando de um lado para o outro no meu quarto. Estou nervosa mas não sei porquê. Pego a vigésima blusa do guarda roupa, coloco por cima da calça estendia na cama e observo o resultado. Não gosto do que vejo. De novo. Mas que droga! Nunca me preocupei tanto assim com o que vestir! Já chega, vou fechar os olhos e puxar uma blusa do guarda roupas, a que sair eu coloco e pronto.
Com uma mão sobre os olhos e com a outra estendida procuro uma textura que possa conhecer. Sinto algo parecido à seda e ao tocar mais profundamente, sinto alguns botões. Imagino se a peça poderia combinar com a calça e finalmente o que vejo me agrada. Abro os olhos e me surpreendo ao escolher uma blusa de manga comprida de seda na cor vinho. Ela vai ficar perfeita com a legging preta que escolhi. Pronto o dilema acabou. Solto uma risadinha e ao me virar para pegar a calça e me vestir de uma vez dou de cara com minha mãe sorrindo igual uma psicopata.
-Ahhhh! Mãe você me assustou! -Grito com ambas mãos no peito. Se eu tiver um infarto agora vai ser culpa dela.
-Hum, porque anda escolhendo tanta roupa hein? -Pergunta como se não tivesse acabado de quase me matar de susto. -E esse sorriso bobo? Parece um sorriso apaixonado...
-Sorriso bobo? Nem sei o que isso significa... além do mais, o que tem eu escolher a roupa que quero sair hã? -Alfineto e ela levanta as mãos se defendendo.
-Calma aí mocinha... só estava brincando. -Caminha até a porta. -Mas se a carapuça serviu...-Solta antes de sair correndo. Corro atrás dela pelo corredor e a alcanço na porta do seu quarto. Dou um beijo bem molhado na bochecha dela e ela cai na risada.
-Eu não estou apaixonada! Ponto final! Agora eu tenho que me trocar porque o filho de satã odeia atrasos... beijos! -Caminho de volta para o meu quarto e quando estou quase chegando na porta escuto ela gritando:
-Ai tá vendo? Nem aguenta ficar longe do seu amor!
-Vai ligar para o Josué que a senhora ganha mais! -Respondo e ela gargalha exageradamente. Minha mãe é quase tão doida quanto eu.
Balanço a cabeça e suspiro enquanto tiro minhas roupas e ligo o chuveiro.
Tomo um banho tão rápido que poderia entrar para livro dos recordes. Me arrumo quase no mesmo tempo que levei para tomar banho, coloco uma sapatilha e pego minha bolsa. Ligo para Pri avisando que já estou saindo e ela me diz que já está quase chegando na gravadora. Doida.
Vou até o quarto de mamãe e bato levemente na porta.
-Pode entrar. -Escuto sua voz suave e baixinha do outro lado. Empurro a porta levemente e a vejo sentada na cama lendo um livro qualquer.
-Já estou indo, não sei que horas vou voltar, mas qualquer coisa, liga para o Josué, okay?
-Okay, filha. Se cuida e manda um abraço para Pri.
-Pode deixar. -Dou um beijo na sua bochecha. -Te amo, viu.
-Eu também meu anjo, eu também.
Saio do quarto sorrindo. Se não fosse dona Margareth, eu não sei o que seria de mim. Mesmo sem a presença do meu pai, ela nos levou adiante com muita luta e muita garra, nunca sequer reclamou (pelo menos na minha frente), e quando contei para ela que queria cantar, ela foi a primeira a me apoiar. Minha mãe é o pilar que mantém minha vida de pé e sem ela eu não sou nada.
Ao passar pela porta, encontro Josué com a mãe levantada como se estivesse prestes a tocar.
-Oi Josué, como você está? -Pergunto enquanto dou um abraço nele, pegando o grandalhão de surpresa.
-E-eu estou bem, Clara. E você como está? -Coitado, o deixei sem graça.
-Por enquanto tudo tranquilo, me pergunte quando estivermos voltando e terá uma resposta diferente. - Brinco e ele ri discretamente.
-Combinado, agora vamos que o trânsito está horrível a essa hora.
-Vamos então. Ah mamãe te mandou um beijo. -Minto e vejo o segurança de quase dois metros ficar tão vermelho igual um pimentão.
Subo no Suv e coloco meu cinto de segurança.
Fazemos quase todo o trajeto em silêncio, exceto por algumas perguntas aqui e ali. Josué nunca foi de conversar, apesar de enorme, ele é muito tímido.
Aproveito para responder aos meus fãs nas redes sociais e também para ver as notícias de fofocas. Essa semana como estive tão ocupada, quase nem peguei no celular e nem vi nada de noticias.
Vou entrando em vários sites e vendo as fofocas dos mais famosos.
"Julia Martins foi pega aos beijos com ex."
"Marcos Salvador anuncia separação, a ex esposa conta tudo sobre a traição do ex."
"Maria Clara Diniz sai disfarçada, é descoberta por uma fã, quase sai ferida mas é salva por Léo Moura, mais detalhes no vídeo."
-O QUE! -Meu grito ecoa dentro do carro e Josué quase perde o controle da direção.
-Jesus menina, quase me mata! -Solta enquanto tenta se acalmar.
-Desculpa Josué, é que acabo de ver uma notícia muito idiota sobre mim, olha! -Mostro o celular para ele, que aproveita o sinal vermelho para ler o máximo que conseguir.
-Não entendo porque está brava se foi exatamente isso que aconteceu.
-Como assim? Léo não me salvou... ele... ele mandou os seguranças irem me buscar e... tá bom... tá bom... ele me... a-ajudou. Pronto.
-Viu? Foi tão difícil assim? -Josué debocha e eu mostro a língua pra ele, arrancando um sorriso do segurança. Acabo rindo junto. Cada dia que passa, sinto como se ficássemos cada vez mais próximos, não como segurança e cantora, mas como o namorado da minha mãe e sua filha, no caso eu.
Passamos por mais alguns semáforos e finalmente chegamos na gravadora.
Josué me leva até a entrada e eu respiro fundo. Toda vez que venho aqui, lembro de dois anos atrás, da decepção e da tristeza que senti ai ser rejeitada por John a pedido de Léo.
-Josué, eu não sei quanto tempo vou demorar. -Olho para o segurança que me devolve outro olhar desconfiado. -Você pode voltar pra casa, que eu te ligo quando acabar tudo por aqui...
-Clarinha, eu não acho isso uma boa idéia, se a Maggie ficar sabendo...
-Fica calmo cara, eu prometo que não vou sair daqui sem você! Além do mais, já tive muita gente ao meu redor por essa semana, não quero me arriscar de novo. -O segurança continua me olhando com essa cara de quem não está engolindo nada do que estou dizendo.
-Eu não sei... acho melhor esperar aqui.
-Josué, sério, eu posso demorar até mais de três horas aqui, não quero que você vire uma múmia me esperando. Vai pra casa, ou na verdade... a mamãe vai almoçar sozinha hoje... acho que ela gostaria de uma visita. -Apelo para o seu lado fraco e mais uma vez vejo o gigante ficando vermelho igual um pimentão. Eu realmente não quero que ele fique aqui me esperando a toa, prefiro mil vezes que aproveite esse tempo com a mamãe.
-Tudo bem, tudo bem. Mas se você se atrever a sair daqui sem me avisar eu conto para a sua mãe na hora.
-Fechado. Te ligo assim que acabarmos aqui e você vem me buscar. Manda um beijo para dona Maggie. -Pisco antes de descer do carro. Josué dá uma risada envergonhada enquanto me despeço dele e me viro para subir as escadas que me levam até o hall da gravadora.
Quando passo pela porta, vejo o pessoal da banda conversando tranquilamente em um dos sofás e no outro sofá estão Priscila e Carlos jogando algo com um baralho comum.
Paro bem na frente dos dois e pigarreio chamando sua atenção.
-Clarinha! Que bom que chegou amiga, já estava cansada de ganhar do Carlos no truco. -Minha amiga despevitada se levanta de um pulo e me abraça como se não tivesse me visto em um ano.
-Ei, eu ganhei de você... uma vez. -Se defende Carlos e eu solto uma risada enquanto o cumprimento com um beijo do rosto. O homem parece não ter mais de quarenta anos, e isso só aumenta o seu charme.
-Arram, porque eu deixei seu bobinho. -Pri brinca e o segurança ri. Eu não entendo essa facilidade dela de fazer amizade com qualquer pessoa, como se se conhecessem da vida toda.
-Bom, chega de brincadeira, vem Pri vou te apresentar ao resto da banda, o filho de satã você já teve o desprazer de conhecer. -aponto para o Léo que faz uma cara de assassino. -Esse é o Lucas, o bateirista. -Aponto para o cara de cabelo azul e minha amiga balança sua mão nervosa. -Esse é Pedro, o baixista. -Ela repete o procedimento para o careca. - E esse é o Rafael, o vocalista. -Agora minha amiga fica ainda mais nervosa. O que deu nela?
-O-oi pessoal... é um prazer conhecer todos vocês. -Diz tímida. Ah como eu gostaria de filmar esse momento para zoar com a cara dela mais tarde. Os garotos riem do seu nervosismo evidente, e até tentam descontrair, mas Pri olha fixamente para o moicano man, que a observa com o cenho franzido.
-Qual é gata, perdeu alguma coisa aqui? -Rafael aponta para o próprio rosto. -Ou minha aparência te dá medinho? -Debocha e em questão de segundos, minha amiga se transforma. De garota toda tímida e nervosa, ela passa a uma fera raivosa.
-Olha aqui cara, eu não tenho medo de você... então não se ache tão importante porque não é. -Mas que mentira deslavada. Minha amiga morre de medo de gente toda tatuada, segundo ela, eles não são confiáveis, mas quando se trata de ferir o seu orgulho, ai sim ela esquece até a compostura.
-Parece que a gatinha na verdade é uma leoa...-O garoto continua provocando, e para a minha surpresa, minha amiga se aproxima bem do seu rosto e com uma cara de safada que eu nunca tinha visto diz:
-Cuidado que eu mordo!
Todos dão risada, menos eu e Léo que estranhamente está olhando para mim.
Balanço a cabeça negativamente e bato palmas para chamar a atenção dos idiotas e de minha amiga.
-Tudo bem, tudo bem, chega de perder tempo. Vamos logo acabar com isso que eu tenho um compromisso ainda hoje. Pedro, será que você pode levar a minha amiga até o estúdio? -Pergunto ao garoto que apenas aquiesce.
Eles começam a ir até o corredor que leva até a sala cheia de equipamentos musicais e quando Léo caminha junto, eu o seguro pelo braço o fazendo parar a meio caminho.
Uma corrente passa por todo o meu corpo ao sentir a pele quente do seu braço musculoso debaixo dos meus dedos.
-O que é agora garota? -Ressopra impaciente.
-Eu... eu preciso falar com você... eu... eu queria... -Droga, porque eu sou tão orgulhosa? Não consigo dizer essa maldita palavra!
-Fala logo Clara, você mesmo disse que não pode perder tempo! -Agora ele está quase rosnando. Esse garoto precisa de um psicólogo para controlar esses picos de ira.
-Eu... queria dizer que já tenho uma melodia e a letra pronta. -Mas eu sou uma covarde mesmo!
Léo tira a minha mão do seu braço de forma brusca e chega tão perto de mim que posso sentir a sua respiração rápida.
-Eu sei muito bem que não é isso que você queria dizer Clara, e acredite, eu só mandei os seguranças atrás de você, porque sua amiga insistiu que você era você e quase me bateu para que eu a ajude. Não ache que te fiz um favor, porque por mim, você pode se ferrar sozinha.
Não consigo dizer nada, apenas observo a sua cara fechada. Estou em choque, ainda bem que não pedi desculpas a ele, senão seria muita humilhação.
Desvio meu rosto do escrutínio dos seus olhos castanhos e respiro fundo para conseguir formar qualquer frase coerente.
-Tudo bem Léo, eu acredito nisso tudo, além do mais, sei que minha amiga não me deixaria em perigo jamais, ao contrario de outras pessoas. -Passo por ele e faço questão de bater o meu ombro no seu o mais forte que consigo. Inexplicavelmente, as palavras dele me feriram, e muito. Se ele estivesse na minha situação, eu não duvidaria um segundo em ajudar.
Como ele pode ser uma pessoa tão má? Penso e penso enquanto vou para o estúdio encontrar o resto do pessoal.
Abro a porta lentamente e tento não rir com a cena que vejo.
Pri está sentada em um sofá bem de frente com o Rafael, um olhando para o outro como se quisessem ou se matar ou se pegar bem ali na frente de todo mundo.
Os outros dois rapazes estão cada um no seu mundo, Pedro com fones de ouvido e Lucas girando as baquetas da sua bateria e olhando para o teto, como se quisesse lembrar de alguma coisa.
-Oi pessoal, então podemos começar? -Digo e Rafael e minha amiga me olham assustados como se saíssem de um transe.
Lucas e Pedro se incorporam e eu arrasto uma cadeira para uma posição na qual todos possam me ver e começo a explicar as letras que compus e a melodia também.
Em um determinado momento, Léo escancara a porta, entra na sala e senta em um sofá vazio.
Todos olham de mim para ele curiosos, mas eu não vou dar esse gostinho ao babaca, hoje não.
-Então pessoal, como eu ia dizendo, consegui escrever alguns esboços, estava pensando em começar a música no meu estilo, em um tom lento só no violão e ir fazendo a transição lentamente até o estilo de vocês, com a guitarra, bateria e tudo mais. O que acham? -Pergunto nervosa, por mais que eu não queira admitir, me dediquei bastante a esse projeto porque simplesmente não consigo não fazê-lo.
Os garotos balançam a cabeça concordando, mas para o meu desagrado, olham para Léo esperando sua resposta. O cara pode até ser o guitarrista, mas ele de longe é o líder. Que saco!
-Então? -Pressiono impaciente e ele me olha demorando a responder propositalmente.
-Olha.... eu.... gostei da idéia. -Solto a respiração de alívio. -Mas... -Merda, sempre tem um mas.-Acho que a transição deveria ser repentina, pegar o público de surpresa, fazê-los pensar que é só mais uma música mamão com açúcar no começo, mas depois vão perceber que é algo bom. -Okay, não sei se isso foi um elogio ou ele está debochando da minha cara, mas prefiro não dar lado pra isso e continuo expondo minhas idéias.
Eles gostam bastante da minhas letras e até fazem algumas mudanças que as deixam ainda melhores. Léo fica calado durante o tempo todo e Priscila olha com raiva para Rafael. Ela vai ter que me dizer o que aconteceu depois, seja por bem ou por mal.
A melodia que preparei, acaba não combinando com a letra e nos encontramos em um dilema. Droga! Estava indo tudo tão bem!
Todos pensam e pensam, mas nada acontece. Ninguém tem nenhuma idéia. Até minha amiga que não sabe nada de música tenta ajudar, mas é inútil. Temos a letra e não temos a melodia! Tento repasar algumas na minha cabeça, e de repente uma idéia aparece na minha cabeça.
-E se nós usarmos aquela melodia que você tocou no outro dia Léo? -Pergunto lembrando que a música que ele tocou era muito bonita.
-Não. -Diz sem nem titubear.
-O quê? Porquê? -Pergunto incrédula. Aquela música era perfeita!
-Porque não. -Insiste. Mas que merda!
-Mas ela era muito bonita, e parece que não tem letra e não entendo porque você não quer usá-la e....
-Porque a maldita melodia é minha e eu não quero usá-la porra! -Grita enquanto se levanta do sofá e vai até o frigobar no outro canto da sala.
Estou novamente em choque. Todos olham assustados para mim e minha vontade é de me enfiar em um buraco e não sair de lá até o ano novo.
-S-se me... me derem licença, eu preciso... ir... já volto...-Escapo do estúdio e vou correndo até o banheiro.
Tranco a porta e me encosto nela escorregando até chegar no chão.
Apoio minha cabeça nos dois joelhos e começo a chorar copiosamente. O que deu nesse garoto? Porque ele me trata tão mal? Afinal de contas quem começou tudo isso foi ele mesmo! Eu sinto muito ele ter me escutado falando mal dele, mas poxa, ele me prejudicou! No mínimo deveria me pedir desculpas, ora!
Continuo chorando por mais alguns minutos mas então percebo que eles devem estar se perguntando o que estou fazendo.
Apoio minhas duas mãos no chão e pego impulso para levantar. Lavo o meu rosto e coloco um papel molhado com água fria em cima dos olhos por alguns minutos, para que não percebam que estive chorando.
Passo uma maquiagem de leve e quando estou quase terminando, escuto algumas batidas na porta.
NOTA DO AUTOR
Pessoal, mil desculpas pela demora, mas minha cachorrinha ficou muito doente e tive que cuidar dela essa semana, não tinha nem cabeça para escrever! Mas graças a Deus ela está melhor, já estou bem mais tranquila e vou continuar com a historia de Clarinha e Léo delícia, aguardem que tem muita treta ainda por vir!!
Bjsss BF
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