Capítulo 6
-O QUE DEU NA SUA CABEÇA GAROTA? -Léo grita enquanto cruzamos a cidade no carro dele rumo a gravadora. Pri está do meu lado totalmente calada, o que é muito estranho. -Você tem ideia do perigo que é sair assim sem segurança? Alguns fãs são loucos, poderiam ter te machucado! -Continua com a voz mais calma, o que não significa que esteja mais tranquilo.
-Olha, primeiro, você não tem o direito de gritar assim comigo, e segundo, eu estava disfarçada! Alguém esbarrou em mim e juro que deve ter percebido que era eu porque minha peruca cai no chão muito rápido, como se tivessem arrancado...
-Olha Clara, se os meus seguranças não tivessem te tirado de lá, você acabaria pisoteada. -Eu sei, pensei a mesma coisa e fiquei com muito medo, mas nunca vou dizer a ele que tem razão, isso jamais.
-Tudo bem Léo, agradeço a sua ajuda, mas não precisa me esculachar desse jeito. Só me descobriram por sua causa. -Solto irritada.
-Por minha causa? POR MINHA CAUSA? Eu nem sabia que você estava na maldita praça garota, me explica como é minha culpa que você quase tenha morrido! -Suas mãos vão para um lado e para o outro dentro do carro e eu juro que se ele não parar com isso, vou abrir a porta e empurrá-lo para fora do carro em movimento.
-Já chega! Já te disse para não gritar comigo! E eu não ia morrer, deixa de ser dramático! -Cruzo os braços igual uma criança birrenta e Pri olha para nós dois como se fossemos uma atração circense. -E você, vai ficar aí calada? -Alfineto e minha amiga dá uma risada escandalosa.
-Eu adoro isso! É a coisa mais interessante de se ver. Não é Carlos? -Dá um tapinha no ombro do segurança que balança a cabeça e ri discretamente.
-Como você sabe o nome dele? -Pergunto irritada e ela me olha ofendida.
-Eu me apresentei a todos, oras. -Agora, isso sim foi golpe baixo. Eu não tive tempo de me apresentar a ninguém da equipe deles, agora irão pensar que sou uma esnobe.
-Prazer Carlos, me chamo Clara. -Cumprimento sua mão aproveitando que o sinal está vermelho e ele balança minha mão delicadamente para ser um armário ambulante.
-O prazer é meu, senhorita Diniz. -Responde e me impressiono com sua voz grossa. Esse cara deve quebrar um crâneo em um estalar de dedos.
O resto do caminho é feito totalmente em silencio. Pri olha para nós como se estivesse assistindo uma novela mexicana e eu finjo que estou distraída com o meu celular, mas na verdade, estou nervosa, e com raiva.
Quando finalmente estacionamos na frente da gravadora, saio escapando de dentro do carro. Não quero passar mais tempo do que o necessário perto desses loucos.
Josué está no hall me esperando e quase o abraço aliviada. Um dos seguranças trouxe o carro da Pri então ela voltará para casa sozinha, eles não quiseram arriscar mais ainda hoje, então eu estou indo embora no meu carro mesmo.
-E aí Josué, como foi o seu dia? -Pergunto me fazendo de doida.
-Eu disse que isso não ia dar certo mocinha, sua mãe está uma fera com você, já vou avisando. -Adverte enquanto se levanta.
-Eu sei... me desculpa, tudo teria saído perfeito se não fosse por aquele monte de gente na praça. -Olho de soslaio para o resto do pessoal que entra pela porta, incluindo minha amiga.
-Bom, agora você já sabe que não deve mais fazer isso.
-Mas...
-Não tem nem mas nem menos. Sua mãe deixou bem claro que eu não deveria deixar você sair sozinha, nunca mais.
-Mas essa é nova! Você é meu segurança Josué, eu sou sua chefe, não ela! -Merda, percebo o erro antes mesmo de terminar a frase. Ele me olha magoado e eu me sinto a pior pessoa do mundo.
-Eu sei disso menina, mas eu só estou acatando um pedido de uma mãe preocupada. Te espero lá no carro. -Caminha até a porta e me deixa sozinha no hall. Imediatamente sinto vontade de chorar, o Josué é muito mais que um segurança, ele é um amigo e também o namorado de mamãe... mas que burra que eu sou!
-Parabéns Clara! -Léo esbarra em mim e senta no lugar que Josué ocupava a minutos atrás.
-Escutar conversa alheia é muito feio, sabia? -Resmungo e me sento do seu lado. Quando percebo que estamos muito perto um do outro, vou até a outra ponta do enorme sofá.
-E tratar assim ao seu segurança também.
-Quem é você para falar de educação hein? Você me trata horrivelmente, mas os outros, só falta beijar o chão que pisam! Eu vi como você estava aos risos com minha amiga. -Encosto minha cabeça no sofá e fecho os olhos. De repente uma dor de cabeça se apossou do meu crânio.
-Ohhhh, está com ciúmes gata? -Zomba e eu arregalo os olhos e aponto o dedo na sua direção.
-O dia que eu tiver ciúmes de você, pode me enterrar viva.
-Ah, não se faz de santa não, além do mais é como dizem por aí: quem desdenha quer comprar.... é, parece que você não resiste a mim mesmo né?
-Eu não resisto mesmo, mas não resisto a dar um soco nessa sua cara lavada e arrancar esses piercings horríveis que você acha que são legais! Parece uma cortina de banheiro! -Falo alto demais e escuto a risada do pessoal. Nem lembrava que estavam aqui.
Minha amiga resolve dar o ar da graça e volta com uma lata de coca cola na mão.
-Aonde conseguiu isso? -Pergunto, estou morrendo de sede. -Cuidado não tenham colocado veneno viu? O pessoal daqui não é de se confiar. -Jogo uma indireta bem direta para Léo, mas ele faz uma cara como quem não entendeu bulhufas. É muito cara de pau mesmo.
-O Carlos pegou uma pra mim enquanto fazíamos um tour pela gravadora. É enorme! Bem maior do que a sua... -Bebe um gole do refrigerante e eu tenho vontade de matá-la. Léo ri sem nem disfarçar e eu olho para ele enquanto falo.
-Minha gravadora pode até ser pequena, mas pelo menos nós damos chance aos novos artistas. -Segunda indireta.
-Como seja, eu vou pegar um refri para mim, você quer? -Oferece e eu nego com a cabeça, jamais vou pedir um favor a esse ser. -Você que sabe. -Levanta os ombros e desaparece no corredor do hall.
-Será que já posso ir embora? -Pergunto a Carlos e ele nega, merda.
-Estamos revisando o perímetro, acho que daqui uns vinte minutos vocês estarão liberados.
-Tudo bem, obrigada. -Me encosto no sofá novamente e de repente uma sombra aparece na minha frente. Abro um olho e vejo Léo parado com uma lata de refri na mão. -O que você quer? -Volto a fechar o olho dramaticamente.
-Toma, trouxe um refri pra você. -Abro os dois olhos dessa vez e vejo a latinha vermelha bem na minha frente.
-Não quero, obrigada.
-Vamos garota pega a porra da latinha, é só um maldito refrigerante.
-Nossa, você dizendo desse jeito tão educado eu pego sim! -Puxo a lata da sua mão e abro lentamente com medo dele ter feito aquele truque de balançar e eu acabar levando uma chuva de refri. Suspiro aliviada quando o famoso barulhinho "shhh" indica que está tudo bem.
Bebo o liquido frio e minha sede é saciada. Dou mais um gole e coloco a lata na mesa de centro. -E o seu refri? -Pergunto quando percebo que ele não tem nada nas mãos.
-Eu já bebi. -Responde enquanto mexe no celular.
-Nossa, tão rápido? -E foi rápido mesmo, ele demorou o quê, dois minutos para ir e voltar?
-Sim, rápido, agora bebe o seu, Okay?
-Nossa... a educação passou longe desse lugar, viu.
Ele já não responde mais nada. Converso com minha amiga enquanto esperamos que esteja tudo limpo para ir embora. Percebo que ela olha cada instante para Rafa. O vocalista conversa tranquilo com o resto da banda e é como se nem percebesse que estamos aqui.
-Tá gamada no moicano man, é? -Zombo e ela me olha assustada.
-O que? Claro que não... espera, quem é moicano man?
-Usa a logica Pri. Quem é o único que tem moicano.
-Ah...
-Você não para de olhar para ele, disfarça pelo menos.
-Eu não estava... eu só... é que... você viu o cara? Ele tem um moicano roxo, piercings e os braços todos tatuados! Isso é...-faz um movimento de tremelique com o corpo -sinistro.
Dou risada. Minha amiga sempre teve medo de pessoas tatuadas, porem incrivelmente ama de paixão a Léo que tem os dois braços tatuados.
-Mas você não é a fã número um do filho de satã? -Pergunto curiosa.
-Sim, mas ele é o mais "normalzinho" da banda... -Agora sim, solto uma gargalhada e acabo chamando a atenção de todos. Baixo a voz e digo no ouvido dela:
-Na verdade ele é o mais estranho, isso sim!
Ela ia responder algo, mas Carlos se aproxima da gente bem na hora.
-Bom, garotas, está tudo limpo, vocês podem ir embora agora.
Nos levantamos e agradecemos aos seguranças pela ajuda. Me despeço da banda, menos já sabem de quem. Ele nem faz questão de dizer nada, melhor mesmo.
Estou quase chegando na porta quando Marcelo se materializa na minha frente e me abraça no meio de todo mundo. Mas o que diabos está acontecendo?
-Nossa, Clara, fiquei muito preocupado, tentei chegar até você para te tirar do meio daquele bando de malucos, mas não consegui! Que bom que você está bem...
Pri me olha desconfiada e eu balanço a cabeça para ela em um sinal de que irei explicar tudo depois pelo telefone. Como ela é minha melhor amiga, entende perfeitamente o recado.
-Obrigada Marcelo, mas eu estou bem, não precisa se preocupar. Bom já tenho que ir, minha mãe deve estar me esperando...
-Tudo bem, quando chegar me avisa.... -Olho torto para ele. Acho que alguém está se achando demais hoje. -....se quiser. -Completa, percebendo que está em zona proibida.
-Se eu lembrar te aviso... bom pessoal, obrigada novamente. -Agradeço mais uma vez e saio pela porta como um raio.
Estou totalmente envergonhada, não gosto de dar demonstrações de afeto em público, ainda mais na frente dessas pessoas que nem conheço.
Josué me leva até a minha casa completamente calado e eu estou me corroendo de arrependimento.
Quando chegamos, ele abre a porta do carro e me acompanha até a entrada da casa.
-Não vai entrar? -Pergunto.
-Hoje não, nos vemos amanhã às oito Clara. -Dá meia volta e entra no carro novamente.
-Josué, espera! -Me debruço na janela do seu lado e ele me olha curioso.
-Esqueceu alguma coisa no carro? -Procura qualquer objeto esquecido, mas não encontra nada.
-Esqueci sim... minhas desculpas. Olha eu sinto muito, não queria ter te tratado daquele jeito, você é mais que um segurança pra mim, é meu amigo e agora é o companheiro da minha mãe. Eu sei que não é desculpa, mas eu estava muito nervosa por tudo o que aconteceu... me perdoa vai... -Só falta eu me ajoelhar aqui bem na sua frente.
Ele faz cara de serio por alguns minutos e eu prendo a respiração, até que de repente um sorriso enorme aparece no seu rosto.
-Tudo bem Clarinha, eu te desculpo, mas promete que nunca mais vai deixar sua mãe preocupada desse jeito? -Segura minha mão carinhosamente.
-Sim, prometo que nunca mais vou sair sem segurança, nem disfarçada, você pode me seguir para todos os lados se quiser! -Respondo rápido e ele dá risada.
-Tudo bem, tudo bem... não é para tanto. Bom eu realmente tenho que ir para casa, estou muito cansado, amanhã te busco às oito, tudo bem?
-Tudo bem.
Me despeço e entro na casa mais tranquila. Mas essa tranquilidade toda dura praticamente dois minutos, até que mamãe desce a escada com cara de quem chupou uma dúzia de limões.
-Minha filha! Que loucura foi essa? Você quase me mata de susto! Se não fosse aquele garoto você estaria muito machucada agora!
Gesticula com as mãos enquanto me diz mais um monte de coisas e eu escuto tudo caladinha. Não sou nem doida de interrompê-la.
-Você sabe que se acontecer alguma coisa sequer com você, pode esquecer isso de cantar e ser famosa, esse era o trato! -O quê?
-Calma mãe, foi só uma vez e prometo que não vai acontecer de novo, juro! Já até falei com Josué! -O desespero no meu rosto desse poder ser visto a léguas de distância.
-Olha meu bem, você primeiramente é minha filha, e eu ficaria muito triste se acontecesse algo com você, eu sei que as vezes, você sente falta de sair como antes com os seus amigos e tudo mais, mas você tem que lembrar que agora as coisas são diferentes, você já não pode andar por aí sem proteção, tem fãs que respeitam, mas tem aqueles que não se importam com os danos que possam te causar, eles só querem saber de ter a sua foto, ou o seu autógrafo.
-Eu sei mãe... eu errei e não vai voltar a acontecer.
-Tudo bem, agora vamos dormir que amanhã você tem que acordar cedo novamente e eu também, minhas férias acabaram... tenho que voltar para o hospital.
-Eu já falei que a senhora não precisa trabalhar mãe....
-Eu sei meu bem, mas se eu ficar o dia todo aqui sem fazer nada, vou acabar ficando louca! -Me dá um beijo na cabeça e sobe as escadas rumo ao seu quarto.
Eu faço o mesmo. Tiro as minhas roupas e me jogo na cama só de calcinha e sutiã. Estou muito cansada para tomar banho, amanhã de manhã resolvo esse problema.
Nem bem respiro tranquila, meu celular começa a tocar.
-Diga Pri. -Solto meio mal-humorada.
-Nossa, que humor hein, mas me diz, que intimidade toda foi aquela com Marcelo? -Eu sabia que ela não ia deixar passar isso.
Explico tudo o que aconteceu quando eu conversei com o garoto antes de quase ser assassinada e Pri escuta tudo calada.
-Oi está aí ainda? -Pergunto, não é normal ela ficar tanto tempo assim sem dizer nada.
-Estou aqui sim, mas olha não sei, tenha cuidado com o Marcelo amiga, ele sempre foi um interesseiro e não seria diferente agora...
-Será? Ele me pareceu tão sincero...
-Pode até ser, mas mesmo assim, não baixa a guarda com ele não, ele já te enganou uma vez e pode te enganar de novo.
-Eu sei... não quero nada com ele, credo, mas também não posso fingir que nem o conheço né.
-Eu faria questão de fingir que nunca o vi na vida.
-Ele pediu para eu dizer a você que ele sente muito também... -Lembro do que ele me disse antes de se despedir.
-Ah, quando você encontrar com ele, fala pra ele enfiar os sentimentos bem no meio do....
-Priscila! -Grito antes que ela termine a frase e ambas caímos na risada.
Conversamos por quase duas horas, até que nenhuma das duas tem forças para dizer algo coerente. Encerramos a ligação e eu me ajeito para finalmente dormir em paz.
NOTA DO AUTOR
Bom amorecos, como eu demorei demais pra postar cap novo, decidi fazer um presentinho para vc e estou postando cap duplo hoje! Aproveitem!
Bjsss BF
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