Vermes

O relógio na mesa de cabeceira encontrava-se ao lado da cama quando Jack foi acordado pelo súbito alarme do despertador.

Esfregou os olhos e encontrou forças para levantar da cama.

Seu quarto na pensão estava bagunçado como de praxe. Havia livros espalhados por todo o lado, sua escova de dentes estava no carpete, as baratas corriqueiras devoravam os restos de pão jogados no chão.

Seu paletó estava descansando no cabide. Imaginou que a peça de roupa já gasta e desbotada o fitava, seus botões como olhos brilhantes os quais observam-o, inquisidores.

Sentou-se na cama.

Jack tentava lembrar-se da noite passada. Foi agraciado com um nevoeiro completo.

Já tinha aprendido a parar de se importar com aqueles constantes pontos em brancos localizados em sua memória.

Uma vida não vivida.

Temia que a racionalidade estivesse o deixando aos poucos e, nesse caso, preferia nem pensar sobre aquilo.

Arrumou-se. Penteou seus cabelos selvagens com a ajuda das mãos. Em seguida, saiu do quarto.

Na pensão, a mesma rotina corriqueira seguia-se.

Velhas fofocavam sobre a vida alheia.

Desocupadas.

Crianças remelentas corriam pelos corredores fazendo a mesma barulheira infernal de sempre.

Pestes.

Homens miseráveis saiam para mais um dia de trabalho excruciante. Assim como ele.

Vermes.

Saiu pela porta e caminhou pelas ruas gélidas do distrito de Whitechapel. O céu de Londres estava cinzento e depressivo, assim como a sua vida.

Parou em frente a banca do jornal. O jornaleiro anunciava as manchetes do dia: — Extra Extra! Novo caso de assassinato. O estripador ataca novamente!

Parou em frente à venda.

Fuçou os bolsos da calça em busca de moedas.

Pagou o homem e pegou o jornal, colocando entre os braços enquanto caminhava.

Chegou ao Queen's Coffee.

Escolheu a mesa de costume e sentou-se.

— O mesmo de sempre, por gentileza — indicou à garçonete.

Abriu o jornal para ler a manchete do dia.

"Novo caso de assassinato.
O assassino ataca novamente.
11/06/1888
Um novo caso de assassinato e estripação está sendo atribuído à figura algoz que vem assombrando as ruelas de Whitechapel ultimamente. Dessa vez, novamente, a vítima trata-se de uma prostituta. A jovem foi encontrada em um beco escuro, com parte de suas entranhas arrancadas... "

Um pensamento passou pela sua mente, mas logo foi varrido para fora, assim que sua primeira refeição do dia chegou.

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