VINTE E CINCO

 Se eu estou morta para você, por que você está no velório?

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AVISO, GATILHOS: ESTE CAPÍTULO CONTERÁ CENAS COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

Aquilo estava acontecendo de novo, pensou atordoada, enquanto tentava se apoiar em algum lugar, sentindo que o mundo parecia despencar sobre os seus olhos, enquanto as poucas pessoas que passavam por aquela rua se comportavam como se nada estivesse acontecendo em seus mundos, como se a garota louca não estivesse gritando em desespero, e sem nenhum pudor em local público. Mas para Arabella pouco importava, pois na sua mente estava acontecendo um terremoto, e sua cabeça doía como se fosse na primeira vez, assim como de novo vozes ecoavam na sua mente. Ela apenas fechou os olhos, tentando reconhecer as vozes, e deixou seu corpo amo vilecer e cair sobre o chão.

Quando tornou a abrir os olhos, já não estava mais naquela rua. Ela estava estirada no chão, de bariga para baixo, enquanto sentia a grama verde pinicar sua pele, o dia lá era particularmente nublado e frio, e não parecia em nada com nenhum lugar de Nova York. Mesmo com um pouco de tontura, ela se esforçou e conseguiu se sentar, olhando o lugar a sua volta, ela estava em uma floresta. A garota respirou fundo, engolindo seco. Estava assustada demais.

—  Porquê eu estou aqui, se essa merda só funciona se eu pressionar a bússola? — perguntou-se a si mesma, confusa e se levantou, pensando que teria que explorar o lugar.

O medo de se perder era forte.

Mas aquele era um lugar silencioso, e quanto mais caminhava a procura de um motivo para estar ali, ela conseguia perceber que havia um conjunto pequeno de vozes se aproximando dela. Ficou com medo de ser obrigada a presenciar mais uma cena de assassinato, ou coisa parecisa, porquê só aquela que viveu na outra viagem foi protagonista de todos os seus pesadelos por dias. Mas quando viu, percebeu que estava em um cemitério. Uma brisa forte de frieza arrepiou o corpo de Arabella, que estava caminhando sem destino no momento em busca de um objetivo de porquê ela estava ali. Ela interrompeu seus passos quando viu duas pessoas, que fizeram seu coração pulsar dentro do seu peito.

Um senhor branco, de no minímo 70 e poucos anos consolava um jovem garoto pálido, e com rosto inchado de tanto chorar. Ele parecia tão vunerável, e ingênuo, uma alma que ainda não havia sido corrompida pelo tempo.

— Oh, Meu deus! Pai! — Arabella se obrigou a tapar sua boca com as mãos para abafar o som de sua voz.

Ela parou em frente á uma lápide aleatória e abraçou seu corpo com seus braços, tentando parecer despercebida. Mas era impossível evitar não olhar para eles. Phill estava na flor de sua idade, vestia um terno possivelmente caro, e seu cabelo liso escorrido não mudara nada conforme os anos. Mas seu semblante... Ele não era duro e frio como era acostumada a ver,  era um semblante jovem e com um certo brilho, que naquele dia cinzento, parecia estar se esvaindo de seus olhos castanhos.

— Phillip, agora você está sozinho. —  O tio idoso diz, pousando a mão no ombro do garoto de 17 anos. Phill olha para o velho, transtornado e se afasta abruptamente, parecendo respirar fundo em busca de fôlego.

— Como você pode ser tão frio? Minha mãe acabou de falecer! — o garoto protesta, enojado, enquanto seca os olhos marejados.

— São momentos como este, desproporcionais a realidade pueril da infância, que moldam o coração e a mente de um homem. Ou você acha que seu pai irá retornar da guerra? Você está sozinho, rapaz.

—  Bem... eu tenho você como parte da minha família, e tenho Cláire. Sua teoria é furada. — Phill discorda enfiando as mãos nos bolsos da calça, e o tio ri como se tivesse ouvido uma piada muito bem construída. — Porquê diabos isso é engraçado, você é louco?

— Eu não sou sua família, criança. Eu não tenho família e escolhi isso na mesma idade que você, estou lhe dando todo o meu apoio e quero que aprenda Phillip, sentimentos humanos empobrecem o homem, deixam ele burro. Se mantiver esse pensamento, você terá vida que está desejando agora, casar com a menina Cláire, construir uma família de margarina e achar que isso é tudo, mas não será o suficiente que seu intelecto merece. Se escolher essa vida como prioridade, não tera o progresso que deseja.

— Que velho amargurado.  — Arabella sussurrou, endossada pelo frio que estava fazendo lugar inteiramente verde e depressivo. Ela observou atentamente, o velho puxar seu pai para um abraço desajeitado, e se sentiu mal com a cena.

— Este será nosso último abraço. Sua juventude carregada de sensibilidade e música terminou aqui com essa lápide. Quero que me veja apenas como a pessoa que impulsionou o seu desejo pela Ciência e o Progresso. Não, o seu tio velho que lhe deu carinho e essas coisas sentimentais.

Phill assentiu, cabisbaixo e se soltou dos braços do tio. Seus olhos agora estavam se esfriando e Arabella notou que o olhar atual de seu pai era reflexo daquela manhã gelada e engoliu seco.

— Eu vou para o carro, tio. — O velho assentiu, observando o sobrinho sumir de vista, e depois virou-se, assustando Arya com o olhar repentino dele pairando sobre ela. Ele então, deixando ela ainda mais atônita, decidiu que andaria até ela.

Quando chegou, a menina sentiu que havia perdido toda a cor de sua pele de tão nervosa que estava, mas arranjou coragem para encará-lo.

— Você estava espiando minha conversa e se assustou com meu diálago com meu sobrinho, não é, garota? — ele foi direto na pergunta, fazendo ela engolir seco e abaixar sua cabeça, tentando recuperar o oxigênio que sentia que estava perdendo.

— Não —  respondeu, erguendo os olhos azuis para o velho. — Meu pai passou minha vida toda dizendo que sentimentos humanos expostos nos enfraquecem, nos deixa vulneráveis...  Não é a primeira vez que ouço isso. — e de repente, ela soltou uma risada de escárnio — e ele disse as mesmas palavras que você no funeral da minha mãe.

— Ele está seguindo o caminho certo, e deseja que você faça o mesmo. — a garota assentiu, encarando velho, pensando na ironia daquela pequena conversa, no fato de que o homem se referia ao seu pai, sem nem ao menos saber que estava elogiando o futuro de seu sobrinho.

—  Você... Seus olhos azuis, como é possível eu enxergar o mesmo abismo dos olhos de Phillip e o brilho dos olhos brilhantes de Cláire em você?

— Acho que a nossa conversa termina por aqui, senhor... — Arya disse tentando não perder a postura malditamente séria em frente ao parente.

Foram as últimas coisas que ela falou, no minuto seguinte ela saiu marchando para direção contrária do velho que percebendo que sobrava ali naquele jardim deserto virou-se e também foi embora.

Mais a frente, Arya estava correndo tão desesperadamente que não observou a grande pedro no seu caminho, e acabou tropeçando, perdendo totalmente a consciência pela batida forte que teve com a cabeça.

Quando abriu os olhos, ela respirou fundo, sentindo um aroma familiar e percebendo que não estava mais naquela floresta, mas sim deitada sobre piso extremamente limpo e polido de sua casa. Ela olhou para ele horrorizada, pois era o mesmo do escritório de seu pai. Que ano ela estava agora? A garota se sentia tão perdida, pois não imaginava que ela podia viajar aleatóriamente no tempo. Na verdade, ela nem queria ser a merecedora de todo esse... Como ela chamava isso? Dom, poder, habilidade? Arabella queria que tudo isso fosse uma grande piada, que essas viagens fossem apenas visões de algum alucinógeno louco que ela fumou. Ela sabia que poderia ter feito isso, era uma garota problemática e se metia com gente mais problemática ainda. Mas tudo que vivia era tão real, que a necessidade de negar que era uma verdadeira piada.

Quando percebeu, notou vozes novamente, e ela rapidamente se escondeu no pequeno espaço entre a prateleira dos livros do pai, igual fazia quando era criança e se escondia dele.
A sensação de estar naquele bequinho empoleirado foi nostálgica e desconfortável porquê ela cresceu.

As vozes eram de sua mãe e seu pai, e pelos rostos deles ela notou que isso não fazia muito tempo, mas manteve-se concentada, enquanto abraçava seus joelhos.

— Meu Deus! —  sua mãe gritou adentrando o escritório, ela vestia o jaleco de médico o quê indicava que ela havia terminado seu turno no hospital. Phill a seguiu, parecendo tão irritado quanto ela, enquanto mantia as mãos no bolso da calça. — Onde está Arabella, Phill!

Ele lançou um olhar demasiado irônico para e riu.

—  Talvez furtando alguma loja como a coisa problemática que ela é.

Arya arregalou os olhos, com a afirmativa inesperada do pai. Ele sabia... Mas como? Meu Deus ela era tão óbvia assim?

— Cale a boca! Nossa filha é um tanto problemática, mas não exagere no máximo ela só está com um garoto, ou fumando alguma erva....

A menina suspirou, Cláire podia viajar no tempo! A possibilidade de ver o futuro estava na palma das mãos dela, e ela preferia ignorar a verdade bem na cara dela. Seu desgraçado pai no final tinha mais razão do que ela.

—  Você é tão cega! Não percebe o pessoal que ela anda, aquele tal de Brad com aquela cara de sempre estar brisando, ou os milhões de caras que ela se envolveu que até ficha na polícia tinham? Ela é um problema.

Arya engoliu seco.

Ela precisou justificar para si mesma que os caras com fichas criminais que se envolvia eram somente garotos que foram pegos apostando rachas ou pichavam locais públicos, nunca se envolveu com um assassino ou pessoa semelhante nos crimes. Ela tinha seus limites.

— Cega? —  a voz de Cláire subiu um tom —  Eu? Seu filho da puta, eu não sou cega porra nenhuma-

— Eu já falei que odeio palavrões, Cláire. — Phill a cortou alterando sua voz, enquanto massageava suas têmporas. Arabellla notou a mãe ficar vermelha, aquilo com certeza indicava que ela estava possessa!

— Você é tão hipócrita, odeia palavrões... Mas está criando uma máquina de guerra, trocando vidas por dinheiro! — gritou a mulher, ficando bem próxima do marido — Uma máquina de guerra, Phillip... Tudo porquê o seu Progresso fala mais alto, e em pensar que o próposito antigamente era baseado na sua mãe, que morreu de câncer. Mas você mudou, mudou tanto que me enoja.

— Está sendo cega de novo, eu vou salvar o mundo. — foi tudo o que disse e Cláire arregalou os olhos, pondo as mãos no peito.

— Seu assassino! —  gritou — Assassino, eu, eu.... preciso inpedir que isso-

O momento foi rápido e abrupto, Phill agarrou o pescoço fino da esposa e arrastou seu corpo contra a parede, o silêncio aterrorizante passou a reinar ali.

— Se divulgar qualquer coisa, será um ato falho. Estou sendo financiado e o governa deseja isso.

— Criminoso! — Cláire mal sabia qual efeito aquela palavra aparentemente simples causaria, só descobriu quando recebeu o primeiro tapa e alto som de estalo — Você é um tremendo filho da puta! — ela vociferou o palavrão e Phill esbofeteou ela novamente. —  Eu te odeio, Phill! Eu te odeio, se eu pudesse voltaria no tempo e NUNCA teria me permitido casar com você! Olha, o quê você está fazendo comigo! — e aquele seu último tapa, o mais forte de todos, que causou um pequeno sangramento no nariz dela.

Arabella respirou fundo, ela estava vivendo tudo aquilo, e seu coração estava doendo demais. Ela não queria ter visto nada, mas a impulsividade que tinha a obrigou assistir tudo, ela engoliu seco ouvindo cada estalo forte da mão de seu pai, e sentiu que sua respiração estava falhando, ela se agarrou na bússola, fechando os olhos marejados dela e a última coisa que soltou foi um suspiro abafado.

— Arya! Desperta por favor, ou vou ser obrigado a te levar em uma emergência... — uma voz conhecida chamava por ela, o tom dela era carregado de desespero. — Arabella! — ela gritou outra vez, balançando seu corpo suado.

— AH... Homem Aranha, eu sabia que te reencontraria! — A garota sorriu debilmente ainda de olhos fechados, acreditando que só poderia estar vivendo um sonho. Enquanto sentia dedos cálidos e quentes encostarem na sua pele suada.

A voz terrivelmente conhecida riu.

— Arya, eu acho que você está delirando... é o Peter Parker que está com você.

De imediato ela abriu os olhos, e Peter percebendo o gesto carinhoso que ele fazia de tocar seu rosto afastou a mão abruptamente. Ele não era o Homem Aranha para ela e sim o velho Peter Parker....

— Eu sei que parece estranho, mas que dia e ano eu estou?

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Se souber, ou estiver vivendo algum caso de violência doméstica, por favor digite 180.

VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA!


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música citada no capítulo; my tears ricochet, taylor swift.

desculpe capítulo maior do que o esperado e houve pouco de Peter nele.

E um pequeno aviso, NÃO SINTAM PENA DE PHILL. Ele teve a escolha de ser quem é, o tio não o obrigou a ser quem ele é atualmente, nem a fazer o que fez a mulher dele. Tudo isso é responsabilidade dele. e não são apenas erros, o que ele fez é crime. mais uma vez disque 180!! vc não está sozinha.

Quando erramos, nossos erros não podem ser justificados por terceiros, é nossa culpa, nossa responsabilidade. Somos nós que decidimos se vamos machucar aquela pessoa ou não, e não há ninguém que seja culpado disso além de nós.

Acho que se vivemos com alguém que odiamos, a nossa escolha é, nunca se igualar a essa pessoa.

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