Escrita em terceira pessoa
PallomaMota perguntou: Como fazer uma boa narrativa em terceira pessoa? (Sim, eu sei que tenho que ler obras dos gênero, mas eu gostaria de dicas mais especificas.) Obrigado desde já!
Para escrita em terceira pessoa o escritor pode optar por usar a narrativa onisciente, limitada ou objetiva. É importante conhecer essas opções e ter consciência da voz narrativa escolhida e manter-se fiel a ela durante a escrita para não confundir os leitores.
Terceira pessoa onisciente
Neste modo narrativo o autor tem poderes para mudar de foco para personagens diferentes, ao invés de ficar preso nas ações e pensamentos de um único personagem. O narrador sabe de tudo e pode decidir descrever as ações, sentimentos ou pensamentos de qualquer personagem da história. É o modo narrativo que dá mais liberdade ao autor para incluir qualquer informação que deseje.
Ao fazer essa escolha é preciso ter consciência que mudar o foco, de personagem para personagem, dentro de uma mesma cena, ainda que possível, é geralmente considerada uma prática narrativa preguiçosa e pode confundir o leitor.
A liberdade de revelar qualquer coisa que desejar vai além de mudar de pontos de vista de personagens. É possível também, revelar partes futuras ou passadas, incluir uma voz do narrador com uma perspectiva moral e discutir sobre questões diversas, mesmo quando os personagens não estejam presentes.
Note que os leitores, normalmente, não estará muito interessado no que o narrador tem a dizer, o que realmente importa para eles é construir uma ideia geral do que está acontecendo. Os personagens e o que acontece com eles é que são o foco de atenção dos leitores.
Vale lembrar que poder revelar, não quer dizer que isso é o melhor para a construção da trama. Pode ser interessante não dar acesso a sentimentos e pensamentos de personagens a fim de construir mistério e revelar, aos poucos, seus verdadeiros sentimentos e motivações.
Terceira pessoa limitada
Esse modo permite apenas que o narrador fale sobre ações, sentimentos, pensamentos e crenças de um único personagem. Isso difere da narrativa em primeira pessoa, pois nessa o narrador e protagonista se fundem. Mas ao usar terceira pessoa limitada o narrador pode revelar informações que não poderia em primeira pessoa. Uma pessoa contando sua própria história poderia ter segredos ou sentir vergonha de contar certas coisas, já aqui, o narrador está livre para revelar todas essas coisas.
Os pensamentos e sentimentos de outros personagens devem ficar de fora. Pistas sobre eles podem até ser passadas, mas do ponto de vista do personagem principal.
Exemplos:
(impressão direta)
João imaginou que Maria se sentia péssima por causa da briga com sua mãe, pois ela estava carrancuda e andava como um zumbi.
(impressão indireta)
João se aproximou de Maria, ela estava carrancuda e arrastava os pés. Então ele indagou "O que houve? Está assim por causa de sua mãe?"
Mas é preciso ter o cuidado para não revelar algo que seu protagonista não saiba. No exemplo anterior, se João não soubesse que Maria brigou com a mãe, a cena poderia ser assim:
João observou que Maria estava carrancuda e andava sem vontade. "Ei Maria, o que foi? Foi mal na prova de matemática?"
"Ah, não. Foi só que briguei com minha mãe, de novo..."
(variação) Terceira pessoa limitada episódica
Também chamado de terceira pessoa com múltiplos pontos de vista, esse modo narrativo mostra a história, ou múltiplas histórias, do ponto de vista de diferentes personagens. Cada ponto de vista é usado para revelar informações importantes e fazer trama avançar.
Neste caso é bom limitar o número de personagens, pois personagens demais tenderão a confundir os leitores. Cada personagem com seu ponto de vista particular deve servir a um propósito. É bom se perguntar como cada um contribui para a história.
Focalize nos pensamentos/sentimentos de um personagem de cada vez. De outro modo, estará voltando ao modo onisciente. Trabalhe bem as transições, fazendo mudanças de capítulo ou sinalizando seções diferentes num mesmo capítulo. Identifique o personagem imediatamente para não fazer seu leitor tentar adivinhar. Por exemplo: "João detestava aquele tipo de festa, mas foi assim mesmo, pois sabia que Maria estaria lá." Já identifica claramente o ponto de vista de João e é melhor que: "Era mais uma daquelas festas barulhentas e Maria estaria lá."
Cada personagem com ponto de vista deve ser bem desenvolvido. Deve realizar ações, possuir desejos próprios, um propósito e sofrer consequências de suas ações.
Terceira pessoa objetiva
Nesse modo narrativo é possível mudar de personagens a qualquer momento, mas o narrador não deve entrar em seus pensamentos e sentimentos.
É como se o narrador tivesse uma câmera podendo filmar em qualquer lugar, mas sem conseguir entrar nos pensamentos e emoções dos personagens.
É um modo narrativo no qual o mostrar ao invés de contar (show but don't tell) precisa ser usado. É preciso descrever o que está acontecendo. Ao invés de dizer ao leitor que o personagem está zangado, descreva sua expressão facial, linguagem corporal e tom de voz indicando isto.
É como entrar no papel de um repórter que se limita a narrar os fatos e ações. Evite inserir seus próprios pensamentos, explicar o que está acontecendo, apenas mostre e deixe o leitor tirar suas próprias conclusões.
Típica construção de cena em terceira pessoa
a) O narrador estabelece a cena usando uma voz neutra (sem opiniões) descrevendo o clima, talvez um cômodo onde a cena irá se passar.
b) O narrador passa a narrar em relação a seu personagem de ponto de vista. Ainda mantendo a neutralidade.
Exceto para terceira pessoa objetiva:
c) O narrador entra na pele do personagem vendo a cena e local de acordo com sua ótica, podendo revelar sentimentos e pensamentos. Descreve as ações, diálogos, etc.
Para finalizar, eu não acho que exista um modo narrativo melhor que outro. Todos podem ser usados com sucesso, desde que o autor os domine.
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