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MARGOT ELKANN

China grand prix, 21/03/2025

Eu caminho pelo corredor do hotel com passos arrastados, sentindo a ansiedade me consumir cada vez mais. Cada passo até a porta do quarto parece um convite para voltar atrás, mas eu sei que não posso. Assinei aquele contrato, coloquei meu nome em algo que não acredito, e agora estou prestes a conhecer meu “namorado”.

Paro em frente à porta, ajeito a alça da bolsa no ombro e respiro fundo antes de bater duas vezes. Não passa nem um segundo antes de ouvir um latido do outro lado, seguido por passos apressados.

A porta se abre, e lá está ele. Charles Leclerc. Alto, o cabelo um pouco bagunçado e com uma camiseta da Ferrari.

- Oi. — Ele diz, a voz um pouco baixa, me dando espaço para entrar. - Margot, não é?

- Sim. — Respondo, tentando não soar tão insegura quanto estou. - E você é... Charles?

Ele dá um sorriso forçado, o tipo de sorriso que parece mais transparecer mais desconforto do que nervosismo. O silêncio entre nós é quase insuportável, mas então algo pequeno e rápido corre para os meus pés.

- Ah, esse é o Leo. — Charles diz apontando para meus pé. - Ele ainda não dormiu, então está bastante agitado.

Olho para baixo e vejo um pequeno cachorro salsicha, com olhos tão brilhantes que é impossível não sorrir. Ele balança o rabo freneticamente e dá um pulo desajeitado contra a minha perna, como se estivesse pedindo atenção.

- Oi, Leo. — Digo, me agachando para acariciá-lo. Ele imediatamente começa a lamber minha mão, arrancando uma risada baixa de mim.

- Acho que ele gostou de você. — Charles comenta observando o cachorrinho.

Nossos olhares se encontram por um instante. Os olhos dele são incrivelmente claros, em um tom de verde quase que puxado para o acinzentado.

- Desculpe por essa... situação — Ele diz, passando a mão pelo cabelo de forma nervosa.

- Não foi você quem me obrigou a isso, foi? — respondo, tentando manter a voz controlada.

A mágoa que sinto não é culpa dele, mas é difícil separar as coisas. Estava com raiva do meu pai e dele também por ter concordado com tudo isso.

Charles não responde, apenas desvia o olhar para Leo, que agora fareja o carpete ao lado da cama.
Observei o piloto se sentar na poltrona próxima à janela. Ele abre a boca e fecha em seguida. Parece querer dizer algo, mas hesita.

- Não pense que eu estou feliz com isso. — Ele falou de forma um pouco rispida e Leo correu até ele. - Estou odiando toda essa situação tanto quanto você.

Fico surpresa com a sinceridade de Charles, mas ao mesmo tempo, isso só aumenta o peso que sinto no peito. Ele acaricia Leo distraidamente, como se buscasse conforto no cachorro, enquanto eu continuo parada no meio do quarto, tentando decidir o que dizer.

- Não precisa deixar isso tão óbvio... — Retruco, a voz carregada de sarcasmo.

Cruzo os braços e encaro ele, mas Charles apenas ergue uma sobrancelha, claramente cansado da situação.

- Só estou deixando claro que assim como para você, para mim também se trata de uma obrigação. — Ele diz em um suspiro, sem me olhar.

- Uma obrigação que você aceitou. — Rebato, sentindo minha própria raiva ferver. - Então, não finja que é tão diferente de mim. Você também assinou esse contrato.

Dessa vez, ele me olha, parecendo irritado.

- Você acha que foi fácil para mim? — Ele pergunta, a voz um pouco mais alta. - Caso você esteja esquecida, o seu pai é presidente da ferrari.

- Eu sei quem é o meu pai. — Retruquei de volta e neguei com a cabeça.

Charles solta uma risada baixa, sem humor, enquanto passa a mão pelo cabelo novamente, agora visivelmente mais irritado. Ele parece lutar para se conter, mas, quando fala novamente, há uma firmeza em sua voz que não estava ali antes.

- Ótimo, então talvez você também saiba que ele não é exatamente o tipo de pessoa que aceita um “não” como resposta. — Ele falou negando com a cabeça. - Lide com a situação.

Aquelas palavras me atingem como um soco no estômago. Não porque ele esteja errado, mas porque é exatamente o que eu mesma estava tentando ignorar desde que esse acordo absurdo foi apresentado.

Abro a boca para responder, mas nenhum som sai. O silêncio que se instala entre nós é pesado desconfortável.

Charles solta um suspiro e caminha até a janela, olhando para fora enquanto Leo segue atrás dele. O cachorrinho parecia o seguir para todos os lados.

Passei as mãos por meus fios de cabelo e caminhei em direção a saída do quarto. Não tínhamos mais o que conversar e o clima estava claramente tenso.

E a partir de amanhã iria piorar.

Teria uma reunião com a equipe de relações públicas para discutirmos como eu deveria me portar e coisas do tipo.

Enquanto eu caminhava de volta pelo corredor do hotel, as palavras de Charles ecoavam na minha cabeça. "Seu pai não aceita um 'não' como resposta." Óbvio que eu sabia disso, mas ouvir de outra pessoa, especialmente dele, fazia a verdade parecer ainda mais dura de ser encarada.

Joguei a bolsa em cima da cama assim que entrei no quarto e desabei no colchão. Soltei um suspiro alto, aquele típico de quem está tentando não gritar.

- Só mais um rostinho bonito. — Murmurei pra mim mesma, encarando o teto. Porque era isso que ele era.

Charles Leclerc podia até ter aquele rosto perfeito de comercial de perfume, mas no fim das contas, ele aparentemente não passa de mais um piloto arrogante.

Peguei meu celular para distrair a mente, mas assim que desbloqueei, lá estava ele na tela inicial das notificações: uma manchete de site de fofoca sobre como Charles era “o piloto mais promissor da Ferrari”. Revirei os olhos e joguei o celular para o lado.

Era isso que eu precisava aguentar pelos próximos meses?

A mídia, os fãs, todos alimentando o ego dele enquanto eu era obrigada a fingir que estava completamente encantada pelo cara?

Suspirei novamente e fechei os olhos, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Amanhã ia ser pior. A tal reunião com a equipe de relações públicas seria o início oficial dessa bagunça toda. Eles iam querer que eu fosse a “namorada perfeita”, cheia de sorrisos e apoio.

[...]

oi oi oi !!! nos próximos mais capítulos vão ter mais interações kkkk quem lê o que eu posto já sabe que eu trabalho com detalhes e não pulo nada

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