Capítulo 20


Viajamos o caminho inteiro calados. Léo olha pela janela e observa a paisagem enquanto eu dirijo até a sua casa. Isso está me matando por dois motivos: um estou morrendo de medo e dois, quero que ele me diga qualquer coisa, nem que seja para brigar comigo e me distrair dessa sensação ruim que passa pelo meu corpo nesse momento.

Quando estamos quase chegando na sua casa, paramos em um semáforo e me permito olhar para ele. Léo tem uma cara de quem não está nada feliz. A testa tão franzida que até parece um velhinho e o olhar tão raivoso que acho que ele poderia facilmente atirar raios laser pelas írises cafés.

-Léo... –Chamo, mas ele não responde. –Léo? –Insisto e finalmente ele olha para mim, porém não diz nada, esperando que eu continue. Mas eu não sei o que ia dizer. Só queria conversar com ele mesmo. O garoto levanta uma sobrancelha e pende a cabeça levemente para o lado, como aqueles cachorrinhos curiosos. –Conversa comigo por favor... estou enlouquecendo com esse silencio. –Decido ser sincera, o que posso perder, afinal de contas? –O seu olhar se suaviza e ele coloca a mão por cima da minha perna, meu olhar desce para o lugar e respiro fundo com o contato.

-Desculpa, é que estou... quer saber, deixa pra lá. Então, quem você acha que enviou aquelas flores? –A mudança de assunto me deixa ainda mais curiosa, mas no momento opto por responder à sua pergunta em vez de insistir em algo que talvez eu não queira saber de todos modos.

-Eu não sei... –Coloco o carro em marcha novamente, o sinal já está em verde e todos estão buzinando desesperados para que avance. –Acho que foi a mesma pessoa que enviou aquelas cartas macabras... eu só sei que no momento estou com um pouco de medo Léo. –Respiro fundo e solto o ar lentamente. Ele balança a cabeça e segura firme no encosto da porta. –Mas nós vamos descobrir quem é e dar um jeito nisso, quero dizer, eu e Josué, não eu e você... e-eu... –me calo para não passar mais vergonha e ele me olha com uma determinação que nunca tinha visto no seu rosto.

-Clara, eu vou te ajudar a descobrir quem é esse idiota, pode ficar tranquila, não vou deixa-lo se aproximar de você, e se ele sequer tentar tocar um fio de cabelo seu, eu o arrebento na porrada! –Estala os dedos e eu sinto um arrepio por todo o meu corpo. Léo nunca tinha dito nada assim e fico levemente assustada. Balanço a cabeça em concordância e nem percebo quando chegamos na frente da sua casa. Ele liga para o porteiro e quando o enorme portão começa a se abrir, acelero e em questão de segundos estamos em segurança dentro da enorme casa.

-Você reconhece essa letra? –Léo me passa o papel amassado e eu leio novamente a letra da música que tanto gostava, mas que no momento me causa arrepios.

-Sim, é a Every Breath You Take do The Police... –Digo analisando a folha de todos os lados, como se a resposta fosse aparecer magicamente de dentro do papel.

-Não, Clara, reconhece de quem é essa letra? Já a viu antes? –Aponta impaciente para a caligrafia meio desleixada e eu a observo atentamente, mas infelizmente não consigo reconhecer.

-Não tenho a mínima ideia... nunca vi essa letra antes. –Solto um suspiro pesado e coloco o papel de volta em cima da mesa. –Achei que você tivesse jogado fora, depois de fazer toda aquela cena no programa... –Mudo de assunto, preciso realmente pensar em outra coisa ou vou enlouquecer.

-Pois não joguei... precisamos desse papel, é uma prova para juntar com as outras cartas, só fingi que amassei para que aquela mulher não desconfiasse... –Ele dá a volta na mesa e para atrás de mim me deixando com os nervos à flor da pele. De repente Léo me abraça por trás e coloca a sua cabeça em cima da minha. Fecho os olhos aproveitando essa sensação deliciosa, o calor do seu corpo é reconfortante. –Mas não precisa se preocupar, eu vou te proteger. –Sussurra e quase tenho vontade de chorar. Além de mamãe e Pri, ninguém nunca tinha se preocupado assim por mim.

-Obrigada Léo... –Digo com a voz embargada e ele me aperta ainda mais. Sinto que vou explodir nesse momento. Estou em êxtase e não sei como lidar com essa mistura de sentimentos. Me viro lentamente e capto o seu olhar, vejo um brilho ali que me surpreende, ele não está me olhando como antes, agora é diferente, é como se... se ele quiçá... gostasse... mas no que estou pensando? Sou uma iludida mesmo! –Quer comer alguma coisa? –Pergunto quebrando a nossa conexão, não quero me antecipar e cair no mesmo erro de antes com Marcelo.

-Na verdade estou faminto. –Vira a minha cabeça e me obriga a olhá-lo nos olhos novamente. –Mas de você. –Solta a bomba e me deixa sem palavras.

-Léo, eu não sei se estou com ânimos, você sabe, para... –Começo, mas ele me corta com um beijo.

-Não estou dizendo que quero transar com você agora, Clara. –Meus olhos se arregalam ao ouvir as suas palavras. Nem sei por que me surpreendo com a sua sinceridade, estamos falando de Léo. –Mas uns amassos não fazem mal e você precisa de uma distração... –Pisca um olho e eu solto uma risadinha.

Vamos até a sala, nos sentamos no sofá e começamos a rodada de "amassos".

Depois de algumas horas de beijos quentes e toques proibidos, somos interrompidos pelo toque do meu celular.

-Merda! Tenho que atender. –Tento me levantar, mas Léo me puxa de volta e me beija no pescoço. –Vamos Léo... preciso... atender... –Ofego enquanto ele me leva às alturas e depois me faz cair em queda livre.

-Depois você vê quem é. –Suas mãos vão parar na curva da minha bunda e meu nível de excitação ultrapassa os limites permitidos para um simples amasso no sofá.

-Preciso atender, pode ser algo importante. –Consigo me livrar do seu agarre e corro até aonde deixei a minha bolsa, ao som dos seus gritos de "você que perde". Atendo o telefone ainda rindo da sua birra. –Alô?

-Ele não te merece, você é minha.

-Quem você acha que é seu pervertido? Escuta aqui seu... –E desliga. De repente o telefone é puxado da minha mão e quando vejo, Léo está fuçando no aparelho, seu rosto está tão vermelho que seria cômico se não fosse uma situação dessas.

-Merda! –Exclama e me entrega o celular.

-O que foi? –Pergunto tentando entender o que ele estava procurando.

-O covarde ligou com número privado! –Tira o próprio celular do bolso e mexe, mexe até que percebo que ele está ligando para alguém.

-Oi Jason, preciso de um favor. Não, não esse tipo de favor... –Diz e eu levanto uma sobrancelha, com quem estou ficando? –Eu preciso que você descubra um número pra mim.... Ligação privada, isso... não, não é pra impressionar nenhuma garota, é sério Jason! –Vejo que Léo começa a ficar irritado e decido dar uma ajudinha. Tiro o celular da sua mão e começo a falar calmamente.

-Então Jason, você está falando com Maria Clara Diniz, o negócio é o seguinte, tem um idiota que acha que pode me incomodar, ele está me ligando e me ameaçando, e o covarde liga somente com número privado, portanto preciso descobrir quem é para que Léo possa ir e dar uma surra no otário, pelo que eu entendi, você sabe dessas paradas, então será que pode nos ajudar? –Falo tudo de uma vez e o cara do outro lado sequer diz uma palavra por alguns segundos.

"Caramba, é você mesmo? " –Pergunta e eu confirmo impaciente. "Mas claro que ajudo Clara, só que isso demora um pouco e vou precisar do seu aparelho por alguns dias, então vai ter que usar outro..."

-Não tem problemas, tenho outro aparelho em casa, aonde posso levar para você? –Pego uma caderneta na minha bolsa para anotar o endereço, mas Léo reivindica o aparelho novamente.

-Eu vou levar para você hoje mesmo o celular, nos vemos mais tarde. –Desliga o telefone e me olha com cara de poucos amigos. –Não faça isso novamente. –Diz simplesmente e sobe para o quarto me deixando sozinha no meio da enorme sala de estar. Bufo e sento no sofá, aproveitando para excluir todas as imagens e logins nos aplicativos do meu aparelho, não quero ninguém entrando nas minhas redes sociais... caramba como tenho fotos! Coloco todas na nuvem e depois de quase meia hora, consigo finalmente terminar o serviço.

Léo finalmente aparece com outra roupa e cabelo molhado e sem dizer nenhuma palavra estende a mão para mim. Tiro o chip do celular e o entrego nas suas mãos.

-Vamos, irei deixar o celular para que revisem. –Me levanto e o acompanho até a porta.

-Quer que eu te leve? –Pergunto, estou morrendo de curiosidade de saber quem é o famoso Jason.

-Não precisa se preocupar, tenho outro carro. –Diz simplesmente e eu abaixo a cabeça levemente decepcionada. Mas o que eu esperada? É Léo Moura, guitarrista de uma das bandas mais famosas do país, é obvio que ele deve ter uma dúzia de carros na garagem!

-Tudo bem... –Faço um muxoxo e caminho até o meu carro. Abro a porta, mas antes que eu possa entrar, Léo segura o meu braço e me viro ficando de frente pra ele, que me olha por alguns minutos antes de dizer qualquer coisa.

-Te aviso quando Jason consiga descobrir o número. –Beija a minha testa e fecho os meus olhos sem nem perceber. –Vai ficar tudo bem Clara, não precisa se preocupar.

-Obrigada Léo, de verdade, e não estou preocupada, esse idiota não sabe com quem está se metendo. –Minto e ele dá uma risadinha, eu estou tremendo de medo na verdade, mas Léo não precisa saber disso.

-Essa é a minha garota. –Me dá um selinho e não agora quem ri sou eu.

-Caramba, isso é tão clichê! –Brinco e ele me beija novamente.

-Isso é um problema pra você? –Entra na brincadeira e eu o abraço.

-Na verdade não, eu bem que adoro um clichê, sabia? –Dou um último beijo na sua boca deliciosa e entro no carro, deixando o garoto boquiaberto.

Dirijo distraída pelo caminho até a minha casa. Penso nos acontecimentos recentes, tento excluir as partes ruins e lembrar somente das boas, como por exemplo a noite maravilhosa de sexo com Léo. Quem diria que o garoto seria bom nisso? O ditado "cachorro que muito ladra não morde" perde totalmente o sentido nesse caso, e como ele mesmo prometeu, eu estou implorando pelos seus beijos. Droga, porque tenho que ser tão contraditória?

Acabo pegando uma entrada errada e enquanto retorno para a rota, aproveito para dar uma passeada, quase nunca tenho oportunidade de dirigir sozinha sem seguranças e como esse carro é "modelo antigo" ninguém nem percebe que tem uma cantora famosa dentro.

Passo pelo centro, observando as lojas repletas de clientes, pessoas passeando com as suas famílias, adolescentes fazendo coisas de adolescentes e quase bato o carro quando vejo Priscila entrando em uma das lojas. Pego o telefone e estou por ligar para ela quando uma sensação estranha se apodera de mim. Sinto o meu corpo inteiro se arrepiar e começo a olhar para todos lados em busca de algo ou alguém suspeito. Como era de se esperar, não encontro nada. Desisto de ligar para a minha amiga e acelero o carro, uma vontade imensa de chegar em casa logo.

Depois de alguns minutos tensos, finalmente passo pelo segundo portão e entro quase correndo dentro de casa.

-Clara que bom que chegou! –Mamãe diz da cozinha e quase corro para abraça-la de tão feliz que estou por vê-la nesse momento, porém me controlo, não quero que ela se preocupe e estragar a sua vibe de noiva.

-Oi mãe, como foi com o Josué? –Pergunto e os seus olhos quase brilham ao falar nele.

-Foi muito bem, obrigada por perguntar... aproveitamos para decidir a data do casamento... –Ela me olha estranho e sei que coisa boa não vem por aí. –Vamos esperar a que esse reboliço da sua música com Léo e a turnê acabe, depois vamos nos casar. –Não disse?

-Mas mãe, a turnê acaba daqui a uns seis meses! Não pode esperar tanto assim por mim! –Exclamo, mas ela segura o meu rosto como fazia quando eu era criança e beija a minha bochecha.

-Meu bem, a ideia foi do Jô, ele quer te proteger e não vai ficar tranquilo em uma lua de mel sabendo que você está sendo stalkeada.

Balanço a cabeça, mas não discordo, sei que ambos são cabeça dura, então não adianta querer contrariar. Além do mais, é até bom, porque temos bastante tempo para planejar tudo certinho. –Então, como estão as coisas com o roqueiro? –Pergunta de repente e eu desconverso.

-Estão bem, avançamos muito rápido na verdade, inclusive acho que essa semana já começamos a gravar a música... –Pego um copo de agua só para ganhar tempo.

-É mesmo? Isso explica o fato dele ter dormido aqui então...  

NOTA DO AUTOR

E aí Roqueiros, quem acham que é o stalker que não deixa nossa Clara em paz? E em que furada ela se meteu hein? Será que vai levar bronca da mãe? Deixem nos comentários e não se esqueçam de votar!! 

Bjssssss BF   

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