II - Naesh Räed
Erys
O seu coração batia acelerado e a sua respiração ofegante não cessava.
O rapaz corria assustado enquanto tropeçava nas pedras do caminho, mas não parava de correr.
Chegou às muralhas do castelo, onde parou e bateu nos grandes portões várias vezes.
-Pisga-te daqui fedelho! - falou um homem lá de cima.
- Sou eu, Sou eu, o filho do rei Magnólis.
Demoraram-se alguns minutos, sem se ouvir nada.
-Abram os portões!
O barulho da alavanca a rodar, era ensurdecedor.
Os portões começaram a levantar, deixando o rapaz passar.
- Perdão meu rapaz - falou um homem do rei - é que o filho do rei não costuma estar tão sujo.
O rapaz continuou a correr, como se não tivesse ouvido o guarda.
Passou por criadas e escravas que limpavam o castelo.
Entrou na sala do Trono, sem parar de correr.
A sala estava cheia de pessoas, eram todos nobres.
O rapaz passou por eles com passos rápidos, enquanto o fitavam seriamente.
- Ajoelhai-vos perante o rei Magnólis I, "o matador de monstros e Maggs ", defensor e protetor do reino de Gargon - proferiu o conselheiro do rei.
As pessoas reunidas na sala do trono, ajoelhavam-se, uma a uma.
O rapaz continuou a andar até estar frente a frente com o rei.
Fez uma pequena vénia.
-Que quereis vós de mim?- perguntou Magnólis ao rapaz - não vês que estou ocupado?
- É que... aconteceu.. - começou o rapaz por dizer - os guardas...
- Onde estão eles?- interrompeu avidamente o rei.
- Eles... eles estão mortos, senhor- respondeu o rapaz.
- Como assim, mortos? Quem os matou?! - gritava o rei para o rapaz.
- Uma... uma rapariga, senhor - falou o rapaz entre dentes - ela matou-os com uma adaga, tinha um símbolo... era uma Phoenix.
- Raios!- berrava o rei enquanto batia com os punhos na mesa
- Guardas, tragam-me a jovem que matou os meus homens, e tragam-na com vida!
- Com certeza, meu rei - respondeu um homem alto de cabelos grisalhos, enquanto deixava a sala.
- E quanto a ti, vais ser tu a vingar-te dos teus guardas, meu filho - proferiu Magnólis - agora deixa-me!
O rapaz saiu a passos rápidos e correu para os seus aposentos.
Trancou a porta e sentou-se no chão, a chorar de braços cruzados em cima das pernas.
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As escravas colocavam vários pratos de comida na mesa, um atrás dos outro.
Pernas de faisão assadas com folhas de alecrim.
Javali acompanhado de batatas e leguminosas.
Vinho e frutas da época.
- Tenho boas notícias - começou Magnólis por dizer - Apanhámos o verme que matou os teus guardas, era uma jovem assasina, uma Magg.
O rapaz não respondeu, nem olhou para seu pai.
- Já decidiste como vais matá-la? Se vais cortar-lhe a cabeça ou se vais começar por cortar-lhe a língua?
O rapaz continuava sem olhar.
- Olha para mim quando te falo! Eu sou o teu rei, ouvistes? Ninguém desrespeita o rei!
És igual à tua mãe, miserável! - gritava Magnólis para o rapaz.
-Não ouse falar mal dela - proferiu o rapaz num tom alto - ela é a minha mãe!
O rapaz levantou-se e deixou a mesa de jantar.
- Olha para mim quando te falo, volta aqui!! Estás a ouvir-me, isto não vai ficar assim!
Os gritos do rei ficavam mais baixos à medida que o rapaz subia as imensas escadas.
Era a primeira vez que este desrespeitara o seu pai.
Durante estes 8 anos a sua mãe fora a única que o protegera do monstro que era seu pai.
Mas com a sua morte, ele já não tinha mais proteção, ele estava sozinho.
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Enquanto o rapaz andava, homens do rei, conversavam entre si, o rapaz parou, e escutou a conversa durante um bocado.
- E o velho que trabalhava lá, que lhe aconteceu? - perguntou o homem ruivo.
- O velho pediu misericórdia, e eu respondi-lhe que misericórdia era cortar-lhe o pescoço, e foi o que fiz- riu o homem de bigode negro.
O rapaz olhou para os homens com vontade de trepassá-los com a sua espada mas continuou o seu caminho sempre em frente.
Mais à frente estava uma multidão de pessoas.
Plebeus, nobres, mendigos e escravos.
O rapaz continuou um pouco hesitante.
Chegou à praça real e viu o seu pai.
- Bem vindos! -proferiu o rei.
-Está mulher é uma Magg- gritou o rei- Ela assassinou dois dos homens do rei, cruelmente e sem piedade.
O silêncio instalou-se durante uns segundos.
-Matem-na! - berrou um homem na multidão.
- Ela merece morrer!! - agora já não era um homem mas uma multidão, a proferir as mesmas palavras.
O rei levantou os braços e o silêncio instalou-se de novo.
- Assim será!- falou o rei, e virou costas à multidão, para falar para os seus guardas - Tragam a prisioneira!
Dois guardas corpulentos, traziam a jovem pelos braços.
Ela sangrava dos lábios, o rosto estava maltratado, a roupa encharcada em sangue.
Tinha profundos cortes nos braços e nas pernas.
Mal se conseguia por de pé.
Os homens atiraram-na para o chão, e ela deixou-se cair de joelhos.
Os cabelos descaíram-lhe pelas costas descobertas.
O rei foi ter com o rapaz, e sussurrou-lhe baixinho:
-Mata-a - as palavras eram frias, como a sua voz.
O rapaz engoliu em seco e caminhou lentamente até à jovem.
Parou junto a ela e abriu os lábios para falar.
- Qual é o teu nome? - perguntou o rapaz à jovem.
- Adda Troak -respondeu a jovem, cuspindo um pouco de sangue.
-Desculpa-me - sussurrou o rapaz baixinho.
- Devias ter fugido, ou então devia ter-te matado - proferiu Adda calmamente.
- Tu mataste-os...
- Estás à espera de quê? Pega na espada e mata-me - falou Adda agressivamente.
O rapaz desembainhou da espada.
- Adda Troak, sentencio-te à morte, por matares dois guardas da realeza de forma cruel - o rapaz falou alto, desta vez para todos ouvirem.
Levantou a sua espada calmamente.
- Últimas palavras? - perguntou delicadamente o rapaz.
- Naesh Räed - proferiu Adda baixinho.
O rapaz fechou os olhos, e deixou cair a sua espada rapidamente, cortando a cabeça da jovem.
Os corvos voaram no céu negro e começaram a grasnar.
Na cabeça do rapaz, as palavras de Adda repetiam-se "Naesh Räed" "Naesh Raëd" "Naesh Raëd".
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