☫Capítulo 2☫


☫ ℜ𝔈𝔔𝔘ℑ𝔈𝔐 ☫


Não posso acreditar no que estou vivendo. Léo está me traindo... com um cara mais velho, por sinal. Onde eu errei? O que fiz pra ele? Será que não fui suficiente? Não o amei como ele gostaria?

— Por que você tinha que mexer nas minhas coisas, seu inútil! – grita, querendo avançar para cima de mim com os punhos cerrados.

Entro em choque, não consigo pensar em nada. Penso nas coisas que vivenciamos juntos. Aquela festa em que nos conhecemos, o dia que eu pedi ele em namoro, o primeiro dia dos namorados que passamos juntos e que lhe dei uma luva autografada por aquele goleiro do time dele.

— Você está me traindo! — digo, com o rosto cheio de lágrimas.

Percebo que ele vai avançar pra cima de mim e tentar alguma coisa. É nesse exato momento que a porta da casa se abre e Ketley entra correndo e gritando.

— Você não ouse encostar um dedo nojento seu nele, seu filho da puta. – ela diz, com uma voz tão séria que ecoa pela casa inteira.

— Eu vim devolver o celular que o Ben esqueceu no banco do táxi. – ela pega meu aparelho de dentro da bolsa. – Graças a esse trânsito infernal, demorei pra chegar. Mas foi só chegar aqui no andar que consegui ouvir você gritando com ele e corri o mais rápido que pude.

Rapidamente ele abaixa seu punho e vai em a direção ela.

— Ah, é? E o que você vai fazer, sua ridícula? – seu tom é ameaçador, entretanto Ket não se abala com nenhuma de suas palavras.

— Tenta a sorte comigo, seu veado de uma figa!

Ela coloca a mão dentro da bolsa. Eu sabia que ela sempre andava com um soco inglês em caso de precisar se defender. Então rapidamente me recomponho e vou até Léo.

— Pega já a suas coisas e vai embora daqui. – exijo, raiva nos olhos e tristeza no coração.

Ele então começa a rir com aquele tom sarcástico.

— E o que será de você sem mim? – ele se aproxima devagar antes de continuar. – Você é um pobre coitado. Foi graças a mim que não caiu nas mãos de gente aproveitadora que iria destruir sua vida. Sua vida seria muito pior se não tivesse ficado comigo.

Eu então não consigo segurar as lágrimas, que praticamente explodem de minhas pálpebras e escorrem por meu rosto. Ketley vem em minha direção e me segura pelos braços.

— Você é um trouxa! – ele continua. – Eu te traía sempre que podia. Não aguentava você com aquelas frescuras de ficar perto de mim, querendo abraçar e beijar.

A cada palavra, Léo fazia uma cara de nojo.

— Eu te aguentei por muito tempo.

— Pega suas coisas e vai embora agora! – digo, com a voz trêmula, mas tentando ao máximo não transparecer. – Nunca mais volte aqui!

Com um sorriso sarcástico, ele então vai até o quarto, pega uma mala que está em cima do guarda-roupa e começa a jogar suas roupas lá dentro. Eu o espero com Ketley na sala até que ele sai com suas coisas. Ela tenta me consolar. Léo tem a mala cheia de roupa e a cabeça erguida. Antes de ir, para em minha frente e diz, cinicamente:

— Obrigado pela ótima hospitalidade. Agora acho que você vai precisar de boa sorte pra poder esquecer o pai aqui.

— Cala essa maldita boca, seu desgraçado! – Ketley rosna, se segurando pra não avançar nele.

Ele então ri de canto e sai batendo a porta. Peço para Ketley ligar prara o porteiro e dizer para que não permita Léo de entrar mais aqui, nunca mais. Ela então faz isso, pega no interfone e fala com o Sr. Mendes, que acaba de ver meu ex sair pela portaria e entra num HB-20 preto. Após falar com o porteiro, ela se dirige a cozinha, pega um copo e coloca água e açúcar. Após dar um gole, o entrega a mim.

— Oh, Ben, como você está? – pergunta, passando a mãos por meu cabelo na tentativa de me acalmar. – Ainda bem que voltei aqui pra te entregar o celular. Nem posso imaginar o que ele poderia ter feito com você se eu não estivesse aqui.

Eu, com lágrimas nos olhos, pego uma almofada que estava ao meu lado e a seguro. Depois assoo o nariz e dou um gole naquela água com açúcar. Dá para perceber a cara de preocupação que a Ketty está, entretanto ela mal consegue falar algo, já que não sabe o que dizer para mim. Passo a mãos por meu nariz, limpando o resto do fluido que sai e digo:

— Eu não posso acreditar no que ele fez. – soluço um pouco. – Eu o amava... fiz de tudo para ele. O que eu fiz de errado, Ketty?

— Você não fez nada de errado, Ben. – diz ela, se levantando e parando em minha frente.

Ketty pega minhas mãos e as aperta contra as suas.

— Você é maravilhoso, Hernandez. É bonito, inteligente e é a pessoa mais bondosa que eu posso conhecer nessa vida. O culpado de tudo foi ele. Ele é o escroto de tudo, e se aproveitou de você e da sua bondade.

Eu tento parar de chorar, mas não consigo. Sinto uma dor muito forte no peito. Não consigo entender o motivo disso ter acontecido comigo... Eu o amo, fiquei com ele, cuidei dele e sempre fui fiel, nunca olhei para outra pessoa, pois só tinha olhos pra ele. Mesmo com Ketley aqui me confortando, não consigo parar de chorar. Acho que vou me afogar em minhas próprias lágrimas; meu peito dói de uma forma que eu queria poder arrancá-lo fora de meu corpo.

— Ben, você quer que eu durma aqui com você? – minha amiga pergunta, me olhando nos olhos.

Não consigo responder, só balanço a cabeça e assinto.

Ela então pega e se senta ao meu lado, me abraçando forte, me confortando em seu colo até me acalmar, para que assim possamos ir descansar daquele horrível dia.

Infelizmente, deitado em minha cama mais tarde, não consigo dormir. A cena de Léo avançando para cima de mim com o punho cerrado, com ódio no olhar, me perturba. O sentimento de dor de uma traição fica atormentando as mais profundas paranoias em minha mente, pensando em toda vez que provavelmente ele me mentiu.

Estou a beira da loucura. É então que entro em uma espécie de transe que minha própria mente cria. Levanto-me da cama e começo a andar em direção à saída de minha casa em plena madrugada. Ando firme, mas em um ritmo lento. Olho fixamente para frente.

Não consigo conter meus movimentos. Sinto-me preso em um mar negro, escuro e espesso de sentimentos dentro de minha cabeça, onde me afundo cada vez mais. Meu corpo não me obedece.

Apago por alguns segundos, fechando meus olhos. Quando os abro novamente, percebo que estou no terraço do meu prédio, bem em cima do parapeito.

Lá embaixo vejo um monte de gente, carros da polícia, caminhões dos bombeiros. Está chovendo forte e relampejando, estou encharcado dos pés à cabeça.

Ao fundo escuto o som das sirenes dos caminhões... Aquelas malditas sirenes... A luz dos giroscópios refletores dos carros da polícia brilham em uma rotação de azul e vermelho, iluminando toda a rua. São quase hipnóticas junto com os flashs de luzes brancas que os relâmpagos causam logo após o barulho estrondoso de um trovão.

Então entendo. Estou aqui para dar um fim àquela dor que não parece acabar. Um passo... só preciso de um passo.

Mas quando estou perto de concluir o movimento, um relâmpago acerta a torre de telefone que tem próximo ao meu prédio. Nesse momento consigo ouvir uma voz dentro de minha cabeça, que parece vinda do meu mais profundo subconsciente. Ela é grave e amedrontadora.

— VOCÊ NÃO VAI PULAR!!

Ao mesmo tempo, ouço a porta do terraço abrir violentamente. Giro e vejo Ketley correr e gritar meu nome. Com o susto que tomei com aquela voz misteriosa e do aparecimento de minha amiga, me desequilibro do parapeito e caio de 150 metros de altura, em queda livre.

Nesse momento, apenas fecho meus olhos e espero pelo impacto.


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