Capítulo 01: Caudas por todos os lados.
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Sebastian sempre foi um homem de rotinas, ele era daqueles que acreditavam que o segredo do sucesso estava em pequenos hábitos cultivados desde cedo. Acordar cedo, por exemplo, era uma tradição que ele trazia desde os tempos em que era criança e competia em pistas de kart na Alemanha. Seu pai sempre dizia que para aproveitar ao máximo um dia de testes, era preciso começar cedo, e esse conselho ecoava em sua mente todas as manhãs, mesmo agora, anos depois de ter conquistado seus sonhos mais audaciosos.
Com um grande bocejo, a primeira coisa que Sebastian viu ao acordar foi o relógio na cabeceira da cama marcando exatamente 7:00 da manhã. Ele se sentou na cama e se alongou, sentindo que sua perna ainda estava um pouco dolorida de ontem, mas a dor não o incomodava tanto, ele já havia sentido dores piores em sua vida como piloto. Levantou-se da cama com uma certa relutância e caminhou lentamente até o banheiro, já antecipando o prazer de começar o dia com um banho relaxante. A ideia de mergulhar em uma banheira quente parecia a melhor maneira de começar o seu dia.
Dentro do banheiro, Sebastian tirou um momento para se olhar no grande espelho acima da pia. O reflexo que o encarava de volta era de um homem que carregava não só o peso dos anos, mas também o de uma carreira excepcional. Observando seu rosto, ele notou que a barba precisava ser feita. "Pelo menos isso é algo que posso controlar", pensou, e imediatamente começou a buscar barbeadores dentro dos armários ao seu redor.
Felizmente para o alemão, havia alguns barbeadores elétricos lacrados no gabinete embaixo da pia. Com habilidade e precisão, ele rapidamente ajustou a barba, sem nem precisar usar a espuma de barbear que tanto detestava.
Ele passou a mão pelo seu queixo liso, o toque suave no rosto recém raspado trazendo uma onda inesperada de nostalgia.
Em dias ruins, era fácil para ele se lembrar dos tempos mais simples, quando o futuro ainda era uma página em branco, e ele era apenas um garoto com um sonho. Ele sentia falta de quando era jovem, mas ele definitivamente não era mais o garotinho que sonhava em correr na Fórmula 1. Naqueles dias, ele mal podia imaginar que um dia seria considerado um dos maiores pilotos da história, com mais títulos mundiais do que o garoto de tenros oito anos sequer poderia imaginar. Ele agora era um homem que havia realizado o pequeno sonho que tinha e até enfeitou com mais do que queria. Mas ainda assim, a saudade o fazia se sentir tentado a querer voltar ao começo, onde tudo era empolgante e havia dezenas de recordes que ele poderia quebrar.
Mas essa nostalgia que tanto sentia também trazia um lado sombrio. Em dias piores, havia uma tristeza silenciosa em reconhecer que, embora tivesse realizado tanto, ainda havia partes dele que ansiavam por algo mais simples. Ele realmente se questionava sobre o que seria deixar tudo para trás – o mundo do automobilismo, as responsabilidades, as expectativas. Só viver em algum lugar remoto, cercado pela natureza e pela pessoa que ele amava. Mas isso, obviamente, era apenas um sonho, um devaneio que ele sabia que jamais se realizaria. Sebastian era consciente o suficiente para não ter esperanças de que o amor que sentia poderia ser facilmente retribuído.
Ele deu um suspiro e ligou a torneira da banheira, observando a água subir lentamente. Assim que estava devidamente cheia de água e sabão, o alemão se despiu e se acomodou na banheira, e com os olhos fechados, ele se permitiu relaxar, deixar o resto da tensão que sentiu ontem se dissipar.
Só que, o relaxamento não durou por muito tempo. Pouco tempo depois, Sebastian começou a notar algo estranho acontecendo. A água morna começou a ficar mais quente, borbulhar e a girar de forma estranha ao redor do seu corpo esguio. Antes que ele pudesse reagir, sentiu suas pernas se juntarem e, num piscar de olhos, uma cauda escamosa verde e escamosa ocupava o lugar de seus membros inferiores. Seu susto foi tão grande, que ele derrubou os produtos de higiene que estavam na borda da banheira, causando um grande estrondo.
Ele tentou se levantar da banheira, mas a cauda era pesada demais, ele não conseguia sair do lugar. Seb estava preso ali, impotente e com uma cauda tão grande que nem cabia dentro da banheira e ficavam batendo nos azulejos do chão do banheiro conforme suas tentativas falharam.
"Gente?!" Sebastian gritou por ajuda, sua voz desesperada ecoando pelo quarto.
Hamilton e Leclerc, que ainda estavam dormindo, acordaram completamente zonzos com o barulho e sem entender o que estava acontecendo. Porque Seb gritaria tão cedo? Pensaram. Mas conforme os gritos soaram mais altos eles se levantaram, se encararam confusamente no corredor, e bateram no quarto de Vettel para ver o que havia acontecido.
"Seb?" Charles chamou ao empurrar a porta e entrar no quarto.
"Aqui, no banheiro!" A voz de Sebastian soou junto com um baque abafado.
"o que aconteceu?" Lewis perguntou.
O britânico e o monegasco trocaram olhares preocupados, apreensivos com o que poderia estar acontecendo com Seb. Ao girar a maçaneta e abrir a porta, ambos os pilotos ficaram paralisados pela visão que os esperava do outro lado: Sebastian Vettel preso em uma banheira, com a enorme cauda balançando no lugar de suas duas pernas.
"Que porra é essa! Porque você...?!" O piloto da Ferrari gritou completamente incrédulo, ele nem sequer sabia como formular uma pergunta para o que estava acontecendo com Vettel.
Vettel se apoiou nos antebraços e se virou para olhá-los melhor, preferindo não ficar encarando o que suas pernas viraram. "Eu não sei, só aconteceu!"
"O que você quer dizer com 'só aconteceu', você literalmente não tem mais pernas!" Hamilton passou pela porta e se agachou próximo a Vettel, analisando uma possível causa para essa situação completamente bizarra e anormal.
"Eu literalmente acordei, me sentei na banheira para tomar um banho e, como se fosse mágica, minhas pernas viraram essa coisa." Sebastian suspirou em derrota e estendeu um dos braços. "Me ajuda a levantar, por favor."
Hamilton passou o braço de Vettel por seu ombro enquanto segurava por baixo de onde supôs que estariam os joelhos do alemão se ele não tivesse cauda, erguendo-o em estilo nupcial. Era completamente estranha e desconfortável a sensação das escamas grossas e surpreendentemente molhadas roçando contra a sua pele, mas, ainda assim, ele o carregou até o conforto de uma espreguiçadeira no canto do quarto. Ele mal havia sentado Sebastian na cadeira quando pôde sentir suas pernas formigando completamente e, de repente, ele se viu perdendo o equilíbrio e caindo de cara no chão amadeirado do quarto.
Para seu espanto, quando Lewis ergueu a cabeça e tentou olhar através dos dreads bagunçados espalhados em frente ao seu rosto para descobrir por que havia caído, no lugar de suas pernas, diversas escamas pretas azuladas formavam uma cauda consideravelmente maior que a de Vettel.
"Puta merda!" Hamilton reclamou de dor e choque.
"Viu? Eu disse que aconteceu de uma hora para a outra." Sebastian cruzou os braços sobre seu peitoral desnudo.
Charles, que acompanhava tudo com o olhar, se sentou na beira da cama e de repente teve uma epifania de pensamento.
"Acho que a causa disso é a água."
Ele começou com a mão no queixo, olhando fixamente para o par de caudas escamosas dos dois pilotos.
"A água, como nas histórias daqueles filmes de sereias?" Hamilton permaneceu no chão, completamente desconfortável com a nova anatomia de seu corpo.
"Eu não sei, é só um palpite. Seb disse que ficou assim depois de entrar em contato com a água da banheira, e você o carregou até aqui, se molhou, e virou meio peixe também." Charles deu de ombros. Até para ele, alguém que era supersticioso até o âmago e acreditava em muitas lendas, isso era totalmente surreal.
"Mas porque ficamos assim do nada, nós nunca tivemos esse problema antes em nossas vidas. O que nós fizemos de diferente para nos tornarmos isso?" Vettel perguntou. Era óbvio que ele reconheceria algo errado em si mesmo, e ele também conhecia Hamilton há muito tempo para saber se isso fosse algum segredo dele.
"Será que não foi aquela ilha?" Hamilton bateu as mãos como se tivesse acabado de fazer a dedução do século. "A única coisa que fizemos de diferente do usual foi ficar presos dentro da caverna. Alguma coisa deve ter acontecido quando entramos naquela piscina estranha. Você disse que sentiu a água da banheira borbulhando hoje, certo? A água daquela piscina também tava borbulhando quando estávamos saindo de lá."
"Isso faz sentido." Vettel assentiu. "Mas se for verdade, Charles teria que estar assim também."
Ambos olharam para Leclerc da cabeça aos pés, como se avaliassem opções.
"Vamos comprovar, então."
Leclerc se levantou e voltou para dentro do banheiro, ligou a torneira da pia e colocou seu braço sob a água corrente antes de voltar para o quarto com os dois.
Menos de um minuto depois, Sebastian e Hamilton assistiram em completo silêncio a transformação começar com Charles Leclerc, várias bolhas o envolvendo completamente até que ele também caísse no chão com um baque e uma cauda vermelha vibrante.
"O que fazemos agora?" Charles respirava com dificuldade, seu peito subindo e descendo rapidamente em choque, quebrando o longo silêncio que havia se instalado no quarto. "Nosso voo é em poucas horas."
A maneira como planejaram essa viagem conjunta com suas equipes exigia que eles retornassem às suas funções de pilotos praticamente no início dos testes de pré-temporada, sem margem para atrasos. Cada segundo contava, e o que estava acontecendo com eles ameaçava virar tudo de cabeça para baixo.
"Como vamos voltar ao normal se nem entendemos como isso começou?" Ele parecia cada vez mais aflito, a cauda se movendo como se pudesse se transformar em pernas novamente num piscar de olhos. O medo e a incredulidade estavam estampados em seus olhos. "Isso é... impossível. Como podemos simplesmente... virar sereias? Isso é coisa de filme, não da vida real!"
"Eu queria poder dizer que você está sonhando, mas parece que estamos todos presos nesse pesadelo," Lewis respondeu, arrastando-se para se sentar ao pé da cama. Ele ainda estava tentando se adaptar ao peso da nova cauda, que tornava cada movimento um esforço monumental. A pressão de ser um dos melhores pilotos do mundo não o preparou para algo tão bizarro quanto isso. "Precisamos encontrar uma maneira de reverter isso. Não podemos continuar assim."
O quarto estava repleto de uma atmosfera densa de desespero e urgência. As cortinas entreabertas permitiam que a luz do sol penetrasse, destacando as escamas das caudas que, sob qualquer outra circunstância, poderiam ser consideradas belas. Mas ali, naquele momento, representavam uma ameaça ao que mais amavam fazer: pilotar.
"Se a água é a causa, faz sentido que a ausência dela nos faça voltar ao normal." Sebastian sugeriu, tentando ser a voz da razão, embora ele próprio estivesse lutando internamente com a situação surreal. As palavras saíram firmes, mas seus olhos revelavam a inquietação que ele estava sentindo. Este era um problema que ele não podia resolver com lógica ou habilidade, e isso o incomodava profundamente.
Ele pegou uma das toalhas de banho que estavam na cômoda ao lado da cadeira e começou a secar a cauda molhada para testar sua teoria. Era um processo demorado, cada segundo passando como uma eternidade enquanto ele esfregava a toalha sobre as escamas verdejantes. A tensão no quarto aumentava a cada momento, até que finalmente, quando estava completamente seco, ele sentiu seu corpo inteiro esquentar. O calor era intenso, quase febril, e então, diante dos olhos surpresos dos outros dois pilotos, a enorme cauda começou a desaparecer, substituída por suas pernas esguias.
Sebastian cambaleou ao se levantar, ainda chocado com o que acabara de acontecer. Ele mal conseguia acreditar que sua teoria estava certa. Depois de vestir-se apressadamente, ele entregou toalhas limpas para Charles e Lewis, a urgência em seus movimentos refletindo a necessidade de saírem daquela situação o mais rápido possível.
"Nós não temos tempo para entender o que aconteceu com a gente," ele declarou com firmeza. "Precisamos agir rápido."
Hamilton se levantou do chão assim que voltou ao normal, as pernas surgindo do meio de um monte de bolhas. A sensação de irrealidade ainda travava um confronto com o que ele acabara de testemunhar. Ele estava frustrado, não apenas por não entender o porquê ou como isso estava acontecendo com eles, mas também pela ideia de que, mesmo que conseguissem reverter a situação, poderia voltar a acontecer.
"Não podemos chegar perto de água até que possamos voltar aqui ou analisar essa situação com calma," disse ele, a voz carregada de determinação, mas também de um medo silencioso que ele raramente admitia sentir.
Sebastian o olhou com simpatia. Todos estavam literalmente no mesmo barco — um barco que nenhum deles sabia como navegar. A solidariedade entre os três era palpável, e mesmo nos momentos de tensão, eles conseguiam encontrar algum consolo na presença um do outro. "Concordo, seria perigoso demais termos isso, que nem sabemos como aconteceu, exposto ao público."
Charles, ainda se adaptando à ideia de ter sido temporariamente um tritão, tentou aliviar a tensão com um comentário irônico. "Não quero ter que fugir de água no meio do paddock, seria constrangedor. Imagina na hora do champagne, quando precisamos espirrar um no outro, e nós simplesmente saímos correndo sem dizer nada? As pessoas vão estranhar."
Os outros dois riram, uma risada curta e tensa, mas que aliviou um pouco a pressão do momento. Vettel aproveitou a deixa para brincar com o monegasco, mesmo que a situação não fosse das mais apropriadas. "Você fala como se estivéssemos no pódio durante a temporada inteira. Além disso, eles estão prestes a remover o champanhe este ano, lembra?"
Era difícil esquecer a reunião com todas as equipes para debater a nova regra de marketing. A proibição permanente de bebidas alcoólicas ou destiladas estava em pauta. Sem mais patrocinadores, sem mais menções. Apenas algo simples e singelo para comemorar os pódios. A justificativa era clara: proteger as crianças que estavam crescendo com o esporte. Para os pilotos, era uma mudança pequena, mas agora, naquele contexto surreal, parecia uma ironia que o champanhe, de todas as coisas, pudesse ser um problema.
"Bem, eu e Hamilton vamos ao pódio. Já você, com seu trator Aston Martin..." Charles riu quando Vettel respondeu com um gesto mal-humorado, mas a piada ajudou a aliviar um pouco a tensão. "Só estou brincando. Mas realmente me preocupo com nossa situação no paddock. E se formos descuidados? Ou, pior, se alguém em quem não confiamos descobrir?"
"Então vamos ficar juntos sempre que possível para evitar problemas," sugeriu Hamilton, ponderando a situação. "Isso não é tão complicado, nossas equipes sabem que, fora das pistas, somos amigos."
Hamilton deu de ombros. Para ele, era curioso pensar em como a rivalidade entre ele e Vettel havia se transformado em amizade. Antes, quando Vettel ainda estava na Red Bull, eles quase se matavam em cada circuito, mas hoje em dia, havia uma camaradagem que ambos apreciavam, especialmente em situações como essa.
"Não é uma má ideia," disse Vettel, seus pensamentos já voltados para a logística do que precisavam fazer a seguir.
O alemão olhou para o relógio em seu celular, percebendo que o tempo estava passando rápido demais para seu gosto. Eles mal teriam tempo de terminar de arrumar as malas antes de precisarem estar a caminho de suas respectivas fábricas. A sensação de urgência era esmagadora.
"Precisamos nos apressar. Vamos descobrir mais sobre isso até chegarmos à Espanha," disse ele por fim, com uma determinação renovada. Todos concordaram, relutantes, mas conscientes de que essa era a única opção viável no momento.
Eles se apressaram para ajeitar o que precisavam. A sensação de estranheza pairava sobre todos como um peso nos ombros, mas eles sabiam que não havia nada que pudessem fazer no momento. A incerteza sobre o que os esperava era desconcertante, mas a única coisa que podiam fazer era ter esperança de que tudo daria certo até a próxima vez que pudessem voltar para aquela caverna.
Quando finalmente estavam prontos para sair, o quarto estava em silêncio novamente, mas dessa vez, não era o silêncio do choque. Era o silêncio de uma compreensão mútua, de uma aliança formada em circunstâncias incomuns. Eles sabiam que, independentemente do que estivesse acontecendo, precisavam enfrentar isso juntos.
Enquanto se dirigiam para a porta, Charles olhou para os outros dois.
"Vamos montar um plano para lidar com isso quando chegarmos à Espanha, certo?"
"Vamos." Lewis concordou, e Sebastian deu um leve aceno de cabeça. E com isso, eles deixaram a sala, prontos para encarar o desconhecido que os aguardava.
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