Capítulo 25
POR LÉO
Já passaram quase dois meses desde que Clara terminou comigo. Tentei ligar para ela tantas vezes que perdi a conta, mas ela nunca me atendeu. Procurei por Maggie, por Josué, inclusive engoli meu orgulho e perguntei a Marcelo se sabia aonde ela estava, mas não obtive resposta. Hoje é o dia do maldito jantar com um fã e eu não tenho a menor vontade de ir, mas como fizemos uma porra de um contrato, estou obrigado a sentar na cadeira desconfortável e sorrir para um desconhecido. Não tenho nada contra meus fãs, até porque graças a eles eu sou famoso, mas ultimamente eu não consigo me concentrar em nada. Clara se infiltrou na minha cabeça de tal jeito que eu acordo e vou dormindo pensando aonde ela estará, o que andará fazendo, se já está com outro... Só de saber que isso é uma possibilidade, tenho vontade de socar o primeiro que aparecer na minha frente.
-Vamos Léo, desamarra essa cara, e pelo menos faz de conta que está animado com o jantar. -Rafael me diz e eu mostro o dedo pra ele. Não estou com humor para suas idiotices. -Qual é cara, já passaram vários meses, desencana! -Apenas balanço a cabeça e ele sorri, isso mesmo, sorri. Babaca. -Nunca pensei que veria Léo Moura caidinho de quatro por uma garota, parece que ela vale a pena hein?
-Você fala assim dela mais uma vez e eu me esqueço que somos amigos. -Rosno enquanto seguro o colarinho da sua blusa, deixando toda amarrotada.
-Calma ai Léo! Era brincadeira, eu hein! -Solto sua blusa em um empurrão e ele dá alguns passos para trás.
-Desculpa cara, é que... eu estou ficando louco já, ela não me liga, não manda mensagem, eu não sei sequer para onde ela foi! Ela simplesmente desapareceu! -Esfrego meu rosto com ambas mãos e Rafael passa um braço por cima dos meus ombros.
-Tranquilo que tudo vai se resolver, você vai ver! Agora vamos que já estamos atrasados e você sabe como nosso querido produtor fica quando nos atrasamos. -Me arrasta para a porta e praticamente me enfia dentro do seu carro. Ultimamente não estou afim de dirigir, então meu amigo virou também meu motorista.
Depois de quase vinte minutos de transito, chegamos no restaurante e eu desço do carro com uma cara de quem está indo para a forca. Rafael apenas me olha e nega com a cabeça, entendendo finalmente que eu não estou no clima para sorrir.
Ao passar pela porta, o ar gelado do lugar, vai de encontro com o meu rosto, me refrescando e tranquilizando ao mesmo tempo.
Nem precisamos dizer nossos nomes ao maître, ele simplesmente nos leva até a mesa aonde todos já estão à nossa espera.
Cumprimento ao resto dos garotos da banda, ao nosso produtor, seguranças, algumas pessoas que não faço ideia de quem são e por último, me aproximo de uma garota que está a ponto de desmaiar.
Ela se levanta e eu a abraço.
-Prazer, sou Léo Moura, como você se chama? -Digo ela me olha por alguns minutos antes de finalmente responder.
-E-eu me chamo Elisa, e acredite o prazer é todo meu! -Sua voz sai meio esganiçada e eu não consigo não rir. A garota está muito nervosa.
Olho bem para ela, é uma moça muito bonita, cabelos pretos enrolados, corpo violão e olhos castanhos que me fazem lembrar de Clara.
Seus braços são completamente tatuados e posso ver pelo seu decote que com o resto do corpo não deve ser diferente.
-Então Elisa, pelo visto nossa banda já se apresentou, então podemos nos sentar e conversar mais. -Digo e ela balança a cabeça enquanto se senta ao lado de Pedro e de Lucas. Ambos disputando pela atenção da bela jovem. -Então quer dizer que você ganhou o concurso? -Pergunto e todos me olham estranho.
-Pelo visto sim né Léo... -Nosso produtor diz com uma risadinha que aprendi a identificar como "risada falsa para impressionar".
-Sim, minha foto foi a ganhadora, minha amiga praticamente me obrigou a entrar para o concurso, eu não fazia ideia que iria ganhar... -Vejo seu rosto ficar levemente ruborizado e a curiosidade me invade.
-Que foto você postou? -Pergunto e ela me lança um olhar arregalado.
-E-eu não sei se quero mostrar essa foto a Léo Moura...
-Agora que eu quero ver mesmo! -Outro sorriso escapa pela minha boca e Rafael levanta a sobrancelha em provocação.
A garota hesita por alguns minutos, mas depois da insistência de todos, ela finalmente tira uma pasta da bolsa pendurada na cadeira, coloca em cima da mesa, e desenrola uma fitinha vermelha lentamente.
Depois de toda essa cerimonia, ela tira várias fotos da pasta e vai passando para que cada um possa ver.
São fotos variadas, de pessoas em um parque, de uma janela embaçada pela chuva, crianças brincando...
-Qual dessas é a ganhadora? -Levanto uma foto de uma garota lendo em um campus universitário.
Elisa fica ainda mais vermelha e me passa uma última foto que ela segurava contra o peito.
Quando pego a foto, meu queixo vai até o chão. É uma foto dela mesma, só de calcinha, em cima de uma cama. Como eu tinha previsto, seu corpo realmente é todo tatuado. A foto em si é um reflexo em um espelho, a câmera tampa o seu rosto, mas ela é facilmente reconhecida pelas tatuagens. Seus seios estão completamente à mostra e os garotos quase desmaiam com a imagem.
-É uma foto muito bonita, Elisa, parabéns! -Tenho que admitir, ela tem talento, mas o seu corpo é fenomenal.
-Obrigada... -Sussurra e guarda as fotos rapidamente na pasta. Eu já até sei quem foi o encarregado de selecionar a melhor foto.
Percebo que ela está muito desconfortável então decido mudar de assunto.
-Então, o que faz, além de tirar fotos é claro?
-Eu sou médica, trabalho no hospital da criança. Amo o que faço, mesmo que algumas pessoas ainda tenham receio quando me veem, por causa das tatuagens.
-Ah, mas isso é em qualquer lugar, o preconceito está aonde menos esperamos, é uma pena.
-Sim, algumas vezes eu tenho vontade de mandar todo mundo para aquele lugar, mas aí seria pior.
-Verdade, você não tem que deixar se abalar por gente sem noção. -Lucas intervém depois de quase meia hora babando na garota e ela balança a cabeça.
Engatamos em uma conversa sobre qualquer coisa, Elisa é muito simpática e inteligente. Os garotos perguntam várias coisas relacionadas à medicina a garota, e ela responde tudo com uma paciência invejável.
Algumas vezes tenho que chutar a algum deles porque perguntam coisas totalmente vergonhosas e a garota vai ficando cada vez mais vermelha.
-Tudo bem pessoal, chega de perguntas, deixem que ela faça as perguntas para nós e... -Minha boca fica seca de repente ao ver quem entra pela porta do restaurante. Não pode ser ela! Como ela está linda... Clara caminha até uma mesa acompanhada do seu manager e os dois sentam frente à frente. -Me desculpem, já volto. -Quando percebo, estou caminhando até aonde eles estão sentados e paro bem na sua frente. Vejo uma expressão de surpresa no seu rosto cansado, que logo desaparece e dá lugar à indiferença.
-Léo... -Diz simplesmente e eu tento encontrar as palavras, mas de repente, na minha cabeça só aparecem imagens nossas na cama, nos beijando, dando risada... -Se nos der licença, queremos comer... -Nesse momento, minha cabeça volta ao normal e uma raiva descomunal sobe pelo meu peito.
-Porque você desapareceu desse jeito? -Pergunto nem lembrando do babaca ao seu lado.
-Léo, acho que não é a hora nem o lugar para conversar sobre isso... -Diz enquanto olha ao redor, seguramente para ver se está chamando atenção para si, mas eu estou pouco me fodendo, eu quero... eu preciso saber porque ela fez isso comigo!
-Se agora não é a hora, quando vai ser então hein? Porque te liguei mil vezes e você nunca me atendeu, simplesmente sumiu do mapa sem nem me explicar porque queria terminar! -Minha voz vai aumentando uma oitava a cada palavra que vou proferindo na sua cara. Ela escuta tudo calada e posso ver seus olhos se encherem de lágrimas. Me sinto péssimo por isso, mas foi ela quem provocou todo esse assunto.
-Beto, acho melhor irmos para outro lugar, te espero no carro. -Sem ao menos me responder, ela se levanta e caminha até a saída.
Sem me importar com o jantar com a fã e a banda, eu saio correndo atrás dela, e quando ela está quase chegando perto de um carro preto que desconheço, a seguro pelo braço e a impeço de entrar.
-Por favor... -Suplico olhando fundo nos seus olhos e ela balança a cabeça tentando se soltar do meu aperto. -Por favor, Clara, conversa comigo... me diz o que está acontecendo... -Esfrego os seus braços e ela respira fundo, sentindo a mesma corrente elétrica que eu.
-Eu sinto muito Léo, mas não posso, não agora... -Meus braços caem pesados ao lado do meu corpo e ela aproveita para entrar no carro e trancar as portas.
Beto aparece logo em seguida com sua bolsa nas mãos.
-Cara, ela não quer conversar com você agora, mas eu prometo que tudo tem uma explicação... -me entrega um cartão com um número de celular. -Me liga. -E entra no carro com ela, dando partida imediatamente me deixando ali no meio do estacionamento, imaginando mil razões para que ela não queira me ver.
Depois de voltar para o restaurante, fiquei em piloto automático até que o jantar finalmente acabou. Rafael me olhava várias vezes perguntando em silencio o que havia acontecido e eu apenas negava com a cabeça. Não consegui parar de pensar em como Clara estava linda, seu corpo, seus olhos, sua boca... Droga!
Quando estávamos todos nos despedindo, Elisa me entregou um papel com outro número de celular dizendo que se eu quisesse me divertir, era só chamar. Nesse momento entendi que toda aquela vergonha, era apenas encenação.
Rafael me levou até minha casa e pedi, não, implorei para que ele me deixasse sozinho, o que ele fez a contragosto.
Não quero ninguém me incomodando no momento, eu só preciso estar sozinho.
Depois de quatro latas de cerveja e quase uma garrafa de whisky, finalmente consegui dormir, mas não sem sonhar com aqueles malditos olhos castanhos.
-Bom dia, flor do dia... -Alguém entra no meu quarto praticamente gritando. Estou pensando seriamente em matar essa pessoa, quando percebo que é Rafael, com uma bandeja cheia de comida nas mãos.
-Qual é Rafael, não grite, estou de ressaca, porra! -Tampo os meus olhos com uma almofada e ele a retira um segundo depois.
-Deixa de drama, Léo! Levanta, toma o seu café da manhã e se veste porque temos que sair.
-Eu não irei a lugar nenhum, cara. -Volto a me deitar e ele dessa vez, me puxa para fora da cama sem se preocupar se está me machucando ou não.
-Já deu! Levanta logo ou serei obrigado a te jogar um balde de agua fria. -Ameaça.
-Faz o que quiser...
-Tudo bem. -Desaparece e volto a dormir por alguns segundos, quando de repente uma enxurrada de agua fria é despejada em cima de mim.
-Qual é o seu maldito problema?! -Grito enquanto me levanto da cama em um pulo só.
-Eu avisei. -Ri e coloca o balde no chão. -Agora vamos, come tudinho, te espero lá embaixo. -Sai me deixando sozinho e ensopado.
Tomo um banho rápido, visto uma roupa qualquer e como algo do que ele trouxe. Quando estou quase saindo, vejo o cartão que Beto me deu, em cima do criado-mudo ao lado da minha cama. Nesse momento tomo uma decisão.
Pego o meu celular, digito os números e espero.
-Alô? -Escuto a voz de Beto do outro lado da linha.
-Beto sou eu, Léo, acho que precisamos conversar.
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