Cenas XXXVII a XLIII
Cena XXXVII
Uma tomada panorâmica mostra as ruas centrais de Raccoon de cima, dominadas pelos mortos-vivos. Os gemidos perdidos das criaturas são ouvidos de longe, ecoando pelas vias repletas de carros destruídos e vestígios de caos.
A imagem passa para o interior do “Sales Office”, onde Claire, Irons e Ada, sentados sobre algumas mesas, observam os zumbis tentando derrubar a barricada que ergueram para bloquear a entrada. A tela focaliza Claire.
CLAIRE – Temos que encontrar um meio de sairmos daqui, esses monstros vão acabar conseguindo entrar!
A câmera mostra o grupo.
IRONS – Impossível, acabaremos mortos de qualquer jeito... Se não for aqui dentro, será lá fora!
ADA – O que prefere? Morrer tentando escapar ou morrer cercado aqui?
IRONS – Na atual situação, senhorita... Não vejo tanta diferença entre uma coisa e outra.
Em seguida, vemos Brian olhando para Claire de forma lasciva, contemplando-a de alto a baixo como se a desejasse de modo doentio, enquanto coça o bigode. Depois, Ada é mostrada olhando para cima, a câmera assumindo sua visão enquanto examina o teto... E pára centralizando a entrada fechada de um duto de ventilação.
ADA – Um duto... Talvez possamos sair pelo telhado!
IRONS – E depois? Ir pulando de prédio em prédio até fora da cidade?
ADA – Um passo de cada vez.
Em seguida, a imagem exibe o grupo empilhando móveis e objetos, formando uma espécie de escada que os permita atingir a entrada do duto. A cena seguinte mostra a mão de Irons apanhando uma chave de fenda de dentro de uma caixa de ferramentas, e depois o mesmo desparafusando a grade que tampa a saída.
Logo depois, o obstáculo é removido por Irons, que devido ao peso por pouco não perde o equilíbrio, caindo do alto da improvisada plataforma.
Num outro close, observamos então uma mão enluvada abrindo uma gaveta presente em uma das mesas, que contém uma pistola 9mm. É Claire, a qual é mostrada apanhando a arma e engatilhando-a.
A câmera em seguida mostra as mulheres trocando um olhar.
CLAIRE – Como vamos subir?
ADA – Eu vou primeiro. Ajude-me.
Vemos então Claire servindo de apoio para que Ada suba ao duto, ela puxando-a em seguida para cima. Irons fica para trás, justo quando é ouvido um estrondo e a tela revela que os zumbis derrubaram a barricada, começando a entrar aos montes no estabelecimento.
IRONS – Não me deixem aqui!
Ada puxa Brian pelos braços, ele escalando com alguma dificuldade a borda da entrada.
Cena XXXVIII
A câmera está de frente para a porta de um elevador, que se abre de frente para o espectador. De dentro dele saem Leon, Harper, Ford, Brad e Ben, todos avançando às pressas por um corredor, a imagem se ampliando para mostrar o trajeto.
BRAD – OK, a gente desceu, mas para onde vamos agora?
BEN – A garagem!
O grupo segue por uma porta, descendo uma pequena escada de concreto até a garagem do prédio. A imagem mostra carros nela abandonados, furgões com a traseira aberta carregados de jornais, os quais jamais serão entregues. Os sobreviventes correm até um carro um tanto velho, amassado e sujo. O veículo pertence a Bertolucci.
A câmera o foca enquanto entra no carro e dá partida.
BEN – Vamos!
BRAD – Será que essa velharia agüenta?
FORD – Vickers, feche essa boca de esgoto e entre logo no maldito carro!
Vemos todos se espremendo na traseira do veículo, exceto Leon, que se acomoda no banco da frente ao lado do motorista. O motor custa a pegar, um grupo de zumbis adentrando o local pela saída para a rua. Com a tela mostrando o veículo por cima, imerso nas sombras dos mortos-vivos que se aproximam, Ben por fim consegue acelerar e, cantando pneus, faz o transporte deixar a garagem, atropelando e dilacerando boa parte das criaturas pelo caminho.
A câmera passa para o interior do carro, onde o repórter liga os limpadores de pára-brisa para limpar o sangue dos zumbis que sujara o vidro da frente.
BEN – Chuva vermelha...
Numa outra panorâmica, vê-se o veículo fazer uma curva fechada e desaparecer por uma rua.
Cena XXXIX
O interior da Torre do Relógio, após o estrago provocado pelo T-00. A câmera mostra os danos e a ausência de movimento em cada canto do local antes de revelar Sherry ainda ajoelhada ao lado da mãe, soluçando. Logo depois a imagem mostra mãe e filha de cima, e logo depois ouvimos um gemido. Annete está acordando.
SHERRY – Mamãe, mamãe!
A câmera mostra-as de lado, enquanto a pesquisadora ergue o tronco, sentando-se junto à parede. Passa a mão pela cabeça, atordoada, arregalando os olhos e fitando em volta ao notar a destruição no lugar. Então pergunta à menina:
ANNETE – Onde está seu pai?
A face da garota é focada enquanto ela responde.
SHERRY – Ele passou mal, disse que precisava ficar sozinho... E que tinha algo a fazer!
Voltamos a ver o rosto de Annete, agora tomado por uma expressão confusa. A câmera se afasta e a cientista se levanta do chão com certa dificuldade, auxiliada pela filha. As duas caminham até uma área próxima, onde há marcas de sangue no assoalho e tapeçaria rasgada. A imagem assume a visão de Annete enquanto esta vistoria o ambiente, até que se centra em algo cinza, ligeiramente brilhante, caído em meio à desordem.
Tornamos a contemplar mãe e filha de frente, a primeira com uma expressão perplexa, ao mesmo tempo em que a tela vai descendo... Até revelar o artefato com nitidez, num close: uma seringa vazia.
Annete caminha até o objeto, apanhando-o com uma das mãos. A imagem mostra-a fitando-o de forma fixa, com destaque para seus olhos, que assumem tom de legítimo assombro.
ANNETE – Não!
A tela escurece.
Cena XL
O terraço do prédio do “Sales Office”. Primeiro o lugar é focado em toda sua extensão, para depois a câmera deter-se numa grade de metal que é lentamente removida do chão... Trata-se da saída de outro duto de ventilação, pela qual surgem Ada, Claire e Irons, na ordem.
O trio se detém pouco depois de ganhar o novo ambiente, olhando atônito ao redor. Só então a imagem se move para mostrar o motivo: é exibido parte do panorama de Raccoon City, com suas ruas tomadas pelos mortos-vivos e destruição maciça, alguns focos de incêndio perceptíveis. Uma metrópole transformada em inferno terreno.
O coro dos zumbis é alto e aterrador.
CLAIRE – Parece que estamos ilhados aqui... Não vejo outra saída!
Vemos Ada, de frente para o espectador, afastar-se discretamente dos companheiros, aproximando-se de uma das beiradas do terraço. Ela olha para um ponto fixo na paisagem, que logo é revelado: a Torre do Relógio.
Ela aponta para o local com um dos braços.
ADA – Nós devemos ir para lá!
Brian é mostrado com um semblante de desconfiança.
IRONS – A velha Torre do Relógio? Mas por quê?
ADA – Eu encontrei papéis de alguns mercenários da Umbrella caídos num beco. Pareciam compor um conjunto de instruções, ou algo parecido. Uma delas é que os sobreviventes dos esquadrões devem se dirigir até a Torre do Relógio para evacuação, e então tocar os sinos. Assim, um helicóptero de prontidão nos subúrbios virá buscá-los.
CLAIRE – Então precisamos ir logo até lá! Pode ser nossa única chance de deixar a cidade!
IRONS – A questão é... Como?
A câmera foca alternadamente as faces preocupadas e pensativas do trio. Ada leva uma das mãos à cintura... À qual, pela primeira vez, percebemos pendurado uma espécie de pistola com um gancho na ponta.
ADA – Vocês são bons em escalada?
A cena muda para Wong, diante dos outros dois, usando o equipamento para disparar o gancho até o topo de um prédio vizinho, permitindo que eles o escalem por meio do cabo que lançara o artefato. Em seguida, a imagem se altera para o trio já subindo pela corda, Irons sendo o único a possuir certa dificuldade em realizar a tarefa.
Cena XLI
O carro de Ben Bertolucci, visto de cima, adentra o pátio da Torre do Relógio, os pneus passando por cima do portão antes derrubado pelo T-00. O carro é desligado sonoramente, os ocupantes deixando-o aos poucos. Logo que todos saem, vemos Ford apontando para cima.
FORD – Aqui estamos... Torre do Relógio.
A câmera é transferida para as costas do grupo, sendo que seus integrantes, seja com os braços cruzados ou as mãos na cintura, admiram a construção. A imagem sobe lentamente, mostrando toda a imponência do prédio, detendo-se por fim no grande relógio iluminado de numerais romanos, uma música de clímax completando a cena.
O foco retorna aos sobreviventes, mostrando-os quase de frente.
HARPER – O que será que encontraremos aí dentro?
LEON – Bem, só há uma maneira de descobrir.
Kennedy afasta-se calmamente do grupo, saindo da tela.
Cena XLII
Um helicóptero Black Hawk sobrevoa Raccoon City, quase invisível em meio à escuridão da noite, mesmo com as luzes dos arranha-céus. A imagem é transferida para seu escuro interior, onde vemos apenas piloto e co-piloto vagamente, de costas, em seus assentos.
CO-PILOTO – Há pessoas morrendo lá embaixo, nós não perderíamos nada tentando resgatá-las...
PILOTO – Você sabe muito bem quais foram as ordens do chefe. Temos somente de pegar o tal cientista na Torre do Relógio, junto com o pacote, assim que os sinos tocarem. Só estou estranhando isso ainda não ter acontecido. É melhor o sujeito se apressar, não tenho combustível suficiente para ficar voando a noite toda!
A câmera volta para fora da aeronave, enquanto ela sobrevoa um prédio sobre o qual zumbis esfomeados erguem os braços para o ar, gemendo.
Cena XLIII
O alto de um prédio. A câmera focaliza uma das beiradas quando logo surgem Ada, Claire e Irons, escalando o cabo gerado pela pistola da primeira. Após todos concluírem a nova subida, Wong recolhe o equipamento, preparando-o para utilizá-lo mais uma vez em alguma construção vizinha.
A imagem então revela a Torre do Relógio logo à frente.
ADA – Chegamos, agora só precisamos descer!
Brian sorri.
IRONS – A descida é sempre mais fácil!
A tela exibe então uma das paredes laterais do prédio, feita de tijolos à vista... E logo nela, vindo de baixo, surge algo como uma pata sem pele, vermelha e musculosa, com afiadas garras brancas nas pontas... A criatura sobe mais um pouco e então o espectador vê algo parecido com um cérebro exposto... E uma imensa língua pegajosa sendo projetada para cima.
A câmera retorna aos sobreviventes, que verificam suas armas.
CLAIRE – E então... Vamos lá?
Súbito, é ouvido um berro inumano, num tom ao mesmo tempo agonizante e ameaçador. A imagem volta-se violentamente para uma das beiradas do terraço, onde, apoiado nos quatro membros, está o monstro conhecido como Licker, lançando sua língua ao redor como se com ela tateasse o ambiente.
O trio entra de novo em cena.
CLAIRE, recuando – Oh, meu Deus!
ADA – Atirem!
Com a ordem, as armas começam a ser disparadas contra o mutante, que se contorce e geme conforme recebe os tiros, até por fim perder o equilíbrio e despencar do telhado, a câmera mostrando parte da trajetória de sua queda, mas o impacto no solo sendo apenas ouvido, não mostrado.
Voltamos a contemplar os rostos assustados dos fugitivos.
CLAIRE – Será que...
Antes que ela possa terminar de falar, outro Licker salta sobre o terraço, garras estendidas, prontas para rasgar e triturar. O espectador vê Ada rolando agilmente pelo chão, escapando da investida mortal da criatura. Depois, abaixada com um dos joelhos apoiados no chão, Wong abre fogo, atingindo em cheio o cérebro exposto do monstro, que é mostrado definhando por poucos segundos até cair morto definitivamente, a língua desenrolando-se para fora, a câmera acompanhando-a... Até ela tocar as botas de Claire, que recua de nojo.
IRONS – Você tem treinamento militar, senhorita, se me permite perguntar?
ADA – Não é da sua conta! Vamos sair logo daqui!
A cena seguinte mostra o gancho com o cabo sendo disparado para uma rua de frente para o prédio, enrolando-se em um hidrante. Depois a imagem já corta para o trio descendo lentamente pendurado à corda, e por fim o vemos já de pé na calçada.
Logo depois, os três personagens olham para frente, a Torre do Relógio estando do outro lado da rua. Porém, eles encontram-se do lado oposto ao qual o outro grupo entrou há pouco.
Numa pequena tomada aérea, os sobreviventes, com Ada à frente, atravessam um pequeno portão rumo ao pátio dos fundos do local. São vistos brevemente de costas... Até que um berro é escutado.
CLAIRE – Que foi isso?
Por um momento, a câmera assume a visão da criatura, seja qual for, que avança velozmente contra os humanos, por suas costas. Forçados por um movimento dos braços de Ada, eles se abaixam... E o atacante, saltando, acaba indo de encontro à porta de madeira para a qual o trio estava de frente.
A imagem, voltando a assumir a posição de testemunha, revela o Licker atravessando a porta, abrindo nela um grande buraco com lascas de madeira banhadas no sangue que perdeu. Do outro lado, a pouca distância da entrada, o monstro acaba batendo em cheio a cabeça num sino dourado sobre o chão, fazendo-o badalar de leve. A cabeça do mutante se espatifa contra o metal, seus miolos escorrendo sobre a superfície do sino durante um close. Depois o foco retorna ao trio de fugitivos, que fica em silêncio por alguns instantes, Ada apontando a arma para o monstro temendo que ele levante, para então abaixá-la.
ADA – Já que estamos aqui, vamos entrar!
Claire e Irons concordam com as cabeças, expressões faciais perplexas.
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