Capítulo 3
Estou em uma praia cubana, bebendo água de coco e desfrutando da vista do mar azul cristalino. O garçom traz outra água e eu agradeço com um sorriso de orelha a orelha.
Há várias pessoas caminhando na praia, com suas famílias ou seus cachorros de estimação... eu não poderia estar mais feliz.
O mar é tão lindo que quase não consigo tirar os olhos das ondas quebrando sincronizadas, como se ensaiassem esse momento quando ninguém estivesse vendo.
Fico hipnotizada com o vai e vem das ondas, até que outra coisa chama minha atenção: um homem lindo de morrer, loiro de olhos azuis, sai da água como naquelas cenas de filmes e caminha lentamente até... mim?
Ele para bem na minha frente e agora eu sei muito bem de quem se trata: Chris Hemsworth.
Suas mãos enormes pairam nos meus ombros e vão descendo até que ele segura minhas próprias mãos. Ele abre a boca várias vezes e volta a fechar como se estivesse criando coragem para dizer o que quer que seja.
-Clara... já passou tanto tempo desde que nos beijamos pela primeira vez...
Oh meu Deus...
-Sim? –Incentivo.
-E eu... eu queria dizer que....
-Dizer o que? –Insisto, esse homem precisa dizer logo o que quer! Ele segura o meu rosto com as duas mãos e olha bem no fundo dos meus olhos antes de começar a dizer:
-Clara, você é a mulher mais linda que eu já vi na face da terra e eu... eu te bipppppppp...
-Você o que?
-Eu te biiiiiiiiiiippppppppp!
-Nããããããão! De novo não! –Me sento rapidamente na cama e aperto o botão do despertador com o máximo de força que consigo. Mas que droga! Todas as vezes que Chris vai se declarar para mim, acontece isso! Caramba! Eu sou azarada até em sonhos!
Me levanto chutando os lençóis e tudo o que encontro na minha frente. Isso já está passando de sonho a pesadelo!
Olho a hora no celular e já passa das seis. Droga, se eu não me arrumar agora, vou chegar atrasada.
Ainda indignada com a minha quase declaração de amor, tomo um banho rápido, visto uma roupa qualquer e vou tomar café da manhã com a mamãe.
Quando chego até a cozinha, a mesa está recheada de guloseimas, uma garrafa de café e uma jarra com leite quentinho.
Sinto o cheiro de pão de queijo e corro até a mesa para colocar pelo menos uns seis no meu prato. Eu amo pão de queijo!
Começo a comer rapidamente, e depois de alguns minutos, percebo que mamãe não apareceu ainda.
Balanço a cabeça e dou uma risadinha, ela deve estar com Josué, certeza.
Quando termino de comer tudo (e sinto que vou explodir), coloco a xicara e o prato que usei dentro da pia e volto para cima para pegar minha bolsa, chaves da casa e o celular. E nada de mamãe aparecer.
Desço as escadas correndo, ainda terminando de colocar os sapatos e quando chego no último degrau, paro de repente e quase levo um tombo.
Mamãe está na porta conversando com Josué, o que me faz parar e ficar quietinha, é o jeito que ela está o tratando: com muito carinho. Ela arruma o nó da gravata dele, depois alisa o terno preto e por último dá um beijo na bochecha dele e ele sorri como um bobo. Eu não quero quebrar esse clima de amor e cupidos e coraçõezinhos no ar, mas preciso chegar logo na agencia para me reunir com o resto dos organizadores da turnê. Caminho pela sala, fazendo bastante barulho para que percebam que estou aqui, e quando chego perto dos dois, ambos estão com as bochechas vermelhas. Ai meu Deus, estou lidando com um casal de adolescentes!
-Vamos Josué, estou super atrasada! –Digo ao segurança e ele balança a cabeça envergonhado. –Mamãe, vou ficar todo o dia fora e às onze tenho que me reunir com Os Indecentes, não precisa se preocupar que Josué vai ficar comigo até acabar tudo, Okay? –Explico rapidamente sem nem respirar e ela balança a cabeça concordando.
-Tenha cuidado minha filha, e Jô, protege o meu bebê! –Ela faz uma cara que acho que quer parecer malvada, mas só arranca uma risada carinhosa do meu segurança. Ele dá um beijo na bochecha dela, eu faço o mesmo e depois de alguns minutos, já estamos na avenida rumo à MCD Records.
Quando chego na gravadora, está uma correria danada. O pessoal do vestuário para um lado, as dançarinas para outro e o resto da banda que toca comigo está reunido em um canto ensaiando. Eu comprei um estúdio bem grande, justamente para não precisar alugar algum lugar só para esse tipo de reuniões. Quando não estamos gravando, é aqui que ensaiamos, temos um salão com piso de madeira especial para ballet e parede completamente espelhada de um lado para que possamos ver com perfeição cada passo que damos.
O dia inteiro vejo com Beto como vamos fazer, quais músicas serão tocadas primeiro, as trocas dos dançarinos, meu figurino.... e muitas coisas mais.
Fico super estressada porque descubro que uma das bailarinas quebrou o braço escalando e agora não dá mais tempo de substituir ela. Depois Beto me diz que a empresa que está fazendo os ajustes no nosso ônibus errou no preço e que vai ser mais caro e vão nos entregar um dia antes da nossa partida. Esse dia não poderia ficar pior. Ah sim, poderia sim! Olho no relógio e já faltam vinte minutos para as onze. Merda! Como esse dia passou tão rápido?
Junto todas as minhas tralhas, me despeço do pessoal e arrasto Josué até o carro.
-Vamos cara, estou super atrasada! Dirija o mais rápido que consiga! –Digo cansada enquanto coloco o cinto de segurança. Estamos do outro lado da cidade e a essa hora deve haver pouco transito, mas mesmo assim não sei se chegaremos a tempo.
-Você sabe que não vou correr não é mesmo? –O careca diz e eu viro os meus olhos. –Não faça essa cara Clarinha, prometi à sua mãe que iria te cuidar.
-Ah pronto, agora está fazendo esse jogo é? –Pergunto indignada e com os braços cruzados, aquela típica posição de garota mimada. O segurança grandalhão solta uma risada e eu descruzo os braços tão rápido que bato o cotovelo na porta. Merda!
-Cuidado aí garota, ou vai se machucar! –Coloca a chave na ignição e dá a partida no Range Rover preto.
-Tudo bem, vá o mais rápido que conseguir sem infringir nenhuma lei de transito, você pode fazer isso por mim, Jô? –Brinco e caio na gargalhada quando vejo que o rosto dele fica vermelho. Eu até ficaria com dó dele se não estivesse preocupada em chegar rápido na SpinOut.
Josué costura pela cidade habilmente e indo o mais rápido que consegue sem segundo ele "me colocar em perigo".
Em cada semáforo que ele para, eu olho as horas no relógio do celular e vou ficando cada vez mais desesperada porque sei que vou chegar atrasada. Não que eu esteja preocupada com o que Léo irá dizer, sinceramente estou tão cansada que não quero brigar com ele, não hoje. Depois de quase quarenta minutos, finalmente estacionamos na frente da gravadora que não coloco os pés desde aquela vez.
Me apresento para o porteiro e ele nos deixa passar. Nem bem o segurança desliga o carro, eu salto e subo correndo pela escadaria, até que bato em algo, ou melhor em alguém. Começo a cair para trás e o desespero toma conta de mim. Se eu cair aqui, vou sair pelo menos com um braço quebrado.
Estou quase rezando para que não me machuque, quando duas mãos fortes me seguram e me puxam de volta para cima e me colocam bem junto ao seu corpo musculoso. Solto um suspiro de alivio e balanço a cabeça enquanto olho para cima. Um par de olhos castanho escuros me olham de cima a baixo.
-O-obrigada, já pode me soltar agora... –Solto e confesso que estou com um pouquinho de medo. O cara do moicano roxo me olha curioso enquanto me mantem bem perto dele. Qual é o problema com essa banda? Reparo nos piercings na sua orelha e na cara e faço uma careta sem querer. Os braços completamente tatuados insistem e me segurar. Estou quase gritando para ele me soltar até que Léo aparece de não sei aonde e olha com a cara fechada para o moicano man.
-Solta ela Rafael, vamos, temos que ir, já está tarde. –O tal Rafael olha de mim para Léo, dá uma risadinha e finalmente me solta. Sinto um alivio enorme até que presto mais atenção na frase de Léo.
-Espera, ir embora? Mas eu acabo de chegar! –Coloco as duas mãos uma de cada lado da minha cintura e sem perceber, caminho e paro bem na frente de Léo. Ele me fuzila com o olhar e levanta uma sobrancelha enquanto diz:
-Sim, acabou de chegar, vinte minutos depois do combinado. Não tenho tempo para perder com crianças. –Começa a descer as escadas, mas em um ato de raiva, seguro firme no seu braço e ele olha ainda mais furioso para mim. Acho que se seus olhos tivessem raios laser, eu estaria só o pó agora.
-Escuta aqui garoto, eu também trabalho, sabia? Estou desde as seis da manhã em pé, tive um monte de problemas da minha turnê para resolver hoje, quando percebi faltavam poucos minutos para as onze, vim o mais rápido que pude, mas meu estúdio fica do outro lado da cidade, o que você quer que eu faça? –A essa altura, já não estou segurando mais o seu braço e gesticulo igual a louca dos gatos dos Simpsons. Alguém traz um gato para eu atirar na cara desse babaca por favor?
-Sinto muito... –Okay, parece que ele tem coração. –Mas isso não é problema meu. –Ou não.
-Vamos Léo, foi você quem quis entrar nessa furada, eu quero tanto estar aqui quanto você, não dificulta as coisas. Dá pra ser mais maduro uma vez na sua vida? –Provoco e percebo o erro no mesmo instante.
-Maduro? Ah, mas essa é nova! –Ele começa a falar mais alguma coisa mas desiste e volta a descer as escadas. Olho para a sua banda que nos assistem como se fossemos uma atração circense. Só falta o balde de pipocas. Peço ajuda ao moicano man e ele inesperadamente desce as escadas correndo e conversa alguma coisa com Léo. Depois de alguns minutos ambos sobem e entram na gravadora sem dizer uma palavra. O que será que o tal Rafael disse para Léo?
-Primeiro as damas... –O cara de cabelo azul faz um gesto exagerado e eu passo pelas portas de vidro com o logo da SpinOut. O interior me trazendo muitas lembranças de dois anos atrás.
Sou levada até um estúdio de gravação completo com uma porta de vidro que dá para uma salinha com vários sofás e até um frigobar. Boa ideia, vou fazer o mesmo no meu estúdio. Tenho a salinha, mas não o frigobar.
-Senta. –Léo diz e eu olho contrariada para o garoto.
-Primeiro que não sou uma cachorra e segundo vou sentar quando eu quiser. –Eu não consigo. Não posso trata-lo bem. Não nasce de mim, ainda mais com essas coisas que ele diz.
-Tudo bem garota, faça o que quiser. –Debocha enquanto vai até o frigobar e tira cinco garrafinhas de agua, dá uma para cada integrante da sua banda, abre uma para ele mesmo e coloca a última em cima da mesa de centro.
-Bom, acho que antes de tudo, precisa conhecer os integrantes da banda, o Rafael você já conheceu, ele é nosso vocalista, este é Pedro, nosso baixista –aponta para o cara careca – e este é Lucas o baterista –aponta para o de cabelo azul.
-É um prazer conhecer vocês, exceto você Léo. –Digo e todos caem na risada enquanto Léo me olha soltando fogo pelas ventas. –Bom, eu fico muito agradecida por vocês quererem colaborar com essa aposta que não tem nada a ver com vocês, Rafael, eu acho que vamos nos dar muito bem, nossas vozes tem um timbre parecido então acho que não vamos ter muito problema em decidir a altura das notas e...
-Ele não vai cantar com você Clara. –Léo me corta de repente.
-Ué, mas ele é o vocalista, quem vai cantar comigo então? –Olho inocente para os outros e como se tivessem ensaiado, cada um levanta os ombros no mesmo instante.
-Eu vou. –Essa simples frase me faz arrepiar o corpo inteiro.
-Ah não, eu não vou cantar com você. –Me levanto rapidamente. Isso é o cumulo! EU cantar com LÉO? Jamais!
-É o seguinte garota, a banda concordou em ajudar com a música, a voz fica por minha conta, não posso fazê-los pagar por um erro que eu cometi.
-Isso mesmo! Um erro seu! Você nem sabe cantar! –Provoco e novamente o resto da banda cai na risada. –Quer saber? Eu ia fazer essa doação de qualquer jeito... não preciso fazer isso! Não com você! Espero que tenha uma grana sobrando, porque Rita não vai esquecer disso e eu vou fazer questão de lembrar a ela que você tem que ajudar os animais desamparados! –Grito enquanto pego minha bolsa e me dirijo até a porta. Coloco a mão na maçaneta para ir embora e me livrar dessa furada, mas uma frase, uma só frase me faz parar no ato.
-Sabia que você não ia aguentar a pressão... está desistindo antes mesmo de começar.
Me viro de repente igual naquelas cenas de filmes de terror.
-Eu posso aguentar muita pressão se quiser saber! –Ah Clarinha, como você pode ser tão burra? Léo me olha segurando o riso.
-Tenho certeza que sim... –Esquadrinha o meu corpo por completo. Mas que descarado!
-Ei! Não foi isso que eu quis dizer! Eu posso apostar que consigo gravar essa música!
-E eu aposto que você não dura nem duas semanas trabalhando com profissionais.
-Ah é? Quer pagar para ver? –Fico bem na sua frente novamente e ele se aproxima ainda mais ameaçador. Minha respiração fica rápida de repente, mas não é de medo, é algo que não sei explicar.
-Na verdade, você vai pagar. Vamos fazer o seguinte, se não conseguir aguentar as duas semanas comigo.... Quero dizer com a gente, você tem que dizer que é minha fã e que sempre me amou secretamente. –Isso é um absurdo!
-Tudo bem, mas se eu conseguir, você terá que pedir desculpas em rede nacional para mim e voltar atrás em tudo de ruim que você disse sobre mim desde que nos conhecemos.
-Okay. –Diz simplesmente e um medinho se apossa de mim. Isso foi fácil demais.
-Agora voltemos ao trabalho que como já disse, não tenho tempo a perder. –Balanço a cabeça e quando nos viramos para conversar com o pessoal da banda, não encontramos ninguém dentro da sala.
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