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CHARLES LECLERC

Sento-me à mesa da sala de reuniões com um desconforto enorme que não consigo esconder. John Elkann está à minha frente, impecável em seu terno, com a postura de quem sempre consegue o que quer. Ao lado dele, Nicolas, meu empresário, mexe no celular, provavelmente verificando minha agenda ou algum novo contrato que eu precisarei revisar mais tarde.

Eu já sabia que o assunto seria complicado, Nicolas já tinha falado comigo sobre isso no dia anterior.

- Vamos direto ao ponto, Charles — John começou, cruzando as mãos sobre a mesa. - Acredito que você já ouviu falar da minha filha, Margot.

- Sim, ouvi — respondi, seco. Não era exatamente difícil saber quem ela era. O sobrenome Elkann vinha com um peso que poucas pessoas no mundo podiam ignorar.

- Margot está iniciando sua carreira como modelo. É uma indústria difícil, e ela precisa de um empurrão inicial para se destacar — continuou ele, sem rodeios.

- E o que isso tem a ver comigo? — perguntei, já prevendo a resposta, mas querendo ouvi-la mesmo assim.

John se inclinou levemente para frente.

- A Ferrari é uma marca global, assim como você. Sua imagem é forte, sua base de fãs é enorme. Margot precisa desse tipo de exposição para alavancar sua carreira. — Ele falou enquanto gesticulava.

Eu estreitei os olhos, sentindo o desconforto crescer no peito.

- Está sugerindo que eu use minha imagem para promover a sua filha? — Vim a perguntar de uma só vez.

- Acredito que esse acordo pode ser vantajoso para ambos — Começa John, com aquele tom autoritário e direto que sempre usa.

"Vantajoso" não parece exatamente a palavra certa. Um contrato de namoro falso? Fingir um relacionamento com Margot Elkann, uma garota de vinte anos que mal conheço? O desconforto só aumenta.

- Não sei se isso é realmente necessário — Digo cruzando os braços. - Minha carreira está indo bem. Não preciso de uma jogada de marketing para continuar atraindo patrocinadores e contratos comerciais.

John arqueia uma sobrancelha, como se eu tivesse acabado de dizer algo absurdamente ingênuo.

- Charles, não se trata apenas da sua carreira. Isso beneficia a Ferrari como um todo. Você é o rosto da equipe, a estrela. Qualquer movimento seu gera atenção, e queremos aproveitar isso. Além disso, minha filha precisa de um empurrão inicial na carreira dela. — Ele explicou de novo. - Apesar do sobrenome ainda é difícil consolidar algo na indústria da moda.

Já sabia bem onde ele estava querendo chegar e honestamente, detestava a ideia.

- Estou propondo um contrato. Você e Margot fingirão ser um casal para a mídia. Será algo benéfico para ambos, como eu já disse e como Nicolas também já conversou com você. — Ele tornou a falar.

- John, com todo respeito, isso parece um pouco extremo... — Resmunguei não escondendo meu descontentamentos.

- Não é extremo, é estratégico — rebateu John. - Margot terá a visibilidade que precisa para se firmar no mundo da moda, e você, Charles, se beneficiará ainda mais. O público adora um casal. Isso atrai patrocinadores, contratos maiores...

Dei uma risada sem graça e forçada. .

- E o que Margot acha isso? — Perguntei e o olhar de John endureceu, mas sua expressão permaneceu controlada.

- Não importa o que ela acha. Ela é jovem, tem 20 anos, e não entende a importância dessas oportunidades. Meu papel como pai é garantir que ela tenha sucesso. — Ele rapidamente falou.

Senti um aperto no estômago. Algo nessa frase me incomodou profundamente.

- Então, ela não concordou? — Perguntei ao ligar os pontos.

- Não é questão de concordar ou não — ele respondeu, direto. - É uma decisão necessária. Margot sabe o que está em jogo.

- Isso soa como uma imposição — Falei negando com a cabeça. - E, sinceramente, eu não me sinto confortável com isso.

- Charles, pense no seu futuro também — John disse, como se não tivesse ouvido minha objeção. - Você é a estrela da Ferrari, mas um piloto precisa mais do que talento para se manter no topo. Precisa de influência, de uma imagem sólida. E isso é exatamente o que essa parceria vai oferecer.

Essa resposta não me satisfaz. Na verdade, me irrita.

- Ela tem apenas vinte anos. Não acha que está colocando muita pressão nela? — Perguntei enquanto o encarava.

Ele solta uma risada curta, quase que debochada.

- Margot é uma Elkann, Charles. Ela nasceu para lidar com pressão. Se eu não interferir agora, ela nunca será bem-sucedida nesse mundo. — Ele argumentou de novo.

Abro a boca para responder, mas John levanta uma mão, me interrompendo.

- Você sabe como as coisas funcionam. Você também enfrentou pressão no início da sua carreira. Agora, olhe para você. Margot precisa de uma oportunidade, e você será essa oportunidade. — Elkann falou quase que de forma decisiva.

Me encosto na cadeira, sentindo a tensão crescer. Eu já fiz muitos sacrifícios pela minha carreira, mas isso? Fingir estar apaixonado por alguém por causa de um contrato? Não é algo que eu esperava quando assinei com a Ferrari.

Dessa vez olho para Nicolas, esperando que ele diga algo. Ele apenas me encara, como se tentasse medir minha reação antes de interferir. Ótimo.

- Nicolas, o que você acha disso? — pergunto, tentando puxá-lo para a conversa que não parece ter fim. Não queria se envolver.

Ele suspira, colocando o celular de lado.

- É complicado, Charles. Marketing é parte do jogo. Você sabe disso. E, honestamente, pode ser bom para sua imagem. Todos adoram um "casal perfeito". — Reviro os olhos. É claro que ele diria isso.

- E se eu recusar? — Pergunto, desafiando John com o olhar. - Minha carreira já é sólida o suficiente.

O presidente sorri, mas não é um sorriso amistoso.

- Bem, você é livre para tomar sua decisão, Charles. Mas lembre-se de que estamos falando sobre a Ferrari, a equipe que apostou em você desde o começo. — Ele disse e negou com a cabeça.

É uma ameaça disfarçada de escolha. Estou acostumado com isso. Respiro fundo, olhando para o contrato na mesa. A assinatura de John já está lá, impecável, como sempre.

- Pense nisso, Charles. Não estou pedindo que você se case com minha filha, apenas que interprete o papel de namorado dela por alguns meses. Um favor para ela, para mim, e claro, para a Ferrari. — Completei mais uma vez.

Um favor. É assim que ele chama isso. Olho novamente para Nicolas, mas não encontro apoio. Parece que estou sozinho nessa decisão.

- E a Margot? Ela tem algo a dizer sobre isso? — pergunto mais uma vez, só para ouvir John repetir com firmeza.

- Margot fará o que for necessário para ser bem-sucedida. — Ele disse abrindo um sorriso. - Gostaria que passassem alguns dias juntos para se familiarizarem um com o outro.

Pressiono os lábios, resistindo à vontade de dizer algo que provavelmente me colocaria em problemas. Assim como eu, Margot merece mais do que ser tratada como uma peça no jogo do pai.

- Vou pensar — digo finalmente, empurrando o contrato de volta para o centro da mesa.

- Como presidente da Ferrari, eu espero colaboração vinda de você.— Ele falou, dando um falso sorriso.

Fiquei em silêncio, a tensão na sala quase sufocante. Por mais que eu quisesse me afastar daquela ideia, sabia que John Elkann não era o tipo de homem que aceitava um "não" facilmente.

Me levantei de uma só vez e a medida que saio da sala, só consigo pensar na maldita confusão que estou prestes a me meter.

[...]

eita que os dois vão se matar

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