Sombras da Submissão

A escuridão do porão era densa, e o cheiro de mofo impregnava as paredes de pedra fria. O colchão fino no chão pouco oferecia conforto, e o velho cobertor surrado mal conseguia afastar o frio da noite. Lena dormia encolhida, seu corpo magro acostumado ao desconforto. Mas o pouco descanso que conseguia logo foi brutalmente interrompido.

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A porta do porão se abriu com um estrondo, e passos pesados desceram apressados as escadas de madeira. Antes que pudesse reagir, um balde de água gelada foi jogado sobre seu corpo. O choque do frio fez seu coração disparar, e ela arfou, sentindo a pele arder com o contato abrupto.

"Acorde, inútil!" a voz ríspida de sua irmã mais velha, Victoria, ecoou no espaço apertado. "Você já está atrasada! O café da manhã não vai se preparar sozinho!"

Lena engoliu em seco e rapidamente se sentou, tremendo da cabeça aos pés. O cabelo molhado grudava em sua pele, e suas roupas finas encharcadas pioravam ainda mais a sensação de frio cortante. Mas ela sabia que reclamar só traria mais punição.

"Já estou indo..." murmurou, sua voz falhando levemente.

Victoria revirou os olhos e bufou.

"Você deveria agradecer por ainda ter um teto sobre sua cabeça. Agora, ande logo, antes que papai se irrite."

Sem esperar resposta, Victoria subiu as escadas, deixando Lena sozinha no escuro. Ela fechou os olhos por um instante, tentando acalmar a respiração. Mas a dor no peito não diminuía. Seria sempre assim?

Sem tempo para lamentações, ela se forçou a levantar. Seus músculos protestavam, cansados de noites mal dormidas e dias exaustivos de trabalho. Mas nada disso importava. Se atrasasse, seu castigo seria ainda pior.

Subindo as escadas com pressa, Lena entrou na cozinha, onde o cheiro de café fresco e pão quente já deveria estar preenchendo o ar. Mas ainda estava tudo frio e intocado. Ela respirou fundo, ignorando o olhar impaciente de sua mãe, que cruzava os braços ao lado do fogão.

"Não ouse demorar, Lena. Seu pai odeia esperar."

Com mãos ainda trêmulas, Lena começou a preparar o café da manhã, cada movimento marcado pela rotina automática que seguia há anos. Mas, enquanto quebrava os ovos na frigideira e colocava o pão para tostar, um pensamento insistente a atormentava:

Haveria um dia em que isso acabaria?

Lena manteve os olhos baixos enquanto cortava o pão para o café da manhã. Seus movimentos eram automáticos, treinados ao longo dos anos para serem rápidos e silenciosos. O cheiro do café recém-assados enchia a cozinha, mas para ela, aquele aroma não trazia conforto, apenas mais um lembrete de sua posição naquela casa.

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Na sala de jantar, a conversa fluía animada entre sua família. Eles falavam sobre os eventos da alcateia, os treinamentos e, principalmente, sobre a cerimônia das primeiras transformações que aconteceria em um mês. Era um momento sagrado para os jovens lobos, onde finalmente se conectavam com suas naturezas lupinas.

"Dizem que a família da Suprema Alfa pode comparecer este ano" a voz de sua irmã mais velha, cheia de empolgação, ressoou. "Seria uma honra vê-los."

"Isso se tivermos sorte" respondeu seu irmão com um tom de desprezo. "Duvido que alguém tão grandiosa perca tempo com um bando qualquer."

Lena ouvia em silêncio enquanto mexia o café. A Suprema Alfa. Desde pequena, havia ouvido histórias sobre essa figura lendária, um ser tão poderoso que sua simples presença fazia até os alfas se curvarem. Um ser raro, que só surgia quando o mundo precisava de um líder. Para Lena, era um conceito distante, algo pertencente a um mundo que ela nunca conheceria.

Um som de cadeira arrastando no chão trouxe-a de volta à realidade.

"Por que essa droga de café está demorando tanto?" a voz áspera de seu pai cortou o ar.

Lena se apressou, mas antes que pudesse se defender, um tapa estalou contra seu rosto. A força a fez cambalear para trás, seu corpo colidindo contra a bancada. Uma dor aguda se espalhou por sua bochecha e o gosto metálico de sangue preencheu sua boca.

Ela abaixou a cabeça, apertando os lábios para não soltar um gemido de dor. Pequenos fiapos de sangue escorreram de seu lábio rachado, pingando na borda da pia.

"Fraca, inútil... Você não serve nem para fazer algo tão simples!" seu pai cuspiu as palavras, voltando para a mesa como se nada tivesse acontecido.

Lena respirou fundo e limpou o sangue rapidamente antes de continuar seu serviço. Não havia tempo para fraqueza, não havia espaço para lágrimas.

Ela apenas existia, e para sua família, isso já era um erro.

"Vamos, Lena, mais rápido!" ordenou sua mãe impaciente.

A jovem ômega apressou-se, servindo o café e o pão à mesa, ignorando a dor latente que pulsava em seu rosto.

O mundo lá fora continuava girando, cheio de promessas e destinos gloriosos. Mas para Lena, tudo o que restava era sobreviver a mais um dia.

Narrador

Ser uma ômega naquela família era o mesmo que carregar um fardo imperdoável.

Os Vargas eram conhecidos por sua linhagem forte e orgulhosa, composta apenas por alfas e betas. Cada membro carregava consigo a herança da força, do poder e da dominação. Mas Lena... Lena era um erro. Uma falha que nunca deveria ter nascido.

Desde pequena, ouvira os sussurros de desgosto, os olhares de desprezo e as palavras cortantes que lhe eram dirigidas sem qualquer remorso. Sua existência era um lembrete constante de que a natureza havia sido cruel com sua família, presenteando-os com uma filha que nunca poderia liderar, nunca poderia ser digna de respeito.

Fraca. Inútil. Vergonha.

Essas palavras a acompanhavam como sombras, sussurradas em cada canto da casa, reforçadas em cada golpe que recebia.

Seus erros nunca eram esquecidos. Um prato quebrado, um café derramado, um olhar na hora errada... tudo se tornava motivo para castigos severos. Socos, empurrões, palavras afiadas como lâminas. Cada marca em sua pele era um lembrete de que ela não pertencia àquela casa, de que jamais seria aceita.

Seus irmãos e irmãs, alfas e betas, participavam de eventos, caçadas, reuniões importantes da alcateia. Ela, por outro lado, ficava trancada, escondida como um segredo vergonhoso. Sua vida se resumia à cozinha, à limpeza e ao silêncio.

A única vez que pôde sair foi para estudar. Mas assim que concluiu a escola, suas correntes se apertaram ainda mais. Nunca mais pisou fora da casa. Nunca mais teve permissão para ver o mundo além das paredes que a mantinham prisioneira.

Para sua família, Lena não era uma filha. Não era uma irmã. Era apenas um fardo a ser carregado até que pudessem finalmente se livrar dela.

Mas Lena não era apenas uma ômega.

Ela era uma aberração.

Pelo menos era assim que sua família a via. Pois, além de ter nascido fraca, algo ainda pior manchava sua existência: sua loba nunca havia se manifestado.

Ela não sentia a força da fera dentro de si, não ouvia sua voz, não experimentava a ânsia pela primeira transformação como todo jovem lobo deveria sentir. Era como se não houvesse nada dentro dela.

E se uma ômega já era considerada inferior, uma que não podia se transformar era menos que nada.

Seus pais acreditavam que era uma punição divina. Uma vergonha impossível de esconder.

Os alfas mais velhos da alcateia zombavam de sua família por terem gerado algo tão frágil. Seus irmãos a olhavam com puro desdém, como se ela fosse uma sombra indesejada no lar que deveriam compartilhar. Já suas irmãs simplesmente ignoravam sua existência, como se Lena fosse invisível.

Ela não sabia o motivo. Não sabia se havia nascido quebrada ou se, talvez, a dor de todas as humilhações e surras tivesse silenciado sua loba para sempre.

Mas, no fundo, existia um medo que Lena jamais admitiria para si mesma.

E se sua loba nunca despertasse?

Se isso acontecesse, ela nunca encontraria seu parceiro predestinado. Nunca se libertaria da prisão que era sua casa. Nunca conheceria a sensação de correr livre sob a lua, sentir o vento contra sua pele ou ouvir os sussurros instintivos da loba que deveria ser parte dela.

Talvez... talvez ela simplesmente não fosse digna disso.

Talvez fosse melhor assim.

Continua...

Deixem suas teorias sobre a história aqui, eu olharei uma por uma!

Como que vocês querem que a Suprema Alfa puna essa família? 


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