Motivação do escritor em meio a dificuldades
@augustolincon perguntou: Eu já li todos os capítulos desse seu livro de dicas. Venho correndo quando vc publica mais respostas. Minha pergunta é: Como manter a alegria de escrever, como continuar criando e não abandonar nossos livros, mesmo o autor passando por problemas pessoais, e até de depressão e ansiedade? Percebo que muitos autores não sabem lidar nem separar as coisas. É difícil nos desligarmos do mundo real e nos concentrarmos nos nossos capítulos. Como continuar e não pausar livros? Como não perder a inspiração e o prazer pelo que estamos escrevendo?
Oi Augusto, primeiro obrigado por acompanhar o livro e também por suas perguntas! Não são perguntas fáceis, mas vou tentar responder dentro da minha experiência e limitações. Suas perguntas tem muito a ver com minha história pessoal e tem a ver com o lema que adotei: se você tropeçar, levante-se.
Como manter a alegria de escrever, como continuar criando e não abandonar nossos livros, mesmo o autor passando por problemas pessoais, e até de depressão e ansiedade?
Continuar escrevendo, muitas vezes, realmente pode ser difícil. É uma extensão de nossa vida, e muitas vezes é difícil viver num mundo como o nosso, onde há tantos problemas e desigualdades. Fora questões estruturais, muitas vezes o que pesa são questões pessoais, econômicas e familiares.
Bem, acho que o lado positivo disso é reconhecer que estamos todos no mesmo barco, todos vamos ter que enfrentar nossas dificuldades em graus diferentes para seguir em frente com a vida.
O segundo aspecto positivo que está implícito na sua pergunta é que você já atua como escritor. Mesmo que não tenha terminado um romance, ou publicado, só o fato de estar olhando para esse mundo e tirando algum tempo para exercer uma atividade criativa já é algo a se comemorar.
Deixando a Poliana um pouco de lado, vamos ver alguns fatos que descobrimos ao ler sobre a biografia de escritores (e artistas de modo geral). O sucesso e a grana, que poderiam ser motivadores para a escrita, não vem fácil e nem rápido para muitos deles. Quantos não J.K. Rowling não recebeu antes de conseguir publicar? Se você já leu ou viu algo sobre a vida dela, vai ver que passou por muitas dificuldades e chegou a escrever em pubs, e coisa do tipo. Muitos outros escritores relatam que tinham um outro trabalho antes de se tornar um escritor. Escrever quase sempre vai exigir sacrifícios, correr uma milha extra, etc.
Veja o caso de Harrison Ford, que era carpinteiro até os 39 anos de idade e só depois disso conseguiu começar uma carreira como ator.
Vou falar um pouco de mim mesmo também. Comecei a escrever em 1996. Levei 4 anos para completar meu primeiro livro, Olhos Negros. Comecei quando era estudante e quando concluí já estava trabalhando. Desde então escrevi mais 8 romances e alguns contos. E continuo trabalhando com outra coisa. Cheguei a escrever um livro quase inteiro (Os Óculos Indesejados de Ilya Gregorvich) num caderno, à mão, e dentro de ônibus, indo e voltando do trabalho. Era o único tempo que eu tinha. De uns anos para cá, o tempo ainda apertou mais, com a chegada dos meus filhos, que ainda são pequenos e demandam muita atenção, tempo e cuidado. Ainda sobre minha experiência, já tive crises de ansiedade e fui parar no pronto atendimento, assim como algum grau de depressão. Em algumas momentos, parei totalmente de escrever, ficando meses desse jeito. Mas depois, voltei... Vou falar um pouco mais sobre isso na seção seguinte.
Percebo que muitos autores não sabem lidar nem separar as coisas. É difícil nos desligarmos do mundo real e nos concentrarmos nos nossos capítulos. Como continuar e não pausar livros? Como não perder a inspiração e o prazer pelo que estamos escrevendo?
Acho que a primeira coisa é questionar essa teórica separação que existe entre as dificuldades da vida e "nossos capítulos". A vida é uma só. O que eu venho aprendendo e tentando praticar na minha vida há alguns anos é que precisamos assumir o controle da própria vida. Desenvolver disciplina para dar contar de tentar fazer o que desejamos. Isso vai um pouco fora do assunto dicas técnicas para escrita. Se você encontrar equilíbrio na vida, construir bons hábitos, e falo de três coisas principalmente: boa qualidade de sono, boa alimentação e exercícios, você vai construir a base para outras coisas na sua vida funcionarem, incluindo a escrita. Por exemplo, no momento, estou batalhando para adquirir o hábito de frequentar a academia 3x por semana. Eu não gosto muito, mas sei que é necessário para alcançar esse equilíbrio. Não vou conseguir correr aquela milha extra para escrever meu novo livro sem essa energia.
Se você percebe que tem ansiedade ou depressão, tem que buscar ajuda externa, ou então, se movimentar de alguma forma. É uma droga ficar se sentindo assim, ninguém quer isso para si mesmo. Então, a única saída, é tentar sair fora disso. Descobrir uma saída.
Isso me leva a outra coisa que aprendi: não ter preconceito de literatura de auto-ajuda. Vou citar os três principais livros que me inspiraram e deram motivação ao longo do tempo. Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, de Stephen Covey, O Milagre da Manhã, Hal Erold e Ikigai: Os cinco passos para encontrar seu propósito de vida e ser mais feliz, Ken Mogi.
Para você ter uma ideia, ao tentar dormir cedo, acordar cedo e fazer exercícios, recentemente, consegui emplacar um dos meus maiores períodos de produtividade: em junho, escrevi um total de 32.588 palavras, sendo que destas, 30.714 foram do meu novo romance. Pensei assim, agora vai! Vou decolar, ninguém me segura. Aí vieram os tropeços: Em julho tive dengue, labiritite depois que melhorei viajei de férias com minha família. (além de praticamente parar com os exercícios físicos). Resultado... Em julho foram 1.781 palavras e nada para meu romance. Em agosto, estou batalhando para voltar.
Se você tropeçar, levante-se.
Por exemplo, dia 20 acordei às 5 horas e consegui escrever 918 palavras antes de fazer Yoga, ir na padaria e preparar o café da manhã para minha família. O que consegui em agosto não foi muito, mas já consegui 2.939 palavras para o meu romance. Mas o melhor é que estou conseguindo me manter firme com os exercícios e melhorando um pouco minha rotina de sono.
É muito difícil não pausar. Eu praticamente nunca consegui isso. Há pouco tempo, li um livro do Kevin J. Anderson de uma série chamada "The Million Dollar Writing Series Boxed Set". No livro "Million Dollar Productivity", Kevin (um de meus escritores favoritos) conta sua vida e como conseguiu se tornar um escritor profissional. Os editores desta série de auto-ajuda consideram profissionais dignos de inspirar os leitores aqueles que já ganharam mais de 1 milhão de dolares. Você pira no nível de disciplina e profissionalismo que o Kevin J. Anderson alcançou. E ele dá todas as dicas lá. Você acha que é fácil? Uma coisa que percebi é que talvez (e provavelmente) eu nunca vou me tornar um escritor desse nível. Isso pode soar meio depressivo, do tipo: vou desistir e não tentar mais, mas na verdade não.
O livro Ikigai me ajudou a ver que, de algum modo, estou no caminho certo, sempre estive. Eu nunca escrevi focado na ideia de me tornar um best seller, claro, eu não ia achar ruim me tornar um. Mas escrevo por que gosto, sinto um prazer em fazer isso. Em contar para mim mesmo essas histórias, que se eu não contasse, ninguém me contaria. Esse prazer é constante? Não. Eu devo ter uns dez livros (ou mais) parados na metade, abandonados, alguns com mais de 50.000 palavras escritas... Em alguns, eu travei, outros, perdi o tesão... Não deixei de escrever por causa disso. Continuo em frente. Procuro um novo projeto e vou...
Então, se você perder o prazer por algo que esteja escrevendo, deixe de lado e comece algo novo. Muitas vezes ficamos apegados a algo que começamos e em que investimos muito. Quanto mais investimento, mais é difícil abandonar. No livro Pense como um Freak, os autores (de Freakonomics) falam sobre esse dilema. Eles criaram uma página para incentivar as pessoas de desistir de algo e depois de alguns meses, dizer se foi bom ou não. Muitos desistiram de startups que não decolavam, de um relacionamento que estava difícil e depois, disseram que foi a melhor coisa que fizeram. O apego pode realmente ser um empecilho para o escritor. Mas muitas vezes (digo por experiência própria) um novo projeto traz toda a excitação de volta.
É muito difícil, no entanto, traçar essa linha de desistir de um projeto ou continuar até o final. Minha primeira trilogia, A Trilogia do Novo Elo, eu levei 17 anos para concluir e valeu a pena. Pensei em desistir, muitas vezes, mas felizmente dei conta.
Enfim, não conheço um jeito de não pausar livros e de não perder a inspiração e prazer pelo que estamos escrevendo, mas conheço um jeito de escrever e concluir nove romances e muitos contos: Se você tropeçar, levante-se.
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