Como evitar os verbos de pensamento

@AllyPeace-ww perguntou: Eu gostaria que você falasse um pouco sobre como evitar os verbos de pensamento. É uma coisa bem complicada de se mexer kkk. Bem, obrigada! Por todo o livro, ele é muito bom e de uma ajuda incrível.

Oi Ally, obrigado pela sua pergunta! E obrigado por acompanhar esse livrinho de dicas, fico feliz em saber que está ajudando.

Sobre a questão dos verbos de pensamento, não tenho a capacidade de escrever nada melhor que a dicas dadas pelo escritor Chuck Palahniuk cujo livro mais famoso é O Clube da Luta. É uma aula sobre o princípio Show, don't tell. Mostre ao invés de contar.

***

"Em seis segundos, você vai me odiar.

Em seis meses, você será um escritor melhor.

Desse ponto em diante, por pelo menos metade do ano, você está proibido de usar verbos "de pensamento". Isso inclui: pensa, sabe, entende, acredita, quer, deseja, imagina, lembra, e muitos, muitos outros que tenho certeza que você ama usar. ( Vou incluir uma listinha desses verbos no final)

A lista também deve incluir: Ama e Odeia, É e Tem. Chegaremos nestes, depois.

Até perto do Natal, você não pode escrever: "Kenny imaginou se Mônica não gostava dele saindo à noite..."

Pensar é abstrato. Saber e acreditar é intangível. Sua história será sempre mais forte se você mostra apenas as ações e os detalhes físicos de seus personagens e permitir a seu leitor fazer o pensar e o saber. E o amar e o odiar.

Em vez disso, você terá que descompactar isso para algo como: "As manhãs depois de Kenny ter passado fora, além do último ônibus, até ele ter que pegar uma carona, ou pagar um taxi e chegar em casa para achar Mônica fingindo dormir, fingindo, pois ela nunca dormia tão quieta, naquelas manhãs, ela iria apenas colocar sua própria xícara de café no micro-ondas. Nunca a dele."

Em vez de personagens sabendo de tudo, você deve agora apresentar os detalhes que permitam ao leitor sabê-los. Em vez de um personagem querendo algo, você deve agora descrever a coisa para que o leitor a queira.

Em vez de dizer: "Adam sabia que Gwen gostava dele."

Você terá de dizer: "Entre as aulas, Gwen estava sempre recostada no armário dele quando fosse abri-lo. Ela reviraria os olhos e partiria, deixando uma marca do salto preto no metal pintado, mas também deixando o cheiro de seu perfume. O cadeado ainda estaria quente devido a sua bunda estar encostada lá. E, no próximo intervalo, Gwen estaria recostada lá, novamente."

Resumindo, para de usar atalhos. Apenas detalhes sensoriais específicos: ação, cheiro, gosto, som e sentimento.

Normalmente, escritores usam estes verbos de "pensamento" no começo de um parágrafo (desta forma, você pode chamá-los de "Afirmações de Tese" e e eu vou protestar contra eles mais tarde ). De uma forma, eles afirmam a intenção do parágrafo. E, o que se segue, ilustra essa intenção. 

Por exemplo: "Brenda sabia que ela nunca cumpriria o prazo. O trânsito estava terrível desde a ponte, passadas as primeiras oito ou nove saídas. A bateria do celular havia se esgotado. Em casa, os cachorros precisariam sair para um passeio, caso contrário haveria uma grande bagunça para limpar depois. Além disso, ela prometeu que aguaria as plantas para o vizinho..."

Você percebe como essa "afirmação de tese" tira o brilho do que se segue? Não faça isso.

Se não tiver jeito, corte a sentença de abertura e coloque-a depois de todas as outras. Melhor ainda, mude para: "Brenda nunca cumpriria o prazo."

Pensar é abstrato. Saber e acreditar são intangíveis. Sua história sempre vai ser mais forte se você mostrar apenas as ações físicas e os detalhes dos seus personagens e permitir que seu leitor pense e saiba. E ame e odeie.

Não diga ao leitor: "Lisa odiava Tom."

Em vez disso, construa seu caso como um advogado na corte, detalhe por detalhe.

Apresente cada evidência. Por exemplo: "Durante a chamada, no instante logo após a professora dizer o nome de Tom, naquele momento antes que ele respondesse, bem naquele instante, Lisa sussurrava "seu merda" justo quando Tom respondia "Presente".

Um dos erros mais comuns de escritores iniciantes é deixar seus personagens desacompanhados. Ao escrever, você pode estar sozinhos. Ao ler, sua audiência vai estar sozinha. Mas seus personagens devem passar muito pouco tempo sozinhos. Porque um personagem desacompanhado começa a pensar, a se preocupar ou a se perguntar.

Por exemplo: "Enquanto esperava pelo ônibus, Mark começou a se perguntar quanto tempo a viagem tomaria...".

Uma construção melhor seira: "A programação dizia que o ônibus chegaria ao meio dia, mas o relógio de Mark dizia que já eram 11:57. Dali dava para ver até o fim da rua, até o shopping, e ele não via nenhum ônibus vindo. Sem dúvidas, o motorista estava parado em algum retorno no fim da linha, tirando uma soneca. O motorista estava dormindo e Mark estava atrasado. Ou pior, o motorista estava bebendo e, quando ele parasse ali, bêbado, cobraria setenta e cinco centavos por uma morte horrível em um acidente de trânsito."

Um personagem sozinho deve mergulhar em fantasia em memória, mas mesmo nesses casos você não pode usar "verbos de pensamento" ou qualquer um de seus parentes abstratos.

Ah, e você não pode se esquecer dos verbos lembrar e esquecer. Nada de frases como "Wanda lembrou-se de como Nelson costumava escovar seu cabelo".

Em vez disso, diga: "Quando estavam no segundo ano da faculdade, Nelson costumava arrumar o cabelo dela com escovadas suaves e longas".

Outra vez: desmembre. Não utilize atalhos.

Melhor ainda, coloque o seu personagem junto com outro personagem rapidamente. Coloque-os juntos e deixe a ação começar. Deixe a ação e as palavras mostrarem seus pensamentos. Saia da cabeça deles.

E, enquanto estiver evitando os "verbos de pensamento", seja muito cauteloso ao utilizar os verbos ser e estar.

Por exemplo:

"Os olhos de Ann eram azuis" ou "Ana tinha olhos azuis"

versus

"Ann tossiu e sacudiu uma mão em frente seu rosto, espantando a fumaça de cigarro de seus olhos, olhos azuis, antes de sorrir..."

Em vez de usar os sem graça "ser" e "ter", tente enterrar esses detalhes dos personagens em suas ações ou gestos. Para simplificar, isso é mostrar sua história, em vez de contar.

E daqui para frente, depois que você aprender a desmembrar seus personagens, você vai odiar os escritores preguiçosos que se contentam com: "Jim sentou-se ao lado de seu telefone, perguntando-se se Amanda não ligaria."

Por favor. Por enquanto, me odeie com todas as suas forças, mas não use "verbos de pensamento". Depois do natal, sinta-se livre, mas eu apostaria dinheiro que você não vai voltar atrás. 

(O autor recomenda): Releia seus textos e circule cada verbo de "pensamento". Então, ache uma maneira de eliminá-los. Mate-os, descompactando-os.

Então, leia alguma história publicada e faça a mesma coisa. Seja impiedoso.

"Marty imaginou peixes pulando à luz da lua..."

"Larry sabia que era um homem morte..."

"Nancy lembrou do jeito do gosto do vinho..."

Ache-os. Depois disso, ache uma maneira de reescrevê-los. Deixá-los mais fortes.

***

Para ajudar, pesquei de outro artigo uma listinha de "verbos de pensamento" a serem evitados:

perguntou-se

pensou

imaginou

refletiu

assumiu

duvidou

especulou

sentiu/pressentiu

acreditou

ponderou

considerou

questionou

meditou

notou

suspeitou

percebeu

supôs

analisou

concluiu

deduziu

julgou

raciocinou

inferiu

contemplou

resolveu

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