Como reunir diálogos e descrições
@coussines perguntou: Olá! Tenho acompanhado seu livro de questões sobre escrita, e tenho uma dúvida em mente ao qual nunca consegui sanar. Como eu posso alternar cenas e diálogos? É muito difícil para mim iniciar uma história com um diálogo e então colocar uma cena no meio de tudo.
Vou dar um exemplo de um livro que estou tentando começar, mas não consigo exatamente por esse motivo:
— Chove muito lá?
— Lá em Corning?
— Sim.
— Ah... um pouco. Mas sei que vai se acostumar.
Este é um diálogo entre um menino e sua avó, indo para a cidade natal dela. Estão dentro de um carro e a partir desse momento, eu gostaria de dizer que estava chovendo, e como isso o lembrava de que seu pai (falecido) não gostava da chuva, assim como ele. E que agora, estava aos cuidados da avó.
Muito obrigado pela pergunta! Não há uma maneira certa de se fazer isso, ou mesmo uma fórmula. É de fato um desafio a composição de cenas. Elas podem ser feitas de quatro maneiras: apenas descrição, apenas diálogos, descrições e diálogos se intercalando ou mesmo, tudo mesclado.
Você poderia fazer algo assim:
A)
O neto entrou rápido no carro, fechando seu guarda-chuva, mas ainda assim não conseguiu evitar de molhar um pouco as calças e os sapatos. A avó, já estava o aguardando e olhou para a expressão descontente do menino.
— Chove muito lá? — perguntou para a avó.
— Lá em Corning?
— Sim.
— Ah... um pouco. Mas sei que vai se acostumar.
Nesse caso, a informação que está chovendo vem numa descrição de parte da cena, antes do diálogo se iniciar. Seria um exemplo de descrição e diálogo intercalado. A inclusão de "expressão descontente do menino" seria um gancho proposital para surgir o assunto em seguida, dele contando para a avó que não gostava de chuva e que isso o fazia se lembrar de seu pai. Vamos supor que o carro já estivesse em movimento no próximo exemplo.
B)
O vidro do carro ficava embaçado devido à chuva fria que caía lá fora. O neto limpou um pouco para enxergar melhor e perguntou para a avó — Chove muito lá?
— Lá em Corning? — ela ergueu as sobrancelhas finas fazendo a testa se enrugar.
— Sim.
— Ah... um pouco. Mas sei que vai se acostumar. — Ela observou a expressão fechada do neto e perguntou. — Por que essa cara? Está tudo bem?
— Não é nada... Eu só estava me lembrando de papai. Ele detestava chuva.
C)
— Chove muito lá? — o menino perguntou.
A avó deu uma boa olhada na estrada adiante. A visibilidade era bastante ruim por causa da chuva. Caíam gotas grossas e pesadas e tamborilavam sobre o capô do carro fazendo muito barulho.
— Lá em Corning? — ela teve que elevar o tom de voz.
— Sim.
— Ah... um pouco. — Ela deu um sorriso bondoso, procurando animá-lo — Mas sei que vai se acostumar.
Nos exemplos B e C, descrições e diálogo aparecem mesclados. Fiz de duas maneiras diferentes para enfatizar que não há um jeito necessariamente melhor de se fazer. No entanto, a intenção narrativa deve guiar o que decidimos incluir "ao redor" dos diálogos. Há momentos em que pode ser interessante um bloco longo de descrição e outro de diálogo, mas no geral, acho mais interessante mesclar as descrições e diálogos de modo orgânico, a fim de construir as cenas aos poucos.
No entanto, um diálogo sem descrições pode ser usado quando a intenção é dar um ritmo mais veloz à leitura, ou à cena.
Do mesmo modo, um bloco descritivo pode ser usado, principalmente quando estamos introduzindo a cena em um ambiente que nunca foi mostrado. Algo semelhante às tomadas gerais e panorâmicas que ocorrem no cimema/TV, mostrando um pouco do ambiente em que os personagens estão, antes que ocorra um diálogo entre eles.
No fim, tudo depende da intenção narrativa. O que estamos tentando contar e qual objetivo da cena dentro da história.
Espero que o texto ajude de alguma maneira.
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