Capítulo 11
-Bom, acho melhor eu ir embora... sua mãe já chegou e... -Léo coça a cabeça enquanto tenta dizer da melhor maneira possível que ele quer dar o fora daqui.
-Sim, sim... -Abro a tampa da máquina e tiro sua blusa quase seca de dentro. Olho no visor e percebo que faltavam apenas mais cinco minutos para que ela estivesse completamente seca. O que poderia ter acontecido em cinco minutos? -Aqui, está quase seca. -Entrego a peça branquinha e ele a coloca sem cerimônia. Uma pena, pois, a vista do seu tanquinho não estava nada mal.
-Então... vou nessa. -Começa a andar e eu o acompanho até a porta. Caminhamos a passos lentos, como se cada um quisesse dizer algo, mas não encontramos a forma ou a coragem para fazê-lo.
Quando ele chega na entra entrada, olha para mim por alguns segundos, balança a cabeça enquanto abre a porta de madeira e sai sem dizer nada. Ótimo.
-Léo. -Chamo em um momento obviamente de insanidade.
-Sim? -Ele responde quase que imediatamente.
-Obrigada... -Agradeço e ele assente com a cabeça.
-Você me deve uma, Maria Clara Diniz. -Sua voz sai meio rouca e o único que vejo é a parte detrás do seu corpo se afastando.
-Eu não te pedi para vir! -Grito para o garoto que já está quase chegando no Jeep preto.
-Eu sei.
-Convencido! -Digo para mim mesma enquanto fecho a porta e me viro para voltar ao quarto. Quase tenho um infarto quando dona Maggie me encara furiosa bem na minha frente.
Ela alterna o olhar de mim para a porta fechada, como se estivesse jogando uma indireta, me dando a oportunidade de explicar o que acabou de acontecer.
-Oi mãe! Que bom que voltou... -digo aliviada, porque realmente fico muito feliz que ela tenha voltado.
-Sim, pelo visto não sentiram muito a minha falta, não é mesmo? -o sarcasmo no seu tom de voz é perceptível até em Júpiter.
-Na verdade, muito pelo contrário... -começo, mas ela me interrompe na lata.
-Clara, eu sei que você já é adulta, já trabalha e obviamente deve querer ter namorados e tudo mais, mas antes de tirar qualquer conclusão, quero que me explique, o que um garoto estava fazendo a essa hora aqui dentro? -Viu? Ela não deixa os is sem pingos.
-Então... -conto a ela tudo o que aconteceu desde que tocaram a campainha pela primeira vez, e porque Léo veio parar aqui em casa. Dou bastante ênfase ao fato de que eu não pedi que ele viesse, mas ela não acredita muito na minha versão dos fatos.
-Quer dizer então que te deixaram isso na porta? -Segura o papel macabro nas mãos enquanto analisa as fotos e as letras.
-Sim.
-Você avisou o Josué?
-Tentei ligar para ele, mas acho que estava muito ocupado. -Levanto uma sobrancelha e mamãe fica mais vermelha que um pimentão.
-Ah sim... colocamos nossos celulares no mudo para não ser incomodados, eu sinceramente não pensei que uma coisa assim pudesse acontecer minha filha, eu sinto muito.
-Que isso mãe, ninguém imaginou na verdade... ainda bem que o Léo veio e ficou com a gente... -Tenho que admitir, por mais que ele seja um idiota, hoje ele foi muito gentil.
-Falando nisso, esse não é aquele tal de Léo que você tanto fala?
-Huh... sim.
-Hum... entendo. -Aquiesce e não deixo de notar o seu olhar enigmático.
-O que a senhora entende?
-Nada, nada... liga para o Josué e diz para ele vir mais cedo amanhã, precisamos bolar um plano para descobrir quem era, vamos ver as câmeras de segurança e ver se conseguimos algo.
-Sim, eu nem lembrei disso na verdade, com certeza vamos ver o rosto do babaca que fez essa brincadeira sem noção.
-Claro meu bem, fique tranquila, não deve ser nada. Bom, vou dormir, estou um pouco cansada, amanhã resolvemos tudo, Okay?
-Okay, te amo mãe.
-Também te amo meu bem, e da próxima vez que for trazer namorados, me avisa antes por favor.
-Ele não é meu... ah quer saber, desisto. Boa noite.
Dona Maggie cai na risada enquanto sobe as escadas rumo ao seu quarto. Nem bem ela fecha a porta, minha amiga até então sumida, se materializa bem na minha frente, me dando o terceiro, -ou seria quarto? - susto do dia.
Ela me observa de um lado, de outro, caminha ao meu redor e isso me deixa cada vez mais irritada.
-Desembucha criatura! -Suspiro e ela coloca a mão no queixo como se fosse um crítico examinando uma obra cara.
-Eu queria ver se você está inteira, porque com aquele beijo do Léo delicia, eu teria me despedaçado toda!
-Vai catar coquinho Priscila! -Resmungo e vou até o meu quarto. Hoje tiraram o dia para encher o meu saco, só pode!
Deito na cama e ela pula em cima de mim no mesmo instante.
-Calma Clarinha, era só brincadeira, mas pode confessar, ele deve beijar muito bem né? -Eu gostaria de saber o que minha amiga tem na cabeça, porque um cérebro com certeza não é!
Continuo com a cara amarrada e ela começa a fazer cosquinhas em mim, tirando toda a minha concentração para ficar brava com ela.
-Tá bom, tá bom! Ele beija bem! Pode descer de cima de mim agora? -Suplico e ela roda para o outro lado da cama, satisfeita com a resposta.
-Viu, foi difícil? Além do mais, ele parece ter gostado também, afinal, pela segunda vez te rouba um beijo...
Não consigo me segurar e solto uma gargalhada. Minha amiga e suas ocorrências.
Conto para ela o que aconteceu antes do famigerado beijo na lavanderia e ela escuta tudo atentamente.
-Caramba amiga, o Léo está caidinho por você.
-Inventa outra Pri, nos odiamos.
-Clarinha meu amor, já escutou aquela frase que diz "há uma linha tênue entre o amor e o ódio"?
-Já, porém essa nossa linha é bem robusta, pode acreditar, e já chega dessa filosofia toda, que tal vermos outro filme? -Tento mudar de assunto, mas hoje ela está empenhada.
-Ai, amiga, pessoas que se odeiam não se beijam a cada oportunidade...
-Nós nos beijamos apenas duas vezes, e foi... foi culpa do Léo.
-Mas você não o impediu né safada!
-Não... e queria saber o porquê, sinceramente.
-Porque essa cabecinha, -bate de leve com os dedos na minha testa -só pensa no gato do Léo.
Apenas nego, sem vontade de discutir mais com ela. Minha amiga sabe ser cabeça dura. Ela continua dizendo o quanto ele é lindo e falando sem parar sobre as suas tatuagens, e eu fingindo que não estou prestando atenção em nada.
Fuço no meu celular enquanto ela tagarela sobre o Léo. Vejo memes engraçados, fofocas de celebridades entre outras coisas. Dou risada com alguns vídeos de fãs loucos que acabaram colocando os artistas em apertos, até que o meu celular começa a vibrar.
-Merda! -Solto sem querer de susto e Pri para de falar na hora.
-É o Léo? -Se incorpora mais rápido que o flash com dor de barriga.
-Não... é um número desconhecido. -Mostro a tela do celular e ela franze a testa.
-Vai atender? -Pergunta nervosa.
-Não sei... o que eu faço? -O celular para de vibrar e antes mesmo que eu possa suspirar de alivio, começa novamente.
-Atende...
Aquiesço e respiro fundo antes de atender.
-Alô?
Ninguém responde, apenas escuto uma respiração do outro lado da linha. Olho para a tela para ver se não desligaram, mas a ligação continua ativa.
-Alô? Quem é? -Nada. -Escuta aqui seu idiota, se você for o mesmo que me deixou aquela carta bizarra, pode ter certeza que vou descobrir quem você é e vou te denunciar!
-Você é minha, Maria Clara Diniz. -E desliga.
Fico tão assustada, que jogo o celular do outro lado da cama, como se esse maluco fosse sair dali de dentro a qualquer momento. O que essa pessoa tem na cabeça?
-Clara, o que ele disse? -Viro minha cabeça e recebo o olhar assustado da minha amiga.
-Ele disse "você é minha, Maria Clara Diniz". -Estremeço só de repetir essa frase, sua voz se reproduzindo imediatamente na minha cabeça.
-Caralho, quem é esse demente?! -Priscila fica de pé em um pulo e começa a andar de um lado a outro dentro do quarto, como se fosse um animal enjaulado.
Ligo para Josué, que dessa vez atende, e conto tudo o que aconteceu, incluindo essa ligação, e ele me diz para manter a calma, que muitas vezes, é apenas algum fã obcecado, e que amanhã depois de analisar as câmeras e descobrir quem é, iremos direto para a policia. Ele também me recomendou trancar todas as portas e janelas, e não esquecer de ativar o alarme.
Com a ajuda da minha amiga, verificamos todas as possíveis entradas e por ultimo coloco os códigos do alarme, mas mesmo assim ainda não me sinto completamente tranquila. Essa pessoa sabe aonde moro e tem o meu número de telefone, duas coisas bem difíceis de conseguir.
Bebo um copo de água e volto para o quarto. Pri está pesquisando no meu computador, sobre como revelar um numero quando um desconhecido liga, mas resmunga o tempo todo, porque não consegue achar nenhum resultado.
-Desiste amiga, amanhã vamos resolver isso, deveríamos dormir, já está muito tarde.
-Eu vou encontrar esse idiota e vou dar uma surra nele porque nos fazer assustar desse jeito, você vai ver Clara. -Promete e eu balanço a cabeça, amando ainda mais minha melhor amiga. Priscila é a única pessoa que deixo entrar completamente na minha vida. Tenho muitos amigos, mas nenhum deles se compara a ela. A única pessoa que não me tratou diferente depois que fiquei famosa, e eu agradeço muito a ela por não mudar, assim posso saber que sua amizade é sincera.
-Então Josué, deu pra ver alguma coisa? -Pergunto ansiosa. Estamos revisando as imagens das câmeras de segurança a horas e nada. O rosto da pessoa aparece tampado com um pano preto, como se ele soubesse a posição ou sobre a existência delas. O segurança nega cansado e eu me estatelo em uma cadeira próxima à mesa onde ficam os aparelhos que gravam as imagens.
-Infelizmente, não conseguiremos definir o rosto, Clara, mas podemos ver de fazer um teste com as digitais na folha...
-Pode esquecer, muita gente tocou nessa folha, eu, Pri, mamãe, o Léo... -Josué me olha com uma sobrancelha levanta e eu percebo que falei demais.
-Porque esse garoto estava aqui mesmo? -Eu e minha boca grande.
-Porque liguei pra vocês a noite toda e ninguém atendeu... liguei pra ele pra pedir o numero do Carlos, mas ele decidiu vir sem ser convidado...
-Ah... -Te peguei garotão. Sabia que ia sair dessa tocando no assunto "jantar proibido". O que será que eles andaram fazendo que sempre ficam vermelhos quando toco no tema? -Se for assim, tudo bem. Mas não se esqueça de me avisar se ele estiver te incomodando.
Ah se você soubesse meu caro amigo, o que andou acontecendo...
As imagens da noite anterior aparecem na minha cabeça como por arte de mágica e eu sou levada novamente para a lavanderia. Aonde será que esse garoto aprendeu a beijar desse jeito? Caramba... tem pessoas que não merecem saber beijar assim, e Léo é uma delas. Se ele pelo menos ficasse calado tudo bem, mas é ele abrir a boca e puf!, tudo vai pro saco.
Mas caramba, que eu fiquei sem ar, isso sim é verdade. Aquela boca e aquela pegada...
-Clara? Tá me escutando! -Pri me sacode e eu quase caio da cadeira.
-O que foi, criatura! -Me incorporo e ela cai na risada, doida.
-Eu preciso ir pra casa, tem como você me dar uma carona? -Pergunta enquanto limpa as lagrimas que caíram de tanto rir.
-Sim, espera só alguns minutinhos e vamos, preciso ir até a minha gravadora ver como anda tudo e saber se eles conseguiram o ônibus e as dançarinas para a turnê.
-Tá bom. -Pega o celular do bolso e senta em um dos sofás, provavelmente vendo algum vídeo ou jogando enquanto espera.
Com Josué revisamos uma última vez os oito minutos que duram a parte do stalker, mas como das outras cinquenta vezes, não obtemos nenhum resultado. Por fora estou calma, mas por dentro estou morrendo de medo. Só quem já foi perseguido desse jeito, sabe o que é ser paranoico. Pensei até em mudar meu numero, mas o segurança disse que quem quer que seja, vai conseguir descobrir de novo, é em vão.
Levanto resignada e pego minha bolsa. Já que não vamos chegar a lugar nenhum, prefiro fazer algo produtivo.
Dou um tapa na perna da minha amiga e ela me olha com a cara feia.
-Qual é doida?
-Vamos, estamos saindo... se quiser carona se apressa. -Brinco e ela pula do sofá animada. As vezes penso que ela tem pequenas molas nos pés, pula o dia inteiro!
Me despeço de mamãe e espero no carro com Priscila, enquanto Josué também se despede dela. Ele não quis beijá-la na nossa frente porque segundo ele, está em horário de trabalho. Esse homem é tão das antigas!
Conversamos sobre qualquer coisa, até que vejo um vulto passando do lado do meu jardim.
Abro a porta do carro e salto em disparada atrás da sombra.
-Clara, aonde você vai! Volta aqui! -Priscila grita enquanto corre atrás de mim.
-Eu vou te pegar seu babaca! -Grito para o cara que corre surpreendentemente rápido. Ele está vestido com um moletom preto e é alto, quase do mesmo tamanho que Léo.
Corro por umas três quadras, mas como nunca fui adepta aos exercícios, me canso e tenho que parar no meio da rua.
-Merda, merda, merda! -Olho para o corpo ficando cada vez mais distante de mim. -Eu quase peguei ele! -Minha amiga chega do meu lado respirando tão rápido quanto eu e nos sentamos no meio fio, cansadas e decepcionadas.
-E se você alcançasse ele, o que iria fazer? Bater nele? -Pergunta indignada e eu aquiesço. -Claro, porque você sabe bater nas pessoas né Clara! -Sua voz preocupada me deixa um pouco envergonhada. Eu obviamente não pensei nessa parte e logicamente não conseguiria o segurar por muito tempo, inclusive, quase me coloco em perigo.
-Desculpa Pri, eu não pensei muito, é só que... fiquei com raiva, ele estava no meu jardim! E com certeza era o idiota de ontem! -Passo as duas mãos pela minha cabeça, exasperada.
-Eu sei amiga, nós vamos pegar ele, mas não desse jeito, você tem que ter paciência.
-Sim, prometo que não vou fazer uma loucura dessas novamente. -A abraço e voltamos para o carro, para encontrar Josué furioso comigo e mamãe quase tendo um ataque de fúria.
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