Capítulo 5
A flecha continuava apontada em direção à figura parada.
— Largue essa espada agora mesmo — ordenou Clarie.
A espada caiu de sua mão com um estrondo no chão.
— Agora coloque as mãos sobre a cabeça e remova sua capa.
A figura começou a remover a capa e, então, seu rosto estava a mostra. Clarie semicerrou os olhos, em seguida, mordeu a língua.
— Você não presta!
Guardou o arco sobre as suas costas aliviada e enfurecida com a revelação.
— Que foi? Só queria dar um susto. — Hunt se dirigira para perto de Clarie e a envolveu com um abraço apertado.
Clarie retribuiu o abraço caloroso. Em seguida ele passou suas mãos por seu rosto, como se para se certificar que era ela que estava ali. Então, tascou um beijo prolongado que pareceu durar uma eternidade.
— Por que você fez isso? Você sabe que eu poderia ter matado você com aquela flecha — ralhou Clarie ainda emburrada.
— Nem se você tentasse.
Ele olhou para os dois lados.
— Melhor a gente sair daqui, não se sabe quantos ratinhos andam caminhando por ai buscando saber algum segredo. Vem. — Fez sinal para a seguir.
Hunt pegou sua espada no chão e a guiou pelos labirintos de corredores sombrios e desertos e, assim percorreram, as entranhas da cidade.
✳️✳️✳️
Chegaram em um bordel, localizado em um ponto afastado do centro da cidade. Pela aparência, aparentava ser um dos mais baratos e chinfrims.
— O quê...
— Apenas me segue — respondeu Hunt a olhando e adivinhando exatamente o que se passava em sua cabeça.
Passaram pela porta.
Ao entrar, Clarie percorreu seus olhos por todo o lugar.
Mulheres desfilavam de um lado para o outro em elegantes vestidos de cetim, algumas esparramadas sobre o colo dos homens e sussurrando conversas quentes aos seus ouvidos. O cheiro forte de cerveja azeda logo invadira suas narinas, a causando o súbito enjôo.
Alguns homens olharam para ela, outros continuaram a trocar conversas e carícias com suas parceiras.
Hunt fez sinal para que o seguisse para o andar de cima. O que ele pretendia com aquilo?
Fez um esforço para desviar da multidão e o acompanhar, quando sentiu uma mão tocar sua bunda. Virou a tempo de ver quem era.
— E ai doçura. É nova por aqui? Por que já fodi quase todas por aqui e não lembro de você, he he — disse o bebum.
Clarie rapidamente pegou sua adaga em seu cinto e rendeu o homem, o prensando pelas costas com a lâmina posicionada perto de sua garganta.
— Se tocar em mim de novo eu vou cortar essa minhoca que possuí entre as pernas e a enfiarei em um lugar não muito agradável. Entendeu?
Clarie puxou a adaga e fez um corte na garganta dele. Um fio de sangue escorreu do lugar.
— E-e-e-entendi.
Ele saiu cambaleando e caiu no chão. Todos olhavam para a agitação.
Hunt a puxou, afastando de perto da multidão.
— Você nunca cansa de chamar a atenção, não é?
Revirou os olhos.
— Olha quem fala!
Prosseguiram pelo caminho.
Subiram as escadas que deram em um corredor cheio de portas trancadas. Eram os quartos.
Hunt adentrou o último quarto ao fim do corredor. Clarie continuava a seguir, mesmo sem fazer a mínima idéia do que ele pretendia ali.
Ao entrarem no quarto, Hunt fechou a porta. Uma mulher estava deitada na cama. Estava completamente nua, sendo coberta apenas por alguns tecidos transparentes.
A mulher começou a fazer poses sensuais com o corpo e a boca na cama. Em seguida, disse:
— Hunt, você não sabe o prazer que é recebe-lo aqui... — Ela a fitou diretamente. — Vejo que trouxe companhia. Eu nunca tinha experimentado com mulheres antes, mas existe primeira vez para tudo.
Pervertido, pensou Clarie. Não acreditava que ele havia a levado até ali para aquilo.
Olhou para ele com um olhar interrogativo. Ele deu de ombros.
— Chega de show Samantha, você sabe que eu nunca venho aqui para isso.
Ela pareceu decepcionada.
— Você não sabe brincar.
A mulher, cujo nome era Samantha, levantou da cama e vestiu um vestido colocado em um cabide. Em seguida, rumou em direção à um armário posicionado no canto do quarto.
Hunt se juntou a ela e, juntos, começaram a mudar a mobília de lugar.
Embaixo do local onde o armário estava havia um alçapão escondido entre a madeira. Hunt puxou uma tábua que dara lugar a uma escada que descia.
Sem dizer uma palavra, seguiu Hunt pela descida.
Ao descerem, o lugar por onde passaram tão logo voltou a ser preenchido pela tábua e foram entregues as sombras.
Quando achou que estavam longe o suficiente, começou:
— Esse lugar... Como!?
— Mika.
— Ah, isso explica tudo.
Deveria ter adivinhando logo que aquilo era trabalho do homem sagaz. A única pessoa a parecer a saber os segredos mais íntimos dos setes reinos.
Ao descerem as escadas até um ponto abaixo do solo, chegaram em um corredor longo e estreito. Percorreram todo o caminho, que era composto por pedregulho e lama. Podia ouvir o som de ratos tinindo.
O longo corredor pareceu se alongar por horas. Ao final dara em outra escada, que, dessa vez, subia.
Chegaram ao que pareceu ser um porão escuro e poeirento trancado por um porta. Hunt deu três toques com o punho na madeira. Em seguida, a porta fora aberta por uma figura que conhecia bem.
Ele sorriu ao a ver.
— Clarie, quanto tempo! — felicitou o grande homem.
Clarie correu e o deu um abraço. Seus músculos rodeavam seu corpo, a apertando.
— Walder, não sabe como senti a sua falta — falou para ele.
Soltou.
Entraram no que parecia ser um casebre. Olhou pelas janelas e deu de vista com as águas do mar. A brisa entrava pelas frestas abertas e preenchia local com uma brisa refrescante. Deveriam estar perto do porto de Barca Alta.
Sentou em uma mesa com cadeiras que havia ali.
— Como arranjaram esse lugar? — perguntou Clarie enquanto analisava a casa com o olhar.
— Trabalho do Mika. Ele negociou com alguns senhores e conseguiu alugar a casa como ponto de encontro da resistência, com sigilo incluso.
E todos os caminhos levam a ele, pensou Clarie sombria.
— Agora só falta a feiticeira chegar para que possamos começar a tratar do que precisa ser tratado — dissera Walder que estava encostado em um pilar da casa.
— A última a chegar, como sempre — pontuou Clarie.
— Vocês sabem que, mesmo após tanto tempo, não consigo decifrar aquela mulher — respondeu sabiamente Walder.
— Como souberam que chegaria hoje?
Hunt a olhou e sorriu subitamente.
— Nada. Apenas alguns boatos rondando por ai de uma certa loira cavalgando por estradas desertas.
Clarie arqueou as sombrancelhas.
— Eu nem chamei muita atenção assim.
Tirando o fato que roubei um idiota qualquer, mas isso não vem ao caso.
Pegou alguns biscoitos que estavam em um pote sobre a mesa. Mordeu. Estavam tão duros como pedra que quase quebraram os seus dentes.
Olhou para o azul do mar que se anunciava pelas janelas.
— Vou sair um pouco — anunciou.
Hunt a fitou, como sempre tentando decifrar o que se passava em sua mente.
Caro Hunt, nem tente entrar em um território tão desolado quanto este, pensou.
— Só toma cuidado para não atrair atenção demais para o lugar. Estamos usando a passagem no bordel justamente para evitar suspeitas.
— Entendo.
Clarie levantou e saiu pela porta, dando de cara com os ventos corridos soprados pelo mar. O gosto salgado preencheu sua boca e o sol queimava sua pele.
Tirou as botas dos pés e jogou sua capa no chão. Caminhou pelas dunas de areia que formavam a pequena orla do mar. Começou a caminhar.
A areia estava quente e seus pés foram tomados por um agradável calor.
O que será que eles pretendem...
Ainda não perguntara sobre o motivo da reunião mas, se fosse o que pensava, acreditava que o tão esperado momento da revolução estava bem próximo. E isso era ótimo.
Mas...
Uma parte de si ainda temia. Não é como se tivesse medo do embate, estava mais que preparada para isso. Mesmo que tivesse que dar a vida não se importava, se fosse para tirar Wolfus do poder faria qualquer coisa necessária para alcançar seu objetivo. Ele deveria pagar por tudo que havia feito, pelo povo e para ela.
No entanto, eram Tylen e Rin os motivos de sua preocupação. O que aconteceria a eles? Havia prometido que os protegeria não importa como. Desde a morte de sua avó não tinham mais ninguém no mundo além de si próprios. Quem os protegeria caso ela morresse?
Rin mal sabia cuidar de si mesma e Tylen não tinha fibra nem idade o suficiente para assumir as responsabilidades de provedor e protetor da família.
Mais ninguém.
Continuou caminhando pelas areias afogada nos próprios pensamentos.
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