3. you can't wake up, this is not a dream
i'm in pain, wanna put 10 shots in my brain
i've been trippin' 'bout some things, can't change (...)
post-traumatic stress got me fucked up (...)
i'll be feelin' pain, i'll be feelin' pain just to hold on
and i don't feel the same, i'm so numb
xxxtentacion - jocelyn flores
☼
Após a conversa com Pattie, ela me guiou até o quarto em que eu ficaria hospedada. Ela tentou de todas as formas me fazer esquecer por alguns minutos o que havia acontecido.
E realmente conseguiu, ela me fez rir e sentir segurança. Uns minutos depois, Justin bateu na porta e pediu para conversar com ela. Era para avisar que o enterro do meu pai seria hoje, pela manhã.
Nesse momento estou me olhando em frente ao espelho. Quando acordei, haviam duas malas com todas as minhas roupas lá. Outras três com objetos como álbuns de fotos, porta-retratos, mochila escolar... Essas coisas.
Em meio às minhas poucas roupas, encontrei um simples vestido preto e um tênis da mesma cor. Sei que é o tom que usam em velórios e estou vestindo.
Na verdade, o que é apropriado para um velório? Ir vestido de falsa confiança, de que você pode seguir a vida sem aquela pessoa, de que tudo vai melhorar?
Se for isso, eu estou bem inapropriada.
Eu estou naqueles momentos em que você sente tudo, mas não demonstra nada. Você não consegue demonstrar nada. Acho que chamam isso de processo de negação.
Eu não quero pensar no futuro, mas isso é simplesmente impossível. Como será a minha vida daqui para frente?
Eu aceitei morar com quatro garotos, que eu NEM CONHEÇO. Meu juízo derreteu, não é possível.
Começo a andar pelo quarto, nervosa. Eu sou tão burra! Pattie nem estará aqui. Eu não tive aulas de defesa pessoal, uma coisa que seria bem útil nesse momento.
Paro de andar e volto a ficar em frente ao espelho. Analiso meu rosto e abro um sorriso trêmulo ao constatar o que eu já sabia. Tristeza e angústia são as expressões que estão misturas e bem aparentes.
Escuto três batidas na porta começo a prender o meu cabelo em um rabo de cavalo, na intenção de me deixar mais apresentável.
Solto um "entre" e a porta se abre.
Chaz está do outro lado, vestido completamente de preto, como eu. Ele avança alguns passos e para, ainda segurando a maçaneta.
- Eu vim te chamar, já tá na hora de ir. - Ele diz calmo. Assinto e ando até ele. Ele me permite passar primeiro, logo fechando a porta.
Quando desço as escadas vejo que Justin, Ryan, Pattie e Chris nos esperam. Ao descer o último degrau, Pattie segura uma de minhas mãos e me puxa delicadamente para fora.
Ninguém se pronuncia do caminho até o carro, e nem quando estamos dentro dele.
Chegamos em um cemitério conhecido por mim. O cemitério em que minha mãe está enterrada. De uma hora para outra, as pessoas mais preciosas para mim estão aqui.
Suponho que ele será enterrado ao lado da minha mãe, então me desvencilho de Pattie e ando em frente a todos. Chego ao túmulo da minha mãe e vejo uma cova ao seu lado, já preparada.
Sinto alguém puxando meu braço delicadamente e percebo que é o Justin, o encaro e ele é rápido ao dizer algo que aquece o meu coração.
- Eu e os garotos organizamos aqui, então me dei a liberdade de chamar um pastor de uma igreja que você já frequentou... Não sei se você é ligada à Deus ou algo do tipo, mas achei que seria legal, não sei. - Ele diz enquanto morde a parte interna de sua bochecha.
- Muito obrigada, Justin. - Eu digo com um sorriso trêmulo. Ele só assente e se dirige a algum lugar com os meninos.
Eles se preocuparam em tentar melhorar as coisas, e eu estou tão grata por isso. Talvez eles não sejam pessoas ruins.
O pastor Michael chega perto de mim e diz coisas que realmente me confortam, logo depois um abraço.
Ele se posiciona atrás dos túmulos dos meus pais e eu olho para trás, vendo os meninos trazerem o caixão dele. Ao posicionarem ele na cova, o pastor começa a falar sobre o meu pai. Ele diz as coisas necessárias e faz uma oração. Eu o aprecio demais.
Olho em volta e vejo a pouca quantidade de pessoas, somente eu, Pattie e os garotos. Lembro que Pattie havia perguntado se eu gostaria de chamar algumas pessoas, neguei prontamente. Ninguém além do pastor se preocupava conosco, então só viriam ao velório por pena e por faixada.
Eu via os olhares acusadores para o meu pai, por ele não ter emprego fixo, por ele ser viciado em cigarro e outras coisas. Acho que todo mundo percebia que ele não era somente viciado em cigarro, só eu que fui burra o suficiente por não perceber e ajudá-lo enquanto estava aqui.
Quer dizer, existia a Alana, mas ela se mudou há um tempo. Ela era minha amiga, única na verdade. Sua família sempre foi muito gentil conosco, sinto a falta deles.
Vejo todos jogarem flores solitárias em seu túmulo e eu aperto a foto que está em minha mão sobre o meu peito. As lágrimas agora não conseguem ser contidas e escorregam em grande quantidade sobre o meu rosto, acompanhadas de soluços.
Eu não posso acordar, isso não é um sonho.
Percebo que todos já jogaram as flores, então me aproximo do túmulo dele, e pela primeira hoje e última vez para sempre, observo-o.
Sua pele negra que antes era tão brilhosa, agora pálida. A única coisa que o caixão me permite ver é o seu rosto.
Olho pela última vez a foto que está em minhas mãos. Nela está minha mãe, meu pai e eu no centro deles. Todos com largos sorrisos, esbanjando felicidade.
Rasgo a foto ao meio, deixando um lado com metade minha e minha mãe e o outro lado com a minha outra metade e meu pai.
Jogo delicadamente sobre o caixão e engulo em seco. Posso sentir a raiva se apoderando do meu corpo agora.
Me viro e começo a andar de volta para o carro, sem esperar ninguém. Percebo pelo som de passos que Pattie e os garotos vem atrás de mim.
Espero destrancarem o carro para eu poder entrar. Justin está dirigindo, Pattie está no banco ao seu lado, eu estou atrás com Chris e Ryan e Chaz está no banco atrás de nós.
Não me pronuncio durante todo o percurso, arrancando olhares de todos no carro.
Ao pararem o carro dentro da casa deles, espero todos saírem do carro para eu poder sair também. Entramos na casa e eu peço licença para poder subir.
Eles só assentem e eu subo o mais rápido que posso. Entrando com tudo dentro do quarto.
Eu queria estar em casa agora, com a minha família, com a minha antiga vida, no meu quarto!
Eu quero acabar com tudo o que vejo pela frente, inclusive à mim mesma.
Mas eu não posso quebrar nada daqui, pois aqui não é a minha casa! Estou com mais raiva ainda agora.
Pego então um porta-retrato da minha mala e o jogo com força no chão. Nela eu estou com os meus pais, assim como a que eu rasguei há um tempo atrás.
Começo a gritar descontroladamente, sem me importar com o que os outros irão achar. Piso com toda a minha força nele, fazendo o vidro de estilhaçar ainda mais.
Escuto passos do lado de fora do quarto, mas não me importo. Eu não me importo com nada nesse momento.
Vejo a porta de abrir com força e de lá entram os quatro garotos. Eles me observam com os olhos arregalados e eu franzo meu cenho, com desgosto por mim mesma.
Olho para baixo e vejo o porta-retrato, todo estilhaçado. Assim como eu.
Sinto que eles se aproximam e não movo um músculo. Braços rodeiam o meu corpo e então percebo que os quatro tentam me abraçar ao mesmo tempo.
Aperto meus lábios e me deixo escorregar até o chão. Solto mais um grito quando minhas mãos e meu joelho entram em contato com os cacos de vidro. Mas não pela dor física, e sim pela dor emocional.
Eles percebem o que aconteceu e me puxam para cima, me desvencilho deles e me sento no chão, longe dos pedaços cortantes.
Olho para o rosto de cada um deles, podendo captar cada expressão. Tristeza, perdição, confusão e pena.
Desvio o olhar deles para as minhas mãos e me concentro nos pequenos cacos presos nela.
Chaz e Ryan são os primeiros a se aproximarem e se agacharem ao meu lado, logo me abraçando novamente. Chris e Justin depois de alguns segundos fazem o mesmo.
- Estamos aqui. - Escuto a vacilante voz de Justin, quando sua mão faz um carinho em meu braço.
☽
tradução do trecho da música no início: "estou com dor, quero dar 10 tiros no meu cérebro
fiquei viajando em algumas coisas, não posso mudar (...)
o estresse pós-traumático me fodeu(...)
eu continuarei sentindo dor, eu continuarei sentindo dor só para continuar
e eu não me sinto o mesmo, estou tão entorpecido"
esse cap não teve muitas falas, mas ele era mais para demonstrar os sentimentos da Ariel e o início do relacionamento dela com os meninos!
espero que tenham gostado...ツ
xoxo, éshi♡
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