Capítulo 3

"Eu não tenho medo do amor. Eu tenho medo é de amar quem tem medo dele. Amar quem teme o amor é como se apaixonar por uma sucessão de desistências".

(Marla de Queiroz)

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"Sean McLean, você realmente vai fazer isso". – Ele falava consigo mesmo olhando-se no espelho do corredor. Sean estava tão absorto em seus pensamentos que não reparou no vulto da cadeira de rodas logo atrás dele, e pares de olhos curiosos observando cada gesto.

-- Então, - disse Trent limpando a garganta. – Você vai nessa festa mesmo? Acha que é uma boa ideia? – O mais jovem tinha um pouco de preocupação e divertimento na voz.

-- Porque não seria? Afinal, eu sou o companheiro do Alfa. Eu devo ir lá e fazer as honras da festa. – Um sorriso malvado estampou-se em seu rosto.

-- Sim, claro. O nascimento do filho mais novo do Alfa Ortiz é uma grande ocasião para a apresentação oficial de seu companheiro. – A gargalhada espalhou pela casa. – Vem, vamos tomar uma cerveja na cozinha. Vai ser bom não chegar na casa do meu pai totalmente sóbrio, de qualquer jeito.

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Sean já estava ali parado apertando o volante de seu carro fazia uns dez minutos. De repente, toda a coragem e despeito se desvaneceram. Porra. Ele não queria sentir o que sentia. Mas, agora ele tinha uma batalha para ganhar. Respirou fundo e saiu do carro.

Muitas pessoas espalhavam-se na varanda da frente. Pelo barulho da música e conversa a parte principal da festa estava acontecendo nos fundos. Sean foi abrindo caminho até a casa. Parou e falou com alguns colegas da oficina.

-- Ei, McLean, vejo que já está melhor. - Sean se virou em direção a voz e reconheceu um colega de trabalho. Ele customizava a pintura se não estava enganado.

-- Oi Sandro. Tô melhor sim, obrigado. – Que diabos ele estava falando?

-- Ortiz nos disse que você estava com uma virose. Duas semanas já. Deve ter sido uma puta virose. – Sandro deu aquele tapinha macho nas costas para solidarizar com o amigo.

-- É... já está na hora de eu voltar pro trabalho. Preciso pagar minhas contas, elas não querem saber se estou doente ou não. – Então era assim que Ortiz explicou sua ausência da oficina. Hahaha.

-- Quer que eu pegue uma cerveja? – Sandro era um cara alegre por natureza. Um dos mais jovens na oficina. Cada semana com uma nova namorada. Sean lembrava de ser assim também na sua idade. – "Meus Deuses, namoradas..." - ele nem lembrava mais quando foi a última vez que teve tesão numa mulher. Era como se sua vida toda ele tivesse Carlos Ortiz na mente. Seus dentes trincaram. O universo não era justo. Na verdade, o destino era um sádico filho da puta.

-- Tudo bem, cara. Eu mesmo pego. Valeu. – Assim ele poderia continuar sua caminhada para o núcleo da festa. Alguns lobos do círculo interno começaram a cochichar quando passava. Pegou uma cerveja na geladeira. Já estava na cozinha. Virou em direção à porta que dava acesso ao quintal quando foi barrado pelo beta. Como era mesmo o nome desse imbecil?

-- O que você está fazendo aqui? – A montanha de músculos mediu Sean de alto a baixo. Com um olhar de desprezo.

-- Vim prestigiar o nascimento de mais um filho do alfa Ortiz. E pelo que sei dos costumes da matilha, eu posso entrar e sair da casa principal quando e quanto eu quiser. – Foi a vez dele de medir o cara, mas no final deu aquela olhada de "beijinho do ombro".

-- Você acha que qualquer um de nós vai engolir essa merda de "Companheiro do Alfa" que inventou? – Sean percebeu outros dois lobos, grandes lobos com cara de maus, ladear o beta.

-- O seu Alfa não contestou o fato na outra noite. – Sua coragem desaparecia a cada nova montanha de músculos lupina que se empilhava ao redor deixando ele e o beta no meio.

-- Rafael, o que está acontecendo aqui?! – Ah! Aquela voz. Ela tinha uma ligação direta com o pau de Sean. Merda! Rafael olhou quase imediatamente. Bosta. Porque esses porras desses lobos podiam cheirar seu estado de ânimo antes mesmo de qualquer chance de autocontrole. Ortiz farejou o ar e também teve alguns olhares arregalados em sua direção. Mas... ele era o alfa e logo os olhares baixaram em submissão.

-- McLean, venha até meu escritório. – Sem dizer mais nada. Virou e saiu.

Rafael. Esse era o nome do imbecil. Deu um encontrão em seu ombro antes de sair – Isso não acabou aqui, Sean McLean. – Nossa. Essa frase clichê de filme sessão da tarde ruim fez Sean sorrir.

-- A qualquer hora, Rafael Hervaz. – Claro... ele teve que responder na mesma pegada brega.

**

Ele abriu a porta do escritório do alfa com cuidado. Só um abajur estava aceso deixando o resto do cômodo na penumbra. Carlos Ortiz estava lá... tomando alguma coisa alcoólica sentado no sofá de dois lugares de couro preto.

Ah! O cheiro que emanava dele deixou Sean tonto. Ele sabia que ia se ferrar. Que tinha algo errado ali e seu tiro de provocação tinha saído pela culatra. Mas, ele não pode se impedir de sentir o gosto daquele veneno.

-- Entre, McLean. Chegue mais perto. – Sua voz era rouca e sensual, atingindo as entranhas de Sean e o liquefazendo e aquecendo. Deixando um tesão difícil de esconder. Um sorriso apareceu no rosto do alfa, ele sabia o efeito que tinha no humano.

Sean McLean, o humano, fechou a porta atrás de si e andou até o sofá. Carlos Ortiz esticou o braço pegando a mão do homem na sua frente, acariciando os nós dos dedos, causando uma corrente elétrica que viajava sobre a pele de Sean acelerando sua respiração, deixando tudo intenso. O cheiro do couro e da madeira. O acre da bebida no copo deixado de lado na mesinha. A pele do seu companheiro. Ele inspirou profundamente, percebendo atônito que tinha levado o pulso de Ortiz até perto das narinas, sorvendo o perfume, o calor, tentando fundir a essência do lobo à sua própria.

O alfa puxou a mão de Sean como quem conduz uma dança. Trazendo o corpo para perto do seu, o sentando em seu colo. Com os joelhos no estofado e a bunda esfregando na ereção do shifter, Sean soltou a mão e acariciou o rosto moreno. Ah! Invés de alívio o que sentiu foi um desespero maior. E, sem medir as consequências atacou aqueles lábios cheios e tão beijáveis.

Ele pensou que seria rejeitado. Que no mínimo Carlos o empurraria para o chão e no máximo levaria um soco na cara. Foi uma surpresa, uma boa, que seu beijo foi retribuído com paixão. Ortiz o segurou pela nuca trazendo mais perto como se quisesse fundir os dois através da ligação dos lábios. Sean abraçava seu companheiro com o corpo inteiro. E de repente eles precisavam de contato. De pele com pele. Sem quebrar o beijo tentavam arrancar a camisa um do outro.

Peito com peito. Coração com coração. Seus sentidos estavam confusos. Sean não sabia mais qual pulsação estava sentindo. Era a sua? Que parecia um trem descarrilado. Um grito, seguido de um gemido saiu de seus lábios. Seu lobo cravava as garras nas suas costas o marcando, deixando claro que Sean pertencia a ele.

Por instinto ou por necessidade, Sean rebolava no colo do alfa. Mais contato. Mais...

As bocas se afastaram pela necessidade de recuperar o fôlego. McLean começou a distribuir beijos na mandíbula, pescoço, ombro. Ortiz deixou cair sua cabeça no encosto do sofá. Um gemido estrangulado, meio tesão, meio surpreso, ecoou da garganta do moreno ao ser mordido pelo humano.

-- Menino mau. – O alfa afastou Sean pelos ombros e em seguida segurou seu queixo bloqueando seus olhares. A escuridão profunda dos olhos do lobo sugava a alma de Sean. Ortiz lambeu seus lábios, a curva de sua mandíbula e num gesto natural, instintivo, Sean ofereceu seu pescoço. Um rosnado retumbou pela sala.

Gemidos se fizeram por toda a parte enquanto seu lobo o mordia. Não tão forte para romper a pele, mas o suficiente para deixar marcas roxas no dia seguinte.

Num estrondo o barulho da festa se fez mais alto e depois sumiu. O tempo congelou. O encanto se desvaneceu como as doze badaladas dos contos de fadas. O alfa estava com os dentes trincados numa raiva tão crua; um arrepio de medo subiu pela coluna de Sean. Ele tocou o rosto de seu companheiro. Ele não estava mais lá. Foi embora, e não sobrou nem o sapato para consolá-lo.

Sean sentiu seu corpo ser empurrado até que o choque de seus joelhos batendo no chão duro e percorrendo suas pernas, quadril e daí pelo corpo; o despertou da névoa de desejo onde estava vagando nos últimos minutos ou eras. Ele não saberia dizer com precisão. Observou com fascinação Ortiz abrir o zíper e puxar o pau livre a apontando para seu rosto. Deliberadamente lento, o moreno acariciou o humano com seu membro que pulsava, carente do toque de um amante. Numa compulsão Sean atirou suas mãos em direção daquele pedaço de luxúria, mais foi rechaçado com um tapa. O que chocou o inferno fora dele. E uma dor fina rastejou pelo coração e pulmões.

-- Sshh. Mãos nas costas. Quero só sua boca no meu pau. – Sean era praticamente virgem no que se tratava de sexo entre homens. Mas, ele sabia o que lhe dava prazer, e era isso que ele ia fazer. Ou, pelo menos, tentar.

Lambeu a fenda onde já saía uma gota de pré-sêmen e um sabor salgado explodiu na sua língua. Olhou para Ortiz antes de abocanha-lo inteiro. Deuses. A textura das veias. O gosto da pele. O cheiro almiscarado. Tudo isso e mais um pouco enviavam ondas de prazer para seu próprio pau. Sean sentiu uma vontade urgente de tocar em si. – Não... mãos pra trás. Você vai gozar só de me chupar.

Sean sabia o que Ortiz estava fazendo. Ele estava marcando-o. O cheiro de seu gozo ficaria no corpo dele e o lobo não seria marcado de volta. Filho da puta. Não era submissão, era sujeição. E quando Sean saísse dali com o cheiro do alfa e o seu nas próprias calças diria bem claro quem tinha o poder entre os dois.

Sabendo disso tudo e mesmo assim, Sean McLean não conseguia parar o que estava fazendo. Tudo em sua alma dizia ser certo, cuidar, dar prazer... amar seu companheiro. O retorno seria indiscutível. Só o vazio emanava em sua direção. Raiva. Necessidade de controle. Ele se viu sendo só um recipiente oco. Quando Ortiz fodia sua boca cada vez mais rápido, puxando seus cabelos, Sean deixou ir. Soltou toda a tensão. Relaxou cada músculo numa derrota amarga. O esperma quente invadiu sua garganta, engolindo tudo e cada gota. Sem o frenesi, ou felicidade que geralmente se segue, por reflexo ou não ele também gozou nas próprias roupas. Ele se sentiu deprimido.

Sean levantou sentindo-se um adolescente nerd usado pelo capitão do time de futebol. A vontade de chorar era tão grande que um suspiro soluçado escapou de sua garganta.

-- Inferno, McLean. – Sean encarou o shifter que também estava de pé. Sentiu mãos grandes acariciarem seu rosto e um brilho de arrependimento nos poços de piche dos olhos do seu companheiro. Ele não sentiu conforto. Ele sentiu nojo.

Em silêncio eles vestiram suas camisas. A porta escancarou num estrondo e Rafael apareceu no corredor segurando a maçaneta. – Está na hora da apresentação de seu filhote, Alfa. Todos estão esperando.

Limpando a garganta ele disse apático. – Te vejo na oficina segunda-feira, McLean. Espero que esteja melhor de saúde. – E saiu deixando o frio consumindo o coração de Sean.

Empurrando e esbarrando nas pessoas em seu caminho. Levando xingo e gritos de cuidado. Sean saiu da casa do alfa. Foi bom ter estacionado um pouco distante. Ele precisava do ar fresco. Colocar as ideias no lugar. Entender o que tinha acontecido. – Merda! – Antes da pequena interrupção estava tudo tão perfeito. Tão perfeito...

-- Droga! – Ele socou o teto de seu carro numa frustração tão grande que sentia poder rasgar-se, virar poeira e se desfazer. Ele era um bebê nesse mundo. E nada que tivesse lido em livros o teria preparado para jogar essa partida. Seu orgulho subestimou o poder da matilha sobre o Alfa. E agora estava marcado.

-- Droga, droga, droga! – A palavra tinha virado um mantra. Marcado pela batida de seus punhos no volante enquanto dirigia de volta para casa.

Entrou em casa como um furacão.

-- Sean, o que aconteceu? – A voz de Trent soou preocupada. Ele não queria preocupação. Ele não queria pena de ninguém. Ele queria ficar sozinho.

-- Nada. – Sean respirou retomando um pouco de autocontrole. – Eu vou pro meu quarto. Fiquem à vontade, rapazes.

**

Samuel estava feliz. Trent aceitou fazer fisioterapia e voltar com as consultas no psicólogo. Iriam fazer isso juntos. Um passo de cada vez. Conversando. Sem enterrar as frustrações numa pilha de auto piedade.

Eles tinham comido pizza e agora curtiam um filme. Sam colocou Trent deitado no sofá e se ajeitou de modo que seu companheiro apoiasse a cabeça no seu colo. Olhavam atentos a tela. Pequenos gestos de carinho. Cafuné. Uma calma.

O contraste era tão claro. Mas, ambos os caminhos eram espinhosos.

O maior medo de Samuel era um dia acordar e Trent não estar mais ali. Ter ido embora. Desistido deles. Dele.

Alguma coisa começava a rastejar para dentro do doce coração de Sam.  

**

É minha gente. A jogada do tio Sean não deu nada certo. Quem vai dar o próximo lance?

Sam e Trent estão muito calminhos pro meu gosto. Vou agitar esse lago já já. Huahuahuahua.

Até a próxima att.

**

Tradução da música da mídia. Eu sei que ngm vai ler, mas fo***

Apagar

Enterre todos os seus segredos na minha pele
Vá embora com inocência
E me deixe com meus pecados
O ar em minha volta ainda parece com uma gaiola
E o amor é apenas uma camuflagem
Para o que se assemelha a raiva novamente

Então se você me ama, deixe-me ir
E fuja antes que eu saiba
Meu coração está muito sombrio para se importar
Não posso destruir o que não está lá
Me entregue a meu destino
Se eu estou sozinho, não posso odiar
Eu não mereço ter você
Meu sorriso foi tomado há muito tempo atrás
Se eu sou capaz de mudar, espero nunca saber

Ainda pressiono suas cartas em meus lábios
E as estimo em partes
De mim, que saboreiam cada beijo
Eu não poderia encarar uma vida sem a sua luz
Mas tudo isso foi dilacerado
Quando você se recusou a lutar

Então poupe seu fôlego, eu não me importarei
Acho que deixei isso muito claro
Você não poderia odiar o suficiente para amar
Isso deveria ser o suficiente?
Eu só queria que você não fosse minha amiga
Assim, poderia te machucar no final
Nunca afirmei ser um santo
O meu eu foi banido há muito tempo atrás
Tive que perder as esperanças para te deixar partir

Então se quebre contra as minhas pedras
E cuspa sua piedade em minha alma
Você nunca precisou da ajuda de ninguém
Você me vendeu para se salvar
E eu não ouvirei a tua vergonha
Você fugiu - vocês são todos iguais
Anjos mentem para manter o controle
Meu amor foi punido há muito tempo atrás
Se você ainda se importa, jamais deixe que eu saiba
Se você ainda se importa, jamais deixe que eu saiba

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