QUARENTA E UM
E quando os policiais fecharam o parque de diversões
Eu cortei meu longo cacabelo de bebê
Roubei um mapa de orelhas dobradas
E chamei por você em todos os lugares
Eu achei você?
— Quem é você, caralho! — Dessa vez o pequeno Peter se irritou, alterando sua voz.
Ele olhou a sua volta, e notou que havia passado por tanta adrenalina, que não percebeu que já não estavam mais em pedaços de um barco. Estavam em terra. Haviam milhares de pessoas observando os dois rapazes, e também fotógrafos.
— Como você conseguiu copiar minhas teias, seu projeto de farsante! Que deu... certo — houve desgosto na voz do menino, ele estava com raiva. Muita raiva.
O rapaz mais alto apenas mexeu a cabeça, e mais uma vez Peter não sabia decifrar suas expreessões, e isso o irritou mais. Ele até refletiu o quão insuportável deveria ser para as pessoas interagirem com ele, mas ignorou o pensamento que não tinha utilidade nenhuma no momento.
— Farsante? — o homem riu. Era uma risada infantil, jovial. Peter estava ficando desconfortável com tanta similaridades entre os dois. — Porquê eu precisaria fingir ser eu mesmo? Isso parece tão estúpido — gargalhou, postando uma das mãos sobre um dos ombros de Parker. — Essas teias aqui — ele apontou, usando a outra mão para o dispositivo no pulso — Eu projetei quando era adolescente cara. E droga, você é muito ingrato. Eu te salvei duas vezes. Ajudei o povo que estava quase afogando junto com o pedaço daquela barca, e salvei você.
Peter Parker sentiu a respiração pesar, e seu alfabeto tão completo sumiu completamente. Ele nervosamente olhou para as próprias mãos, e viu o sangue fresco manchando a cor preta do seu uniforme, e sabia exatamente o que havia acontecido. Ele cedeu ao simbionte que queimava por liberdade dentro de si.
Então, simplesmente ergueu seus olhos, sentindo o sol bater sobre os dois, e percebeu o quão simbólico o brilho dele podia realçar a cor vermelha do uniforme daquele cara. Aquele cara... Ele parecia exatamente o herói que Peter deveria ser.
— Nós precisamos sair daqui, parceiro. — ele puxou o menino pelos ombros — Use as teias, porquê nós vamos fugir. Consigo ouvir o som da polícia de longe.
— Ok. — Respondeu Parker, concordando em fazer parte da fuga. Ele ergueu suas mãos, exatamente do mesmo jeito que o seu... sósia, ou sei lá, o quê era, e literalmente voaram logo em seguida. —Para onde vamos?
— Fica tranquilo, garoto. Se essa cidade continuar a mesma, eu conheço um lugar bem seguro para nós dois.
Ele estava certo.
Era um terreno baldio.
— Como você tá' cara? — o rapaz alto questionou, retirando sua máscara. Peter observou atentamente ao ato, e se surpreendeu. Esperava ver seu rosto, mas se deparou com um diferente. Menos bochechas, nenhuma sarda, e lábios levemente fartos, esse cara não tinha nada a ver com ele.
O rapaz mais velho, que estava sendo minuciosamente observado por Peter Parker, parecia não se importar muito com os olhos arregalados do menino, seu nariz escorrendo sangue incomodava mais. Coisa que ele imediatamente fez desaparecer, limpando com as costas de uma de suas mãos.
— Quem é você? — Peter questionou novamente, sentando em algum pedaço dos destroços que haviam espalhados naquele lugar. Se parecia com um banco.
— Olha, eu estou começando a achar que essa coisa dentro de você está te deixando biruta. — comentou o aracnídeo mais velho, sentando-se ao seu lado, enquanto erguia seu rosto para o alto. Como era um lugar aos pedaços, ele conseguia ver um vislumbre do céu, e isso o acalmava. Ele teve uma longa viagem, e muita dor acompanhando ele no caminho. — Se quer saber logo de uma vez por todas, eu não sou uma versão sua de dez anos no futuro okay? Isso aqui não é Back to the Future.
— Poxa, então eu vou ter superar o fato de que não vou crescer mais? — respondeu o Peter, no mesmo tom de deboche que o outro. — eu juro a ideia de uma versão mais velha minha nem passou pela minha cabeça!
Passou sim!
Minutos antes dele ter o vislumbre completo do rosto do herói de outra realidade, percebendo que não era ele. Porém, o garoto não admitiria nunca essa estupidez.
— Como veio parar aqui?
A sua outra versão respondeu, apontando para seu pescoço, segurando o medalhão que ele tinha preso ali. Peter Parker decidiu olhar mais de perto, percebendo que era uma bússola. Semelhante demais a que sua namorada carregava para todo lado.
Primeiro o detalhe do nariz, e agora uma bússola. Ele não conseguia esconder seu choque, assim como não entendia porra nenhuma do que estava acontecendo ali. Mas sentia que esses dois detalhes se emaranhavam de alguma maneira. Não era possível tanta semelhança ser apenas coincidência.
Phill Green estava em seu escritório, localizado em uma das locações de seu instituto. — Para ser mais específico, este não era o mesmo que foi queimado. — Ele estava muito contente com o resultado de sua participação ao vivo no programa da manhã, aquilo definitivamente desenvolveria muito mais seu plano de incriminar a cabeça do Homem Aranha. Ele ria, com muita satisfação, de como sua filha foi burra, ao se envolver com o herói, pois o relacionamento ajudou muito com a queda abrupta do rapaz. Para ele, ela literalmente foi vilã e amante ao mesmo sem se dar conta, e sem querer também, deu suporte a ele, coisa que em hipótese nenhuma ela faria, se fosse questionada.
— Senhor... Eu lamento, interromper seu tempo, mas coisas ruins estão acontecendo.
A sua secretária, apareceu. Ele não conseguia deixar de notar o quanto ela parecia nervosa.
— Diga, logo Marjorie.
Ela ergueu seu Ipad, obedecendo sua ordem, mostrando várias imagens de pessoas fugindo, desesperadas e com depoimentos delas nos jornais.
Ele estava ferrado.
— Obrigada por avisar, Marjorie. Pode se retirar. — ele disse, trancando a mandíbula.
Phill sentia que a qualquer momento, poderia explodir. Mas houve uma lição que seu tio lhe ensinou nos seus tenros dezessete anos; que era guardar sentimentos como esses, porquê de acordo com o velho, expôr eles; sua fraqueza, deixam o homem fraco. E assim ele aguentou, até se sentir melhor. Ele recordou de que, esse era o projeto de sua vida. E que estudou muito para que ele desse certo.
A sua teoria era de que o corpo humano tinha o dom de criar tudo que precisa para funcionar. Isso significa; combater qualquer doença. Principalmente o câncer, doença que lhe arrancou sua mãe ainda jovem. O cientista também percebeu que a tal cura, podia tornar a pessoa uma espécie de máquina de guerra, ele viu então a chance de que poderia se aproveitar muito desse detalhe, e lucrar com o exército americano. Eles venceriam guerras e não morreriam tragicamente como seu pai. Era como matar dois coelhos numa cajadada só. Ele só não contava com o Homem Aranha — que para ele era apenas um acidente da Oscorp — roubando seu projeto e tornando-o dele. Phill sentia que além de usar o menino como uma cabeça para culpar por um crime seu, ele também tinha que trabalhar numa vingança, ou simplesmente devolvê-lo...
ao dono.
— Marjorie — ele chamou, usando o telefone de sua mesa. — Avise que hoje é minha folga.
De qualquer maneira, mesmo seu dia recebendo um gosto agridoce, ele iria para sua mansão e simplesmente relaxaria, desfrutando de todos os seus privilégios de um homem rico.
Phill só não esperava a visita inesperada de sua filha em seu escritório.
— Esse objeto pertencia a Gwen. — Peter Parker começou a contar, e parecia impossível não notar o sorriso significativo desenhando-se nos seus lábios. — Ela própria montou essa bússola, com alguns destroços alienígenas que encontrou no laboratório Oscorp. Ela me explicou que podia viajar no tempo com eles, e eu sou um nerd, mas não um louco e duvidei dela, mas nunca questionei suas ideias, porquê eu sabia o quão inteligente ela era, e bem... eu lutei com um lagarto gigante, e outros vilões completamente malucos, não estava em posição alguma de questionar mesmo. E então Gwen me explicou um conceito, que eu conhecia também, porquê...
— Somos-você é um nerd — O Peter mais jovem completou, praticamente se atrapalhando na sua própria confusão.
—Isso! — O outro riu um pouquinho, parecendo emocionado — Ela era apaixonada por multiversos... Realidades diferentes, onde nossas histórias seriam escritas de outro jeito. Ela sempre tirava um tempo só para conversar sobre isso comigo, chegava a ser irritante... E bem, eu pensei que eu a encontraria.... em outra realidade. — Peter notou que a voz do outro começou a embargar. — E achei. Mas, eu entendi algo muito doloroso. Uma delas que me contou: "Em qualquer universo, Gwen Stacy se apaixona por Spiderman.... e todos esses universos ela nunca termina bem.” Aí, eu também notei que eu nunca acharia a minha Gwen, e poderia estragar tudo, eu só... queria fazer uma coisa meio religiosa e reencontrá-la de novo, mas ela... ela não existe mais. Acho que tô meio que desperdiçando tempo.
Peter se aproximou mais de sua variante, versão, ou seja lá como ele deveria nomeá-lo, percebendo que ele precisava de uma espécie de apoio, alguém para tocar seu ombro, ou simplesmente se atrever a abraçá-lo. Contudo, ele preferiu apenas tocar seu ombro. Abraçar uma versão de si mesmo parecia intimidante demais, principalmente num momento como aquele.
— Ela era... sua namorada ou...esposa? — o moreno olhou para Parker, suas íris estavam profundas demais naquele momento, o menino sentiu que foi o resultado da pergunta.
— Ela era o amor da minha vida. Achei que superaria com outra garota, mas eu não consigo. Então, eu lembrei de sua paixão por multiversos e pensei que poderia encontrá-la, e eu poderia vê-la pelo menos mais uma vez... só mais uma. Mas até agora, nada. Pelo menos, algo eu fiz. Salvei pessoas, salvei você... — ele virou especialmente seu rosto fino para Parker — Conhece alguma Gwen Stacy... Ou vocês...
Peter Parker negou com sua cabeça ao rapaz, e depois abaixou seus olhos.
— Eu nunca conheci alguém com esse nome. Como ela era?
O Aranha mais velho sorriu como uma criança ao escutar essa pergunta.
— Cabelos loiros, quase brancos, olhos azuis cintilantes, que se permitir brilhavam mais que o sol, e um sorriso estonteante. Se você sentisse o sorriso dela, o mundo parecia se tornar bom, sabe? É meio brega dizer isso, mas... Era o quê eu sentia. Lembro de fotografar ela tantas vezes, e sempre fazer questão de destacar seu sorriso... — o homem suspirou, e uma lágrima solitária escapuliu de seus olhos acastanhados, mas logo em seguida, sentiu o braço do garoto envolvendo-o, enquanto dava batidinhas nas suas costas.
—Se eu encontrá-la algum dia, farei questão de observar isso.
Houve então, um breve silêncio entre os dois. Talvez fosse pela melancolia que a variante de Parker trouxera nas suas palavras, contando sobre a mulher de sua vida. Quando Peter escutou elas, sentiu um aperto no peito, no fundo ele compreendeu tudo. Ele olhava para a maluca de sua namorada e sentia a mesma coisa, ele amava seus olhos, sua impulsividade... Ele só não gostava da instabilidade do relacionamento do dois, parecia que a qualquer momento, eles se perderiam, e poderia ser para sempre, e isso lhe doía muito. Ele nunca amou alguém assim antes, sabendo que isso não seria suficiente para manter a chama deles viva. Ele sentia que ela poderia se tornar uma fina faísca a qualquer minuto.
— Como se meteu nessa furada? Eu vi nos jornais — o homem mais velho, apontou seu celular. Peter riu baixinho, constrangido.
— Minha namorada. — ele olhou para o rapaz igual uma criança pega no flagra quando faz besteira. O Peter Parker de outra realidade pediu que ele continuasse a contar, pois queria conversar com o garoto, sentia que de algum jeito, deveria apoiá-lo. — Eu primeiro conheci sua mãe, uma mulher que era uma médica conceituada. Ela salvou minha vida literalmente, uma vez. Mas... ela morreu. — Pete fez uma pausa, engolindo seco, numa tentativa de digerir o luto que ele nunca conseguiu viver por culpa de tanto estresse. — Depois disso, a minha namorada se revoltou contra mim, a gente ainda não era íntimo, mas nos conhecíamos, sabe? Eu costumava pegar ela em flagrante, vandalizando locais públicos como toda filha rica rebelde. Então, quando ela percebeu que eu não era o culpado de nada, mas sim outra pessoa, ela se apoiou em mim e tentou consertar a besteira que fez. A gente era uma espécie de amigo antes, ela me provocava e eu gostava, mas a morte havia destruído nossa coisa... Então, de repente eu estava beijando ela... Me esquecendo de que seu pai me odiava e faria de tudo para acabar com minha reputação, e cá estou eu, ferrado.
— Uou, isso é... muito específico. Leciono em um colégio, e ouço garotinhas chamando isso que vocês tem de inimigos para o amor. Mas, nossa...
— É, nossa... — concordou o adolescente, tristemente. Logo depois, decidindo que mudaria de assunto— Como sabe que tem uma coisa dentro de mim? E nem adianta fugir do assunto, porquê eu escutei. Tenho ouvidos apurados, tipo eu sou o Homem Aranha, cara.
O cara mais velho revirou os olhos.
— Isso é uma ameaça? Porquê eu também sou, Pete, e já vivi a mesma merda que você. O simbionte está aí dentro de seu corpo, e ele está cada dia mais forte, certo?— o garoto arregalou os olhos, com a facilidade que o outro tinha em falar sobre o assunto. — Se não descobriu ainda, ele tem um ponto fraco. Sons e fogo. Você não observou o quão enfraquecido você ficou quando Mysterio anunciou as bombas? Era ele amendontrado, não sentiu a voz dele?
Peter assentiu, recordando-se do que não queria admitir sequer em pensamento.. Ele ouvia uma voz. Uma voz que não pertencia a ele sempre gritando em sua cabeça. Ele se deu conta de que era o parasita novamente na sua cabeça, e que não percebeu na hora devido a adrenalina, ou na verdade ele simplesmente aceitou que seu consciente falava demais com ele.
— Eu preciso ir a Igreja, então. — Peter se pôs de pé, rapidamente. O rapaz mais velho, arregalou os olhos. — Os sinos cara...
— Não foi assim que eu fiz, mas tudo bem. Rezar sempre acalma... — O homem aranha mais riu com a ironia— Ir na Igreja sempre é bom para afastar nossos maiores demônios— Mas quando o garoto já ia lhe dando as costas, a versão mais velha de Peter Parker, o impediu com as próprias teias. — Eu já lutei com caras como o pai de sua namorada, e já saquei tudo enquanto lia as notícias sobre ele e você, é cristalino. Ele matou a própria esposa, e está te usando, e também assustando você. Mas Pete, você tem que ter em mente que você é diferente dele, e de qualquer um. Você é especial. Um simples soco, e ele morreria na hora. É claro que você não vai se igualar aos ideais dele, mas você sabe que pode pegá-lo. Não seja esse menininho assustado, ouça sua própria responsabilidade.
Peter acenou, concordando com o quê aquele cara tinha a falar para ele. O Homem Aranha não seria mais um menininho assustado.
Mas antes, ele precisaria passar na igreja.
O processo que ele foi obrigado a passar na catedral, era.... aterrorizante. Doloroso. Ele sentia um parasita lutando insistentemente para não se separar de seu corpo, e isso só fazia ele gritar alto.
“Você está me abandonando! Rejeitando! Tenho certeza de que uma hora ou outra, você vai sentir a minha falta.”
Os sinos continuavam a tocar, enquanto ele lutava bravamente como se estivesse em uma guerra contra ele mesmo. Mas Parker continuava tentando, e fazer isso só resultava em deixar ele mais fraco, sua voz estava começando arranhar de tanto gritar, e seu corpo parecia se desfalecer. Mas se estava sentindo fraqueza, era bom, significava que estava dando certo! Então, quando ele não aguentou mais e caiu no chão, ofegando, procurou por sinais, ele sorriu levemente.
Eu tô livre.
notas: data do capítulo: 19 de agosto de 2021.
Se vamos ter aranhaverso? Ninguém sabe! Mas eu acredito fielmente que vai acontecer. De qualquer, eu mesma me encarreguei de trazer ele pra vocês.
foi muito difícil escrever dois parkers pq eu tinha que ficar especificando toda hora que um era mais velho, e outro não... e não correr o risco de repetir o nome deles toda hora. espero que tenha ficado bom.
música citada: Flightless Bird, American Mouth
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